Ghosts Just Wanna Have Fun escrita por Elisa Schiavon


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/39346/chapter/3

Depois de muito insistir, Aoi conseguiu fazer com que o amigo tirasse aquelas roupas ensopadas e tomasse um bom banho quente, para não correr o risco de pegar alguma doença. Uruha custara muito em absorver toda aquela situação, mais já estava convencido que não mais lutaria contra a sua loucura, só quando ficasse perigoso demais.

- Tudo bem, vamos passar os fatos outra vez. – já estavam sentados na mesa da cozinha, arrumada para um café da manhã, graças ao morto que teve um surto de inspiração. Fez torradas, fritou bacons e os ovos enquanto o outro tomava seu banho. Sentiu-se bem melhor sendo útil daquele jeito, mesmo que a hora do café da manhã já tivesse passado há tempos.

- Vamos. – Aoi concordou.

- Você morreu de fato. – soltou o mais óbvio, mesmo que ainda tivesse algumas dúvidas sobre aquilo.

- Hipotermia seguida de afogamento. Próximo. – comentou enquanto passava manteiga em uma torrada e colocava no prato de Uruha. Este quase morreu engasgado com o chá tamanho o grau dos detalhes que o outro parecia disposto a oferecer.  

- Yuu, pelo amor de Deus, não entre nesses detalhes, ainda. –  disse  depois de se acalmar, ainda com o estômago revirando, só de tentar imaginar o que o outro havia passado em alto mar.

- Ok, desculpe. Sem muitos detalhes, entendi. – assentiu e esperou que o outro continuasse.

- Fato número dois, - prosseguiu com o raciocínio, dessa vez olhando fixamente nos olhos do morto. - Você... ‘acordou’ e estava no seu barco, imaginando ter sonhado com toda a coisa da tempestade.

- Sim, até o momento em que os caras do resgate chegaram fazendo aquela barulheira no meu barco. Eu entendi que algo estava errado quando eu notei que eles não me viam, e bom, eu assisti eles retirando o meu corpo do mar e conclui finalmente.

Uruha se sentiu mal naquele momento, tentando se colocar novamente na situação do amigo. Descobrir que está morto não deve ser nada agradável, ainda mais naquelas circunstâncias.

- Depois você seguiu para sua casa. – afirmou.

- Não sei como, só desejei estar lá, com a minha família, e aconteceu. – explicou-se. - Rápido e sem dor. Eu estava na sala da casa dos meus pais.

- Mas eles não podiam te ver como os homens do resgate?

- Não, e foi bem melhor assim. Eu mataria a todos aparecendo daquele jeito e não era o que eu queria.

- Então... Você esperou e assistiu o velório todo. – repetiu as palavras que o outro havia falado antes, quando explicara a história pela primeira vez.

- Bom você ter tocado nessa parte. – cruzou as pernas e fez o seu gesto característico de morder o lábio, mostrando-se irritado. Uruha tremeu ligeiramente, mas tentou-se explicar.

- Aoi, sobre a sua cremação, eu realmente achei que tinha sido papo de bêbado. E isso foi há tanto tempo que eu nem considerei e...

- Eu já disse um milhão de vezes, nunca deixe de me levar a sério, sobretudo bêbado. E por tudo o que é mais sagrado Uruha, o que foi aquele enterro?! Eu já estava prestes a chorar também, só que de tédio. – Aoi observou o outro rir nervosamente jogando a torrada que estava na sua mão pro outro lado da mesa.

- Você queria o que, criatura? Que nós tivéssemos dado uma festa ao melhor estilo Shiroyama Yuu, regado a champanhe e música alta? – ironizou.

- Teria me agradado mais, com toda certeza.  

- Mas a opinião póstuma do morto nunca valeu em velório nenhum. – piscou para o amigo sorrindo, jogando um bacon na direção dele, que desviou rapidamente.

Aoi deu-se por vencido, pensando que aquela discussão seria eterna se não desse o braço a torcer logo. Mas imediatamente se lembrou de um detalhe muito importante que não poderia ser passado para trás.

- Tudo bem, eu entendo essa parte. Mas vocês não tinham o direito de convidar aquela vadia da Harumi pra chorar em cima do meu caixão, de jeito nenhum. Que papelzinho, por Deus!

Uruha quase caiu da cadeira, de tanto que ria ao lembrar-se do fato que a ex-noiva do Aoi, que ele detestava por sinal, estava no seu velório, inteira de luto, fazendo o maior escândalo em cima do caixão dele.

- Yuu! Não diga uma coisa dessas. A garota estava prestando uma homenagem a você, e seria bom você agradecê-la por isso. – disse ainda rindo, o que irritou mais ainda, querendo ver a reação dele.

- Você fala assim porque não foi na sua cabeça que ela parafusou um belo par de chifres de três metros de altura!

Isso sim fez com que o outro desatasse a rir novamente, olhando ainda a feição nada amigável do seu amigo morto.

- Pois bem, Takashima. Fique sabendo que estou anotando mentalmente todo esse seu deboche, pra quando eu estiver com acesso aos Superiores, eles ficarem sabendo disso que você está fazendo comigo. – Uruha finalmente parou de rir com muito custo, mas não pelo que o outro havia dito, mas sim pelo fato de ter voltado à realidade. Aoi precisava mesmo de ajuda, ou era ele quem necessitava de um psicanalista com urgência.

- Ok, vamos prosseguir. Depois do velório, você veio pra casa e me esperou.

- E desejei muito que você pudesse me ver. Pelo visto deu certo.

- Só que eu podia ter morrido de susto também, só pra constar. – voltou a prestar atenção apenas no chá que tomava.

- Claro que não, Kou. Você é o cara mais forte e corajoso que eu conheço! Por isso vir pedir a sua ajuda. – Aoi sabia que tinha algo mais em relação ao amigo, mas ele ainda não tinha certeza do que se tratava, então resolveu não contar nada ao outro por enquanto.

- Eu ainda acho que você deveria ter procurado algum desses caras que trabalham com isso, sabe?  - Uruha comentou pegando o jornal do dia anterior, procurando uma reportagem que lhes interessasse.

- Alguma espécie de consultor espiritual? – riram os dois.

- Olha, tem um cara aqui no jornal, que diz que ajuda almas penadas a encontrar o caminho da Luz e veja bem, ele...

- E-espera ai. – o cortou na hora, tirando o jornal das mãos do amigo lendo o artigo. - Alma penada? Quanta consideração, Kouyou.

- Caramba Aoi, ainda não sei te definir muito bem. Dá um desconto. - rui da cara do amigo.

- Eu também não sei, mas alma penada é um termo muito grosseiro. – fingiu-se ofendido.

- Bom, a gente devia ligar pra esse cara. Pedir algumas dicas. – correu até a sala onde pegou papel e caneta para anotar o tal número do homem.

- Certo, o cara vai querer me exorcizar. Já estou até imaginando como isso vai ser traumático, pra ambos. – Uruha rolou os olhos, procurando seu telefone para enfim fazer a ligação.

- Não, Yuu. Só algumas dicas. E pelo telefone, não esquenta com isso.

Aoi sabia que quando aquela voz sinalizando perigo na sua cabeça dava sinal de vida, e ele resolvia não dar ouvidos à ela, as coisas não terminavam muito bem. E ele estava ignorando a voz, e aceitando as idéias de Uruha. Mas o que ele tinha a perder com isso, exatamente?

Continua!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dou um pirulito pra quem adivinhar quem é o tal cara do anúncio do jornal. E dica, aposto que irá render boas risadas no próximo capítulo. Não percam por nada, ok? AH, e comentem neee :) Beijo grande pra todos!