Um Conto De Fadas Em Miami - Fic Interativa escrita por Words of a stupid girl


Capítulo 13
Capítulo 12 - Enquanto Isso...


Notas iniciais do capítulo

Lista de promessas para o ano novo:

1) PARE DE ATRASAR OS CAPITULOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

oi leitores lindos do meu coração. Atrasei de novo:( eu tava passando o fim de semana fora, sem pc, aí n pude postar, aí depois eu comecei um pequeno drama da vida achando que o capítulo tava uma merda... mas tudo bem! pq agora, eu estou aqui!!!!!! Eu vou parar de prometer datas para os capítulo saírem, pq eu nunca cumpro essas datas! então é melhor eu n dar expectativas

acabei de pensar uma coisa: 2013 acabou e a maioria dos personagens ainda não apareceram na fic. É, admito que eu demorei séculos, mas adivinha? a espera acabou! No próximo capitulo, quase todos os personagens terão uma participação especialíssima no nosso querido conto de fadas! só 3 não vao aparecer, pq vao ser encontrados mais tarde. Quer dizer, 4. Mas um é de autoria minha



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19 de Dezembro de 2012, Terça-feira, 9:00

Querido diário,

Eu sou uma covarde. Assim, no sentido mais chulo e concreto da palavra. Covarde, mesmo. E tudo porque eu quis proteger aqueles que amo.

Acho que, no final das contas, minha covardia me obrigou a ser corajosa. Deixe-me explicar: ontem à tarde (após uma série de acontecimentos que você merece saber. Mas não agora; o que eu tenho para falar nessas linhas é mais urgente.) eu o enfrentei. Sim, é do Rider, meu irmão gêmeo idiota, de quem falo. Você sabe melhor que ninguém que não importa o quanto eu proteste, ele sempre acaba ganhando nossas discussões. Em parte porque apela para a força bruta, área na qual, francamente, estou em desvantagem, e em parte porque ele é teimoso como uma mula. De qualquer forma, me parece que as coisas vem mudando desde que chegamos aqui.

Tudo começou no Colony Hotel. Eu o convenci a entrar lá, lembra? Eu nunca o havia convencido de nada em todos os, quinze anos em que o conheço. Claro que o Sr. Jon Bon Jovi ajudou bastante. Sem falar que ele estava com o pé machucado, o que não contou muito como uma vitória justa.

A partir daí, conhecemos outras pessoas. Pessoas que, insistia ele, eram como nós. Como eu disse antes, ele está obcecado com uma certa missão mágica insana. Mas aí é que está: elas eram diferentes. Elas conseguiam se impor. Conseguiam simplesmente bater o pé no chão, dizer o que queriam e fazer com que ele ouvisse.

Ele nunca me ouvia.

Pois é, diário. Elas me inspiraram.

Então, naquele pôr-do-sol, eu fui até ele, respirei fundo e despejei no chão tudo o que eu estava sentindo. E isso é uma tarefa difícil, tendo em vista que, no momento, o que eu estava sentindo era um emaranhado confuso de pensamentos e emoções estranhas, nas quais se sobressaia o medo extremo. Tentara esconder essas emoções, antes, mas elas eram tão grandes que já não cabiam na cabeça de uma garota magricela de quinze anos. E sabe o que ele fez depois, diário?

Ele foi o Rider de sempre: teimoso como uma mula. Me acusou de fraqueza, traição e covardia, e foi embora.

Agora, na manhã seguinte a essa tarde, percebo que fui acusada com razão. Eu sou, sim, covarde. Não pelos motivos que ele apontou, pois não acredito que caçar contos de fadas lhe faça mais corajoso ou menos louco. Sou covarde porque eu o deixei ir embora. Sou covarde porque achei mais fácil fugir dos meus problemas, em vez de encará-los de frente e, quem sabe, eventualmente, conseguir ajudar Rider ou até mesmo meus pais a desistirem dessa ideia louca de princesas e fadas madrinhas.

O fato é que eu poderia ter salvado a nossa família, se ao menos tivesse tido bom censo. Eu sabia que, se o confrontasse, ele não me ouviria. Mas eu o fiz mesmo assim. Embora seja tarde demais para mudar as coisas, reconheço meu erro, e penso nele o tempo todo.

