– Peter, eu preciso da sua ajuda. Se a Alice souber disso, eu to fodido!

– E você acha mesmo que a April vai me contar sobre quem ela gosta?

– Pelo menos tenta. Sei lá… Chama ela pra sair.

– Não sou prostituto, Andrew. Foi mal. - Revirei os olhos.

– Eu preciso saber.

– Então, pergunta pra ela. - Bufei. Não falei nada. Continuei deitado na minha cama enquanto o Peter fuçava em sei lá o que no meu quarto. - O que é isso? - Ele me perguntou mostrando o livro da Alice.

– Alice me emprestou. - Ele abriu em uma página.

– Não sabia que ela gostava de livro pornô.

– Não é livro pornô, seu idiota. É romance.

– É que aqui tá dizendo…

– Eu sei o que tá escrito. Eu to no final já. Mas… Não é um livro pornô. - Ele deu de ombros e continuou em silêncio. - Você vai me ajudar, né?

– Tu é muito chato, Andrew. Eu não vou fazer isso. Vai dar muito na cara.

– E se ela gostar de mim? Cara… Ela disse que ele tem namorada. Eu to com a Alice.

– Por que você não pergunta pra April de quem ela gosta?

– Porque eu não sou cara de pau.

– Não pega nada.

– Ah, claro que não. Imagina eu chegando nela e falando assim “Ei, April, me diz. Tu gosta de mim?”.

– Não precisa ser tão direto também. - Bateram na porta do meu quarto.

– Entra. - Falei. Era a April.

– Ahn… Bosta. É que… Juro por Deus que não foi minha intenção ouvir, mas eu estava indo pro meu quarto e ouvi meu nome. Sério mesmo que vocês acham que eu gosto de você? - Ela perguntou olhando pra mim. Estava mais vermelho que um pimentão.

– Bom… Ér… Sabe… Peter começou a achar estranho e… - Parei e cocei o queixo. Eu to com vergonha. Muita vergonha.

– Peter, eu te dei um fora porque não queria. Não porque gosto de alguém. Você não conhece ele.

– Então…

– É, Andrew, eu não gosto de você. Tipo, você é legal e eu até que te acho bonito, mas não.

– Quem é? - Peter perguntou curioso.

– Para de querer fazer fofoca.

– Cala a boca, Andrew. Quem é, April?

– Filho do meu ex vizinho.

– Mas você não estudava num internato?

– Sim, mas meu pai não morava na rua. - Ah…

– Quem gosta de quem? - Ouvi a voz da Alice. Ela parou quando viu a April dentro do meu quarto. - Hm… Oi.

– Oi, amor. - Falei.

– April tava contando a desilusão amorosa dela. - Vi a April revirar os olhos.

– Sempre soube que ele é um babaca apesar de eu gostar dele e ele ser meu amigo.

– Hm… Quem é? - Alice perguntou.

– Não é o Andrew. - April respondeu. - É meu ex vizinho.

– Ah… Ele é bonito? - Ela perguntou animada. Agora que sabe que não sou eu, vai ficar toda animada e vão virar amigas. Não duvido nada.

– É.

– Me mostra foto? - Olhei pra ele.

– Tá brincando comigo, né? - Perguntei.

– Não. - Ela respondeu com cara de deboche.

– Vamos pro meu quarto que eu te mostro e ainda te conto o que aquele cretino fez outro dia. - As duas saíram do meu quarto como se fossem amigas desde a primeira vez que se viram.

– Mas… Isso é a coisa mais estranha que eu já vi na vida. - Falei.

– Alice não gostava da April por ciúmes. Isso eu sabia, você sabia, o Papa sabia…

– Sim, mas você viu o mesmo que eu?

– Meninas… Fazer o que…

– Ainda to tentando entender.

– Andrew, não dá pra entender. Então nem tenta. Capaz de ficar louco. - Ouvi risadas no quarto ao lado. Jesus… É o apocalipse! - Eu to com fome. Então, espero que tenha salgadinho nessa casa.

– Por que você sempre vem filar boia na minha casa?

– Porque minha mãe cozinha mal pra cacete. - Revirei os olhos pra não ter que concordar. Por isso quase não durmo lá. Pra não passar fome nem fazer desfeita.

– Você podia pagar uma pizza.

– Sai dinheiro do meu cu agora?

– Nunca se sabe.

– Espero que tenha Coca também. - Mandei-lhe o dedo. - Nossa. Que agressividade.

– Me ajuda a levantar pra gente ir até a cozinha. - Peter me ajudou a passar pra cadeira de rodas e a empurrou até a cozinha. Quando chegamos lá, Alice a April estavam cozinhando.

