POV Andrew

Os meses se passaram e eu sentia minha existência sendo questionada, uma vez que não consegui chegar nem perto da sombra de Mona. Ou ela se escondeu muito bem, ou o idiota sou eu por não saber procurá-la. Mas a questão é: não pude achá-la. E o pior nem foi isso, a parte que me dói mais foi ver Collins definhar sem ter notícias de Eve, eu sempre soube que ele se importava com a Barbie.

Ficamos hospedados num flat pitoresco e caindo aos pedaços perto da divisa com a outra cidade, procurei as meninas com todos os meios ao meu alcance, mas parecia que quanto mais eu procurava, mais elas se distanciavam de mim. Chegou ao ponto onde eu considerei a hipótese de desistir, voltar para a Itália e dar tempo ao tempo. Mas só de ver o Collins todo desesperado, não pude deixar de procurá-las. Não era culpa dele, ele é o pai da criança que a Barbie está esperando.

– Andy – Collins chamou-me fraco – Você já chegou a pensar que foi meio burrice querer abortar a criança? – perguntou-me absorto, sem olhar nos meus olhos

– Burrice? É burrice querer espantar James pra longe da gente?!

– Burrice no sentido que foi isso que afugentou as meninas, e agora estamos sem elas, sem máfia, num país distante que todos nos odeiam. Foi burrice, velho.

Parei pra pensar e escorei-me na parede amarelada. Collins estava certo. Eu lutei tanto para preservar minha máfia que eliminei todos os obstáculos do caminho, sem me preocupar com as consequências que estariam implícitas.

– Ai, caralho – xinguei baixo – Sempre quando eu tento salvar alguma coisa, crucifico outra de tamanha importância

Sentei-me na poltrona verde desbotada e mergulhei minha cabeça em minhas mãos Collins se levantou e apertou sua mão contra meu ombro, em um gesto de apoio e compreensão

– Sei bem como é isso. Achei que ao abortar o bebê estaria protegendo Eve, mas foi exatamente ao contrário. O que a gente vai fazer agora? – ele perguntou confuso, levantei minha cabeça para olhar meu amigo

– Vamos continuar a procurá-las

– Mas, se a gente pelo menos chegar perto de encontrá-las, elas jamais nos receberão da mesma forma de antes. Elas ainda acham que queremos matar o bebê! Logo agora que entendemos que não é isso que vai parar James

– Então temos de achá-las para explicar que o jeito de acabar com esse inferno todo, é cortar o mal pela raiz.

– Explica direito, Andy – Collins revirou os olhos – Sempre que você fala em metáfora a gente faz merda porque eu nunca entendo o que você quis dizer

– Anta, a resposta sempre esteve na nossa cara – expliquei enquanto levantava – Temos que matar James. Sem o gêmeo do mal, sem problemas, sem abortar crianças, sem perder Mona.

Collins sorriu, temos essa mania do sorriso macabro, mas não é à toa. Dá uma sensação de soberba, de superioridade e acima de tudo, da a confiança de que nada vai dar errado. Você se sente o dono do mundo, e isso, meu caro, é o que eu faço todos os dias.

– O que a gente está esperando, então?! Vamos atrás delas! E pelos meses que já se passaram, Eve já deve ter tido o bebê. O meu filho, ou filha, sangue do meu sangue, focinho do meu focinho, e eu mal posso esperar para segurar esse grãozinho de felicidade! – Collins soou como um cara normal, que estivesse esperando a esposa na sala de parto do hospital. Cheio de esperanças e sonhos.

Não me achem apático à crianças, mas eu nunca fui pai, nem tive um praticamente, não sei como é ter outra vida dependendo completamente de mim, ter um pequeno ser humano dependente de meu amor e zelo. Mas seja lá qual seria essa sensação, não posso privar Collins de senti-la, uma vez que seu filho, ou filha, acabara de nascer.

– Então pegue seu casaco, Collins. Estamos de saída – disse vestindo meu pesado casaco preto, Collins fez o mesmo e apanhou as armas que escondíamos debaixo da cama. Saímos do pitoresco prédio e chamamos um táxi - Para o hospital central da cidade, por favor – disse em meu russo embolado com italiano.