POV Leo.

Leo já caíra de lugares bem altos e de dragões em movimento antes, mas ao cair daquela vez, ele sentiu como se seus pulmões fossem atravessar sua coluna. O ar lhe escapava e seus cabelos ameaçavam descolar da cabeça.

Ele tinha minuto, provavelmente menos, para achar um jeito de escapar da morte certa, porém não conseguia pensar em nada além de ‘’AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH’’.

Quando achou que iria virar uma mancha de graxa na paisagem americana, sentiu-se frear e então voltar a cair. Mas o que era aquilo ¿ Ele estava caindo para cima ! E então, tudo ficou confuso e nebuloso e Leo apagou.

Ao voltar a si, o grego reparou em duas coisas.

A primeira era que tudo cheirava a óleo de motor e cabelo queimado. A segunda era que tudo estava quente demais. Quente demais até para ele. Onde estava ¿ Parecia estar em cima de uma enorme mesa de trabalho, cheia de ferramentas gigantes e projetos inacabados impressionantes ! Talvez houvesse mesmo morrido e alcançado o Elísio !

- Ei garoto... – Pigarreou um vozeirão. Leo virou-se para ver o dono da voz e levou um susto. O rosto enorme e disforme a sua frente era horrendo. Era caolho e tinha o nariz torto. Sua pele era marcada por rugas de expressão e por queimaduras leves. Seus lábios estavam cobertos por uma espessa barba desgrenhada que queimava levemente nas pontas.

- Ah ! Eu definitivamente não estou no Elísio !

-Ouça, garoto ingrato, tenho pouco tempo – Grunhiu Hefesto - Você está correndo perigo.

- Puxa, obrigado pelo aviso ! Nem desconfiaria se não tivesse me dito !

-Estou falando sério, rapaz ! Você corre um perigo maior do que pensa.  Os romanos, eles não estão felizes com você e também não estão felizes com a sua amiga. Mas contentes com ela ou não, ela ainda é uma romana, garoto, e ainda é líder deles.

- Onde está querendo chegar ¿

- Por acaso o amor fritou os seus miolos, rapaz ¿ Estou dizendo que ela é filha da deusa romana da guerra e que a sua cabeça pode acabar sendo a oferenda de paz entre ela e a legião !

- Você desconfia de Reyna ¿ Você é louco ¿ Essa confusão de gregos e romanos deve estar fritando os seus miolos ! Reyna jamais me trairia !

- Jamais o trairia ¿ Vou lhe dizer quem jamais o trairia, garoto. Eu, seu pai, jamais o trairia ! Acha que estou mentindo ¿ - Hefesto se tornava maior e mais quente a cada segundo e Leo teve certeza que ele explodiria em um milhão de chamas mágicas incandescentes.

-Não acho que esteja mentindo. Apenas... não acho que Reyna faria isso comigo.

- Você não quer achar, rapaz. Mas ouça esse velho ferreiro enferrujado quando ele diz que o amor é poderoso. Ele faz você achar que em cima é embaixo e que o certo é errado. (NA: adoro essa frase do sogrão Hefesto huahsuas).

- Ainda acho que está errado.

- Você é quem sabe, garoto, mas não diga avisei quando sua cabeça estiver numa bandeja e for a romana que a estiver segurando.

E com esse comentário feliz, Leo se sentiu apagar novamente.

POV Reyna.

Ver Leo despencar pelos céus já teria sido ruim o bastante, mas como desgraça pouca é bobagem, Reyna ainda teve afugentar os venti sozinha.

Conseguiu fazer isso ao sacar seu gládio. A visão do ouro imperial fez os espíritos da tempestade tremerem. Um único toque fez com que um deles se dissipasse. Ao ter essa confirmação, a pretora entrou no modo gladiadora e sumiu com os venti.

Depois de fazer as nuvens más desaparecerem, Reyna teve voltou a se preocupar com Leo. Correu até a amurada para procurá-lo, mas ela não o via em parte alguma ! Então, PUF ! O grego surgiu no convés, completamente inconsciente.

Ele parecia bem, só um pouco mais corado que antes. Reyna o pegou no colo e o levou para a cabine-oficina, deixando-o apenas por um minuto para ir buscar um pouco de néctar. Precisou esperar um pouco para que ele acordasse.

