Ainda sobrevoávamos a cidade. O vento batia forte em meu rosto, fazendo meus cabelos dançarem uma fervorosa dança. Ainda não havíamos passado pelo portal mágico.

–Diga Lucian - Comecei a falar um pouco alto, pois o vento cortava a minha voz. - Como você e Peter viajavam para o mundo mágico sem o Sieg? Pelo que eu saiba, é a primeira vez que vocês vão de dragão para lá.

– Existem portais em certos pontos da mansão e da cidade em que podemos usar. Nós não somos os únicos magos que vivem no mundo humano. - Lucian falou, nada impressionado.

– Entendo. E o que essas pessoas costumam fazer? - Continuei fazendo perguntas para disfarçar meu nervosismo.

– Coisas de humanos normais. Ir a escolas, Trabalhas em bares, empresas. Algumas pessoas cansam da magia e decidem viver de uma maneira diferente. Nem todos se dão bem, é claro.

–Sorte que o nosso caso foi uma exceção - Disse Peter, atrás de Lucian.

–Exceção? O que quer dizer?

– Nós vivemos no mundo humano, mas nossos negócios são no mundo mágico. Por alguns probleminhas, tivemos que nos mudar para cá.

–Chega de conversa fiada, nós iremos cruzar com o portal daqui a pouco e tenho que me concentrar. Façam silencio. - Disse Lucian, incomodado.

Desisti das perguntas e procurei algo anormal para chamar de portal. Logo a frente, vimos um enorme círculo azul reluzente se mexendo. Senti um frio na espinha. Como será que é o mundo mágico? Será como pequenas vilas e barracas com mulheres velhas vendendo colares mágicos? Ou enormes metrópoles? Eu estava a um passo de descobrir, ou melhor dizendo, uma "voada".

Ao passar pelo enorme círculo, achei que entraríamos em um gigante looping no tempo. Mas estava enganada. Apenas senti uma forte luz do sol nos olhos. Desviei o olhar do céu para o chão e abri a boca em surpresa com o que estava vendo.

–Isso é incrível! - murmurei para mim mesma. Acho que Lucian havia ouvido, pois senti ele dando um sorriso.

Era uma incrível mistura do antigo com o novo. Prédios gigantescos com paredes de vidros, e mais ao fundo imensos castelos em montanhas. Podia-se ver pequeninas pessoas andando pelas largas ruas. Eu sentia a magia fluir pelo próprio ar daquele lugar. Era realmente incrível.

Sieg foi diminuindo a velocidade e vi as pessoas olharem para o céu espantadas. Bem que Lucian havia comentado que dragões eram extremamente raros no mundo mágico.

Paramos em um vasto campo com flores exóticas e diferentes das que eu já havia visto. Sieg voltou para sua forma normal depois de retirarmos nossas coisas.

–Para onde vamos agora? - Sieg perguntou aos rapazes.

– Vamos procurar uma pessoa. Com certeza ela irá nos ajudar a achar um lugar para ficar.

Começamos a andar pelas ruas da cidade. Várias lojas e tendas, várias pessoas e muito barulho, assim como eu havia imaginado que seria.

Paramos em frente a uma ferraria e Lucian nos pediu para esperarmos do lado de fora. Ele e Peter entraram na loja enquanto nós nos sentávamos em um banco para esperar.

–Não quero ficar sentado Luce. Vamos dar uma volta! - Sieg implorava para mim, que já estava começando a ficar irritada com aquela situação.

–Sieg. Não podemos. Não conhecemos esse lugar. Imagina se nós nos perdemos, a confusão que ia dar. Sossegue e espere eles voltarem. Depois nós voltamos e daremos seu amado passeio.

–Ok. Pode pelo menos me comprar um sorvete. Mesmo sendo um mundo magico, existe sorvetes aqui, certo? - Ele me encarava com aqueles olhos vermelhos penetrantes e brilhantes. Não tinha como recusar aquela expressão.

–Está bem, está bem! Mas espere eles aqui caso voltem. Se perguntarem diga que fui buscar seu sorvete. E não saia daqui de jeito nenhum, está me entendendo? - Olhei para ele com uma expressão brava. Quando o vi assentindo com a cabeça, relaxei e soltei-lhe um leve sorriso. - Eu já volto.

