1. Festa

Era difícil não passar a noite toda ao lado de Bella, mas eu tinha que esquematizar tudo para o grande dia. Era bem provável, que ela tentasse literalmente, me matar pela tentativa, mas eu estava realmente disposto a preparar algo inesquecível, para ela.

Enquanto subia vagarosamente as escadas, da mansão, me perguntava o porquê, dessa revolta toda de Bella com o aniversário, a maioria das pessoas amavam o aniversário, eu mesmo pelo que me lembrava das minhas memórias humanas nubladas, não tinha nada contra esse dia. Mas essa observação, não poderia servir de base para ela, afinal quando Bella fez algo que algum humano faria?Sorri largamente, ao me lembrar do quão diferente a mente dela poderia ser.

Meus pensamentos foram bruscamente interrompidos pela evidente alegria dos pensamentos de Alice, que obviamente estavam em torno da grande festa.

( - hmm... quero a casa toda cor de rosa, com enfeites, flores, e um bolo coberto daquela coisa nojenta branca que os humanos amam por nas festas das criancinhas.)

–Glacê Alice.

Falei revirando os olhos, finalmente chegando ao ultimo degrau.

–Ah sim glacê, obrigada Edward

Agradeceu ela deixando sua mente livre por alguns segundos, dos seus planos malucos que nos colocariam seriamente em risco. Era óbvio que se Alice fizesse o que pensara, Bella arranjaria um jeito de nos matar... Ou pelo menos nos atazanar pelo resto do ano.

–Err... Alice. –tentei argumentar. –não acha que talvez esteja exagerando um pouco?Bella deixou bem claro que não queria nada e nós já vamos fazer essa festa contra a vontade dela... Então não seria melhor fazer algo mais... Simples?

Na minha mente as palavras certas seriam “menos perturbador...” mas achei que “mais simples” soaria mais gentil.Ela me fitou por um breve instante,seus lábios se retorciam em desaprovação enquanto suas sobrancelhas se juntavam em pura irritação.

–Edward... Você contratou os meus serviços ou não?-Começou ela a um tom mais alto que o normal da sua voz.
–Pois pelo que me consta a ORGANIZADORA que decide o que é adequado para a festa e o que não é, e não o simples namorado da aniversariante! -
Completou, ela, com desdém.
Eu não havia a contratado oficialmente, para falar a verdade, ela que havia SE contratado, mas, massacrar a empolgação de Alice não me parecia muito justo.

–Alice, sei que você cuidará de tudo com perfeição... –Disse gentilmente- Mas cuidado! Você conhece Bella... Sabe que ela não reagirá tão bem assim, a uma festa com tudo isso...

–... E não se esqueça dos presentes, - Interrompeu com um sorriso estonteante, não dando a mínima para o meu aviso. –Ela não ficará mais feliz com eles do que com a minha festa!

Alice gargalhou imaginando Bella em ataque histérico. Meu corpo estremeceu. Não queria forçar Bella a algo desagradável, mas ela tinha que ser homenageada em um dia tão especial!

–Edward, se acalme. -Confortou Alice vendo a minha aparente tensão. –Duvido muito que ela não goste da festa incrível que eu preparei para ela.
Sorri tentando aparentar tranqüilidade, mas por dentro estava um poço de insegurança, Alice pareceu perceber.

–Não vai ser tão ruim assim, ela vai gostar do seu cd!É lindo.

Sorri torto e mordendo meu lábio inferior, tinha pegado esse hábito de Bella, sempre executado em momentos de tensão.

Alice sorriu para mim tentando bagunçar meu cabelo em uma tentativa inútil porque eu esquivei e baguncei o dela.



Todos da casa, já se encontravam nas suas distrações. Carlisle saía para a sua longa jornada de trabalho, Esme, tricotava uma camisa trabalhosamente, Emmett, tentava estimular Rosalie, para uma luta enquanto ela delicadamente recusava seu convite, penteando seus longos cachos dourados. E eu ouvia atormentadamente Alice e seu plano suicida.

–O que acha de fogos de artifício?

