Shalom - As Memórias de John Sigerson escrita por BadWolf


Capítulo 17
Capítulo 17: Recorrendo às Últimas Instâncias


Notas iniciais do capítulo

Pronto, pronto, mais um capítulo!

O cerco sobre sua falsa identidade estará cada vez mais fechado para Holmes. E Esther também está colocando nosso detetive em apuros. A situação está complicada e nessas horas, segredos podem estar em xeque...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/392852/chapter/17

         Holmes voltou sua consciência aos poucos. Ainda estava no apartamento. Sentia dor de cabeça e parecia sentir tudo rodar. Ele estava caído no chão, e precisou se apoiar à cama para conseguir se colocar de pé. Tinha derrotado seu oponente, mas a covardia de ser atingido por trás por um terceiro elemento vencera a disputa.

         O seu quarto estava completamente revirado. Decerto procuraram por dinheiro também, Holmes sabia como agiam os russos. Perderam tempo, ele riu disso, mesmo com dor.

         Então, pensou em Esther. Será que ela chegou e foi levada por eles? Ou ainda estaria no Hotel? Deus queira que ela ainda esteja no Hotel, trabalhando.

         Ele desceu até a recepção, que era uma mistura de bar, e acabou sendo visto por Jacques, o dono da estalagem, que se assustou com sua aparência.

         -Santo Deus, o que houve com o senhor?

         -Tinha um homem no meu quarto. Dois, na verdade. Acho que ele usou a janela, tanto para entrar quanto para sair.

         -Temos que chamar a polícia imediatamente! Ele levou alguma coisa?

         -Nem parei para ver... Er, você sabe me dizer se Esther já chegou?

         -Acho que ainda não, senhor.

         Holmes ficou aliviado. Sequer se importou com seus ferimentos. Mesmo que a moça tinha dispensado sua companhia, ele decidiu que iria até o Hotel, para saber se ela estava bem. Ele pensava também no pior: os bandidos podem ter encontrado Esther no meio do caminho. Havia essa possibilidade, e ele precisava estar pronto.

         Antes de descer, Holmes tinha pego seu revólver, que andava sem uso desde sua incursão na Itália. Poderia ser aquela a oportunidade.

         Andando pelas ruas escuras e nada convidativas de Paris, Holmes caminhava com pressa, seguindo o caminho que, certamente, a precavida e esperta Esther faria: as ruas mais movimentadas possíveis. Ele percebeu que seria complicada uma abordagem ali, com tantos bares cheios. Ainda bem que aquela era uma sexta-feira, e fazia um clima bom para ficar na rua.

         Ele chegou até o Hotel onde Esther estava trabalhando, e também o seu irmão estava hospedado. Aquele era um local mais seguro, uma vez que a comitiva da Inglaterra tinha atraído a atenção da Polícia Parisiense, que vigiava atentamente o lugar. Ao menos Esther estava mais protegida ali.

         Depois de uma hora esperando, já perto das nove, Esther apareceu.

         -Sigerson? Eu lhe disse que não precisava ficar me esperando...

         -Aconteceu um evento muito desagradável na estalagem. Seria melhor que não ficássemos por lá...

         -Adonai, você está ferido!

         Holmes percebeu que havia sangue no seu lábio, escorrendo do nariz. Nessas horas, ele se amaldiçoava por ter um nariz tão grande, que o tornava tão vulnerável a socos.

         -Eu cuido disso depois. Agora, precisamos arranjar um lugar para que você fique segura, é isso.

         -Já sei! Vamos ficar no Hotel.

         Holmes ficou atônito. – O Hotel?! Mas Esther, eu não tenho dinheiro...

         -Tinham me oferecido ajuda para o jantar, que vai ser servido daqui a pouco. Eu rejeitei porque minha demora poderia te deixar preocupado.

         Holmes não pode deixar de se surpreender. Não pela preocupação dela, mas pela preocupação dele. Certamente, ele ficaria preocupado se ela demorasse a voltar.

         -Eu posso arranjar um trabalho para você. Estão precisando justamente de mais garçons. Basta cuidarmos do seu nariz e deixa-lo apresentável...

         Holmes? Trabalhar como garçom na frente de dezenas de ingleses que trabalhavam para o governo? Uma situação extremamente complicada. Holmes já trabalhara a mando do governo em algumas ocasiões, e sem dúvida, poderia ter a chance de ser reconhecido.

         -Não! -I-Isso está fora de qualquer possibilidade!

         -Tudo bem, Mr. Sigerson. Então, você tem alguma idéia melhor?

         Holmes suspirou. No fundo, Esther estava certa. Um Hotel repleto de membros do governo britânico seria o último lugar que os russos iriam procurar por Esther. Além disso, ele estava bem-policiado.

         Não havia jeito de ser garçom. Mas havia Mycroft.

         -Eu tenho uma idéia melhor. Desde que a senhorita me prometa que não irá fazer perguntas.

         -Tudo bem. – ela disse.

         -Preciso que me ajude a entrar. Não basta fazer muita coisa, eu dou um jeito. Apenas me dê cobertura.

         Esther voltou ao Hotel, dando a desculpa de que tinha esquecido um objeto. Aproveitou e facilitou a entrada de Holmes pelos fundos. Holmes disfarçou-se de garçom, e passou incógnito pelos empregados, uma vez que havia muitos empregados recém-contratados ali, e pelos hóspedes, que nunca paravam para olhar face a face um subalterno.

