The Surviver escrita por NDeggau


Capítulo 4
Capítulo 3 — Prevendo




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Prevendo

VOLTEI PARA O HOTEL. Bruma estava certa, não era nada sensato ficar dirigindo o dia inteiro sem rumo gastando gasolina.

Que bom que você sabe.

Lola comeu uma tigela de bacon e torradas que me serviram no quarto, e eu fiquei com os ovos e a porção de arroz. Era meio-dia agora, o calor estava sufocante. Bem, estaria sufocante, mas eu estava me permitindo de um ultimo luxo antes de dar inicio a minha busca – o maravilhoso ar-condicionado.

Não sei exatamente como os humanos agem nessas condições, mas imagino que, se eles vêm até a cidade, não seria a luz do dia.

Menina esperta.

Quieta, Bruma.

Eu dormirei o dia inteiro e à noite procurarei por eles.

E o que fará quando encontra-los?

Não sei, respondi.

Aconcheguei-me na cama e peguei no sono rapidamente.


Acorde, Ashley,


Uma voz ecoou na minha cabeça, baixa. Não o suficiente para me manter desperta.

Acorde Ash, acorde. Acorde!

Algumas imagens começaram a se formar na minha frente, estampadas nas minhas pálpebras.

Abra os olhos, Ash!

Mas era tarde demais...

Começou como uma névoa. Era só mais um belo sonho começando, se desenrolando fragilmente sob meus olhos fechados. Eu não sabia exatamente o que era, mas era um sonho, igual aos que eu já tivera antes.

Até eu perceber que estava quente demais. Estava abafado. Eu estava de pé sob um solo instável e imprevisível. Estiquei minhas mãos e vi que elas estavam cobertas de poeira, que colou à minha pele melecada de suor. Cada centímetro do meu corpo estava empapado de suor. Tentei focar meus olhos em algo, mas só via borrões da cor de marfim. Montes de areia, talvez. Não há como saber, exatamente. Mas pareciam maiores a cada segundo. Estavam se aproximando.

O que você acha que são Bruma?

Mas minha mente estava em silêncio. Nenhum sentimento a parte ou sensações que expressavam sentimentos.

Bruma? Você está aí?

Silêncio.

Vou sair correndo e atacar todas as Almas que vir.

Nenhum comentário contrário aos meus pensamentos.

Bruma? Almazinha? Sou eu, sua humana. Não vai responder? Está me ignorando? Bruma!

Mas nada aconteceu. Massageei minha nuca com a mão, pressionando delicadamente os dedos na minha cicatriz. Mas nada aconteceu.

Abri os olhos e percebi que as imagens borradas estavam perto. Perto demais. Estavam avançando rápido, correndo ameaçadoramente na minha direção. Dei uma espiada por cima do ombro. Não conseguia ver nada, além do borrão cor de areia abaixo dos meus pés.

Corri. Muito rápido. O mais rápido que eu conseguia. Os músculos das minhas pernas começaram a latejar. Eu estava rápida demais. Diminui um pouco a velocidade, sentindo as pernas agradecerem. Ouvi algo bem atrás de mim, respirando pesadamente.

AH NÃO!

Avancei o suficiente para minhas pernas reclamarem novamente. As formas atrás de mim se afastaram. Suspirei aliviada, sem parar de correr. Então tombei. Como uma árvore, fiz um ruído abafado quando desabei sobre o solo. Tuf. Descobri que o chão era de areia. Fina e branca, como areia de praia, que se enroscou por todo meu corpo. Algo caiu sobre mim. Tum. Esperneei e gritei, mas não ouvi o som do meu grito. A forma indefinida prensou minha cabeça contra o chão, minha bochecha ficou esmagada contra a areia e tive que me controlar para não abrir a boca e engoli-la. Fechei os olhos e fiquei em silêncio. Minha respiração estava descontrolada. Meu coração martelava as costelas. Apertei os olhos com mais força. Algo tocou minha outra bochecha. Há principio de leve, algo macio e liso como seda, quente como uma bolsa de água quente. Uma textura semelhante ao pelo de um filhote de cachorro roçava minha têmpora. Então apertou mais, aumentando a pressão do meu rosto contra o chão. Senti um formigamento atrás dos olhos, que eclodiu em gotas ardentes. Eu estava chorando. Não conseguia me lembrar da última vez que chorei. A forma indefinida me ergueu do solo usando apenas uma mão – ou uma pata, ou qualquer coisa semelhante a uma mão. Tentei focar no que estava me segurando, mas não passou de um borrão bege, com finos traços negros contornando o que parecia ser seu rosto. Fui acalentada e aconchegada em algo semelhante ao seu colo antes de sentir uma ponta afiada contra minhas costelas.