Sabe qual é o meu problema, diário? Eu penso demais. Eu penso tanto que o próprio pensamento me sobrecarrega, e eu acabo fazendo coisas estúpidas como essa. Corajosas? Sim. Mas estúpidas. E fundamentadas em covardia. Se eu parasse de pensar tanto, não ficaria paralisada com o perigo, como aconteceu quando encontramos o Mike. E não ficaria paralisada com cada pessoa nova que conheço. Talvez tivesse até mais amigos.

É, lembre-me de passar um marca-texto amarelo neon nesta frase: Pare de pensar, Lisa. Deixe as coisas acontecerem.

Agora, cá estou eu, sentada em um banco de concreto, na rodoviária, escrevendo em suas páginas com uma das várias canetas esferográficas azuis que um grupo de pessoas estava distribuindo por aqui. Tinha alguma coisa a ver com uma campanha contra a violência, ou sei lá. Só sei que, após passar muito tempo em Bayside, ouvindo os músicos de rua tocarem e pensando no que fazer, decidi continuar com meu plano de pegar um ônibus de volta para a Carolina do Norte, e descobrir o que fazer por lá. Só que sem o Rider, dessa vez.

O lugar está começando a ficar movimentado. Acho que o próximo ônibus já está para sair! Como vou pagar por ele? Não faço a mínima ideia. Não tenho nada além das roupas do corpo, você, um livrinho azul e uma caneta esferográfica anti-violência. Porém, vou seguir meu próprio conselho e deixar as coisas ___

–Com licença. Que horas são? -uma voz interrompeu Lisa enquanto ela escrevia/riscava o papel amarelado do diário com força, fazendo com que as letras saíssem mais escuras e borradas. Sem nem ao menos olhar para o estranho que a perguntara, ela virou a cabeça para avistar um grande relógio que pendia do teto da rodoviária, com desenhos de palmeiras enfeitando. Esse relógio estava um pouco longe, mas a garota estava usando seus óculos, o que facilitou bastante a resposta.

–Nove e meia. -virou-se de volta para onde ouvira a voz, engasgando no meio das suas próprias palavras. Por quê? Porque ela pôde, então, ver com clareza seu dono:

Ele era um sujeito alto e moderadamente musculoso, sentado no mesmo banco de concreto, ao seu lado esquerdo. Mas ele não era dono apenas da voz. Ah, não. Lhe pertenciam, também, lindos cachinhos de anjo na cor castanha, e sobrancelhas grossas, que conferiam ao seu rosto oval e magro um semblante de cachorrinho triste. Além disso, ainda contava com a pele branca levemente bronzeada (efeito do sol escaldante que Lisa já sentia sobre seu próprio rosto), músculos braçais avantajados e uma camisa xadrez cinza de tirar o fôlego de qualquer um.

Inclusive o dela.

O lindo estranho sorriu, e Lisa viu, pela primeira vez, pequenas covinhas surgirem em suas duas bochechas maravilhosas, ao redor da sua arcada branca e perfeita.

Parecia um sonho.

–Obrigado. -ele disse, simplesmente.

Lisa meio que se perdeu naquela voz. E, de repente, ela se pegou tendo os principais sintomas indicativos do que resolveu chamar de "crise da garota que encontra um garoto lindo em um livro de romance." É chamada assim porque, até então, ela só a havia visto em histórias românticas de ficção.

Como num passe de mágica, o chão pareceu se transformar em um imã, para seus olhos. Ela perdeu completamente a capacidade de olhar para cima. Isso era parte sintoma, parte porque sabia que, se o fizesse, o garoto veria seus dois olhos diferentes. E aquilo já era motivo suficiente para não fazê-lo.

Outros sintomas incluíam começar a se arrumar inconscientemente, pelo simples desejo de parecer o mais bonita possível. Lisa tentou dar um jeito no cabelo (o que não deu muito certo, pois ele continuou sujo e embaraçado) e subiu uma das alças da sua blusa preta com estampa de lobo, que voltou a cair sobre seu ombro. Tudo para tentar disfarçar o verdadeiro caco que ela estava.

–Então... -o estranho começou a falar, seguido instantaneamente pela sua atenção. Mas foi bem naquela hora que parou, bem na frente dos dois, o ônibus de Lisa.