Disparou ela em momento de total insanidade, me acordando do estado de tédio (quase como sono) em que eu me encontrava. Não pude deixar de ficar boquiaberto com a idéia de Alice.

–Fogos de artifício? Murmurei incrédulo

–É na entrada dela... Fogos de todas as cores estourando no céu!-assentiu sorrindo-

Lutei contra a vontade evidente de enforcar Alice. Bella odiava todas aquelas palhaçadas, que aquele ser pequeno inventava, e era óbvio que eu pagaria pela insanidade da minha irmã. Ouvi um barulho na escada e resolvi voltar meu rosto em direção a ele para tentar me acalmar.
Quase não reconheci Jasper!Ele descia a escada, com uma expressão estranha. Seus olhos estavam negros e havia olheiras profundas embaixo da negritude assustadora, sua fisionomia era quase, a de um velho que sofria de dores agudas. Olhei para Alice, e ela fitava o chão com dor nos olhos. A curiosidade e a agonia abateram meus pensamentos.
Nós éramos tão ligados uns aos outros que era impossível não me sentir desesperado para ajudar Jasper de alguma forma. Encarei Alice, e ela rapidamente soube o que eu queria. Nós éramos muito bons nessas conversas silenciosas. Ela me olhou por um longo tempo, suspirando, finalmente deixando seus pensamentos me guiarem.
( - Ele só está com sede, nada de mais. Ele está tentando provar que é forte o bastante, e sei que ele é... mas ele está sofrendo e isso me machuca... ele acha que pode agüentar até amanhã... só que é totalmente desnecessário.)

Nós ficamos durante alguns minutos trocando olhares agoniados, até que percebendo a tensão na sala, Jasper imediatamente utilizou suas habilidades,nos deixando instantaneamente calmos. A calma não conseguiria tirar minha preocupação tão cedo!Mas eu teria que ajudar meu irmão a se livrar, de cinco guarda costas carrancudos.
Só eu sabia o quão irritante era ter tantos olhares preocupados em volta.
Me virei para Jasper deixando o bloquinho de preparativos de lado, aquela reunião com Alice já estava me irritando mesmo.

–Jasper... Noite difícil?Aposto que Alice deve ter te enchido bastante com as insanidades dela. -Perguntei casualmente tentando livrar a tensão.

Alice mostrou a sua pequena língua pra mim, enquanto Jasper sorria se juntando a nós no sofá.

–Nem me fale. Coitada da Bella.

Murmurou-me sorrindo ainda fracamente.

Ele envolveu seu braço em Alice, com um carinho especial, trocando olhares apaixonados, leves beijos e sorrisos.
Se fosse há meio ano, confesso que acharia essa cena ridiculamente irritante e sairia dali o mais rápido possível. Mas agora eu entendia perfeitamente os casais da minha família, afinal eu sentia e fazia as mesmas coisas quando estava com Bella, então não ficava mais irritado, ficava apenas com uma vontade assustadora de ir até ela... Sentir seu corpo quente e macio nos meus braços, observar seus olhos cor de chocolate brilhando, sua boca rosada quase em formato de coração, ver sua bochecha corar quando eu passasse lentamente minha mão sob sua pele (...). Saí instintivamente dos meus pensamentos, indo em direção ao meu casaco. Eu precisava vê-la!
Olhei o relógio,que marcava ainda seis horas da manhã, ela certamente estaria dormindo, o que possibilitaria escalar a janela dela e observá-la, nem que fosse só por cinco minutos, Afinal esse tempo bastaria para ela murmurar o meu nome, ela murmurava quase toda noite.
A lembrança do meu nome tocando os lábios de Bella era devastadora e me fez sorrir largamente, deixando todos da sala confusos com a minha mudança de humor repentina.

–Eu, vou ver Bella antes do colégio.

Declarei ainda sorrindo enquanto, vestia meu casaco.

–Tudo bem querido, estaremos esperando você e Bella hoje à noite.

Assentiu Esme sorrindo também.

