Abri meus olhos lentamente e sentindo que fui interrompida no meio de meu sono. Olhei ao redor, deitada mesmo, e percebi que ainda estava de noite, olhei em meu celular que estava na bancada que fica perto da cama e eram quatro e quarenta e cinco da manhã. Depois de esfregar meus olhos, notei que eu estava extremamente descoberta, e que eu estava morrendo de frio. Olhei ao redor da cama, e no lado direito as cobertas estavam lá. Peguei-as e joguei-as em cima de mim, não me importei em arrumá-las, eu não estava com paciência para isso. Não demorou muito voltei a dormir.

***

Era meio-dia quando acordei novamente. Me senti tão bem por ter acordado aquela hora. Foi tão bom relembrar de como era ótimo acordar tarde sem nenhum compromisso –Embora nos domingos eu sempre acordo tarde. Mas, era sábado!-.

Levantei de minha cama e olhei no meu celular, e havia uma. Era de Logan. E dizia.

“-Sentiu saudades de mim? Não se preocupe. Hoje nos encontraremos.”

Achei patético ele ficar se achando por sentir saudades dele. O que não é verdade. O respondi secamente.

“-Eu? Sentir saudades de você? Vai ver se eu estou lá na esquina!”

Mas o pior foi ele revidar a mensagem.

“-Nossa Sophia! Olha que eu sou velho pra caramba, mas com essa gíria pareceu que você está bem mais idosa do que eu! Seja criativa da próxima vez, me surpreenda!”

Juro; se pudesse dar um soco via celular eu dava ele bem naquela hora. Velha... Só por causa dessa gíria sou taxada de idosa? Bom, o Governo não pensa assim. Sou jovem e descontraída. Bem... Eu espero...

Deixei Logan esperando por uma mensagem que nunca chegaria. Troquei de roupa e fui para o refeitório almoçar.

Andando pelos corredores percebi que estava tudo calma demais para uma Universidade, ainda mais que era no dormitório feminino, onde devia estar cheia delas fofocando e rindo. Pensei que todas estariam no refeitório servindo o mais rápido possível para não perderem o bom almoço. Mas não.

Quando cheguei ao refeitório não havia ninguém, além da cozinheira que estava um pouco desapontada por não haver ninguém.

–Onde está todo mundo? –Questionei parando em sua frente.

–Bom, pelo o que eu saiba, eles estão vendo uma peça de teatro de alguns alunos aqui do colégio. –Respondeu.

–Onde fica essa sala?

–É no ginásio. Lá funciona como quadra de esportes e de teatro. Melhor se apressar para não perder a peça. Pelo jeito parece ser muito boa. –A cozinheira disse.

–Tudo bem. –Notei como ela estava amuada e decidi convidá-la. –Qual é seu nome mesmo?

–Amy.

–Amy, quer vir comigo assistir a peça?

–Não posso. O Diretor não me autorizaria sair de onde estou.

–Não se a filha do Ministro pedir. –Falei piscando um de meus olhos para ela e fazendo-a abrir um grande sorriso.

Saímos de lá dando passos largos e corridos, indo em direção ao ginásio. Para uma cozinheira Amy era bem animada e divertida. Ela foi mencionando sobre as peças que já havia feito entre outros trabalhos dela. Amy era muito bem-humorada e pelo jeito tinha futuro como artista, mas por não ter dinheiro para progredir na carreira desistiu de tornar seu sonho em realidade. Prometi a ela que se eu passasse e fizesse tudo certo na Universidade, ajudaria ela com a carreira e tiraria Amy daquela Universidade. Ela ficou super animada com a promessa e disse que me achou muito simpática.

Ao entrarmos no ginásio vimos que estavam lotados os bancos do mesmo. Olhei ao redor e no meio de tantos alunos me deparei com Emma, Tanner, Lindy e Ethan acenando para mim.

–Me siga. –Falei sorrindo.

