Supernatural: Destiny. escrita por theblackqueen


Capítulo 9
Two Years Later: Valentine Day’s.


Notas iniciais do capítulo

Imediatamente após Mystery Spot (11x03)

— Rise and Shine, Sammy!
(ta, pareii)

Teorias sobre o caso serão aceitas :)
e bem-vindas, novas leitoras.



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Fenwick, West Virginia.

13 de fevereiro de 2008.


Eu odeio vampiros.

Simplesmente odeio. Acabamos de chegar de uma caçada em Ohio onde um deles estava fazendo um estrago. É o tipo de caça que mais deixa as suas mãos sujas, de uma forma literal. Sabe... Cabeças cortadas não são lá muito divertidas. Melizza os odeia também, mas por um motivo bem mais pessoal. Eu odeio cortar cabeças. E simplesmente odeio vampiros.

Paramos em um motel em Fenwick para descansar um pouco por um ou dois dias. Folga merecida. Acho que fazem umas duas semanas desde a nossa última folga. Temos trabalho como loucas esse ano. Eu só queria uma noite de tranquilidade.

Queria.

— Lili, vamos logo! — Gritou Melizza de dentro do banheiro. — Temos que ir logo! Levanta dessa cama e veste uma roupa.

Tirei o olhar da página do livro que lia, sobre simbologia e culturas, e me virei na direção do banheiro.

— Eu não vou. — Respondi.

Melizza prontamente abriu a porta do banheiro e me encarou um pouco incrédula. Rolei os olhos. Melizza não mudou nada desde que a conheci há quase dois anos atrás. Os cabelos loiros pouco abaixo dos ombros, a única diferença agora eram as mechas vermelhas que se multiplicaram entre os fios dourados. Se vestia do jeito simples de sempre. Calça jeans azul e uma blusa preta comprida dizendo “Ramones”. Sapatilhas pretas.

— Qual é? — Resmungou. — É dia dos namorados! Dia de aquecer esse coraçãozinho.

— Eu não gosto do dia dos namorados. É só outra data comercia. — Eu respondi. — E prefiro manter meu coração em temperatura ambiente.

— Não seja insensível. — Ela torceu o nariz e voltou para o banheiro.

— Esqueci que você é uma garota romântica e sonhadora. — Disse com ironia desviando minha atenção para o livro em seguida. — Vou lembrar disso da próxima vez, não se preocupe.

— Qual é? É só ir dançar, beber, se divertir um pouco. — Insistiu. — Nós não temos um tempo livre há semanas. Girls just want to have fun. — A loira cantarolou.

— E eu só quero dormir. — Retruquei.

— Não aceito um não. — Ela finalmente saiu do banheiro. — Vamos lá, só um copinho e você volta!

— Porque você não vai sozinha afinal? — Franzi a testa.

— Porque você nunca se diverte? — Ela dizia em tom de birra, como uma criança mimada.

— Está me chamando de chata?

— Por favor.

Pronto. Meu plano perfeito para noite havia acabado. Nada de leitura e de tranquilidade. Não importava o quanto eu negasse, Melizza não iria desistir. Ela nunca desiste. Tomei um banho e me arrumei o mais simples que pude. Não estava com a mínima vontade de sair. Optei por uma calça jeans preta com uma blusa de manga comprida preta manchada de cinza e um par de botas pretas. Depois disso já estávamos a caminho do carro.

Um Mustang vermelho 1960 era o carro da vez. Não me pergunte como Melizza o conseguiu. Não é uma história muito bonita.

Entramos no carro e Mel ligou o som no último volume:

Like a true nature's child. We were born, born to be wild. We can climb so high. We never want to die. Born to be wild. Born to be wild.

E em poucos minutos já havíamos chegado até a rua onde ficava o bar.

Melizza estacionou um pouco antes da frente do barzinho. Perdi a conta de quantos carros estavam estacionados por ali. Parece que as pessoas realmente gostam do dia dos namorados, embora eu continue achando uma perda de tempo. O som alto vindo de dentro do bar já me dava dor de cabeça e eu nem tinha saído do carro. Pela janela já pude ver dois ou três casais do lado de fora entre beijos e amassos.

— Cara, motel existe para quê, hein? — Franzi a testa enquanto descia do carro.

— Deixa eles serem felizes. — Disse Mel. — Daqui a pouco o mundo vai para o espaço e pelo menos eles aproveitaram.

