Shalom - As Memórias de John Sigerson escrita por BadWolf


Capítulo 31
Capítulo 31: Intruso em Baker Street


Notas iniciais do capítulo

OLá, olá!!! Mais um capítulo saindo do forno!!

Veremos como Holmes vai se safar dessa...



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Após fazer um exame, Watson constatou que Mrs. Hudson estava com uma gripe moderada. Com a idade que tinha, isso poderia ser perigoso. Ele receitou os remédios, e também aconselhou-a quanto à seus hábitos, pedindo que ela trabalhasse menos, e até mesmo contratasse alguém para ajuda-la a cuidar da casa. Ela estava tendo pouco trabalho, uma vez que apenas um apartamento estava devidamente ocupado, embora o apartamento de Holmes estivesse com o aluguel em dia.

Ele despediu-se dela, e acompanhou Esther até o antigo apartamento de Holmes, deixando Mrs. Hudson em repouso. Os dois subiram os dezessete degraus que conduziam até o apartamento de Holmes. Parado na porta, Watson começou a abri-la.

–Tenho certeza de que você irá se surpreender, minha querida...

Esther parecia ansiosa em conhecer os famosos aposentos das histórias de Watson. Quando Watson finalmente abriu a porta. Ela ficou impressionada. O local superava tudo que ela tinha imaginado, quando lia as histórias de Watson. Mas ao mesmo tempo, tudo estava lá. O chinelo persa que Holmes usava para guardar seu fumo, a lareira, as duas poltronas, algumas correspondências presas a um canivete, e até mesmo as iniciais V.R. na parede, à bala. Era impressionante.

Watson sentia diversão em ver a reação de Esther, que olhava atentamente a todos os detalhes.

–Mrs. Hudson deixou tudo exatamente como ele deixou, inclusive sua bagunça. – Watson pegou um case, que estava perto da lareira. Holmes, que estava escondido atrás da cortina, se encolheu. – Esse aqui é o violino dele, um Strativarius. Um verdadeiro xodó dele. Ele tocava divinamente.

–Você me disse isso uma vez. – ela confirmou, enquanto olhava o objeto. Watson andava de um lado a outro, que deixava Holmes mais alerta, com medo de ser visto. – Eu li, dias desses, “O Escândalo da Boêmia”... É verdade que ele mantinha a fotografia de Irene Adler?

–Sim, e guardada na gaveta, a trincos. E adivinhe só a chave que eu tenho aqui... – ele disse, com ar jovial, mostrando uma pequena chave que estava junto às outras. Certamente, ele tinha feito uma cópia, chamando um chaveiro, pensou Holmes. Rapidamente, sua gaveta secreta foi aberta.

Esther pegou a pequena capa de couro que guardava o retrato de Adler. Ela o contemplou, com admiração.

–Nossa, mas ela era muito bonita!

–Sim, muito. “A Mulher”, como ele se referia a ela. A única que o derrotou. Vez ou outra, Holmes ficava olhando para este retrato. No início, cheguei a pensar que ele fosse apaixonado por ela, mas depois eu percebi que era só uma admiração. Precisava ver como ele reagia quando eu o surpreendia vendo esse retrato... – Watson ria. – Parecia um adolescente sendo pego fazendo traquinagem.

Os dois riram intimamente. Holmes estava furioso. Como Watson se atrevia a praticamente desnudá-lo na frente de sua nova namoradinha?

Quando Esther estava guardando a capa, acabou vendo também a seringa de Holmes, jogada em um canto da gaveta. Ela pegou o objeto sombrio e ficou fitando-o.

–Ah, a maldita seringa dele... Antes de... Antes de ele falecer, ele estava no auge do uso das drogas, infelizmente.

–Que pena, um homem tão inteligente e ser entregue a esse vício. – ela estava falando de Holmes, mas pensou em Sigerson também, sem se dar conta de que os dois eram a mesma pessoa.

–Você já leu “O Problema Final”?

–Não, este eu vou deixar por último, depois de ler todas as outras histórias.

–Então eu não vou lhe contar mais sobre o tenebroso caso que levou o meu melhor amigo para sempre. Não quero estragar sua leitura. Mas... Sabe, por muito tempo, vir aqui me causava tristeza e dor, mas hoje em dia, em cada lugar que eu olho, sinto saudade. Morar com Holmes era ter quase como ter uma nova aventura a cada manhã. Uma pena que muito de seus casos eu não posso publicar.

Esther arregalou seus imensos olhos verdes, que sempre deixava Watson encantado. – E por que você não pode fazer isso?

Watson suspirou. – Bem, são casos um tanto delicados de serem divulgados ao grande público. Aliás, eu sempre consultava Holmes, antes de publicar. Só o fazia com seu aval, porque eu prezava nossa amizade.

Holmes observava atentamente a maneira gentil que Watson segurava a mão de Esther. Sentia um pouco de raiva, e ao mesmo tempo um aperto no peito ao ver esta cena.

–Eu tenho certeza que, um dia, você poderá lê-los.

–E-Eu?

–Sim, porque eu confio em você, Sophie.

Então, antes que Sophie pudesse reagir, Watson aproximou-se dela, e beijou-lhe. Embora estivessem há mais de um ano juntos, foi a primeira vez que os dois se beijaram. Na verdade, foi o primeiro beijo de Esther, em toda sua vida. Holmes observou a tudo, e sentiu seu coração apertado, angustiado. A sensação mais próxima que tivera assim foi diante de um fracasso de alguma investigação, algo que ele já não sentia há muito tempo.