E lá fomos nós, eu e Amy em direção dos meus amigos alternativos. Sentamos ao lado deles. Confesso que eles espantaram-se com a companhia da cozinheira do refeitório, mas foram gentis com ela. Perguntei do que se tratava a peça.

–É uma peça de comédia. É uma paródia de Meu nome não é John, mas o nome da obra é Meu nome não é Shirley. –Quando Lindy disse o nome da peça soltei uma gargalha, que por sinal foi alta demais.

–Eles sabem como escolher nomes! –Confessei abaixando o tom do riso.

–Sophia, você sabe que um dia terá de encenar lá como eles não é? –Tanner disse me alertando de algo que eu não sabia.

–Eu... –Gaguejei. –Eu vou o quê?

–Vai ter de se apresentar lá como eles, afinal, você está na classe de teatro não?

–Sim. Mas eu não quero... –Emma me interrompeu.

–Não tem escolha Soph. –Fiquei um pouco perplexa pelo novo apelido que Emma havia me colocado, não é sempre que eu ganho um; e, aliás, Soph parece marca de shampoo. Mas não era com isso que deveria me preocupar, e sim com minha timidez no palco, na verdade, meu temor não era do palco, e sim das pessoas, e se eu não fosse boa o bastante? Esse era meu dilema.

Fiquei em silêncio e comecei a prestar atenção na peça. Estava engraçado demais até que percebi quem era taxado como Shirley. Tive uma crise de gargalhadas e comecei a chorar de rir. Meus amigos e a cozinheira ficaram um pouco preocupados comigo e com meu ataque de risos.

–Sophia, você está bem? –Tanner disse preocupado.

–Não. –Falei rindo e enxugando as lágrimas.

–Mas por que diabos está rindo tanto? Tudo bem a peça ser engraçada, mas, não chega a tanto. –Lindy disse.

–Sabem quem está interpretando a Shirley? –Comecei a rir novamente.

–Tentamos descobrir, mas não deu. –Emma confessou curiosa.

–Logan. –Quase não consegui dizer o nome dele por causa das gargalhadas. Quando notaram também, começaram a rir junto a mim, e agora não era apenas eu a idiota tendo uma crise, eram seis rindo, contando comigo.

Se você pensou que era o Logan desde o início, parabéns! Ele estava hilário vestido de mulher, ainda mais com aquele nome, Shirley. Imaginei Logan sendo Logan de dia, e Shirley de noite. Comédia. Acho que ele deveria saber que eu estava lá e que com certeza iria caçoar dele na festa inteira quando chegasse perto de mim.

Ao longo da peça, rimos bastante, mas não tanto como quando descobrimos quem fazia o papel de Shirley. No final houve muitos aplausos e gritos histéricos de meninas, as quais haviam percebido quem era a “atriz” principal.

Depois de esvaziar a quadra, todos se dirigiram ao refeitório, inclusive nós. A exceção foi com o elenco que participou da peça porque teriam de se arrumarem e tirar a maquiagem entre outros fatores.

Após comermos o almoço, mandei uma mensagem para Logan dizendo.

“-Nossa gata! Por que não disse que se chamava Shirley?”

Em Logan respondeu dizendo que era para eu ficar quieta no meu canto, mas continuei rindo da cara dele.

Despedi-me de meus amigos e de Amy e fui para meu quarto começar a me arrumar para festa, mas antes, de me preocupar com a roupa, resolvi mudar um pouco minha aparência.

Já no quarto, pedi para que Lindy arrumasse meu cabelo. Deve se perguntar: Por que Lindy? A resposta é simples, Lindy sempre teve jeito com cabelos e sempre cortou seu próprio cabelo como os da sua família então economizavam bastante. Não me preocupei se ela iria cortar meu cabelo, porque não foi isso o que pedi para ela, e sim apenas para alisar o mesmo.

Demorou alguns minutos e lá estava eu, ruiva de cabelos lisos. Fazia um bom tempo que não cuidava de minhas madeixas, afinal, vida de “publicitária” não é fácil, não tem tempo nem para pensar em você mesmo.

