Supernatural: Destiny. escrita por theblackqueen


Capítulo 5
Make Three Wishes.


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo. Espero que gostem.

(notas finais importantes)



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–~-~-~-

— E ai, o que você acha? — Dean perguntou ao irmão.

— Eu não acho nada. — Respondeu o mais novo sentado no banco do carona. — Cara, eu nem consigo pensar com vocês brigando o tempo todo.

— Dá para acreditar nessa garota? — Dean perguntou, levantou o seu olhar ao espelho retrovisor vendo o Ford preto logo atrás deles. — É completamente maluca!

— Dean, pega leve, ta? — Sam disse e assim como o irmão, também observou o Ford pelo retrovisor. — Ela deve estar desesperada pelo sumiço do pai.

— É por isso que o nosso pai nos mandou aqui. — Disse Dean. — Nós vamos ajudar.

— E ela não vai nos deixar ajudar se você continuar provocando. — O mais novo ponderou.

— E a culpa é minha se ela não tem senso de humor? — Dean fingiu indignação.

— Dean! — Sam disse com reprovação.

— Vocês levam tudo muito a sério, impressionante. — Disse o irmão mais velho, depois voltou sua direção à rua.

Ainda estavam na direção da pousada.

— Pela carta do papai, eu acho que a coisa é séria. — Comentou Sam, mas Dean não pareceu prestar atenção. — Dean?

— É uma pena. — Dean disse de repente.

Estava pensando em qualquer coisa alheia ao caso, o mais novo tinha certeza.

— O que é uma pena?

— A tal Melizza ser tão esquentadinha. — Disse, em seguida abriu um certo sorriso malicioso. — Ela até que tem seus atributos.

Sam fitou o irmão incrédulo.

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Melizza seguiu a viagem em silencio, o que realmente era estranho, a loira era do tipo hiperativo. De repente a vi respirar fundo e tentar ir relaxando, enquanto movia os ombros para frente e para trás. O Ford seguia logo atrás do Impala em uma velocidade razoável.



— Você acha que esse John Winchester é confiável? — Perguntou ela quebrando o silencio.


— Não sei. — Eu disse depois de um suspiro. — Mas eu acho que uma coisa é óbvia nessa história toda.

— O que?

— Eu acho que eu sei o que os demônios querem. — Eu respondi.

Melizza me encarou por alguns segundos.

— Não. — Disse ela convicta como se pudesse ler meus pensamentos ou talvez eles fossem bem transparentes. — Nem vem.

— Melizza, Rebecca e eu descobrimos aquela situação. — Analisei. — E ela foi morta. Talvez seja isso. É isso o que eles querem.

— Você fala como se fosse qualquer coisa. — Disse Melizza um pouco pasma. — E mesmo que isso fosse verdade, mesmo que quisessem te matar, por que não fizeram isso naquela noite? Eram seis, sete, e nós éramos só três. Teriam nos matado facilmente.

Aquilo fazia algum sentido.

— Eu não sei. — Já estava um pouco tonta com tanta informação.

— Relaxa. — Disse ela, agora mexia um pouco nos cabelos deixando-os meio bagunçados. — Nem sabemos se são os mesmos demônios. E seja como for, nós vamos dar um jeito de achar o meu pai. Claro, se os dois ai da frente não atrapalharem tudo.

Ela encarou o Impala a nossa frente.

— Mel, eles só querem ajudar.

— O tal do Dean Winchester é um retardado. — Resmungou ela, eu a encarei franzindo a testa. — Vai me dizer que não achou ele um idiota babaca?

— Eu acho que você pegou implicância, Mel.

— Você pegou implicância, Mel. — Repetiu afinando a voz. — Eu vou esganar ele se ele vier com mais uma das suas gracinhas.

— Pelo amor de Deus, Melizza, relaxa. — Eu disse. — Daqui a pouco você tem um infarto ou coisa assim.

— Eu tenho 24 anos.

— Você se entope de gordura, sua idade não é desculpa. — Eu disse, ela revirou os olhos.

O Impala foi diminuindo a velocidade e Melizza imitou a ação. O carro estacionou em frente a uma das portas da tal pousada que, pela placa que estava logo em frente, se chamava Lucky Clover. Na verdade a tal pousada parecia mais garagens, uma porta ao lado da outra, do que um lugar para descansar. Enquanto descíamos do carro, vimos Dean abrindo o porta-malas do Impala e tirando de lá, além da pasta, algumas outras coisas que eu não pude ver o que era, as colocava na mochila de Sam.

O Ford foi estacionado logo atrás. Mel e eu fomos puxando as bolsas por entre os bancos da frente, pois descobrimos que as portas detrás estavam trancadas. Sam prontamente veio nos ajudar com as bolsas.

— Vocês vão ficar por aqui mesmo? — Ele perguntou.

Melizza me encarou.

— Por mim tudo bem. — Eu dei de ombros.

— Não é muita coisa, mas dá para ficar uma ou duas noites. — O mais novo disse gentil, mas um pouco sem graça.

Talvez pelo fato de sermos duas garotas em um lugar como aquele. A tal pousada era cheia de bêbados, viajantes e caminhoneiros. Aquele lugar cheirava a bebida barata e cigarro, mesmo no lado de fora.

— Relaxa, Sam. — Ouvi Dean dizendo enquanto fechava o carro. — A Barbie ai já deve estar acostumada com lugares assim, afinal, é uma caçadora.

— Seu irmão tem razão. — Melizza concordou, fitando Dean com um certo sorriso irônico. — Já dormi em lugares piores, mas o que decaiu mesmo foram as companhias.

Dean mostrou um sorriso amarelo.

— Vamos fazer o registro. — Cortei antes da coisa piorar.