- Eu morri ¿ - Murmurou Leo.

- Não, Leo, graças aos deuses não ! – Ela se sentia aliviada ao ouvir a voz dele. Lhe estendeu o cantil de néctar. – Santo Plutão, Valdez, como... o que...

- Digamos que tive uma ajudinha da família. – E Leo lhe contou sobre o encontrou que tivera com o pai e sobre os avisos a cerca dela ser uma traidora. Era como se ela tivesse uma flechada na barriga. A pretora não era uma traidora. Quer dizer, não queria ser uma traidora, mas se trair Leo pudesse significasse o perdão dos romanos e a segurança da missão, ela o trairia ¿

- Aquelas fornalhas queimando a cinco mil anos... Isso deve estar derretendo o cérebro dele ! – Resmungava Leo.

- Não fale assim de seu pai, Leo. Ele apenas se preocupa com você.

- Ah claro ! Deixar que minha mãe morresse, me enviar nesse maldita missão para salvar o mundo e me deixa ser possuído para tocar fogo em Nova Roma não me parecem as atitudes de um pai preocupado.

- Você sabe que os deuses não podem interferir no destino dos filho !

- Bom, me parece que ele pode. Afinal, ele me salvou da morte só para avisar que minha namorada pode ser uma traidora !

Reyna sentiu o rosto queimar. Só não sabia se era porque Leo a havia chamado de namorada ou se era porque talvez Hefesto tivesse razão. Fosse como fosse, tinham prioridades. Precisavam chegar à Nova Roma e que os romanos não os destruíssem antes mesmo que eles pudessem se explicar. Se conseguisse tudo isso, veria o que faria depois.

Esperou que Leo se acalmasse e então se puseram a trabalhar. Ela esperava que ele terminasse o que quer que fosse que ele tivesse de terminar logo. Enquanto isso, ela fazia estratégias de batalha. Sentia que precisava s preparar o quando antes.

Não viu o dia passar e só tirou os olhos dos projetos quando sentiu os braços quentes de Leo a envolverem por trás.

- Tenho uma surpresa para você, Reynita, então feche os olhos e siga o doce som da minha voz. – Ela sorriu e seguiu a voz de Leo, que tagarelava sobre como era melodiosa sua voz e seu sotaque latino. Ele pegou sua mão e a ajudou a subir a escadinha até o convés.

- Abra os olhos ! – Reyna abriu e a princípio não viu nada diferente. Então, ela sentiu. O vento soprava mais forte e assobiava em seus ouvidos. A paisagem corria ao seu redor.

- Oh Leo ! Estamos rápido ! Isso é maravilhoso ! – Podia ser impressão sua, mas Leo pareceu levemente decepcionado.

- Chegaremos em no máximo dois dias. Talvez menos. Temos que começar a nos preparar para o encontro com seus amigos romanos.

- Não se preocupe. Já estou preparando tudo ! Vamos conseguir convencê-los, Leo. – Ela queria desesperadamente acreditar nisso. Leo então se aproximou e a abraçou.

- Fico feliz que acredite nisso, rainha romana.

Ela fechou os olhos e aproveitou do calor do corpo dele. Aquele cheiro de desodorante e graxa... aqueles batimentos cardíacos hiperativos... Oh céus, ela gostava mesmo dele.

- Está com sono, pretora ¿

- Sim. Estou exausta !

- Eu também. Que tal dormir com seu Valdelícia de novo ¿

- Dormir mesmo ou...

- Dormir mesmo. – Riu Leo. Ela deu uma última olhada em volta e seguiu o grego até a coberta.

Tomaram banho e deitaram como na noite anterior. Leo de barriga para cima e Reyna com a cabeça no peito do garoto. Ela se sentia confortável e feliz ali e começou a pensar que talvez, e apenas talvez, fosse melhor que o Argo jamais tivesse sido consertado.

POV Leo.

O prazer que o filho de Hefesto sentiu ao acordar ao lado da pretora foi logo esquecido ao longo do dia.