Não foi o veículo ter chegado e parado, já havia se formado uma fila de apressados em frente à sua porta, prontos para entrar e sentar em seus respectivos lugares. Quer dizer, não era bem uma fila. Era mais um amontoado de gente, mesmo.

Ao ver toda aquele movimento, Lisa não tinha escolha, senão deixar o garoto e entrar no meio do empurra-empurra. O plano era simples, mas, esperava ela, eficiente: se misturaria com a multidão que lotava a fila, o que, convenhamos, não seria difícil para uma garota como ela. Felizmente, nascera com o maravilhoso dom de não se fazer notar no meio de pessoas. Uma vez ali, tentaria passar pela porta de entrada juntamente com um grupo grande, e, se posicionando bem no meio, ninguém a veria entrar. Consequentemente, ela não precisaria pagar um centavo.

Mas o que ela estava pensando???? Aquele era um péssimo plano!! Era o tipo de coisa que só funcionaria em uma daquelas comédias românticas água com açúcar que passam na HBO!!!

Ela respirou fundo. Pare de pensar, Lisa. O plano precisa funcionar. Além do mais, você adora as comédias românticas água com açúcar da HBO.

A primeira parte do plano funcionou sem problemas. Apertando o diário contra seu peito como se, a qualquer instante, alguém pudesse puxá-lo de sua mãos (o que era bem provável, com todas as campanhas contra a violência que estavam fazendo.), ela levantou-se do seu assento e caminhou suavemente com seus tênis desgastados em direção à fila, cujo último lugar era ocupado por uma senhora baixa e grisalha. Antes, porém, tornou a olhar para o lindo estranho que lhe perguntara as horas. Este estava no exato mesmo lugar, concentradíssimo na tela do seu celular, e parecia estar escrevendo uma mensagem de texto. Não que Lisa tenha dado muita importância a isso.

Assim que ele levantou o rosto, Lisa fugiu de seu olhar e foi rapidamente se metendo no meio dos passageiros da fila.

Ela passou por tudo quanto é gente: de velhos irritados com a demora da partida, homens de meia-idade carecas com barrigas de chopp e mulheres carregando crianças de colo, até um gurpo de universitários queimados de sol, que ela não fazia ideia do que queriam fazer na Carolina do Norte. Por fim, ela achou o seu grupo grande e ficou lá no meio, quieta, sem fazer o menor barulho, apenas esperando que nada aparecesse para atrapalhar a desenvoltura do seu plano.

O amontoado de gente andava mais rápido do que se esperaria de qualquer coisa nos Estados Unidos. Talvez fosse a pressa para sentar-se em uma cadeira de verdade, e não aquele banquinho duro de concreto, que fez com que, em poucos segundos, já estivesse bem perto da vez do seu grupo grande entrar. Segundos que, para ela, duraram uma eternidade. Não queria admitir que estava nervosa, mas cada passageiro demorava em torno de um ano ou dois para pisar dentro daquela máquina ambulante de metal pintado.

Vamos lá, Lisa. Você já fez coisa pior.

Antes tarde do que nunca, seu grupo começou a entrar. Lisa se encolheu e seguiu andando, tentando passar por despercebida pelo motorista e o cara que ficava na porta, assistindo à multidão e pedindo a passagem de algumas pessoas. A respiração lutando para se manter calma, ela ia colocar o primeiro pé na escadinha que ligava o asfalto ao corredor do ônibus. Ninguém parecia notá-la.

Vários pensamentos se enfiaram em sua cabeça quando levantou a perna esquerda (de novo, pensando demais. Tinha que parar de fazer aquilo), mas não lhe ocorreu que alguém lhe atropelaria sem dó nem piedade e passaria na sua frente.

–Opa! Desculpa! -o alguém segurou-a pelo braço antes que ela se desequilibrasse. Era ele. O lindo estranho. -Você está bem?

Lisa queria perguntar como ele havia chegado ali tão rápido. no segundo passado, ele estava sentado em um banco teclando no celular, bem longe dela. Agora, estava perto até demais. Mas, como parte da crise, ela não conseguia falar com ele. Assentiu com a cabeça, tímida, olhando para o chão.

–Desculpa mesmo, tá? Não sei como te compensar. -ele tinha uma constante cara de preocupação. Poderiam ser só as sobrancelhas, mas alguma coisa a dizia que ele estava, de fato, preocupado com ela. -Aliás... sei, sim.