Caminhei em sua direção deixando meus lábios tocarem sua testa. Esme era tão doce e cuidadosa, que às vezes me esquecia completamente, que ela não era minha mãe. Ela sorriu para mim beijando levemente a minha bochecha. Ela, Alice e Jasper pareciam os únicos a entender o meu lado, já que mantinham seus pensamentos calmos e amáveis, Emmett também não estava muito incomodado, só estava fazendo piadas de mim como sempre, mas Rosalie!Argh sempre ela!

Enquanto passava por ela e por Emmett senti seu olhar furioso e seus pensamentos maldosos direcionados a mim.
( -Idiota, lunático, imbecil e ainda por cima apaixonado por aquela Horrorosa).
Minha relação com Rose, nunca foi maravilhosa, mas ela tinha piorado significativamente dês de que me apaixonei por Bella, ainda não tinha entendido muito bem esse ciúme despeitado dela, e sinceramente nem queria entender, ele poderia me assustar e acabar de vez com o pouco de relação que agente ainda tinha.

–Rosalie poderia, por favor, parar?Nem todo mundo gosta de uma imitação da Barbie como o Emmett gosta.

Lancei com ódio, não ligava que ela me ofendesse, mas ofender Bella me deixava enfurecido. Ela me fitou com mais raiva ainda, enquanto Emmett virava para mim confuso.

–Melhor ser uma Barbie do que ser a imitação do monstro do lago Ness.

Disparou ela largando a escova no chão.
Monstro do lago Ness?
Será que a beleza estonteante de Rosalie havia afetado sua visão?

–Será que vocês poderiam me explicar o que está acontecendo aqui?

Interrompeu Emmett totalmente perdido.

–Assunto nosso!

Gritamos eu e Rose ao mesmo tempo. Emmett se virou abruptamente ligando a TV, frustrado sabendo que não saberia o motivo da nossa rede de ofensas tão cedo.

–Rosalie por que você não vai cuidar da sua vida para variar?Alem do mais precisa mesmo de mais tempo para se cuidar, já que passou despercebida pela ruga enorme que apareceu em você!

Essa não foi a minha melhor resposta, mas estava com raiva de mais para formular algo melhor, até porque foi o bastante para ver o pânico em seus olhos. Ela deu um grito ensurdecedor, correndo para o espelho da sala conferindo se o que eu disse da ruga era verdade. Vendo que tudo era mentira ela disparou ainda sorrindo para o reflexo do espelho.

–Vê se cresce Edward!Vai lá encontrar com o seu monstrinho vai.

Revirei os olhos e saí batendo a porta.
Como alguém tão lindo poderia ser tão irritante?

Corri alguns segundos pela floresta, cacei rapidamente me contentando com animais pequenos, só para garantir e então finalmente escalei a parede da casa dos Swan.
Bella estava ainda adormecida, mas pelo que parecia não era um sonho muito bom, seus lábios estavam numa linha rígida e suas sobrancelhas estavam unidas com uma agonia que eu não conseguia entender.
Ela esticou sua mão como se quisesse tocar em algo, então estremeceu. Eu queria confortá-la, mas ela logo acordaria, então pulei rapidamente antes que alguém me visse.
Corri para casa e Alice já estava encostada no meu volvo me esperando.

( -quase levei um susto quando vi você vindo pra cá tão rápido... o que aconteceu? Ela já tinha acordado?)
Abri a porta do carro respondendo a seus pensamentos, ainda revirado com a agonia do sonho de Bella.

–Não, na verdade ela não estava tendo um sonho muito bom então, achei melhor sair antes que alguém me visse. Alice entrou no carro fechando a porta juntamente a mim.

( -hmm... não deve ser nada demais Edward, o subconsciente dela só deve ter captado a agonia do aniversário... ela tem pavor dele quase uma fobia) Pensou Alice sorrindo, segurando uma caixa prateada e brilhante na mão.

–O que é isso?

Perguntei olhando para o objeto estranho em suas mãos, enquanto saiamos da garagem.
Ela hesitou por um momento e então seus olhos cintilaram, e eu podia imaginar sem ler seus pensamentos à bomba que estaria por vir.

( -o meu presente para Bella hora!)

–Você sabe que ela vai odiar não sabe?

