Capítulo 8

消化

Digerindo

Um piscar de olhos e somente Sakura restara sentada diante da enorme mesa. Todos haviam dado no pé ao ver o líder da ANBU lhes lançando aquele olhar tão negro e intenso.

Sakura não sabia bem como agir, não sabia o que aquele olhar penetrante queria dizer. Então levantou-se lentamente, com a cabeça baixa, formulando o que diria a ele.

Sasuke já estava ali há algum tempo sem que percebessem, havia escutado do andar de cima as risadas na sala de jantar e desceu a fim de verificar com os próprios olhos. Só podia estar ficando louco, não há risadas ou algo parecido com alegria nesta casa! Pensava consigo.

Mas ao adentrar a cozinha e colocar-se diante daquela mesa, compreendeu o motivo de tantas risadas. Era ela... Sakura Haruno, gesticulando e soltando deliciosas gargalhadas durante a refeição que estava tendo com seus empregados.

Sim, com seus serviçais.

Quando oferecia um jantar, geralmente eram direcionados a pessoas importantes, sempre por alguma sociedade e a negócios, não havia descontração ou prazer em fazer aquilo.

Mas Sakura não, ela sentou-se com os humildes e rancou-lhes risadas, rancou também mais um pedaço do juízo do Uchiha, que observava pasmo aqueles comportamentos tão novos para si. Simplesmente não havia alegria na silenciosa mansão Uchiha.

— Me desculpe, acho que acabei lhe acordando. A culpa foi toda... — Sakura até tentou explicar-se e assumir a culpa somente para si, mas desistiu ao ver que o Uchiha não estava a fim de lhe conceder um segundo de sua atenção, ao subir as escadas e voltar para seu suposto descanso interrompido.

Frustrada. Sentia-se frustrada. Por que ele não se importa com coisa alguma? Preferia que gritasse e brigasse com ela a lhe dar as costas como resposta.

Ficou parada por um tempo digerindo sua indiferença, mas logo mexeu-se. Subiu as escadas e andando pelo extenso corredor à sua frente, decidiu que ao invés de ir para seu quarto a idéia de espionar a porta entreaberta à sua frente era bem mais tentadora.

Olhou pela fresta e pôde vê-lo em pé diante da janela do imenso quarto. Antes que pudesse controlar seus comandos corporais, viu que era tarde demais... A intrusa já estava lá dentro, andando até ele e pondo-se ao seu lado.

Sasuke não rancou-lhe o couro sabe-se lá por quê.

Talvez ainda estivesse digerindo o aparecimento repentino da médica na vila, ainda que tudo nela fosse genuinamente sincero, no âmago de seu ser sabia que aquela mulher escondia algo e não descansaria antes que descobrisse o quê era.

Sasuke em suas vigilâncias sobre o casebre de Sakura percebeu o quanto ela assustava-se por qualquer barulho, e como seu olhar ficava em alerta, com medo. Ela lhe intrigava e surpreendia de uma maneira positiva, sentia que devia lhe ajudar e fazer com que pudesse se sentir segura, mesmo sem saber ao certo do quê, e o fato de não saber o deixava maluco... Não admitia o sentimento de medo naquela vila.

Ambos ficaram em silêncio, contemplando a adormecida cidade de Konoha através da janela de Sasuke. O céu estrelado estava realmente lindo. Toda frustração sumiu e só sentiu vontade de lhe lançar um sorriso doce, foi exatamente o que fez.

Com os braços apoiou-se sobre o escoro da janela, sentando-se de frente pro Uchiha, que pela primeira vez permitiu-se observá-la. Preferiu não ter o feito, viu o quanto estava bonita, tão graciosa com aquela camisola enorme e branca, desprovida de rendas ou quaisquer arte manha feminina para seduzir, mas ainda assim ofuscava o brilho de todas as estrelas atrás de si. Os cabelos lisos estavam volumosos, moldurando a face delicada, as bochechas avermelhadas e os olhos brilhantes pela recente rodada de risadas que havia dado com seus empregados.

Sasuke sempre achou a vista que tinha para a cidade de Konoha fascinante, mas com Sakura ali... Percebeu que podia ficar incrivelmente perfeita. Daria uma boa pintura num quadro.

— Você gosta muito de Konoha, não é?— perguntou docemente a ele.

— Por que acha isso?— perguntou com seu tom indiferente, embora estivesse interessado.

— Porque a protege. Não é preciso dizer... O fato de protegê-la demonstra o quanto gosta. — disse a rosada sendo ouvida atentamente pelo Uchiha. Sakura não gostava de ser ignorada, mas não se opunha ao silêncio de Sasuke, pelo contrário... Achava que era um homem de atitudes, e aprendeu que quando se tem atitude, palavras não são necessárias.

— Foi à maneira que encontrei para vingar minha família, promovendo a justiça que eles não tiveram. — respondeu o Uchiha, e Sakura não pôde mais controlar o coração, se tinha dúvidas quanto ao que sentia, foram todas sanadas no momento em que ele proferiu aquelas palavras.

Com sua mão delicada alcançou gentilmente a mão de Sasuke, estava tocando-lhe mais uma vez, definitivamente não temia a morte. Ergueu-lhe levando-a até sua face macia, queria sentir o calor de sua mão rígida pelas muitas batalhas travadas que participara, o afago que jamais viria se dependesse dele.

Fechou os olhos aproveitando a sensação de tê-la em seu rosto, mas foi obrigada a abri-los no mesmo instante.

— Sasuke-Kun... — Escutou a voz manhosa e feminina à porta, pondo-se de pé para avistar a figura ruiva que surgira no quarto do líder da ANBU. Da mesma forma repentina com que surgiu também correu de encontro para abraçar o Uchiha que não retribuiu o gesto. Sakura ficou paralisada vendo a cena e sentiu algo dentro de si quebrando-se em trilhares de pedaços. — Soube que chegou da guerra, temi tanto por sua vida Sasuke-Kun...

A Kunoichi não poderia mais ficar ali ouvindo aquela garota toda preocupada com ele. Não poderia ficar para ver-lhes se abraçando ou pior... Beijando-se, como fizeram no treinamento. A dor não parava, conforme os pensamentos maldosos surgiam, traziam consigo ciúmes e vontade de desfigurar o rosto da ruiva com sua kunai.

Céus, o que estava pensando?

Não iria ficar ali de platéia pros dois. Tinha que digerir isso calada e sem chiliques. Que direito ela tinha sobre ele? Nenhum.

Saiu correndo, tentando apoiar-se nas paredes enquanto adentrava o quarto no qual havia sido preparado para si. Seu coração estava em pedaços e era uma droga sentir isso. Achava que a parte boa do choro, é que parecia a fórmula perfeita para dormir... Buscou cessar a dor através dos sonhos. Buscou sonhar que de fato nada disso tivesse acontecido e assim adormeceu...