Levou-a pelo braço até o cara da porta, um homem magro, alto e de bigode engraçado. Entregou-lhe algumas moedas, que tirou do bolso da sua camisa xadrez matadora. O cara olhou para elas com surpresa, e murmurou alguma coisa sobre ter mais dinheiro que o necessário para uma passagem ali.

–Eu sei. São duas passagens. Uma para mim e uma para a dama. -o estranho respondeu, apontando para Lisa, que já sentia suas bochechas ficando enrubescidas. Dama? Sério?

Com as duas passagens em mãos, eles dois finalmente entraram no tão aguardado ônibus. Seguiram pelo corredor único. Cada fileira tinha quatro cadeiras acolchoadas: duas de um lado, e duas do outro. Os lugares estavam quase lotados, em sua maioria, de modo que só estavam vagos alguns assentos na parte de trás do veículo.

Indo logo atrás do estranho, Lisa viu de relance que mais um homem a encarava de modo suspeito. Ia dar uma melhor olhada nele, mas foi interrompida novamente pela linda voz rouca do estranho.

–Acho que... aqui está bom! Que tal? -indicava duas cadeiras do lado esquerdo do ônibus e, pelo jeito que movia sua mão, esperava que ela entrasse primeiro.

Lisa soltou seu braço, que ainda era segurado pelo garoto dos cachinhos de anjo. Suas mãos eram grandes (com certeza maiores que as do seu irmão), mas suaves. Ela não pôde evitar olhar para baixo enquanto pronunciava:

–Por... por que pagou pra mim?

Ele levantou uma das grossas sobrancelhas, mostrando dúvida. Porém, Lisa sabia que ele sabia do que ela estava falando. Não existia dúvida nenhuma quanto a isso.

–Eu estava tentando ser um cavalheiro! - disse, por fim. A garota lançou-o um breve olhar incrédulo. Aquela resposta não explicava seu repentino interesse por ela. Tinha algo mais. -Tá, então pense nisso como um agradecimento! por ter me dito as horas!

Ela queria duvidar dele, até porque aquela história estava muito mal contada. Mas o sorriso! O sorriso a impedia de dizer não para qualquer coisa que saía dos seus lábios rosados!

Não era justo!

Acabou por desistir e sentou-se desajeitadamente do lado da janela. Ele sentou na outra cadeira, bem perto dela, do lado do corredor. Ali ficaram, até que o motor deu seus primeiros sinais de vida. Lisa decidiu ocupar-se, fazendo o que mais gosta em uma estrada: escrever em seu diário. Pegou sua caneta anti-violência e começou a passá-la rapidamente pelo papel.

–A propósito, meu nome é Matt! -disse o garoto, quando os pneus já rugiam para fora da rodoviária. No entanto, ela não estava prestando atenção no que ele falava. Estava concentrada em terminar as anotações que começara de manhã. O caderninho de capa dura, apoiado em seus joelhos, parecia mais um jornal, de tantas letras e palavras que ela estocava lá dentro, sem nem parar para respirar.

Matt ficou curioso com a garota, e com como ela desligara do mundo quando pegou um pedaço de papel.

–Ah, oi? -ele a chamou, porém, não obteve resposta.

–O que é isso? Um diário? -perguntou.

Lisa não se importou em ver se ele estava, de fato, lendo ou não o seu diário. Ao ouvir aquelas palavras, foi completamente instintivo e automático. Ela fechou o caderno em uma fração de segundo e olhou para seu acompanhante.

Ele tinha um pequeno sorriso no rosto, que mostrava suas covinhas, e um chumaço de cabelo castanho perfeitamente enroladinho caindo na testa. Não tinha como não sorrir de volta para a figura.

Ela fez que sim com a cabeça, para responder à pergunta, um sorriso bobo na cara. O gesto o fez abrir um sorriso e covinhas maiores ainda.

–Posso ver? -Matt estendeu uma das mãos em sua direção.

Lisa podia ter feito muitas coisas. Podia ter dito educadamente que não, ele não podia ver. Podia ter dito qualquer coisa, na verdade. Mas todas as todas as suas habilidades comunicativas sumiram, do nada. Efeito da crise. Ao ver aquela mão grande chegando perto de todos os seus pensamentos e sentimentos registrados em detalhes, a garota tomou o diário em mãos, abraçou-o protetoramente e balançou negativamente a cabeça, os olhos arregalados.