— Muito animador. — Disse enfadada e um pouco sarcástica.

Um garoto se aproximou de nós. Tinha olhos azuis e os cabelos negros molhados lhe davam um ar sexy. Ele era sexy e isso era inegável.

— Querem que eu estacione lá na frente quando uma vaga surgir? — Ele perguntou, seus olhos estavam grudados em mim.

— Claro. — Melizza entregou a chave alegremente.

Sorri sem graça antes de continuar caminhando.

— Ai Lili... — Começou Mel com aquela vozinha cínica. — Ele ficou afim de ti. Quem sabe depois do turno dele vocês não dão uma saída?

— Cala boca, Melizza. — Cortei reprimindo um sorriso.

Olhei para trás de relance.

Ele até que tinha um belo...

— Lili! — A voz de Melizza me fez sobressaltar e eu me virei para ela que estava alguns passos a minha frente. — Olha!

Segui a direção que ela me apontava. Um carro a alguns passos de nós e não era qualquer carro. Era um Impala Chevy 67.

— O que...? — Eu nem terminei a frase e ela desatou a caminhar a passos largos na direção do carro.

Não havia ninguém dentro.

— Aposta o quanto que Sam e Dean estão ai? — Ela sorria.

— Pode ser de qualquer um. — Eu dei de ombros, naquela escuridão os carros eram todos iguais.

— Não é qualquer Impala. — Me corrigiu. — É o Impala.

Pisquei um pouco pasma.

— Então ta... — Disse pausadamente.

— Vamos entrar logo e encontrar os garotos. — Disse Melizza, depois deu um risinho baixo.

— O que é?

— Dia dos namorados virou páscoa. — Ela disse. — Vamos à caça aos...

— Melizza! — Cortei antes que ela falasse besteira.

— Eu só ia dizer coelhinhos. — Sorriu cinicamente.

Entramos.

O bar estava lotado. Mal podíamos caminhar lá dentro sem esbarrar em alguém. Na pista de dança os casais se divertiam ao som de música pop misturada com eletrônica. Algumas poucas mesas ao redor da pista fazia com que não pudéssemos ver o outro lado do salão. E as luzes também não ajudavam. O balcão ficava do outro lado.

— Vou no banheiro e você vai procurar os Winchester, já que tem tanta certeza. — Eu disse e ela assentiu.

Continuei meu caminho à esquerda até o banheiro feminino.

Eu não estava nem um pouco afim de estar em um lugar tão cheio como aquele.


–~-~-~-

RedSky era o nome do bar. Um lugarzinho bem frequentado comparado aos lugares que costumavam frequentar. Nada de cerveja barata. Tudo o que Dean queria naquele momento era aproveitar. Aquele poderia ser sua última véspera de dia dos namorados. O tempo lhe escapava como água entre os dedos. Era pouco o tempo que lhe restava.

E não podia ser desperdiçado.

— Espera ai que eu vou entregar o telefone da minha irmã e já volto. — Disse a moça morena que havia conhecido há poucos minutos com a voz sedutora ao pé do seu ouvido.

Dean assentiu e observou a garota se afastar com um sorriso.

Olhou para o outro lado do balcão e ali estava seu irmão nerd. Sam nem via nada que estava acontecendo ao seu redor, muito concentrado em um jornal que circulava na cidade. Dean fez uma careta.

— Hey, Sammy... — Chamou Dean.

Sam desgrudou o olhar do papel e encarou o irmão.

— Que?

— Quando vai pedir o jornal em namoro? — Brincou, Sam rolou os olhos com a piada sem graça do irmão. — É dia dos namorados, vai conhecer umas gatinhas, cara.

— Eu acho que achei um caso. — Sam disse automático.

— Qual é, cara? — Dean começou indignado. — Acabei de morrer mais de cem vezes e você já quer voltar ao trabalho?

Sam abriu a boca para responder, mas fechou quando a morena voltou a se aproximar do irmão. O último encontro com o brincalhão foi algo que o mais novo queria apagar da memória. Ver Dean morrer tantas e tantas vezes havia desgastado Sam ao máximo. Algo nele havia mudado e ele sabia disso. O tempo em que Sam ficou sem o irmão depois do tiro que Dean recebeu naquele estacionamento exigiu que ele crescesse, mas ele tinha certeza que não estava pronto para ficar definitivamente sozinho. Dean era sua única família.

