[Lysandre] Lady De Circo escrita por La-Fenix


Capítulo 6
Sacrimony


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos pelos reviews e pelas favoritações (não sei se existe essa palavra, neologismo nivel master ).
Um obrigado especial a Menina Itubaína ♥ pelo comentário fofo que ela deixou no capítulo 5. ♥
Boa leitura! ♥



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O tempo passou inerte por mim depois daquele abraço.

Em algum momento fui convencida a voltar para a minha tenda. Dimitry não estava mais lá, havia ido avisar o resto do grupo do meu despertar.

Lysandre novamente se sentou na cadeira de balanço ao lado da minha cama e me contou pacientemente sobre o que aconteceu comigo depois que eu apaguei, enquanto meus colegas se revezavam para me ver.

O motivo de eu continuar inteira era o fato de Lysandre existir em síntese. Ele impediu que o grupo me machucasse mais e me carregou até o circo. Como ele deteu três rapazes fortes sozinho continua um mistério para mim, minha cabeça apagou tudo que me aconteceu naquele dia a partir do momento em que começavam a me tocar mais... Maliciosamente digamos.

Segundo o que a Nette me contou durante o tempo em que ela esteve na minha barraca, Dimitry foi o que mais ficou preocupado comigo. Ficou ao meu lado pelos três dias em que estive inconsciente e foi atrás dos rapazes que me agrediram logo que Lysandre me trouxe de volta ao circo. Pelo que me contaram ele foi até o ponto da estrada onde Lysandre deixou o trio, ferido e todo quebrado pelos relatos, contudo chegando lá não encontrou ninguém. Não falei com ele depois de saber sobre seu passado homicida. Mas foi unanime em todos os relatos que ele alegou ter visto um caminhão do circo Vitruno passando pela estrada.

Parece que esse era o antigo circo em que ele trabalhava quando tentou matar o homem.

“Legal. O assunto podia ter terminado aí, de boa.”

Foi quando a Cigana (titia bruxa do episódio de Halloween) encucou de me falar sobre um assunto que poderia ter sido tratado em outro momento...

–Você devia ter visto o soco que o Dimitry deu no Lysandre! –Engasgo com a minha sopa vono e olho com os olhos arregalados para o rapaz calado ao meu lado. Ele escrevia no bloco de notas que estava em cima da minha cabeceira e parecia compenetrado demais no que fazia para prestar atenção na mulher cheia de pulseiras, cintos e badulaques, ao meu lado.

–Como assim? Porque o Dimitry faria algo assim? –Meu parceiro podia até ser homicida, mas não puxava briga de graça assim.

A ruiva me olhou com certa malícia, levantando a sobrancelha e exibindo seus olhos verdes como se fosse um vendedor árabe mostrando suas melhores esmeraldas. Uma aura de mistério sempre a cercava e parecia que todo conhecimento do mundo se resguardava em sua boca ferina, como um gigante hindu que tatuava os segredos do universo em sua pele gigantesca para todos verem, contudo ninguém entender realmente.

–Eu estou dizendo que você chega no colo de um estranho, toda machucada e inconsciente. –Ela deu uma risada saturada de escárnio, sua linha de pensamento era obscura na minha cabeça inocente. –Ele achou que o cavalheiro do século passado fosse seu agressor. O Dimitry só a viu quando você estava deitada na minha cama, o rapaz aí estava olhando eu fazer os curativos em você e nem viu o que o acertou.

Olhei de soslaio para Lysandre, e ele não tinha nada na cara que me fizesse acreditar que um soco lhe havia sido desferido.

–Onde o Dimitry atacou? –Minha sopa começava a esfriar na minha mão e eu bebi um pouco dela para disfarçar minha conversa pouco discreta sobre o garoto ao meu lado.

–Na verdade ele levou um chute giratório nas costas... Hehe, devo dizer que gostei. Foi um belo golpe que o Dimitry deu. –A Cigana falava como se estivesse falando de uma luta de MMA.

–Ai minha Deusa de camisola... –Mastiguei um cróton da minha sopinha e suspirei. –Lysandre deve estar fulo comigo...

A Cigana riu desdenhosa e tirou uma aranha que passeava por seus cabelos. A aranha era pequena e parecia um fiapo de cobertor, se não fossem suas perninhas eu nunca suspeitaria de sua verdadeira natureza.

–Na verdade ele está vindo aqui todos os dias para ver como você está. Nem ligou para o psicopata do Dimitry, na verdade ele só fica aqui escrevendo ao seu lado. –Numa atitude quase casual a ruiva joga a arainha para dentro da boca e a come como se ela fosse uma balinha gostosa. Eu estava acostumada com esse tipo de atitude vindo dela porem meus crótons ficaram parecendo aranhas depois daquilo. –Até se ofereceu como costureiro para o circo. Você achou um gostosão fia! Costureiro, soturno, escritor. –Risada sarcástica. –Tá solteiro porque quer!

Ela falou a última frase tão alto que o grisalho ao meu lado nos olhou assustado.

–Quem está, o que? –Para o meu desespero total a Cigana se levanta e vai até Lysandre se sentando em seu colo.

Se meu ombro estivesse bom eu lhe daria um soco.

–Eu... –Ele tira um cartãozinho roxo do decote de seu vestido, de flores, escuro e coloca-o no casaco do rapaz. - Estou solteira. –Ela sai da minha tenda e quando está na porta dela manda um beijo para o rapaz. –Me liga.

Tenho vontade de cair pra trás como quem toma um tiro e morrer.

A reação de Lysandre é silenciosa porem evidente, suas bochechas queimam de vermelho e ele está boquiaberto.

–Me desculpa... Ela não faz de propósito... É só... –Fico mais atônita do que deveria. –Acho que é um hábito, sei lá!