( -Fique quieto Edward, ela não odiou tanto assim a câmera e o álbum que Charlie e Renée deram pra ela)

–Já que você tem tanta certeza...

Murmurei para ela tentando desvendar o que era o seu tão fantástico presente.
Ela percebeu meu olhar, e seu rosto cintilou com um sorriso malicioso.

–Desista Edward não vou te contar o que é!

Falou ainda sorrindo. Eu suspirei pesadamente enquanto virava meus olhos para a estrada

E ainda sem olhar pra ela ameacei.

–Você sabe que eu posso ler seus pensamentos e descobrir irmãzinha.

Me foquei nos pensamentos dela, mas...

( -ouviram do Ipiranga ás margens plácidas...)

–Ah Alice isso é trapaça sabia?O hino do Brasil?

Murmurei a vendo usar o hino para manter seus pensamentos longe do que era o presente. Ela sorriu satisfeita, e eu procurei me concentrar na direção, sempre espiando seus pensamentos para ver se ela havia abandonado sua tática, mais é lógico que a pequena tinha um repertório longo de hinos e que eu ficaria curioso até Bella abrir o tal presente.
Chegamos ao colégio, um pouco antecipados então tivemos que esperar no carro em silencio até o corpo estudantil lotar o pátio e estacionamos na nossa vaga cativa. Sai do carro mecanicamente, já abrindo a porta para Alice. Ela saiu ainda com os olhos brilhando e nós dois nos encostamos no carro repartindo a mesma ansiedade para ver Bella.
Não demorou muito para ouvirmos o ronco do Chevy 53 dela,
Ela pareceu sorrir ao nos ver lá,então talvez ela tivesse repensado o tal desânimo de aniversariante,ou pelo menos estaria conformada que seria impossível fazer Alice desistir de uma festa.Ela estacionou na sua vaga a alguns carros distantes de nós,saindo do carro e batendo a porta com um baque pesado enquanto fechava a cara percebendo as intenções de Alice e seu pacote.

–Eu te avisei!

Cochichei extremamente baixo para minha irmã, que por sua vez entortou os lábios e correu em direção à Bella. Alice chegou até a aniversariante carrancuda rapidamente, sem dificuldade mesmo em seus passos humanos.

–Feliz aniversário, Bella!

Lampejou ela não conseguindo conter sua alegria.

–shhhh!

Sibilou Bella olhando para o estacionamento para se certificar de que ninguém havia ouvido. Mais ela a ignorou e prosseguiu.

–Quer abrir seu presente agora ou depois?

–Nada de presentes!-protestou Bella.

–Tudo bem... Mais tarde então. Gostou do álbum que sua mãe mandou para você? E a câmera de Charlie?

É obvio que Alice já sabia que ela havia gostado um pouco, ela até havia comentado comigo no carro!Mas a necessidade de fazer Bella admitir que gostava de presentes, fez a voz de Alice, ficar incrivelmente inocente. Bella suspirou, talvez tentando se acalmar enquanto as duas caminhavam ao meu encontro.

–É são ótimos! –admitiu, ela

–Eu acho que é uma ótima idéia. Só se chega ao ultimo ano da escola uma vez. Pode muito bem documentar a experiência.

Tagarelou Alice.

–Quantas vezes você fez o ultimo ano?-desafiou Bella

–Isso é diferente!

Finalmente elas chegaram ao meu encontro. Já estava impaciente com a demora. Estendi minha mão para Bella e ela pegou com um sorriso encantador, apertei seus dedos suavemente me sentindo como se estivesse voando, a sede agrediu minha garganta pelo seu forte e delicioso cheiro, mas era incrivelmente suportável, tenho certeza de que se meu coração batesse, certamente dispararia. Estar perto de Bella era quase como estar nas nuvens. Ela olhava meus olhos com uma expressão engraçada, era bom saber que eu tinha o mesmo efeito nela que ela tinha em mim, seus olhos ficaram difusos e seu coração vacilou, sorri traçando o contorno dos seus lábios quentes com a ponta do meu dedo.

–E então, como discutimos, não tenho permissão para lhe desejar um feliz aniversário, é isso mesmo?-Perguntei esperançoso que ela tivesse mudado de idéia.