O que lhe restava.

E ele tinha que ocupar a mente para não pensar todo o tempo no pacto que Dean havia feito para salvar sua vida, e que agora levaria o irmão ao inferno.

Perdido em seus pensamentos e no artigo que lia, o Winchester acabou sobressaltando ao notar uma voz feminina e conhecida surgir do nada, ele e Dean a encararam quase ao mesmo tempo.

— Hey Dean, eu soube que você e o Fred terminaram. — Dizia ela, o que fez Dean ficar tão vermelho quanto um tomate. — Que pena. Eu nunca fui a um casamento gay, queria tanto ir no de vocês.

— O que? — Dean titubeou um pouco confuso, a garota morena encarou o Winchester desconcertado e saiu rapidamente do seu lado. — Não, ela só está brincando.

Melizza balançou a cabeça negando, mas logo desfez a cara séria.

— Mel, quanto tempo! — Sam tratou de cumprimentar a garota.

— Pois é, vocês não são muito verdadeiros com a coisa de vamos mandar notícias. — Ela disse.

— Aconteceram algumas coisas... — Sam comentou timidamente.

— Eu sei. — Mel assentiu. — Sinto muito pelo seu pai.

Sam suspirou. Dean desviou o olhar que até agora ainda estava preso na morena com quem ia se dar bem e encarou a loira.

— Quem é Fred? — Perguntou rabugento.

— Seu ex-namorado, Dean! — Ela fez uma careta.

— Ah, que engraçado. — Disse ele azedo.

— E o que você tem feito? — Sam perguntou.

— Nós temos caçado. — Melizza respondeu sentando-se em um banco no balcão entre eles.

— Nós? — Sam estreitou o olhar.

— Elisabeth. — A loira respondeu.

Ouviram um leve pigarro.

Sam e Dean se voltaram para o som que vinha de algum lugar atrás deles e encontraram uma figura conhecida. Elisabeth não tinha mudado nada desde a última vez que a viram. O mesmo rosto suave, quase infantil, os cabelos negros e compridos que agora ganharam algumas mechas mais claras nas pontas e a franja rebelde que sempre acabava lhe cobrindo a visão. Ela abriu um sorriso tímido e Sam não pode evitar lhe devolver o sorriso. Não pode deixar de lamentar o fato de que Elisa estava naquela vida de caçadora, deveria estar vivendo uma vida normal agora, mas ele gostou de poder vê-la de novo. E não teve dúvidas disso.

–~-~-~-


Eu nunca havia me sentido daquele jeito antes. Me senti estupida. Senti uma vontade louca de rir, de gritar, de pular, tudo ao mesmo tempo. Sei que parece absurdo quando escrevo desse jeito, mas quando meu olhar parou em Sam eu senti uma explosão de felicidade. Algo que eu nem sei descrever direito. Senti saudades dele e nem tinha me dado conta disso.

— Ih! Olha lá... — Dean abriu um sorriso. — Eu não acredito que também virou caçadora. — Desviou o olhar para Melizza, seu tom de deboche era claro. — Isso reforça a minha teoria que você é uma péssima influencia.

— Vai se danar. — Mel deu de ombros no mesmo tom de brincadeira.

— Elisa... — Sam se levantou e veio me cumprimentar, engoli a seco com o seu abraço. — Como é que vai?

— Bem. Muito bem. — Eu disse, me recompus da sensação estranha. — E vocês?

— Até alguns minutos eu estava muito bem. — Dean respondeu. — E ia ter uma noite ótima, mas agora ela acha que eu sou gay.

— Eu espantei a vadia, mas tem outras pelo salão, meu bem. — A voz de Mel era seca agora. — Se a necessidade é tanta eu faço elas formarem uma fila rapidinho.

— Olha aqui...

— Gente, sem brigas agora?! — Sam se meteu. — Vamos para uma mesa conversar melhor.

Foi uma ótima ideia.

Ou uma péssima, depende do ângulo que se vê.