Bruma, o que é isso?

Mas ela não estava lá. A ponta afiada penetrou minha carne, e um grito ficou preso na minha garganta. Senti gotas quentes caírem sobre meu rosto. A criatura estava chorando? Por mim? Tentei me desvencilhar do ser que me segurava, mas só fez a ponta aprofundar mais nas minhas costas. Parecia uma garra. Ou uma agulha grossa. Incomodavam e doíam na carne, mas não feriam. Eu não sentia sangue escorrer na minha pele. A sensação era estranha e terrível. Estava errado. Tudo errado. Choraminguei e me repreendi por isso. A névoa que envolvia meus olhos começou a dissipar e os traços negros ficaram mais claros, a ponto de eu quase os reconhecer...

ASHLEY!

Pulei e cai sentada na cama. Meu peito arfava tentando acalmar meu coração precipitado. Minha cabeça ainda estava girando, tentando associar se ainda era sonho ou realidade.

Bruma? O que aconteceu?

Foi outra visão.

Não é uma visão. É um pesadelo.

Não, Ash, não é. Você sabe que essas visões são reais e que elas acontecem no futuro.

Nem sempre.

Sempre. Já foram três Ash. Aquela com seu pai, a da matricula a Universidade e quando Lola fugiu.

Engoli em seco. Todos esses episódios foram “previstos” por meios de sonhos que eu tinha. Não era frequente. Mas só acontecem desde que inseriram Bruma em mim. Ela tem um palpite, de que essas visões são consequências de outras vidas de Bruma.

Uma vez, Bruma foi um Pássaro. Os Pássaros eram criaturas de outro planeta formadas de gelo e com cinco braços e dois pares de asas transparentes. Os Pássaros eram do tamanho de cavalos e eram perseguidos por Aves de Ferro, do tamanho de búfalos machos corpulentos. Os Pássaros tinham uma habilidade muito semelhante aos humanos, que é mais ou menos como sonhar. Só que, diferente dos sonhos dos humanos, os Pássaros conseguiam prever ataques de Aves de Ferro e se prevenir.

Herdei isso de Bruma e sua vida passada. Ela só viveu nesses dois planetas. O planeta dos Pássaros de Gelo e a Terra.

Sinto muito, disse Bruma.

Não é culpa sua. Não consegue impedir.

Sei disso. Mesmo assim, me desculpe.

Certo.

E está na hora de acordar, Ashley.

Olhei para o relógio na parede que marcava oito horas da noite.

Obrigada, Bruma.

Ela ficou surpresa com a minha simpatia e assentiu feliz. Tomei um banho e escovei os dentes. Desci sorrateiramente até a recepção do hotel e abandonei a chave do quarto sobre o balcão. Abri até a garagem e assoviei baixinho para Lola.

—Lola.

Ela olhou para mim com as orelhas erguidas. Estava pronta para receber uma ordem e concentrada para obedece-la. Minha garota. Falei devagar para ela compreender.

—Vamos. Procurar. Humanos.

Subi no Troller e bati no banco ao meu lado. Lola pulou e observou atentamente quando fechei a porta. Dei partida e acelerei para fora do hotel. Lola mantinha os olhos fixos do lado de fora da janela, com as orelhas erguidas. Nada de línguas de foras ou gritos de liberdade. Assim como Lola, eu estava focada. Precisava encontrar minha espécie.


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