Ele riu dessa reação.

–Entendi. Acho que vou te deixar em paz, então.

A criatura, cujo nome, Matt, era a única coisa que Lisa sabia a respeito, encostou a cabeça na cadeira, os olhos para o corredor, dando a ela a privacidade para escrever seja lá o que quisesse em seu caderno. No entanto, ela já não tinha mais vontade de escrever. Em vez disso, ela deixou-o bem fechado em seu colo, e pôs-se a observar as paisagens urbanas que passavam em alta velocidade, na janela à sua esquerda.

As calçadas e ruas de Miami, bem como os prédios e as cores fortes e quentes da praia apareciam como um flash na janela, e a faziam pensar inevitavelmente em uma única pessoa: Rider. Ele estava lá. Em algum lugar, por entre a paisagem, ele vagava sem rumo, perdido em um mundo de fantasia. Se seu plano tivesse dado certo, mesmo, e ela estivesse voltando para sua casa, aquele era o fim. Ela não veria mais ele. Nunca mais. O mesmo valia para Alison, a garota com os cabelos mais dourados da costa leste, e Heather e Bruce, que ela nem tivera a chance de conhecer direito. Todos andando pela rua, sem nada, como mendigos.

Mas não havia mais nada que ela pudesse fazer. Ela já tinha estragado as coisas. Rider não iria com ela nem que implorasse de joelhos. Talvez ele morresse de fome, talvez de sede, ou talvez atacado por algum bandido cubano. O fato é que Lisa conseguiria superar isso. E ele não.

Por que ele tinha que ser tão teimoso?

Duas lágrimas teimaram rolar pelas suas bochechas ao pensar naquilo. Lisa amava seu irmão. Mesmo com todas as brigas, todos os desentendimentos. Ela amava, e por isso, tinha medo por ele. Um medo que, até então, só conseguira causar uma lente de óculos molhada e embaçada.

Ainda pensativa, tirou os óculos e limpou-os em sua camisa. Ela detestava quando esse tipo de coisa acontecia, pois nunca parecia que estavam limpos o suficiente. Sempre restava um rastro de poeira, vapor condensado ou até mesmo uma sujeirinha que estava presa em sua roupa, mas que se agarrava às lentes e incomodavam demais a visão. Naquela manhã, porém, isso não a incomodava nem um pouco. Ela estava pouco se lixando para aquilo.

As coisas mudaram consideravelmente quando ela colocou os óculos de volta na frente de seus olhos. Como já esperado, eles estavam mal limpos, fazendo com que ela não pudesse enxergar muito bem as fileiras de cadeiras em frente à dela. Irritada, ela tirou os óculos de novo e deu mais uma limpada impaciente. Colocou-os mais uma vez.

Lisa quase pulou de sua cadeira com o susto. Sorte que era apertado de mais para isso ser possível.

No exato momento em que ela colocara a armação grossa e preta, um rosto saltara do meio de todos os dos outros passageiros. Ele vinha de algumas cadeiras à frente, e olhava para ela de uma forma descaradamente indiscreta.

O rosto era pertencente ao homem gordinho que Lisa achara estar encarando-a ao entrar no ônibus. Ele era meio rechonchudo, com um cabelinho preto cortado no melhor estilo "padre da idade média". Seu nariz era rombudo e, para coroar, tinha uma barbicha preta maravilhosa, que agradava a quem olhasse. Para não dizer o contrário.

No entanto, não foram essas as características que fizeram o susto de Lisa. Essa função foi atribuída aos seus olhos castanhos claros, que, por um segundo, cruzaram com os seus. Ela já havia visto aquele olhar. Duas vezes, para ser exato. E, em todas as vezes, as coisas não acabaram muito bem.

–O que foi? -Matt perguntou entre um pequeno bocejo e outro, acordado pela tentativa de pulo na cadeira. Lisa nem havia percebido que ele caíra no sono, ao passo que o ônibus andava. Àquela hora, já deviam ter percorrido grande parte da cidade. Não podia dizer, pois não havia prestado muita atenção.