Passamos boa parte da noite falando sobre coisas em comum. Caçadas, no caso de quatro caçadores. Sobre o demônio que mataram, embora o assunto não deixasse Sam muito confortável, mas Dean fazia questão de detalhar como pegou o Colt e atirou no desgraçado. E não comentou sobre o pacto que fez para salvar o irmão, mas nós sabíamos, Ellen nos contou uns dias depois da abertura do portão do inferno. Claro que não tocamos nesse assunto. O que nós não sabíamos era quanto tempo ele ainda tinha. Um ano. Nove anos. Normalmente a pessoa que faz o pacto ganha dez anos. Mas não íamos perguntar sobre isso. Não era uma noite para esse tipo de conversa. O assunto na mesa não foi muito além disso, Mel se gabando de um lado, Dean se gabando do outro.

— ... Sete! Os sete pecados em carne e osso... — Dean contava. — E nós acabamos com eles.

— Nós pegamos um ninho de vampiros em Wisconsin há uns quatro ou cinco meses. — Melizza comentou. — Quase vinte.

— Tenho certeza que foram uns dez. — Corrigi.

— Não, quase trinta. — Exagerou. — E nós arrasamos.

— Claro. — Dean balançou a cabeça em concordância. — Não caçou o Pé Grande também?

Melizza abriu a boca para responder, mas alguém se aproximou da mesa onde estávamos. Uma garota. Uma garçonete que trazia a cerveja que Dean havia pedido.

— Aqui está.

— Valeu, linda. — A piscadela descarada do mais velho dos irmãos fez a garota parar próxima a mesa, encarando-o de uma forma nada sutil.

— Perdeu alguma coisa, boneca? — Melizza perguntou ríspida.

Sam me encarou com um sorriso sem graça que eu devolvi, Dean parecia se divertir com a situação.

— Perdão?

— Você deve ter mais mesas para atender, vai lá ganhar as suas gorjetas.

A garota encarou Melizza incrédula.

Saiu sem dizer mais nenhuma palavra, com certeza se controlando para não responder.

— Você está com ciúmes. — Dean tratou de debochar.

Melizza fechou a cara.

— Não se superestime, amado. — Ironizou. — Você não tem tanta sorte.

— Aposto que sim. — Respondeu com um sorriso maroto.

— Eu só não gosto de vacas na minha volta. — Ela retrucou. — Eu não sou pasto.

Sam pigarreou levemente.

— Você é uma flor de delicadeza. — Dean continuou debochando, ainda adorava irritá-la.

— Pega a delicadeza e enfia no...

— Mel! — Cortei em tom reprovador.

Ela e Dean se encararam até ele gargalhar.

Sam meio constrangido me olhou sem entender.

— Você está morta de ciúmes! — Disse Dean ainda rindo.

— Vai para o inferno! — Melizza disse por impulso.

Sem jeito, desviou imediatamente o olhar. Dean abriu e fechou a boca.

— Quanto tempo vão ficar por aqui? — Sam me perguntou mudando de assunto.

— Um, dois dias. — Disse sincera. — Até aparecer um caso.

Melizza olhou para o relógio amarelo que tinha no pulso.

— Acho melhor irmos. — Me disse.

Não era mais que meia noite. Estreitei o olhar. Melizza não estava muito normal, parecia inquieta. Era o dia dos namorados, eu achei que ela iria querer aproveitar ao máximo o nosso dia de folga. Foi ela que insistiu tanto para virmos. Mas algo havia mudado de repente.

— Ok. — Concordei.

Os Winchester nos acompanharam até a calçada que, graças a Deus, já havia esvaziado um pouco comparada a antes.

— O que houve com o Ford? — Dean indagou.

— Se foi em uma caçada. — Mel respondeu e Dean franziu a testa. — Espíritos são bem criativos, se você quer saber.

Vi os dois irem em direção ao Mustang.

Sam se voltou para mim.

— Então quer dizer que virou mesmo caçadora?

— Sei o que vai dizer. — Disse. — Que não ouvi seu conselho. Mas acho que vale a pena. Quer dizer... Salvar as pessoas. — Estreitei o olhar. — E você também não fez o que disse que ia fazer. Deixar a estrada, voltar a fazer faculdade...

— É... — Ele suspirou. — Nem tudo sai como a gente quer.

— É... — Baixei o olhar.

— Mas a gente pode combinar de tomar um café. — Disse. — Os quatro.

— Claro. — Eu dei de ombros.

A presença dele me deixava sem graça. Desajeitada, não sabia se sorria ou se o encarava. Era estranho. Algo em Sam Winchester era estranho.

Ou talvez fosse em mim.