Levantaram-se e já começaram a trabalhar. Reyna trabalhava com estratégias de batalha e defesas elaboradas. Ele mesmo trabalhava separando armas e armaduras, além de preparar o Argo para receber seus amigos gregos.

Agora que estava tão perto do Acampamento Júpiter, Leo começava a ficar seriamente preocupado com os amigos. E se ele tivesse chegado tarde demais ¿ Preferia nem pensar nisso ! E ainda havia o aviso desconexo do pai. O grego não queria acreditar no deus, mas e se...

‘’não, Leo, mantenha a cabeça no trabalho !’’, se repreendia, mas um milhão de coisas martelavam sua cabeça.

Reyna parecia totalmente concentrada. Ela riscava o papel com determinação, murmurando zangada de vezes em quando. Ela ficava absurdamente bonita daquele jeito. Se realmente tivesse que deixá-la, sentiria uma falta medonha dela.

- Psiu, mi reina, já disseram que fica linda planejando morte em massa ¿ - Conseguiu arrancar um risinho dela.

- Não estou planejando morte em massa, Valdez. Estou apenas sendo cuidadosa. – Ele levantou e abraçou-a por trás, sussurrando em seu ouvido.

- E já disseram que adoro quando me chama de Valdez ¿

- Leo, por favor ! Isso é sério ! Temos que ter um plano perfeito para todas as possibilidades ! Não se preocupa com seus amigos ¿

- É claro que me preocupo !

- Pois bem. Então me deixe trabalhar. Nós vamos sair dessa ! – Ela parecia estar tentando convencer mais a si mesma que ele.

Resolveu subir ao convés para clarear as idéias.  Ao sentir o vento desfazendo seus cachos escuros se orgulhou de ter consertado seu barco. Ele fluía pelo céu tão graciosamente que parecia um enorme pássaro de madeira e bronze. Não queria que os romanos o destruíssem novamente.

A paisagem estava diferente de alguns dias atrás. Agora que se aproximavam, o céu parecia mais nublado e as cidades eram constantes. Achou que talvez as auras dos romanos afetasse toda a região e ficou com medo de ser possuído outra vez.

Além daquelas colinas, seus amigos podiam estar em perigo. Até mesmo mortos. E dependiam dele para serem salvos. Aliás, pensando por esse lado, a missão inteira dependia dele. O que fazia que o mundo dependesse dele. Mas tudo dentro do esperado quando se é um semideus, não é mesmo ¿

‘’Talvez o mundo depender de mim não seja tão ruim. Seria a Valdelândia !’’´

POV Reyna.

Talvez ela tivesse sido um pouco má com Leo, especialmente porque aquelas as últimas horas dos dois juntos, mas ela precisava formular os planos perfeitos. Teria de haver um jeito de salvar a missão e Leo.

Caso não tivesse, ela temia o que teria de fazer. Talvez ela tivesse que prender Leo, entregá-lo como garantia de suas boas intenções para com a sua legião, para com o detestável Octavian. Ah Octavian. Era ele o problema ! Se não fossem suas palavras de má fé, lançadas tão habilmente sobre os campistas romanos, Reyna sabia que conseguiria convencer facilmente sua legião de que tudo fora um acidente.

Porém naquele momento, ela temia pelo futuro de seu acampamento, pelo futuro dos semideuses gregos, da missão, do mundo !  Agora, tinha apenas de se preparar para o que viesse, fosse lá o que fosse.

Faltavam apenas algumas horas. Mais algumas horas e ela estaria segurando o destino do mundo em suas mãos. Mais algumas horas e ela estaria segurando o próprio destino nas mãos, o que talvez quisesse dizer que estaria segurando nas mãos de Leo.

O nervosismo e a insegurança aumentavam e com isso sua máscara de força também. Ela era a pretora do Acampamento Júpiter ! Ela era romana ! Ela era filha de Belona ! Ela...

Ela sentia vontade de correr para o convés e ficar abraçada com Leo para sempre ! Mas antes mesmo que pudesse transformar esse desejo em realidade, o garoto entrou desabalado na cabine. Seu rosto era uma mistura que todas as emoções possíveis. Ansiedade, medo, tristeza, angustia, cumplicidade, determinação. Com a voz entrecortada, ele disse apenas duas palavras.

- Estamos chegando !