- O que é isso? - Perguntei quando vi uma caixa em cima da cômoda do quarto da Alice. Ela se arrumava pra irmos comer pizza.

- Uma caixa.

- Ah, jura?

- Tem umas coisas pessoais aí dentro. - Levantei um pouco a tampa e olhei pra ela, que deu de ombros. Terminei de levantar a tampa e vi que tinha várias coisas ali dentro. Tinha até uma carta! O que mais tinha eram fotos.

- Quem é esse? - Perguntei segurando uma das fotos. Senti ela chegar atrás de mim.

- É o Will. Juro que esses dias nem lembrava dessa caixa.

- Hm... Gostei de você nessa foto. - Ela sorriu de canto.

- Andy, eu to querendo me livrar disso tudo. - Alice disse pousando a cabeça no meu ombro. "Andy"...

- Você não precisa fazer isso.

- E você não liga?

- Por que eu ligaria?

- Porque... Estamos... Ér...

- Juntos? Juro que não me sinto incomodado.

- Não?

- Não. Eu sei que ele foi importante pra você.

- É estranho olhar pra tudo isso. Parece que eu não superei. - Virei a cabeça pro lado, pra poder olhar pra ela. - Tudo bem. Eu sei que não superei ainda. Mas vou me sentir mais fraca ainda olhando pra isso.

- Acho que você não deve jogar fora. Pelo menos não as fotos.

- Com certeza não o colar.

- Que colar?

- O que eu uso todo dia.

- Ah, sim... O colar também não.

- Eu só quero uma foto.

- Tudo bem. E o resto?

- Acho que vou jogar fora.

- Quer que eu guarde, caso você se arrependa?

- Não.

- Como você tem tanta certeza?

- Porque eu to com você. E eu não posso ficar chorando pelo Will pelo resto da vida.

- Então... Vai querer fazer o que? - Ela pegou a foto da minha mão e olhou por uns instantes. Depois rasgou. Não falei nada.

- Sabia que o pior de tudo são as músicas?

- Sabia. - Respondi. - Músicas sempre nos lembram alguém.

- É... - Ela continuou rasgando as fotos.

- Vai fazer o que com o CD? - Ela deu de ombros. - Vai jogar fora?!

- Acho que sim.

- Não. Eu quero pra mim. - Alice deu de ombros. Meu celular apitou avisando que tinha uma nova mensagem.

"Parem de se comer e venham logo pra pizzaria."

Óbvio que era o Peter.

- Peter já tá enchendo o saco? - Ela perguntou.

- Ele mesmo. Acho melhor a gente ir.

- To acabando já.

- Quer ajuda?

- Pode ser.

- Pode rasgar qualquer uma?

- Menos a que está em cima da cômoda. - Assenti.

- E o CD que eu vou pegar pra mim.

(...)

- Já veio umas duas pizzas pra cá. - Peter disse quando chegamos. Alan, Natalie e uma menina que não lembro o nome (mas depois o Peter me disse e era Melody) estavam lá. Nos sentamos a mesa. Natalie ficou olhando pra minha mão e a da Alice juntas e olhando pra cara dela também, que a encarava de volta. Fingi que nem notei. Não demorou muito e logo dois garçons vieram trazendo pizzas.

- Vai ter festa no próximo final de semana. - Alan disse.

- De quem?

- Mike. - Peter respondeu. - E você sabe que as festas dele são as melhores.

- Realmente são. - Falei. - Mas não sei se vou. - Natalie soltou uma risadinha irônica, fazendo todo mundo olhar pra ela.

- Você nunca mais vai em festas. - Ela explicou.

- E daí? É obrigatório? - Perguntei. Guria chata.

- Enfim, qual seu nome? - Alan perguntou pra Alice pra "amenizar" o clima.

- Alice.

- Alias, você veio da onde? - Peter perguntou. Natalie bufou.

- De Toronto. Mas prefiro aqui. - Olhei pra ela.

- Tá brincando né? - Perguntei. Ela deu de ombros. - Enfim, esquece.

- Lá é bem diferente daqui né? - Peter disse de novo.

- Completamente. Apesar que tem uns tipos de pessoa que há em qualquer lugar. - Mas... Isso não foi uma indireta. Foi um soco, voadora, hadouken na cara.

- Tá querendo dizer o que? - Natalie perguntou secamente e eu olhei pro Peter pedindo ajuda.