–~-~-~-

Melizza se escorou no Mustang e Dean se aproximou.

Ela era o tipo de garota que ele não entendia. Ela era a única garota que ele não entendia, não conseguia realmente dominar. Talvez porque ela conhecia todos os seus truques. Ela era como ele.

— Nada mais sexy que uma garota e um Mustang vermelho sangue. — O Winchester foi logo dizendo com a voz macia e aquele jeito sedutor.

— Tenta ser mais criativo da próxima vez, ta? — Ela respondeu ácida. — Não sou tão fácil de ser ganhada.

— Não faz mal. — Ele balançou a cabeça. — Eu adoro um desafio.

Ela o encarou por um segundo.

Dean era o tipo de homem irresistível, daquele jeito meio bruto. Mas ele era inegavelmente atraente. E Melizza achava isso desde a primeira vez que o viu naquele saguão de hotel. Mas ele conseguia ser irritante e tão descarado que ela nunca havia realmente admitido isso.

— Você ainda é um idiota, Winchester. — Ela disse em tom divertido.

— Um idiota bonitão. — Abriu um sorriso maroto. — E você gosta de mim, por isso podíamos marcar amanhã...

— Sobre a primeira afirmação, há controvérsias. Sobre a segunda, acho que você bebeu demais. — Ele franziu a testa, ela continuou. — E sobre a terceira; você está me chamando para sair?

— Aceita?

Os dois se encararam.

— Vou pensar no seu caso.

A conversa acabou logo. Elisabeth se aproximou dos dois, seguida pelo irmão de Dean. Uma despedida rápida e as duas entraram no Mustang em direção ao motel onde estavam hospedadas. Não era o mesmo dos garotos desta vez.

— Vamos? — Dean fez menção em voltar a entrar no bar.

— Não, cara. Vai você. — Sam disse. — Eu vou voltar para o motel. Vou acordar cedo amanhã para pesquisar sobre o caso.

Dean titubeou meio contrariado.

— Ok, vamos lá.

— Vai voltar para o motel também? — Sam estranhou.

Dean não respondeu.

Abriu a porta do Impala e entrou. Sam não entendeu à princípio, apenas deu a volta no carro e entrou.

–~-~-~-


Melizza inquieta dirigia até o motel. Eu a encarei por algum tempo, mas ela não disse nenhuma palavra do que estava lhe incomodando. Depois eu conclui que se tratava do pacto de Dean. Mais tarde, já estávamos de volta no motel, quando percebi que Mel lia atentamente algo no laptop, algo sobre cães negros e pactos de encruzilhada.

— É sobre o Dean? — Tentei puxar conversa.

— Eu não acredito que ele foi tão idiota a ponto de fazer um pacto! — Mel resmungou.

— É... — Concordei. — Mas não dá para julgar, nós sabemos que ele não fez por capricho, sabemos em que situação ele estava.

— Deve haver alguma forma de romper o pacto. — Ela disse, beirava a uma inocente agonia.

— Eu não sei. Talvez sim. — Fui sincera quanto à isso. — Talvez não. Eu espero que sim, Dean é uma grande pessoa.

— E um grande retardado. — Ela disse fechando o laptop e se jogando em sua cama, ficava à esquerda da minha, depois encarou o teto. — Vou tentar ajudar nisso. Tentar descobrir um jeito de salvá-lo.

— Você está afim do Dean, não está? — Franzi a testa.

Ela me encarou.

— Não. — Disse séria, depois voltou a encarar o teto. — Quer dizer, não é por isso que eu estou assim....

— Assim? — Indaguei.

— Encanada nessa história de pacto. — Respondeu.

— Eu percebi que ficou esquisita em certo momento. — Comentei. — Eu nem esperava que fosse voltar tão cedo do bar....

— Quando eu tinha uns quinze anos... — Ela me cortou. — Minha mãe e eu fomos ajudar um homem no Arizona. Ele estava desesperado. Havia feito um pacto há dez anos quando o filho mais velho estava à ponto de morrer. O filho se curou e a vida da família seguiu normalmente, isso até o fim do tempo.

Ela pausou com o olhar fixo em qualquer ponto do teto. Parecia ver mais do que estava diante dos seus olhos. Eu, sentada na cama ao lado, ergui a cabeça e esperei pela continuação.