– Acha que tá bom ou o pedaço de queijo tá muito grande? - April perguntou.

– Tá bom. Coloca mais tempero? - April provou.

– Pra mim tá bom.

– Eu to com fome. Vocês tão fazendo o que de bom? - Peter perguntou quase enfiando o dedo na forma. Alice fez questão de bater com a colher de pau na mão dele. - Vadia!

– Tua mãe! Não é pra colocar essa mão suja nas nossas batatas recheadas.

– Mão suja… Você nem sabe onde eu coloquei.

– Já posso imaginar. - Ela disse corando levemente e eu ri. - Vamos receber visita.

– Pra quem? - Perguntei comendo um pedaço de queijo.

– Para de falar de boca cheia! - April me repreendeu e eu revirei os olhos.

– Pra April. - Alice respondeu. - Será que se fazer ciúmes resolve?

– Não vou fazer isso. - Eu e o Peter nos entreolhamos.

– Mas vai ser um ganho pros dois. No seu caso, se ele ficar com ciúmes, descobrimos que ele quer algo com você. O que torna tudo mais fácil. E o Peter sempre quis te pegar.

– Vou virar acompanhante de aluguel? - Ele perguntou.

– Ninguém vai te pagar, Peter. - April respondeu.

– Qual o nome dele? - Perguntei.

– Zack.

– A namorada dele é da sua antiga escola?

– É. É irmã da Katy. - Minha nossa Senhora… Espero que a irmã não seja louca igual.

– E sabem o melhor? - Alice perguntou. - Ela não vem. - Graças a Deus. A campainha tocou.

– April. - Peter chamou antes que ela fosse abrir a porta. - Aceito fazer ciúmes. Só pra te beijar. - Ela revirou os olhos. Olhei pra Alice e vi ela colocando a forma no forno.

– Quanto tempo vai demorar? - Perguntei.

– Meia hora, mais ou menos.

– Vou pra sala. Tenho que impedir o tal Zack de beijar a April antes de mim. - Alice revirou os olhos.

– Vem cá. - Pedi batendo na minha perna. Ela sentou na minha perna boa. - Achei que tinha vindo aqui pra me ver.

– Eu vim. Mas April precisava de um momento de garotas.

– Viraram amiguinhas agora? Vou ter que dividir você?

– Deixa de ser ridículo, Andrew. - Ela disse rindo. - E já comprei minha passagem pra ir pra Toronto.

– Hm…

– Te ligo quando chegar lá.

– Que horas você vai?

– As quatro. E tira esse bico da cara. Ainda é terça. Só vou sexta.

– Falta três dias.

– É. Vamos pra sala. Espero que o Zack esteja de vela.

(…)

– Mas você não tem uma namorada? Tá incomodado por que? - Peter perguntou pro Zack.

– April é minha amiga. Não gosto dela se agarrando com qualquer um. - Olhei pra Alice.

– Deixa eles se matarem. - Ela sussurrou pra mim.

– Você nem me conhece. Eu não sou qualquer um. E a April não é criança. Ela fica com quem quiser.

– To percebendo… - April falou baixo.

– É só que… Você vai deixar ela mal. Dá pra perceber que você faz o tipo galinha.

– Ele percebe bem as coisas. - Sussurrei pra Alice e ela concordou.

– Não sou eu quem tá deixando a April mal. E se tá reclamando, termina com a sua namorada e fica com ela! - April arregalou os olhos olhando pra ele.

– Eu amo a Sasha.

– Então por que fica reclamando com quem eu fico ou deixo de ficar? - April se revoltou.

– Espero que as coisas andem mais depressa. - Alice sussurrou pra mim.

– Pega a pipoca. As coisas vão ficar mais interessantes de serem assistidas. - Sussurrei pra ela, que pegou a tigela em cima da mesinha de centro.

– Porque você é minha amiga! Isso é óbvio.

– Hm… Amiga…

– É. Você é como uma irmã pra mim, April. - Agora fodeu.

– Vá a merda, Zack! - Ela levantou e foi o quarto xingando até os filhos que ele não tem.

– Bom… Ér… Então eu vou indo.

– Abro a porta pra você. - Alice se ofereceu. Fiquei só olhando. Ela falou alguma coisa pra ele lá na porta. Perguntei o que era quando ela voltou. - Disse que daqui a pouco a raiva dela passa. E, tadinho, ele ainda não entendeu que ela gosta dele.

– Porque é cego! Eu deixar a April mal… Vocês vão ver só. Agora é questão de honra. April vai se apaixonar por mim. - Eu e a Alice nos entreolhamos. Era só o que faltava…