–Hmmm... não é nada, não. -Lisa murmurou, ainda olhando atentamente para a cadeira à sua frente. Felizmente, a resposta baixinha pareceu o bastante para tranquilizá-lo, e ele voltou a deitar a cabeça no apoio.

Confissão: a garota passou um bom tempo olhando aqueles cachinhos enquanto ele virava-se de costas para ela. Era tão lindo como, até no sono, ele tinha cara de preocupado! Ele era todo lindo. Que nem um Augustus Waters, ou um Cedric Diggory da vida.

Depois de muito decorar aquela nuca, ela hesitou, mas deu uma outra espiada na cadeira onde o rosto se sentava. Os olhos. Ainda se concentravam nela.

–Na verdade, é sim. -chacoalhou de leve Matt, que, com os dois olhos só meio abertos, sorriu. Tá. Tentou soltar a informação do jeito mais seguro que encontrou. Até porque falar que um assassino estava encarando-a não é uma coisa que se diga assim, do nada. -...Tem algum jeito de parar essa coisa?

Ele pareceu aceitar bem o pedido. Olhou para os dois lados, abaixou a cabeça e sussurrou, seus rostos quase colados:

–Por que não disse logo? -então, ele parou. Puxou a máxima quantidade de ar que um pulmão saudável pode aguentar e, depois, projetou todo esse ar na forma de grito. -FOGOOOO!!!!!

A partir daí, tudo virou confusão.

Era gente correndo para um lado, saídas de emergência sendo abertas para outro, e um punhado de gritos ensandecidos para completar a cena. A ideia de Matt funcionara perfeitamente, quase como se tivesse sido programada para acontecer. Depois de um determinado ponto, o motorista não conseguia dar conta de tanta gente louca, fugindo de um incêndio que, na verdade, não existia, e se viu obrigado a parar o ônibus no primeiro lugar que pôde (no caso, no meio fio de uma rua estreita, ainda nos limites de Miami) e abrir as portas da frente. Uma enxurrada de pessoas correu para fora.

A rua pertencia a um bairro residencial bem arborizado, com várias casinhas de classe média enfileiradas margeando as calçadas. O sol ainda brilhava forte, e pode-se dizer que os moradores ficaram um tanto confusos ao ver o batalhão de gente correndo como loucos ao redor de suas casas.

Quando o ônibus já estava quase vazio, saíram pela porta principal os dois adolescentes saltitantes, um do lado do outro, se estourando de rir da situação.

–Nunca mais me peça para fazer isso de novo. Ouviu, mocinha? -Matt sacudiu o dedo indicador para Lisa, como uma falsa bronca. -Eu sou um bom menino! Não faço essas coisas.

–Mas... e você? -Lisa parou o garoto, no meio da calçada. -Você não ia...

–... pegar o ônibus? Ah, eu me viro daqui pra frente. Não precisa se preocupar com nada. -ele deu outro sorriso encantador.

–Obrigada.

Era isso. Aquilo era um adeus. Passou pela cabeça de Lisa que, agora, ela teria que voltar à rodoviária e achar outro jeito de chegar à Carolina do Norte. Mas estava feliz em não ter mais aquele homem estranho por perto. Ele trazia péssimas lembranças. Por outro lado, se ele estivesse mesmo procurando por Lisa, provavelmente ainda estaria pelos arredores...

Ela não queria sair por aí sozinha. Queria ir com Matt. Mas ficou com vergonha de pedir mais uma coisa a ele. Já tinha exigido demais do garoto. Portanto, sem dizer mais nada, ela abraçou o diário, deu meia volta e seguiu caminho, em passos pequenos, para a direção oposta da rua.

–Espera! -ela sentiu seu braço sendo puxado para trás. Por um microsegundo, entrou em pânico, e ao ver quem o puxava, seu coração quase parou. Não de medo, mas de outra coisa. -Antes de nos despedirmos, posso ao menos saber seu nome?

–Lisa.

–Certo, Lisa. -Matt sorriu. A mão que segurava seu braço desceu para sua mão, onde ele depositou um beijo, como um cavalheiro. -Foi um prazer te conhecer.