— Ele tinha pouco mais de dois dias quando chegamos lá. — Disse. — E já haviam começado as alucinações, a sensação de ter um cão negro ali, à espreita. Nós não sabíamos o que fazer. Minha mãe nunca se envolveu muito com os demônios, ela dizia que eles só queriam confusão. Achava que quem vendia a alma, vendia sabendo que ia se ferrar depois, mas no caso desse homem... Foi pelo filho. E nós fizemos de tudo para ajudar.

— Conseguiram?

— Não. — Disse, mas depois se apressou em continuar. — Mas naquela época não estávamos preparadas. — Pausou. — Em dois dias os cães do inferno chegaram. E nem os feitiços que sabíamos os afastou. E a cena, essa eu nunca vou esquecer. A forma como o homem ficou, como se ele tivesse sido rasgado por um leão faminto, eu... — Pausou novamente, e seus olhos me encararam. — Não quero que o Dean acabe assim.

Eu assenti.

— Vamos ajudá-lo.

Nem eu, nem Melizza dormimos facilmente aquela noite. Ela estava bem preocupada com a situação de Dean. E eu também, claro. Mas não foi só isso que roubou meu sono. Na verdade, foram questões de bem menos importância. Mel, depois de se movimentar um pouco na cama inquieta, acabou dormindo. Na minha mente a imagem de Sam girou e girou por mais algum tempo. Eu havia gostado de revê-lo. E tratei de ignorar essa sensação que me fazia sentir estupida. Estupida pela vontade de vê-lo de novo. Estupida por não me concentrar no que era importante.

O dia dos namorados amanheceu.

O céu claro anunciava que o dia seria de tempo bom. Mel acordou mais cedo e antes de mim, já estava pronta. Pegou o laptop e andes de sair a loira me avisou que ia para a cafeteria logo em frente ao motel. Também me arrumei e tratei de ir encontrá-la minutos depois. Ao sair do quarto, porém, algo me chamou a atenção. Na calçada em frente ao motel havia uma banca de revistas. O jornal de hoje estava bem destacado. Eu logo encontrei algo que parecia ser o nosso tipo de caso.

E era.

— Temos trabalho. — Disse ao chegar a cafeteria onde Melizza estava, ela tomava um café com bacon e omelete.

Ela me olhou torto por um momento.

— Manda. — Cedeu.

Me sentei na cadeira à sua frente e a garçonete se aproximou da mesa imediatamente.

— Vai pedir?

— Café preto e torradas. — Disse à garota.

— Pão de leite ou integral?

— De leite. — Respondi, ela assentiu e se afastou.

— E ai, qual é o caso? — Melizza indagou.

— Um homem foi encontrado morto em um quarto de hotel da cidade antes de ontem. — Comecei a resumir. — Portas e janelas fechadas. As câmeras da entrada e do corredor não filmaram ninguém. Quem achou o cara disse que ele tinha a garganta cortada e segundo os policiais, as marcas pareciam garrafas.

— Lobisomem? — Considerou.

— Estamos na lua crescente. — Respondi. — E além disso, outro tipo de marca foi encontrada.

— Que outro tipo?

— Chupões. — Eu disse, Melizza me encarou pasma.

Paramos de falar quando a garçonete se aproximou trazendo o que eu havia pedido.

— Obrigada.

A garota se afastou, então Melizza voltou a sorrir cinicamente.

— O cara estava em um hotel, deveria estar se divertindo.

— O cara era casado e a companhia, quem quer que seja, não era a sua mulher. — Expliquei.

— Então ele botou chifres na mulher e foi morto?! — Ela franziu a testa e continuou ironicamente. — Doce vingança...

— Você é meio possessiva. — Estreitei o olhar.

— Ta, e qual é a sua teoria racional e lógica?

— Quando foi que um caso nosso se enquadrou nessas duas palavras, Mel? — Perguntei.

— Dentro da nossa realidade, quero dizer. — Disse ela.

Suspirei.

— Ainda não sei.

— Então, o que fazemos agora? — Mel perguntou.

— O corpo do homem está no IML local. — Disse. — Vamos até lá.

Seguimos em direção ao IML da cidade. Acabamos entrando pela porta dos fundos, a rua ficava mais próxima de onde estávamos. Fora a vaga de estacionamento, que era definitivamente melhor. Nossos disfarces eram de agentes do FBI. Nomes falsos. Tudo uma grande mentira.

Mas não éramos as únicas.


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