O beijo foi breve. Respeitador, o próprio Watson separou seus lábios de Esther, para contemplar sua reação. Ela estava ruborizada, algo perfeitamente natural, e ao mesmo tempo parecia atônita. Os primeiros segundos após essa ousadia eram fundamentais, pois cada mulher poderia reagir de maneira diferente. Watson, inclusive, já foi esbofeteado uma vez. Mas para sua felicidade, Esther não parecia ter desgostado do que ele fez, mas desviava os olhos de si, em uma reação tímida.

–E-Eu acho que é melhor descermos... Está ficando tarde...

–S-Sem dúvida, eu também...

Watson interrompeu sua fala, assim que seus olhos voltaram-se para a janela, que estava aberta.

–O que é isso?! – ele disse, aproximando-se da janela e vendo que ela estava aberta, e com o trinco cedido.

–O que foi, John?

–Alguém esteve aqui.

Ela levou a mão à boca, assustada. Watson pegou o atiçador e se aproximou da janela.

–Cuidado, John.

Holmes entrou em pânico. Watson estava cada vez mais próximo da cortina onde ele estava escondido, e para piorar, desconfiado, com toda razão, de que havia alguém ali. Como último ato, Holmes pegou sua caixa de fósforos, e atirou para longe. O barulho assustou Esther, e fez Watson se esquivar e ir até aquela direção.

Aproveitando-se do momento, Holmes correu até a janela, tentando ser o mais silencioso possível. E quase conseguiu passar despercebido, se Esther não virasse momentaneamente em direção da janela e vislumbrasse seu vulto. Ela deu um grito de susto, e alertou Watson.

–Watson, tem um homem na janela!

Watson, que estava perto dos quartos, em um salto correu até a janela, mas já era tarde. Ao perceber que fora descoberto, Holmes lançou-se de maneira um tanto imprudente, e pôs-se a correr pela rua. Só restou a Watson acompanhar, atônito, aquele vulto, de altura considerável, pôr-se a correr, esgueirando-se pelas sombras. Era tarde demais para persegui-lo.

–Droga! Será que ele roubou alguma coisa? Mas não tem nada de valor aqui!

Esther estava agachada, perto da mesma cortina onde Holmes tinha se escondido. – John, veja isso...

Ela entregou a Watson o catálogo de letra M, que estava jogado no chão. Watson ficou pesaroso.

–Será que era algum jornalista querendo saber de algum segredo de Holmes? Hum... Um dos catálogos de Holmes..

–Podemos verificar pelo apartamento se alguma coisa foi levada. Eu posso te ajudar nisso.

Watson assentiu com a cabeça. – Tudo bem. Vamos ver se está tudo em ordem no quarto dele. É sempre o mais visado.

Ele levou Esther até o quarto de Holmes, que estava em uma completa desordem.

–Acho que alguém entrou aqui! Olha só o estado desse quarto.

Watson riu. – Não, muito pelo contrário. O quarto dele ficava “arrumado” dessa forma.

Antes de entrar completamente, Watson respirou fundo.

–Impressionante. Mesmo depois de tanto tempo, parece que foi ontem que ele saiu às pressas daqui de Baker Street. – ele disse, ao ver alguns ternos lançados sobre a cama.

–Seu amigo era um homem de gostos finos. – concluiu Esther, ao deslizar sua mão sobre o terno de bom tecido, que estava sobre a cama. Junto ao terno, jazia jogada sobre a cadeira uma cartola.

–Sim, ele era bastante refinado, e também um tanto alinhado. Embora ele fosse um homem bagunceiro, sua aparência era sempre impecável.

–Oh, mas que bagunceiro ele deveria ser! – ela disse, rindo. – Confesso que não esperava isso de um sujeito que usava esse tipo de roupa. Aliás, você tem alguma fotografia ou retrato dele?

–Não, ele nunca gostou de nada assim. Jamais o vi tirando qualquer fotografia. Ele dizia que seu anonimato era essencial à sua profissão.

–Hum...

Watson estava sentado sob a cama, introspectivo. Esther sentou-se ao seu lado, e pôs sua mão sobre a dele.

–O que foi?

–Faz muitos anos que eu não entrava aqui. Pra dizer a verdade, desde que ele se foi. E agora, deparo com esse lugar como se nada tivesse mudado e... Fico agora com a sensação estranha de que ele vai voltar a qualquer hora.

–Eu posso imaginar. Eu sinto algo assim quando me lembro de David. – contou Esther. Watson já sabia que ela tinha um irmão, mas não sabia da história completa. Ela limitou-se a dizer que David não resistiu à viagem de ida à França, como acontecia a muitos. E a revelação de sua história ficou apenas nisso. Ela não lhe contou que era judia, muito menos que era uma mulher prometida a um tirano russo desde criança, e de forma alguma o passado de serviços de espionagem de sua família à Inglaterra.

–Acho que Holmes iria gostar de você, se te conhecesse.

Esther riu. – Você acha?

–Eu tenho certeza que sim. Bem, ao que parece, nada foi levado. Ou chegamos a tempo de impedir um assalto, ou era um curioso, ou um desses jornalistas audaciosos, capazes de tudo por um furo de reportagem.

–Você vai chamar a polícia?

–Não. Deixemos isso pra lá. Decerto foi apenas um curioso.


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Notas finais do capítulo

É, Holmes, você escapou dessa, mas será que escapa de uma próxima??

Obrigada, caros leitores, pela paciência, e deixem seus reviews!! Críticas, elogios, whatever!



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