Ele olhava bem fundo nos olhos de Lisa, e ela, nos dele, que, percebeu ela, brilhavam num lindo tom de verde claro. Era tudo o que ela queria evitar, desde que ele perguntara as horas. Porém, ela não se importava com uma coisa besta como essa. Não mais. E ele, com suas sobrancelhas levantadas e covinhas aparecendo, não demonstrou sinal de estar se importando, também. Do jeito que ele a olhava, parecia até que ele os achava... bonitos? Lisa não tinha certeza. Mas ela tinha certeza de uma coisa: ela estava sorrindo como uma boba.

Esquece o Augustus Waters. Aquele não era uma boa representação de Matt. Ele estava mais para um príncipe. Sim! Isso mesmo! Ela só podia estar sonhando, e viera parar em seu próprio livro de romance, onde a esperava seu príncipe encantado. Só que, ao invés de um cavalo branco, ele chegara em um ônibus.

Poderia ficar o dia todinho ali, e provavelmente, ficaria, com todo aquele verde estonteante em cima dela.

Em um determinado momento, Matt virou seus olhos um pouquinho para o lado, quebrando o contato visual dos dois. E o que se seguiu foi a mudança mais rápida de humor que Lisa já pudera ver em alguém. De sorrindo e maravilhoso, Matt passou para surpreso.

–CUIDADO!! -ele gritou, e instantaneamente empurrou Lisa para o lado. Ela caiu sentada no chão.

Que romântico.

Mas então, ela viu o que causou tal reação. O homem do ônibus havia voltado, de calças pretas e jaqueta de motoqueiro. E não estava sozinho. Trazia com ele nada menos que uma faca de caça. E ele a teria esfaqueado se não fosse o empurrão que sofreu.

Matt a ajudou a se levantar.

–ELE ESTÁ ATRÁS DE MIM!!! -os dois disseram, em uníssono. -DE VOCÊ??? NÃO, DE MIM!!

Matt, seu príncipe encantado de covinhas, literalmente fez aparecerem, bem na sua frente, uma espada e um escudo. A espada era feita de aço, com um cabo preto comum, e o escudo era cinza, com um grande desenho de cruz no meio.

Assim... elas apareceram do nada.

Ele se posicionou protetoramente na frente da garota.

–Sai já daqui, Lisa! -ele mandou. mas Lisa respondeu apenas balançando a cabeça negativamente. Ela estava paralisada demais para ir embora. -Tá bom. Então, segura isso!

Ele lhe entregou o escudo e partiu para cima do homem.

Existiam várias coisas que Lisa jamais imaginara que veria acontecerem. Uma delas era um elefante voando. Outra era ela fazendo as pazes com Rider. Um terceiro exemplo seria uma duelo de espadas no meio de um bairro de classe média.

Bom, tecnicamente, não era um duelo de espadas. Era um duelo de espada versus faca. Mas mesmo assim...

E, no entanto, ela estava ali, segurando um escudo que a cobria da cabeça aos joelhos, assistindo Matt se atracar com um velho gordo e assassino, e pensando se iria encontrar pelo menos uma pessoa normal ali.

O garoto até que era bem habilidoso quando se tratava da espada. Ele não atacava o homem; apenas se defendia, ainda assim se dando muito bem nos golpes. Já o outro homem investia ferozmente com sua arma, e cada vez que a brandia, chegava um tiquinho mais perto de atingir seu adversário.

Ele deu um chute forte em Matt, que saiu rolando pelo chão. Felizmente, ele se recuperou rápido e voltou à luta.

Ele era muito bom. Parecia até treinado.

Vamos lá! Se mexa! Ela pensava. Mas o fato é que ela não conseguia. Não sabia o que fazer. Não sabia como sair dali e bater naquele imbecil. Não sabia se defender, e nem defender os outros, pois estava completa e irrevogavelmente paralisada. Não conseguia deixar de ouvir Rider em sua cabeça: "ela é fraca e covarde demais para aguentar tudo isso". E o pior é que era verdade. Lisa era apenas uma garotinha indefesa.

Ela precisava deixar de ser essa garotinha.

Com esforço, fez um movimento: tateou seus bolsos em busca daquilo que não lembrava se ainda guardava com ela. Tinha que estar lá. Ela tinha que achar...

E achou. Presa em seu short, uma lâmina curta e leve pendia.

De volta à luta, o homem de jaqueta de motoqueiro, por algum motivo, desistira de Lisa, e avançava contra Matt com mais violência ainda. Seu corpo era gorducho, e ,consequentemente, pesado. Ou seja, era bem mais fácil para ele derrubar o garoto, e não vice-versa. Sua faca moveu-se com leveza e velocidade para baixo, em direção ao peito magro do outro, mas foi impedida pelo aço da espada.

