Capítulo 3

理由

Motivo

Percebeu ser suspendida para cima com tanta facilidade que se sentiu ridícula por estar numa situação como aquela. Em seguida sentiu um pouco de dor na perna e por fim, finalmente sentiu a já esperada vergonha ao notar que estava nos braços do Uchiha, sendo carregada para dentro de seu casebre.

— Me desculpe... Eu... — A rosada tentou dizer algo enquanto ele a sentava numa cadeira da cozinha e agachava-se à sua frente para levantar a calça que ela usava até a altura da cocha. Sua intenção era ver se havia feito um grande estrago em sua perna, pois machucada ela certamente estava. Fiapos de madeira podre costumam machucar, deduziu.

Mas inconvenientemente seus pensamentos detectaram mais que simples arranhões encharcados de sangue. Reparou o quão delicado era seu pé, reparou no quão branca era sua pele e quão bem torneada era sua perna. Tocou suavemente a pele exposta, até sujar as pontas dos dedos com o sangue dela e enfim acordou para o que devia realmente fazer.

— Onde está sua maleta?— perguntou com a impaciência de esperar ela finalmente responder e já foi procurando com os olhos.

— E - está em cima da cama... Em meu quarto. — respondeu a rosada, sentindo-se pela milésima vez uma otária. Estava nervosa por ele estar entrando em seu quarto? Francamente...

Assim que Sasuke retornou, se postou diante dela mais uma vez, repetindo os procedimentos que a viu realizar em si bem mecanicamente, sem nunca olhá-la. Ela sentiu-se incomodada com o silêncio, o barulho das cigarras ao lado de fora já não eram o suficiente para ela, não com ele ali diante de si numa posição inferior, revertendo os papéis que desempenharam durante a manhã.

— Não precisa prender a respiração. — disse o Uchiha focado no curativo.

Sakura ficou estática, estava mesmo prendendo-a sem que percebesse. Estava fazendo isso por causa da ansiedade descontrolada, também pela dor, pela ardência que o toque dos algodões com álcool causava, talvez por algum outro motivo também...

— Não estou acostumada com a dor, apenas a tratar dela. — disse quando finalmente soltou o ar comprimido, contrariando a afirmação que ele mesmo havia feito a ela sobre ser "acostumado a dor". Estava começando a cair na real de que eram bem opostos.

— Pensei que fosse uma ninja também. Deve saber lidar com a dor. — disse em seu tom sério e mediano de sempre.

— Só ataco se for necessário me defender, e geralmente não são combates físicos, prefiro armas ninjas. Acho que me sinto menos culpada, pelos ferimentos que eu mesma terei de tratar depois. — disse ela ignorando a possível crítica contida no tom dele, aproveitando para dizer alguma coisa já que não suportava mais a quietude no ambiente.

— E se for pega? Torturada? Deve estar preparada. — disse como se quisesse achar alguma maneira de mostrar a ela que estava certo.

Sakura não estava gostando nada disso. Que papo é este de "você DEVE saber lidar com a dor", "você DEVE estar preparada"... Será que não fazia nada além de ter deveres e obrigações? Perguntou-se a rosada, percebendo o quão pouco ainda sabia sobre o Uchiha.

— Talvez eu não esteja preparada para ser torturada, mas estou pronta pra morrer por aqueles que amo.— afirmou recebendo o olhar imediato de Sasuke. Um olhar tão intenso que sentiu novamente o coração acelerar, sentiu vontade de abraçar o controlador da dor, o líder da ANBU, o ultimo sobrevivente Uchiha...

Sasuke estava perturbado. Que garota em anos luz diria algo parecido com isso? Queria apertá-la contra a parede e descontar sobre ela sua frustração, e não o fazia porque simplesmente ela não merecia, ele se quer sabia por que diabos sentia-se assim.

Sakura não pôde acreditar quando ele terminou de fazer seu curativo e a pegou novamente no colo, entrando consigo em seu quarto. Acomodou-a em sua cama e ficou de pé parado, encarando além da janela. A médica só conseguia admirá-lo e perguntar-se como ele poderia ser tão temido se era assim tão bom? Bom pra vila, bom pro seus trabalhadores, bom para ela... Aliás, o que é mesmo que ele veio fazer por aqui? Perguntou-se, tentando compreender em meio a todos estes acontecimentos o que o trouxe até seu casebre.

— Estou indo. — avisou, mas antes que pudesse sair sem que ela visse como da ultima vez, conseguiu chamá-lo.

— Sasuke... — ele deixou que seus olhos caíssem sobre a médica deitada. — O-oque estava fazendo aqui? C-como sabe onde moro?— perguntou sem entender.

Sasuke devia estar em casa, se recuperando, descansando... Ficara durante doze dias em missão, como sempre garantindo a paz de Konoha, desgastando-se. Devia estar esgotado, mas estava lá... Na casa de Sakura, que não fazia mais de apenas horas, havia conhecido.

— Eu... Precisava avisá-la a respeito das missões em que iremos. Antes que comecemos, é necessário que treine e quando estiver pronta, então poderemos ir. — explicou e Sakura assentiu. Sabia que não estava em sua melhor forma ninja, e se não treinasse seria apenas mais um fardo a ele.

A verdade é que não havia mesmo motivo, ainda quê o que tenha dito fosse verídico, não era bem por isso que tinha ido até lá. Sasuke queria ver onde a médica ninja de quem nada sabia, ficaria instalada. Queria observá-la limpar sua casa, queria entender desde quando tinha o interesse pela medicina, uma vez que nunca em sua vida havia visto uma médica tão jovem, praticamente uma menina com o corpo de uma mulher, ainda por cima ninja. E sobre tudo, sentia que precisava saber sobre sua vida, sua história e o porquê de ter vindo de sei lá onde, para viver na pequena Konoha.

— Quando posso começar?— ela perguntou e ele lançou um olhar sarcástico para sua perna machucada. Como se insinuasse que não está em condições.

— O que é? Não está muito melhor que eu!— disse a médica devolvendo-lhe o olhar sobre os machucados.

— Quando for à hora certa, te procuro. — disse ao sair, sumindo das vistas de Sakura que experimentou uma sensação de vazio.

Te procuro...

Isto ecoava na cabeça da médica, ele viria até ela? Quando seria isso? Quando seria a tal hora certa? Ela mal poderia esperar pra descobrir mais um pouquinho sobre o Uchiha.

Insanamente queria pedir pra que ele ficasse, queria conversar, conhecê-lo melhor. Mas deveria era se dar ao respeito, pensava repreendendo-se por se imaginar tendo um tempo tão leviano com um ninja, não, pior... O líder dos ninjas. Onde estava com a cabeça? Se quer sabia se ele era casado, se tinha filhos, ou uma namorada que seja... Provavelmente tinha. Era bonito e era bom, certamente já tinha uma companheira.

Sacudiu a cabeça tentando afastar o moreno de sua mente, e só assim conseguiu adormecer.