Comecei a procurar pelas lojas. Parecia que eles realmente não comiam coisas "humanas-não-magicas". Suspirei de alivio ao encontrar uma pequenina lojinha em um beco que vendia comida humana. Ao entrar ouvi o barulho de um pequeno sino ao abrir a porta.

– Olá? - falei ao entrar. Ninguém havia me respondido então continuei caminhando até o balcão. - Tem alguém aqui?

– Olá, me desculpe. O que deseja? - ouvi uma voz masculina suave do outro lado do balcão. Uma silhueta surgiu pelas escuras portas que guardavam o aparentemente depósito de alimentos da loja. Um alto homem jovem de cabelos ruivos e com um encantador olhar havia batido as mãos em seu avental surrado e sorriu para mim.

–Oh... olá, bem... eu gostaria de um sorvete. Vocês fazem? - Perguntei, tentando me concentrar no meu real objetivo, e não olhar para aqueles olhos lindos.

–Sim, claro. De que sabor deseja?

–Hã... qual seria o melhor para dragões? - perguntei confusa.

–Dragões? Sinceramente, se está tentando pregar uma peça em mim senhorita...

–Não. É sério. Qual seria o melhor para um dragão? - interrompi antes dele terminar sua frase. Seu olhar mudou de expressão e ele caminhou em direção aos potes dourados. Provavelmente era ali que se encontrava o sorvete.

– Esse é o melhor entre familiares e animais mágicos, talvez seu "dragão" goste. - ele havia pegado uma pequena lasca do sorvete para eu experimentar. Era bom, mas não o meu estilo.

– Ok. Irei levar esse por recomendação sua. Quanto que eu lhe devo? - perguntei pegando minha carteira. As vezes esquecia que carregava ela no bolso.

– São exatamente 200 Holds. - Ele disse embrulhando o sorvete.

–Holds? Desculpe senhor, mas o que são Holds? - Perguntei confusa novamente. Será que eu não conseguiria nunca levar aquele maldito sorvete?

–Como assim? Holds é a moeda oficial do nosso mundo. Pare de brincar por favor senhorita.

– Desculpe. Eu não sou deste mundo. - Disse um pouco envergonhada quando ele me encarou. - Vim do mundo humano, então não tenho nenhum Hold. Mas eu realmente preciso deste sorvete, será que há algo que o senhor precise?

–Está tudo bem, desta vez eu lhe deixarei levar de graça. Mas a senhorita terá de dizer o seu nome para eu não me esquecer de você. - Ele havia sorriso de canto para mim. Senti minhas bochechas vibrarem e corarem.

– Luce. Meu nome é Luce. - Disse abaixando a cabeça, envergonhada. Ele havia estendido a mão para mim, fazendo com que eu retribuísse o aperto de mão.

–É um prazer, Luce. Meu nome é Nikolaus. Volte mais vezes a minha loja e me conte mais sobre o mundo humano, ok?

Sorri de volta e assenti, abrindo novamente a porta e indo embora com o detestável sorvete. Fiz o caminho de volta para onde Sieg me esperava, o que não estava mundo longe da loja.

–Está feliz agora? - disse, colocando a sacola sobre seu colo. Ele havia escancarado um enorme sorriso e me abraçou, daquele jeito que só ele conseguia. Eu sorri de volta, entendendo a mensagem.

Avistamos Peter sair da Ferraria e acenar para nós. Levantamos e fomos em sua direção.

– Vamos, entrem. Queremos apresentar vocês a alguém. - fazendo um gesto com as mãos. Nós entramos logo em seguida.

Dentro da loja podíamos ver várias espadas, machados, facas, cajados. Todos eles extremamente refinados e aparentemente pesados. Sieg se aproximou de mim, com um ligeiro medo da ponta das afiadas espadas em que passávamos perto.

Ouvimos um risinho e avistei os loiros cabelos de Lucian balançando e uma figura feminina sentada. Lucia se virou para nós e acenou. Fomos ao seu encontro.

–Luce, essa é Samantha. - Ele havia apontado para a menina de cabelos azul. - Ela é nossa amiga de infância.

–É um prazer conhecer você Luce. - Samantha sorriu estendendo a mão para mim.