–É.É isso mesmo!

–Só estou verificando-passei a mão pelo meu cabelo pensando em perguntar o porquê dessa revolta sem a fazer entrar em total histeria. –Você bem que podia ter mudado de idéia. A maioria das pessoas parece gostar de aniversários e presentes.

Alice riu

–É claro que você vai gostar. Todo mundo deve ser gentil com você hoje e fazer as suas vontades, Bella. Qual é a pior coisa que pode acontecer?

Olhando por esse ponto de vista poderia chegar à teoria que Bella não gostava do seu aniversário por não gostar da atenção em cima dela, mas sua fala a seguir derrubou totalmente a minha conclusão.

–Ficar mais velha - Sua voz não era muito estável e eu percebi que toda essa agonia era por minha causa. Meus lábios se estreitaram com reprovação.

–18 anos, não é muito velha- disse Alice –Em geral as mulheres não esperam até ter 29 para se aborrecer com os aniversários?

–É mais do que Edward!- murmurou ela. Eu suspirei

–Tecnicamente -disse Alice tentando contornar a situação ainda mantendo um tom leve –Mas só por um ano.

Tanto Alice quanto eu, sabíamos aonde essa conversa ia parar: na imortalidade de Bella!Era ridículo, como ela queria estragar a vida dela por nada!É lógico que a imortalidade dela só traria benefícios para mim, mas eu a amava demais para ser tão egoísta a esse ponto. Ela merecia uma vida!E eu poderia muito bem ficar ao lado dela, ela sendo humana, eu não me importava com isso nem um pouco. O tempo era o que menos importava.

–A que horas você vai estar em casa?-Perguntou Alice tentando mudar aquele assunto doloroso.

–Não sei se vou pra casa! Falou Bella rapidamente adivinhado os planos de Alice.

–Ah, por favor, Bella!-reclamou Alice ­–Não vai estragar toda a nossa diversão desse jeito vai?

­–Pensei que no meu aniversário eu pudesse fazer o que eu quisesse.

(-Edward, será que você poderia me ajudar a convencer Bella a ir para a NOSSA festa dedicada a ela?) Pensou Alice ainda olhando insatisfeita para Bella.

–Eu vou apanhá-la em casa logo depois da escola. Declarei.

–Tenho que trabalhar! Protestou Bella.

–Na verdade não tem-disse Alice convencida – Já falei com a Sra. Newton sobre isso. Ela vai trocar seus turnos. E me pediu para lhe dizer “Feliz aniversário”.

Isso nem eu sabia!Alice realmente havia pensado em tudo.

–E-eu ainda não posso ir - gaguejou Bella arrumando outra desculpa. –Eu, bom ainda não vi Romeu e Julieta para a aula de inglês.

Alice suspirou.

–Você conhece Romeu e Julieta de cor.

–Mas o senhor Berty disse que precisávamos ver uma representação para apreciá-lo plenamente... Era o que Shakespeare pretendia.

Não pude deixar de revirar os olhos.

–Você já viu o filme- Acusou Alice

–Mas não vi a versão dos anos 60. O senhor Berty disse que era a melhor.

Alice já estava sem paciência e começava a improvisar ameaças para Bella

–Isso pode ser fácil ou pode ser difícil, Bella, mas de alguma forma ou outra...

Interrompi a ameaça de Alice

–Relaxa Alice. Se Bella quer ver um filme então pode ver. É o aniversário dela.

Alice e Bella me fitaram incrédulas.

–Viu? Bella perguntou presunçosa para Alice

–Vou levá-la por volta das sete - continuei antes que Alice pulasse no meu pescoço. –Isso lhe dará bastante tempo para preparar tudo.

Alice sorriu de novo.

–Parece ótimo. Nos vemos à noite,Bella!Vai ser divertido, você verá.

Ela sorriu com malicia dando um beliscão na bochecha dela e desapareceu para a sua primeira aula. Bella se virou para mim com um olhar quase suplicante.