–Ai meu Deus! –Lindy disse gritando com aquela voz aguda. –Você está maravilhosa!

–Não exagera! –Falei rindo.

–Não estou exagerando. –Ela disse.

–Bom, já que você diz... De qualquer forma, obrigada, e, você também é linda. Embora saiba o que eu acho sobre seus dreds... –Falei. Lindy sabia da minha opinião sobre os dreds no cabelo dela, e eu disse que ainda a convenceria retirar aquilo do cabelo.

–Quem sabe um dia você consegue me convencer? –Lindy disse com ironia na voz. Ou seja, “um dia” significa nunca.

Ela disse que teria de voltar para seu quarto para começar a se arrumar e avisou que iria com uma das blusas que eu a dei. Despedi-me dela e ela se foi.

Olhei no relógio e já eram três horas e vinte minutos da tarde. A festa começaria em dez minutos e não teria hora para acabar.

Lembrei do aniversário de Penny e resolvi ligar para nossa casa para desejar um feliz aniversário para ela.

–Alô? –Meu pai atendeu.

–Ah, oi pai! Deu o cachorro para a Penny?

–Claro! Ela está com ele aqui. Quer falar com ela?

–Por favor!

–Ah! Antes, é normal a língua dele ser azul? –Meu pai perguntou um pouco preocupado.

–Sim! É da raça deles possuírem esse tipo de coloração na língua mesmo!

–Ok. Vou passar para a Penny.

Demorou alguns segundo e ela atendeu.

–Sophie?

–Feliz aniversário Penny!

–Sophie! Que saudades que eu estou de você! Precisa ver o Eddie!

–Tira uma foto bem linda e me mando pelo e-mail! Preciso ver ele! Eu também estou com muitas saudades de você e do papai!

–Tudo bem! Sabe quando vai voltar?

Aquela pergunta foi um pouco difícil para mim.

–Bom, se tudo der certo, estou ai semana que vem. Mas caso não dê, no máximo, três meses.

–Nossa! E seu trabalho aqui?

Eu estava torcendo para ela não me perguntar sobre o que eu estava fazendo fora por tanto tempo, mas por sorte ela não perguntou.

–Eu acho que vou desistir dele... Mas não se preocupe, eu consigo arranjar outro emprego.

–Sophie, papai está querendo falar com você. Vou passar para ele.

Mais alguns segundos demorados para se passar o telefone, e percebi que ele se afastou de onde Penny estava.

–Como estão as coisas por ai? –Meu pai questionou.

–Estão indo. –Confesso que foi uma péssima resposta. Eu não sabia o que falar.

–Estão indo? Sophie dê-me uma resposta melhor e mais compreensível. –Pediu.

–Eu estou tentando descobrir o ponto fraco dele. –Pensei em falar sobre Doug e Logan, mas decidi que não.

–Bom trabalho. Caso precise de algo, é só me ligar

–Ok. Beijos pai, vou desligar.

–Tchau filha!

Despedimos e desliguei o celular. Comecei a colocar minha roupa. Fui interrompida quando ia terminar de colocar meu short por uma mensagem de Logan, e dizia.

“-Wow! Sophia, que corpo é esse!?”

Aquilo me deixou totalmente desconfortável e corada. Ele me viu seminua. Vergonha. Bom, pelo menos ele me elogiou.

Eu não podia fazer nada para impedi-lo então continuei me vestindo e me arrumando. Passei um perfume que comprei no shopping, escovei meus dentes, e um pouco de maquiagem –Confesso que não sou uma grande fã disto.- Olhei pela janela e já estava lotado o campus. Sai de meu quarto. Caminhei ao longo dos corredores e cheguei na área da festa. Já havia escurecido então Logan já estava lá. Respirei fundo, e o que mais me animava sobre essa festa era que tudo podia acontecer. Tudo.