         Esther seguiu Holmes até o quarto 604. Ela tinha visto tantos quartos que nem se deu conta de que aquele era o mesmo quarto em que o encontrara desacordado mais cedo. O quarto de Mycroft.

         Holmes bateu, e em instantes, Mycroft apareceu, com roupa de gala. Antes que chamasse seu irmão pelo verdadeiro nome, ele percebeu a presença de Esther, e se calou. Ela, por sua vez, ao ver quem estavam visitando, olhou mais uma vez para Holmes, que fez um gesto para que ela permanecesse quieta.

         -Você pode nos deixar entrar? –solicitou Holmes.

         Mycroft abriu a porta. Por cavalheirismo, Esther passou primeiro, e Mycroft o pegou pelo braço, antes que ele passasse.

         -Espero que você tenha uma explicação convincente para isso. – disse, em cochicho.

         -Bem, Mycroft... Aconteceram alguns imprevistos entre eu e Miss Katz, por isso, teremos de usar vossas acomodações esta noite. Há um perigo eminente lá fora.

         -Não seja tão dramático, Sh... Sigerson. – ele corrigiu-se a tempo. – O que está havendo para você vir até aqui, a esta hora, com esta moça?

         -Ela está correndo perigo, Mycroft. No momento, este é o local mais seguro de Paris para abriga-la. Você não cometeria a indelicadeza de deixar essa moça a mercê de criminosos, não é?

         Mycroft cedeu, diante de uma Esther sentada, aparentemente calma, inabalável. Muito parecida com as mulheres da família Holmes, e inclusive com sua mãe, Violet, mais indestrutível que um diamante. Ele suspirou.

         -Está bem, mas eu quero que mais tarde você me explique essa história. Tenho um jantar para ir. Toda aquela bobagem de sempre: um mero acordo de importação entre a Inglaterra e França acaba parecendo um passeio no parque. Como já recusei três vezes, desta vez não posso mais. Meu estoque de desculpas está acabando. O que posso fazer... Ossos do ofício... Ainda bem que amanhã estarei voltando à nossa amável Inglaterra.

         Holmes sorriu. Ele sabia o quanto seu irmão odiava coquetéis ou coisas do tipo. No entanto, seu cargo sempre o deixava vulnerável a essas situações. Dizer não a uma festa ou banquete poderia significar uma guerra.

          -Comportem-se. – ele disse, antes de sair do quarto.

         Holmes sentou-se no sofá, ao lado de Esther, que parecia perdida.

         -Quem é...?

         Ele a interrompeu. – Você não entendeu quando eu disse “sem perguntas”? Estaremos a salvo aqui, e isso basta.

         -Pois bem, - Esther levantou-se, indignada. – Então, deixe-me fazer uma tentativa.

         Holmes ergueu uma de suas vastas sobrancelhas, em diversão. Esther passou a caminhar de um lado ao outro, fazendo suas conclusões.

-Pelo grau de intimidade, eu diria que vocês são parentes. Vocês têm alguma semelhança física. Os mesmos olhos, a alta estatura, e creio até que vocês dois têm o mesmo cabelo, embora ele já seja grisalho. Vocês são irmãos, não são?

         Holmes assentiu com a cabeça.

         -O nome dele é bem exótico... Mycroft. Mycroft Sigerson. Um tanto bizarro. Talvez porque seja norueguês, como o senhor...

         Será que é a hora dela saber a verdade?

         -Certo, eu já vi que você deduziu alguma coisa. – concordou Holmes.

         -Pode dizer a verdade. Ele não deve concordar com seu estilo de vida, não é? Por isso você não quer dar mais detalhes...

         -De fato, ele não concorda nem um pouco. Mas ele não me deserdou. – disse Holmes, alimentando a mentira. - É uma boa pessoa, feliz com sua vida burocrática e monótona, o avesso de tudo que faço. Mas conte-me. Tenho motivos para acreditar que quem está te perseguindo é o militar russo a quem seu pai deu sua mão em casamento, não é? – Holmes desviou o assunto.

         -Sim, só pode ser ele.

         Holmes levantou-se, e andou de um lado a outro. Retirou do bolso um cigarro e o acendeu. Como há muito tempo não achava seu tabaco shag, ele tinha que recorrer a simples cigarros. Deu algumas baforadas, antes de tornar a falar.

         -Provavelmente, colocaram algo em nossa refeição também. Por isso eu passei mal. Certamente, já estudaram nossa rotina, e tentaram nos dopar. Queriam te raptar inconsciente, pois seria mais fácil. Mas você começou a trabalhar justamente ontem, no Hotel. Eles não sabem disso. Por isso, esse é um bom local para nos esconder, enquanto não pensamos em como nos livrar desses criminosos.

         Ela arregalou os olhos. – Será que eles querem me levar para a Rússia?

         -É uma possibilidade. Ou então... O Conde Ivanov pode estar aqui, em Paris.

         


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora sim, as coisas fecharam para o lado da Esther! Se esse Conde estiver mesmo em Paris, ela está ferrada! Só Holmes para tirá-la dessa encrenca toda!



Comentem!!

BadWolf



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shalom - As Memórias de John Sigerson" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.