–Edward, por favor... Coloquei meu dedo nos seus lábios antes que ela terminasse a frase

–Discutiremos isso mais tarde. Vamos nos atrasar para a aula.

Dês da ultima primavera, eu havia trocado todas as minhas aulas,em um acordo muito produtivo com a Senhora Cope,fazendo com que eu estivesse à maior parte do tempo na turma de Bella. Era extremamente bom tê-la ao meu lado, passávamos praticamente o dia todo juntos. Menos a parte da tarde que ela passava no seu emprego horrível com a mãe do Idiota Newton!Sim o tempo não me fez superar o meu ódio por ele. Ele agora não dava em cima dela descaradamente é verdade, mas por outro lado seus pensamentos me atormentavam! Mesmo tendo um romance com a Stanley ele ainda tinha remotas esperanças de Bella me largar e ir direto para os braços dele.

Nossa manhã passou rápida e já estávamos na hora do almoço. Nós três já havíamos sentado na nossa mesa no refeitório quando Alice começou

( -Edward, Bella deve estar arquitetando um jeito de fugir de nós dois, mas pensei em algo que pode dar certo. Vou levar o volvo pra casa e você irá com ela na picape, assim esperará ela até o término do filme para levá-la para a festa! O que acha? psicopata demais?)
Dei um breve sorriso e assenti olhando paro o teto e depois para o chão, e ela sabia que eu tinha concordado com seu plano. A tarde passou voando e Bella pareceu relaxar quando não tocamos mais no assunto do seu aniversário.
A acompanhei até á sua picape como eu sempre fazia, e abri a porta do carona, começava a chover, mas ela não fez menção de entrar no carro, somente cruzou os braços.

–É meu aniversário, não posso dirigir?-perguntou ela aparentemente aborrecida

–Eu estou fingindo que não é seu aniversário, como você deseja. -respondi sorrindo

–Se não é meu aniversário, então não tenho que ir para a sua casa hoje à noite...

–Muito bem... -Fechei a porta do carona e passei para abrir a do motorista–Feliz aniversário!
esbravejei alto propositalmente.

–Shhh - Pediu,entrando na porta aberta.

Enquanto ela dirigia provavelmente percebendo que tinha perdido, eu mexia no seu rádio horrível, lembrando que o presente de Emmett, Jasper e Rosalie seria de grande utilidade.

–Seu rádio tem uma recepção horrível!-comentei quebrando o silêncio.

Ela fechou a cara. Ela não gostava quando eu falava mal da picape dela, mas era verdade!

–Quer um bom sistema de som?Dirija seu próprio carro. -declarou ela

De novo o gatinho pensando que era um tigre!Era impossível não achar extremamente engraçada a fúria de Bella, mas eu tinha plena consciência de que um sorriso aqui não seria muito bem vindo então apertei meus lábios para conter o riso.

Chegamos à casa de Charlie, com a lenta picape dela. Não gostava da idéia de Bella furiosa comigo, mesmo que por um motivo banal!
Peguei seu rosto quente com as minhas mãos tentando fazer com que ela olhasse pra mim.

–Devia estar de bom humor, hoje é o seu dia!- sussurrei

–E se eu não quiser ficar de bom humor?Desafiou, com a respiração irregular.

–Isso é péssimo. Falei encostando meus lábios o mais suavemente possível nos dela,
era tão bom sentir os lábios quentes dela nos meus, não tinha experimentado nada melhor em 100 anos do que beijar Bella. Seu coração estava quase saindo do peito, e ela mal conseguia respirar, seus lábios ficaram mais urgentes e suas mãos se voltaram no meu pescoço.
Ela continuava com essa mania irritante de se empolgar demais e estragar tudo! Não que eu não me deixasse levar também, eu era tão tentado quanto ela!Mas será que ela não via que em um desses “momentos empolgantes” ela poderia morrer?Curvei meu lábio para cima enquanto me desgrudava dela rapidamente, antes que a machucasse.

