São duas da manhã e tem um homem aqui na porta insistindo em entrar. Olhei pelo buraquinho da chave e ele não me parece tão interessante assim, magrelo demais. E afinal de contas, eu estou noiva. Ignorei por um tempo, mas de alguma forma ele abriu a maldita porta. Porcaria de maçaneta velha. Lembro um pouco dele. É aquele amigo do meu avô, o Johnny Smith, ou algo assim.

– Donna, coloca isso na cabeça. - ele disse, me entregando um capacete de maluco, cheio de fios e luzes coloridas.

– Oi?

– Ponha isso, Donna. Não dá pra explicar!

– Você tá passando bem? - disse eu, andando em direção a escada pra chamar algum familiar pra fazer sala pro sujeito.

Nem deu tempo de chegar até a escada. Ele enfiou aquela coisa maldita na minha cabeça e eu comecei a me sentir estranha. Na hora foi como um choque. Milhões de imagens começaram a se passar pela minha mente, como num carrossel com todas as minhas memórias e eu, apenas do lado de fora, observando o movimento. Como que por um impulso, corri em direção aquela bagunça e tudo começou a fazer sentido.

Acordei meio tonta e com o marciano cheio de dedos em cima do meu rosto.

– Mas que droga aconteceu comigo?

– Donna! Você acordou! - Doctor me abraçou - Eu senti a sua falta!

– Minha falta? A gente se viu ontem! - parei um tempo, meio confusa - Ou há algumas horas? Não sei, que sensação estranha.

Daí o Doctor me explicou tudo. Eu poderia até usar os termos técnicos dele, mas basicamente o que ele quis dizer foi que conseguiu criar esse capacete que me permitiu recuperar a memória, sem que minha mente explodisse, mas até antes do ponto em que me tornei Doctor Donna. Ah é, ele me falou que eu virei Doctor Donna uma vez. Não lembro disso.

– Então, já que tá tudo certo, vamos voltar pra Tardis! Deve ter ainda muita coisa nova para se ver. A gente podia voltar pro planeta dos Oods, eu acho que eu esqueci uma echarpe lá e... - ele estava me ouvindo com uma cara séria - O que foi?

– Um problema. Você só vai se lembrar de tudo pelo dia de hoje. O efeito passa a meia noite. Droga de regra da Cinderela.

– Ótimo, então vamos pegar a Tardis e ir pra qualquer lugar no passado. Vamos fazer esse dia durar anos!

Esperei um sorriso de confirmação, mas ao contrário disso, o Doctor me olhou de uma forma triste e cautelosa.

– Não podemos, Donna. Isso ia alterar a... - e então ele impôs uma penca de condições, com os olhos mais tristes do mundo. Parecia mais preocupado com isso do que eu.

Suspirei. Então tínhamos que arranjar alguma forma de passar aquelas quase 24 horas de alguma forma boa.

– E agora, o que faremos? - eu perguntei

Ele trocou seus olhos tristes por aquele seu típico sorriso arteiro, como uma criança que está prestes a desenhar na parede do corredor sem que a mãe saiba.

– Vamos tomar sorvete!