Capítulo 3 - Dois Estão Fora

–O que aconteceu, Rodriguez?

A voz de seu superior fez com que Chris Rodriguez se sobressaltasse imediatamente.

–Perdão, senhor.– falou ele, assumindo uma postura exemplar. –Poderia repetir, senhor?

Frank Zhang franziu a testa e encarou Chris em questionamento.

–Jake Mason e Katie Gardner relataram que já ocorreram dois sequestros essa semana – ele suspirou – O primeiro na sexta, quando a funcionária da loja, Silena Beauregard, foi sequestrada por uma pessoa encapuzada.

Frank fez uma pausa, dando ao outro uma permissão silenciosa para falar. Ele acatou:

– Segundo aquele garoto, Octavian, o sequestrador era um homem. –Ele suspirou- Mas, se me permite uma observação, não creio que o garoto esteja sendo totalmente sincero em seu depoimento, senhor.

O chefe assentiu, como se considerasse a hipótese.

–Mas o que temos agora? –Perguntou- Houve mesmo outro sequestro?

–Sim, senhor. Uma menina foi sequestrada noite passada – ele falou com pesar – E, pelo que ouvi na divisão, a vítima era muito próxima da tenente Zoë Nightshade.

Frank pareceu pensativo por um momento, porém logo olhou decidido para Chris Rodriguez.

–Investigarei o caso. – Deu o veredito – Agora, senhor Rodriguez, eu sugiro que dê algum suporte à Tenente Nightshade. Ela provavelmente está abalada, e precisamos dela no caso.

Com um aceno de cabeça, Chris concordou.

– Sim, senhor. –Bateu continência, se retirando da sala em seguida.

****

A lágrima que há muito embaçava suas vistas, finalmente caiu. Ele permitiu. Agora, ela escorria pelo rosto de Nico Di Ângelo.

Uma única lágrima.

Ele não podia acreditar no que lia. Aquilo era um absurdo, não poderia ser possível.

Nico respirou fundo e tirou os olhos do jornal pela primeira vez, olhando em volta.

O lugar era simples. Apenas um quarto razoavelmente grande com um armário de madeira simples e uma única cama de casal antiga, ambos com um tom escuro, que contrastava com o papel de parede branco.

Mesmo pequeno, era um ótimo lugar. Aconchegante e acolhedor mesmo na ausência do luxo.

–Querido! –Foi tirado de seus devaneios. -Venha, vamos jantar – Aquela voz conhecida parecia estranhamente alarmante com aquele tom choroso.

–Estou indo, mãe. – ele respondeu sem um pingo de ânimo na voz.

Apesar da falta de fome, Nico levantou-se lentamente da cama e começou a andar pelos corredores frios da casa onde crescera. Pela primeira vez em horas, permitiu-se deixar de lado aquele recorte de jornal que agora se encontrava ligeiramente danificado pelas lágrimas que, sem permissão, e combinadas com a tinta da impressão, manchavam o mesmo.

***

Um dia antes...

– Fala sério! Não acredito que você não percebeu o mole que o Jake ‘tava te dando!

Mesmo por telefone, Bianca Di Ângelo tinha certeza que Jake Mason estava ao lado de sua amiga naquele momento.

A menina revirou os olhos.

–“Fala sério”? Eu que o diga! –Bufou- Ou vai negar que, nesse exato momento, ele está do seu lado?

Bianca escutou uma voz masculina praguejar do outro lado da linha.

–Espera um minuto, okay?

Bianca pôde ouvir um som abafado e, em seguida, Zoë discutindo com outra pessoa do outro lado da linha.

– Cale a boca, Mason! – falou Zoë, audivelmente irritada. – como é que você quer que eu fale com ela assim?

Bianca escutou alguém bufando.

– Apenas continue Zoë... –A outra voz, Jake, sugeriu.

– Continuar? – ela grunhiu – Como assim ‘continuar’? Cara, quero que fique bem claro que eu só estou fazendo isso porque eu perdi àquela aposta. –Uma pausa - E outra coisa: Ela não vai cair nessa! Eu nunca tentaria empurrar alguém para ela, muito menos um colega de trabalho! E um dos idiotas ainda por cima...

– Continue! – ele parecia implorar.