Coloco minha caneca de sopa na cômoda ao lado e me sento na cama.

–Tudo bem... Ela realmente é a dona do circo? –Era óbvio que ele estava jogando assunto fora, entretanto minhas opções de conversa não eram as melhores.

–Ela herdou o circo da família. Pode não parecer, mas ela administra muito bem o lugar. Pra quem não tem faculdade nem nada... A única formação que ela tem é num curso de taróloga.

Lysandre assente com a minha conversa e suas faces voltam à cor normal. Percebo sem querer que seu lábio de baixo é mais cheio que o de cima, e que seu nariz é ligeiramente empinado.

Minhas primeiras analogias dele com um vampiro da época do romantismo se mostraram mais certeiras do que eu poderia imaginar.

Sua pose era sedutora de um jeito não chamativo, era um requinte perverso que atrairia uma dama de sangue nobre por motivos fúteis. Simplesmente pelo prazer do desconhecido, um espécime raro por assim dizer.

Já suas falas calmas e suaves nos levavam a um mundo de promessas silenciosas. Promessas que por vez não se cumpririam como o esperado.

–Tem algo de errado comigo? –Desvio o olhar um tanto frívola, e por fim lhe pergunto algo que realmente me incomodava no momento.

–Porque você está comigo agora? Nos conhecemos a pouco menos de uma semana. –Eu contava ali os dias em que ficara inconsciente.

Ele se levantou da cadeira e se ajoelhou na minha frente, colocando seu bloco de notas na cadeira. Mesmo naquela posição ele era mais alto do que eu em uns bons centímetros.

–Você me olha como se pudesse me dissecar, e ver algo mais por dentro. –A frase soou monótona, como se seu real propósito estivesse escondido.

Tiro uma mecha do rosto. Sinto que sou encarada e me recuso a olhá-lo de volta.

–Só por isso? –Ele pega meu queixo e me faz olhar diretamente em seus olhos.

Levo um susto porque sinto como se visse duas pessoas na minha frente. Uma de olhos verdes. Outra de olhos dourados. Nunca gostei de encarar ninguém pelos olhos por esse motivo, dava pra ver demais.

–Sim... Poucas pessoas enxergam o mundo desse jeito, e é triste uma delas morrer tão jovem. –A conexão que eu havia formado com ele se acendeu como se fosse uma luz escondida no canto. Era um pacto silencioso porém tangível, parecia que estávamos de mão dadas sem realmente nos tocarmos. –Você sentiu isso.

Ele parecia... Indecifrável, não conseguia atingir o âmago de suas emoções somente com aquilo. De repente à vontade subta de beijá-lo me pareceu insuportável, eu saberia o que ele sentia de verdade, e por fim teria minhas respostas.

Não sei o porque desse pensamento.

Eu gostava dele, mas gostar e desejar alguém que esteja tão enraizado com acontecimentos estranhos, não é bom.

Senti meu coração e a minha mente debaterem sobre a questão de beijá-lo ou não.

Decidi fazer algo meio-termo e me aproximei mais do grisalho.

Enlacei meus braços em seu pescoço e o abracei.

Suspiramos em uníssono, ao sentirmos os corações baterem forte no peito e completarem o vazio do outro lado com seus batimentos fortes. Acreditei por momentos que seu coração era meu, e que eu poderia pegá-lo na mão para vê-lo bater.

Ele não me tocou por medo de me causar dor, mas as palavras que ele me criou foram como um pleonasmo de ideias não conjugadas. Enchemo-nos de calor e trocamos juras de silêncio sem mexermos os lábios.

Subi um pouco as mãos e acariciei seu cabelo macio antes de beijá-lo ternamente na bochecha, era uma despedida. Recebi em troca o roçar de seu nariz em meu pescoço, afetando a região com um calafrio.

–Está ficando tarde, tenho que ir Celina... Voltarei amanhã. Descanse. –E ele saiu da minha tenda sem me dizer mais nada. Deixando-me plantada no chão, forrado com um carpete simples.

–Meu Deus... –Eu havia falado com ele sem dizer uma só palavra, e havia sido melhor que um beijo. –Espero que a Cigana não tenha previsto isso...

Engatinhei dolorida até a abertura da tenda e não vi uma viva alma passando em frente.

Volto para a minha cama, e me enrolo nos cobertores remendados aproveitando a sensação se ser... ‘Amada?’

“Talvez almejada seja a palavra correta entretanto ambas são sinônimos no momento.”

Encontro porem ao me virar o famigerado bloco de notas de Lysandre.

“Saiu tão apressado que esqueceu o bloco...”

Por curiosidade pego o bloco e pondero sobre o que fazer.

“Se eu lê-lo vou estar traindo a confiança que ele tem em mim... Vou ler só a página que ele estava escrevendo então!”

Sua letra é legível porem amontoada. Sinto como se estivesse lendo um escrito de um naufrago que não tem mais onde escrever em seu minúsculo caderno.

A passing life each Day a carving on the wall

It’s like a night without awakening

The truth is lost and maybe not to be found

Like the shadows on my pantomime


When all the world has gathered for the final feast


Will there be someone to belive in me

The voices echoing in my distorted mind

Is this for real or just a dream?

It all becomes clear

The truth will appear

Forever I’m there for you and sing…


A letra era linda e ele parecia estar buscando as palavras certas para continuar...


Deito-me em minha cama e coloco o bloco debaixo do travesseiro. Quando ele viesse no dia seguinte eu devolveria o bloco, mas até lá aquele seria meu tesouro.





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Notas finais do capítulo

vale dizer que a letra acima não foi minha criação. Pertence a banda metal Kamelot e se chama Sacrimony (angel of afterlife), se vocês acharem que fica legal eu ponho a tradução dela no capítulo.



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