–Seja boazinha!- Pedi tirando seus braços do meu pescoço e os cruzando em sua barriga, encostando meus lábios nos seus de novo, e me afastando rapidamente.
Ela também se afastou e descruzou seus braços para colocar uma mão no peito. Ela sempre ficava assim,quando estava perto de mim e eu não podia negar a total satisfação que isso me dava,afinal para o coração dela disparar comigo significava que ela me amava, não como eu amava ela, porque amor assim é impossível de um humano sentir, mas pelo menos ela sentia algo por mim e isso bastava.

–Acha que um dia vou superar isso?Que meu coração um dia vai parar de tentar pular do meu peito sempre que você tocar em mim?

Sorri e quando respondi a presunção estava presente na minha voz

–Eu realmente espero que não.

Ela revirou os olhos

–Vamos ver os Capuleto e os Montéquio se dilacerando, está bem?

–Seu desejo é uma ordem. Assenti

Me esparramei no sofá, enquanto ela acelerava impacientemente os créditos de abertura,
quando já estava no filme se acostou na minha frente.
A puxei para o meu peito,pegando a manta do sofá para envolver nela, antes que ela congelasse com a minha temperatura.

–Sabe nunca tive muita paciência com Romeu- comentei enquanto o filme começava.

–O que há de errado com Romeu?-perguntou ela quase ofendida com o meu comentário.

–Bem... –comecei. –Antes de tudo ele está apaixonado por essa Rosalina... Não acha que isso o deixa meio volúvel?E então, minutos depois do casamento, ele mata o primo de Julieta. Isso não é muito inteligente. Um erro atrás do outro. Será que poderia destruir a própria felicidade de uma forma mais completa?

Ela suspirou

–Quer que eu veja o filme, sozinha?

–Não, vou assistir com você de qualquer jeito.

Será que ela tinha se esquecido de que era a minha refém até o término da festa?

Meus dedos começavam a contornar os desenhos do seu braço.

–Vai chorar? Perguntei me divertindo com os arrepios que eu provocava na sua pele.

–É provável, se eu estiver prestando atenção. –admitiu, ela.

­–Então não vou te distrair. Prometi.

O Filme corria enquanto eu às vezes a provocava recitando algumas falas de Romeu no seu ouvido, me divertindo toda vez que ela ficava arrepiada e seu coração acelerava. E prendendo o riso na hora que ela chorou comicamente, quando Julieta acorda e percebe que Romeu está morto. Não pude evitar, de pensar nisso mais atenciosamente, para os humanos era tão fácil morrer. Era só tomar um simples veneno que davam adeus à vida e podiam se encontrar com o verdadeiro amor seja lá para onde eles fossem.
Lembrei-me da primavera passada, quando eu não sabia se Bella iria resistir. Meu primeiro impulso foi sem dúvida procurar os Volturi para que eles acabassem comigo. Afinal, o que eu faria nesse mundo sem a minha Bella?Ela já fazia parte de mim, uma parte que eu não suportaria perder, só imaginar minha vida sem ela, já dava um aperto insuportável e sufocante como mil facas entrando na minha pele ao mesmo tempo.

–Devo admitir que tenho um pouco de inveja dele aqui - anunciei enquanto enxugava as suas lagrimas.

–Ela é linda! – declarou subestimando o meu comentário.

Ela pensava que eu invejava Romeu por causa da Julieta?Porque o invejaria se eu tinha algo muito melhor do que a Julieta dele? Afinal eu tinha Bella!Então ele que sentiria inveja de mim e não o contrário.

–Não o invejo por causa da garota... Só pela facilidade do suicídio. -Esclareci. –Para vocês humanos, é tão fácil!Só o que precisam fazer é engolir um extrato de ervas...

–Como é? -Ela ofegou

–Foi uma idéia que tive certa vez e eu sabia pela experiência de Carlisle, que não seria simples. Nem tenho certeza de quantas maneiras Carlisle tentou se matar no começo... Depois de perceber no que se transformara... - Tentei tornar minha voz mais leve e continuei. –E ele claramente ainda goza de excelente saúde.

Bella se virou para mim, com os olhos cheios de uma angustia.

–Do que está falando?O que quer dizer, essa história de que pensa nisso de vez em quando?