Pelo palpite de Bianca, o barulho que veio a seguir foi o do telefone sendo voltado ao ouvido da amiga.

– E então, Bianca, onde estávamos?- Ela estava certa. E sua amiga era cara-de-pau.

Bianca riu ao constatar.

–Na parte que eu desligo o telefone por ter que voltar ao trabalho.

E dito isso, ela desligou seu celular. Ela tinha certeza que Zoë não estava nada contente, mas não mentira. Estava cheia de trabalho. Ligaria mais tarde, quando tivesse certeza da ausência de Jake, assim poderiam conversar mais abertamente.

Após guardar o celular em sua mochila, Bianca rodou os calcanhares, ficando de frente para o balcão repleto de fichas. Respirou fundo... Seria um longo expediente.

– Olá Juníper! – Ela sorriu para a balconista – O que temos para hoje?

A ruiva sorriu contente e cumprimentou sua parceira de trabalho.

–Muitos casos, como sempre – Ela sorriu – vida de caçadora de recompensas não é fácil!

Bianca riu.

–Não mesmo!

Enquanto conversava com a Juníper, Bianca ficava cada vez mais intrigada com o caso que tinha em mãos.

Diferente das demais, esta ficha não possuía foto e tinha muitas colunas em branco, como, por exemplo, o nome e a idade.

–Ei, Juníper – Bianca chamou à atenção da colega. – De quem é essa ficha?

A ruiva ergueu seus olhos verdes para a ficha e arregalou os olhos, reconhecendo.

–É melhor nem sabermos! – ela exclamou tomando a ficha em suas mãos. – Dizem que esse foragido é terrível! –Apontou para os campos em branco- Vê? Não conseguiram colher sequer seu nome ou idade! É chamado somente de A.M. por motivos também desconhecidos... Bom, eu não quero ter nada a ver com o caso.

Apesar de Juníper falar com receio sobre o assunto, Bianca parou de prestar atenção em algum ponto do discurso.

–Vou querer esse. – Bianca finalmente ergueu os olhos negros para encarar a ruiva, que arregalou os olhos e atendeu ao pedido silencioso de Bianca para que lhe devolvesse a ficha.

– Mas Bianca... –Ao analisar, ela percebeu pela expressão que Bianca estava irredutível. –Okay, está certo – ela suspirou – vou colocar no sistema agora mesmo.

–Obrigada Juníper!

Ela assentiu e se dirigiu à saída, mas não pôde deixar de ouvir a balconista resmungando consigo mesmo em algum ponto atrás.

–Inacreditável! Parece que todos eles querem os piores casos! Primeiro foi Clarisse La Rue... Ela queria tanto esse caso. Tive sorte de conseguir fazê-la ir atrás do tal Ethan Nakamura... – ela suspirou – e depois foi o Grover. Se ele não estivesse doente eu tenho certeza que não pensaria duas vezes em ir atrás desse caso aí.

A porta de vidro se fechou atrás de Bianca, que mantinha um sorriso. E ela seguiu calmamente até seu carro, que, infelizmente estava um tanto quanto longe da porta principal do prédio onde trabalhava. O movimento estava intenso aquele dia, as vagas para estacionamentos próximos haviam se esgotado antes mesmo de sua chegada.

Assim que Bianca girou a chave na ignição, escutou um barulho atrás de si. Antes mesmo de conseguir virar-se naquela direção, Bianca sentiu uma picada em seu pescoço... Depois sua visão começou a ficar turva.

Depois, apenas o escuro.

***

A.M – Ora, ora, ora... Onde está? Para onde foi? Ah, perdoem-me, acho que não estou sendo claro(a) aqui, queridos leitores, não estava falando sobre essa pobre garota. Estava me referindo a toda aquela confiança... Ficou pelo caminho, certo? Mas eu posso estar me precipitando. Talvez você esteja, afinal, você é humano...

Bianca Di Ângelo? Ah, era uma boa menina. Sim... Muito curiosa, também. Ambição? Prepotência? Talvez ela tenha pedido por isso

Cabe a vocês decidirem qual é a verdade.

Façam suas apostas! Mas nunca se esqueça desses dois conselhos: Quanto mais perto estiver, menos você verá. Quanto maior a certeza, maior a surpresa. Quanto mais você olhar, mais se confundirá!

– Que comecem os palpites.