As duas armas se chocaram com um baque surdo.

Iniciou-se ali uma disputa de força. Enquanto o homem empurrava Matt para baixo, ele empurrava o braço do gordo no sentido oposto, usando a espada. Conseguiu resistir bem, mas acabou caindo de joelhos pela força que lhe era imposta. Não parou de lutar pela vida, contudo.

–POR FAVOR! NÃO ME FAÇA VOLTAR PARA ELA SEM SEU CORAÇÃO EM UMA CAIXA!! -ele gritou. Tinha desespero em sua voz.

Pena que não pôde espalhar seu desespero por muito mais tempo. Naquele momento, Lisa chegou por trás dele, respirando rápida e pesadamente, mas com um olhar determinado. Sua lâmina fincou-se nas costas gordas com tamanha rapidez, que suspeitava que desistiria, se o fizesse com menos pressa.

O assassino cambaleou e caiu no chão, seus olhos sem mostrar emoção alguma.

–Bom, tecnicamente, você não vai voltar para ela. -Lisa arfou.

–Pelas fadas! -Matt levantou-se do chão, atordoado, mas fascinado, simultaneamente. A espada e o escudo desapareceram assim que se pôs de pé. -Lisa, você é uma renascida!!

–C-c-como...? -lá se vai toda a sua esperança.

–Eu sabia, no momento em que te vi, eu sabia!! Haha!! -ele começou a pular e comemorar, com a cara da felicidade. E Lisa só conseguia pensar que ele estava chamando a atenção de toda a vizinhança. -Você sabe o que é um renascido, não sabe?

–... Hmmm... não? -mentiu, sem uma razão muito boa. Estava estupefata. Até ele?

–Ok, eu te explico no caminho.

Seu braço foi agarrado uma última vez pelas mãos grandes de Matt e puxados para que ela o seguisse. Só que, dessa vez, foi com tanta força que a fez inclinar perigosamente para a frente, a um passo de se espatifar na calçada. Bom, era necessária uma pequena corridinha, na hora. Senão todos veriam que foram eles que mataram aquele velho assassino, e, infelizmente, eles seriam declarados culpados. Acelerou o passo com vigor até que chegou ao ritmo dos cachinhos.

Ela virou a cabeça por cima do ombro, e constatou que o homem, assim como sua jaqueta e faca sumiram de vista. Desapareceram.

Não conseguia entender aquilo. Não fazia sentido.

–Para onde vamos? -ela perguntou, preocupada. Estava prestes a seguir pelas ruas de Miami na companhia de um louco de quem, segundos atrás, salvara a vida. estava com medo. Mas bastou um simples olhar de Matt e um sorriso para que ela festejasse por dentro. Afinal, não estava mais sozinha, não é?

–Para Coral Way! -ele respondeu. -Você precisa conhecer o grupo de estudo!


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Notas finais do capítulo

é o seguinte: só posso escrever o próximo capitulo quando essas duas últimas vagas aí nas notas da historia estiverem preenchidas. Os únicos 3 personagens que não vao aparecer nesse próximo são pertencentes a "Luly D e Tommis H" e a "Isaah Grace". Então eu proponho que, se vcs quiserem um personagem que apareça, façam a ficha desses dois que é garantido. Óbvio que eu não estou obrigando ninguém. Só estou dando uma sugestão. Se as vagas não forem preenchidas e começar a demorar demais, eu vou ter que preencher sozinha, pelo bem da fic.

aliviando o clima, vamos para a pergunta de hj!!!! eu não sei qual fazer, então vamos para a clássica: o que vcs acharam do Matt???? Ah, e qual o primeiro encontro da Disney que vcs mais gostam? Exemplo: o primeiro encontro de ariel e eric, quando ela salva ele do naufrágio; o de Aladdin e Jasmine, quando ele salva ela de ter a mao cortada; o da Cinderella e do Príncipe encantado, no baile... deu para entender, né? tipo, a primeira vez que 2 personagens se veem.

tchau, meus lindos! um feliz ano novo para vcs!!!!!! muita felicidade em 2014, e é isso aí!!!