–Na primavera passada, quando você estava... Quase morta... -Lutei contra a dor aguda que veio em mim, lembrar disso doía terrivelmente, suspirei e prossegui recuperando o tom leve em que comecei.

–É claro que eu tentava me concentrar em encontrar você viva, mas parte de minha mente fazia planos alternativos. Como eu disse, não é fácil para mim, como é para um humano.

Inconscientemente, Bella acariciou a cicatriz deixada por James, na primavera passada e então sacudiu a cabeça querendo afastar algo de sua mente.

–Planos alternativos? Repetiu ela ainda em choque

–Bem não ia viver sem você. -Revirei os olhos explicando o óbvio. –Mas não tinha certeza de como fazer... Eu sabia que Emmett e Jasper não me ajudariam... Então pensei em talvez ir à Itália e fazer algo para provocar os Volturi.

Deixei meu pensamento me guiar ate a ultima lembrança que havia tido dos Volturi, De Aro com a, sua enorme capa preta e sua voz doce por traz da sua mente terrivelmente assustadora.

–O que é um Volturi?- perguntou ela curiosa

–Os Volturi são uma família, uma família muito antiga e muito poderosa da nossa espécie. São a coisa mais próxima que o nosso mundo tem de uma família real, imagino. Carlisle morou com eles por pouco tempo em seus primeiros anos, na Itália antes de se estabelecer na América... Lembra a história?

-É claro que lembro. Asseguro-me ela

-De qualquer modo, não se deve irritar os Volturi a não ser que queira morrer... Ou o que quer que aconteça conosco. Esclareci quase entediado com a perspectiva de céu ou inferno

Rapidamente os olhos de Bella retomaram o pavor e suas mãos seguraram meu rosto firmemente, apesar de não poder sentir, podia jurar que ela devia estar usando toda a sua força.

–Você nunca, nunca, jamais pense em nada parecido de novo!Declarou ela com um misto de raiva e dor. –não importa o que possa acontecer comigo, você não pode se machucar!

–Eu jamais a colocarei em risco de novo, então essa é uma discussão inútil! Afirmei prometendo a mim mesmo cada palavra EU NUNCA MAIS IRIA POR BELLA EM RISCO.

–Me colocar em risco!Pensei que tínhamos combinado que todo o azar era minha culpa. Como se atreve a pensar desse jeito? Minha visão perfeita já conseguia ver os vestígios de lagrimas nos seus olhos. Como ela podia não entender a minha reação? Será que depois de todo esse tempo ela não havia percebido que eu a amava incondicionalmente tanto a ponto de não conseguir viver em um mundo onde ela não exista?

–O que você faria se a situação se invertesse? Perguntei adivinhando sua resposta, que daria logicamente razão ao meu argumento.

–Não é o mesmo caso! Murmurou ela.

Não conseguia entender de novo. Ela ainda insistia na insanidade de achar que me amava mais do que eu a amava?Então eu ri. Como Bella era impossível!

–E se alguma coisa acontecer a você?Gostaria que eu acabasse comigo mesma? Perguntou ela empalidecendo.

Ela me pegou de surpresa. É lógico que eu não gostaria que ela acabasse consigo mesma, só imaginar isso já me provocava dor.

–Acho que entendo seu argumento... Um pouco. Mas o que eu faria sem você?

Estava mais perguntando a mim mesmo do que propriamente a ela.

–O que estava fazendo, antes de eu aparecer e complicar sua vida.

Complicar minha vida... Como se fosse possível complicar o complicado!Ela fora a melhor coisa que havia acontecido na minha vida e não uma complicação. Eu suspirei. Não era tão fácil assim viver sem ela.

–Parece tão fácil do jeito que você fala.

–Devia ser. Eu não sou assim tão interessante.

Ela realmente não se vê claramente!Levantei meu lábio superior para responder mais desisti na mesma hora.

–Discussão inútil. Lembrei a ela.

Ouvi o carro de Charlie dobrando a rua, rapidamente coloquei Bella ao meu lado e assumi uma postura mais formal. Tinha certeza que Charlie não gostaria muito de me ver esparramado no sofá, tendo o meu corpo uma proximidade significativa do corpo de sua filha.