- Só fiz um comentário. Por que? Se sentiu incomodada?

- Me sinto incomodada só por você respirar.

- Nossa... Vou dormir na pia por isso. To chorando sangue.

- Tá fazendo a engraçadinha agora? Tudo isso é por causa do Andrew?

- Hey, espera aí! Não tenho nada a ver com isso aí não. - Já me defendi logo de uma vez.

- Também não entendi porque você meteu o Andrew na conversa. Assim, eu e o mundo sabemos que você tem ciúmes, mas ninguém tem culpa das suas atitudes repugnantes. - Alice respondeu.

- Não são mais repugnantes que as suas. Alias, tá fazendo o que aqui? Já que você é anti-social.

- Quem te disse isso? Não sou anti-social. Só me privo de idiotas. Por isso nem faço questão de olhar na sua cara.

- Escuta aqui, querida...

- "Escuta aqui" o cacete! Tá achando que tá falando com quem? - Jesus, socorro!

- Dá pra parar?! - Peter berrou de um jeito que até eu me assustei. - Sério,parem de berrar. E tem gente olhando. - Natalie bufou se levantando, deixou duas notas na mesa e foi embora sem se despedir.

- Devo te chamar de barraqueira? - Perguntei no ouvido na Alice.

- Só se quiser ficar sem dente. - Ela respondeu sorrindo.

(...)

Depois a Natalie foi embora, o clima melhorou bastante. Eles gostaram da Alice. Impossível não gostar. Com exceção da outra lá.

Parei o carro na frente de casa e olhei pra Alice.

- Minha mãe vai conversar com o advogado dela.

- Por causa da pensão?

- É... Ela tá puta com o meu pai.

- Já pensou se eles voltassem?

- Bate três vezes na madeira, menina! Minha mãe merece coisa melhor. - Alice riu olhando pra casa dela.

- Tenho que entrar. Meu pai já tá de vigia na janela. - Ela disse rindo.

- Acho que ele não vai muito com a minha cara.

- Você é tipo... Neutro, sabe? Tanto faz. - Virei produto de limpeza agora?

- Estranho...

- Nem tanto. Bom, vou indo. - Ela abriu a porta e saiu, acenando pra mim quando fechou a porta. Parei o carro na garagem e subi direto pro meu quarto com a Bia atrás de mim. Mal entrei e meu celular começou a tocar.

- Já tá com saudade de mim? - Perguntei rindo e me deitando na cama.

- Idiota. - Alice respondeu. - É que achei que não me despedi direito de você.

- Claro que não. Não ganhei nem um selinho.

- É a Alice? - Bia perguntou deitando a cabeça na minha barriga.

- É. - Respondi.

- "É" o que, menino? E eu não ia beijar alguém na frente do meu pai. - Alice falou.

- O "é" foi pra Bia.

- Deixa eu falar com ela? - Bia perguntou.

- Ela não quer falar contigo.

- Quem disse? Para de mentir pra sua irmã! - Mereço... Passei o celular pra Bia.

- Oi! - Ela começou dizendo. - To com saudade. - Alice disse alguma coisa. - Você e o Andy se beijam?

- Ok, chega. Já deu. - Arranquei o celular da mão dela, que fez bico. - E tira esse bico da cara. - Quando coloquei o celular na orelha, Alice ria. - Tá rindo de que?

- Tá com vergonha? - Ela perguntou.

- Vergonha de que? Do que a Bia perguntou?

- Não. De quando eu socar sua cara. Lógico que é do que ela perguntou.

- Não to com vergonha.

- Sei... Vou ter que desligar.

- Tudo bem. Até amanhã.

- Até amanhã. - Desliguei. Minha madrasta apareceu e mandou a Bia ir tomar banho. Resolvi fazer o mesmo. Deitei na cama e veio um serzinho abrindo a porta do meu quarto, fechando e deitando do meu lado.

- Andy... Vocês namoram mesmo? - Ah, pronto...

- Não, Bia.

- Vocês combinam. - Ri baixinho.

- Tá na hora de dormir, sabia?

- Eu sei. Por isso to aqui. - Ela disse se aconchegando.

- Não tem mais cama não?

- Não. - Ela respondeu sorrindo. - Boa noite, Andy.

- Boa noite, folgadinha. - Bia dormiu em pouco tempo. Já eu, fiquei lá mofando por horas até conseguir dormir.