Melizza foi comigo até a recepção e Sam ficou esperando com nossas bolsas. Pedimos um quarto com duas camas de solteiro, ficamos com o quarto ao lado do quarto dos Winchester, para a decepção de Mel.

— A cozinha aqui do lado funciona 24 horas. — Dizia a recepcionista de uma maneira quase robótica. — Vocês podem pedir quando assim desejarem.

— Obrigada. — Melizza agradeceu sem dar muita atenção e pegamos a chave.

Foi só o tempo de deixarmos as bolsas no quarto e fomos junto a Sam ao quarto que ele dividia com o irmão. Os quartos eram bem simples, nada parecidos com o anterior. Aliás, eu ainda me perguntava porque uma pessoa pagaria um hotel tão caro, alugando um quarto por cinco dias só para manter alguns papeis a salvo quando existem meios mais seguros e práticos de se comunicar. O quarto dos garotos era igual ao nosso, só o que mudava eram as posições das coisas. As duas camas e um criado-mudo entre elas, além de um pequeno sofá de dois lugares e um armário. Uma mesinha quadrada com duas cadeiras ficava bem abaixo da janela. Dean abriu a cortina bege que dava certa penumbra ao quarto deixando a luz entrar. Já estava perto do meio-dia.

— Vocês estiveram em White Hill, Kansas? — A pergunta foi de Dean.

E tinha lá sua razão.

A primeira coisa que encontramos na pasta foi um recorte de jornal, a matéria era do Kansas City e falava sobre o incêndio na noite de 30 de abril. O incêndio havia começado por causas até então desconhecidas e nele pelo menos oito pessoas morreram, crianças e supostamente o padre e algumas irmãs, deixando outras doze crianças feridas. E bem no canto inferior do recorte, anexado com um grampo, um pedaço de papel escrito a mão trazia um assunto que eu logo reconheci.

04/04/06 - Primeira morte.

15/04/06 - Segunda morte.

22/04/06 - Terceira morte.

30/04/06 - Quarta morte.

No final, destacado com caneta vermelha dizia “Quinta morte?”.

— Meu pai e eu estivemos nesse vilarejo, White Hill, no sul do Kansas há mais ou dois meses. — Melizza disse á Dean depois de me encarar brevemente. — Uma legista conhecida do meu pai de um caso de eco da morte em uma ala de um hospital em New York, ela ligou falando de uma série de mortes estranhas em White Hill. As garotas tinham o coração arrancado e o corpo era encontrado cheio de símbolos. Logo ela percebeu que não era normal.

— Um ritual satânico? — Sam perguntou erguendo a sobrancelha.

— Exato. — Ela disse. — No princípio concluímos que as mortes eram obra de algum de algum tipo de seita satanica ou bruxaria da pesada, já vimos magia negra antes. Mas a coisa era bem mais literal.

— Demônios. — Dean concluiu. — Não exorcizaram?

— Não. — Negou a loira. — Eu bem tentei, mas era quase impossível que funcionasse. Não tínhamos como neutralizá-los. Surpreendemos eles de modo errado.

— Então devem ser os mesmos demônios. — Disse o mais velho. — E eles devem querer algo do seu pai. Eu só não entendo como o papai tinha certeza que deveria haver uma quinta morte?!

— Porque já houve antes. — Sam respondeu, todos nós o encaramos, ele lia um outro pedaço de jornal, esse de Coffeyville. — Tragédia em White Hill. — Começou a ler em voz alta. — A comunidade se chocou com o caso dos desaparecimentos cujo primeiro caso foi no dia 25 de agosto e o quinto no dia 14 de setembro. Cinco recém-nascidos foram levados da maternidade e apesar das investigações, nenhum culpado foi encontrado. Agora, uma semana depois do último caso, os corpos foram encontrados mutilados ás margens do Verdigris River.

— Que? — Foi tudo que eu consegui perguntar, assombrada.

Melizza também me encarou, talvez esperasse que eu soubesse algo sobre aquilo, mas era novidade. Eu nunca soube de nada disso.

— De quando é essa notícia? — A loira indagou.

— 1986. — Sam respondeu.

Eu estava boquiaberta, tão surpresa que mal conseguia pensar.

— Eu nunca soube disso. — Disse em voz alta, estreitando o olhar.

— E porque saberia? — Dean indagou, ele e seu irmão me encaravam com cuidado. — Vai me dizer que seus pais também são caçadores?

Eu demorei um pouco para responder.

— Aham. — Sonorizei balançando a cabeça positivamente. — Ou são da máfia. Ou professores de espanhol. Não sei bem, não os conheci.

Meu tom não foi exatamente irônico como eu queria.

— Você era do orfanato, não é? — Deduziu Sam brilhantemente.

Eu não respondi. Melizza contou a parte da história que cabia naquela conversa. Contou que quando as mortes começaram, uma amiga e eu começamos a investigar e descobrimos sobre os símbolos, vimos um dos corpos. Contou que minha amiga, Rebecca, acabou sendo morta, que eu também estava atrás da verdade quando os encontrei. Contou o que vimos e do que escapamos.

No final, eu estava desconfortável por ser o assunto central agora.

— E então... — Dean começou, mas eu o interrompi.

— Então provavelmente eu deveria ser o quinto sacrifício. — Conclui por fim. — Mas o senhor Ruso e a Mel me encontraram, fui embora e por isso os demônios pegarem ele.

— Não, Lili. — Melizza disse um pouco tensa. — Nós não sabemos se é isso.

— É bem óbvio. — Cruzei os braços. — Eu só preciso ir até eles, assim eles soltam seu pai.

— Isso está fora de questão. — Dean disse firme.

— Exatamente. — Melizza concordou, o que fez Dean encarar a loira e franzir a testa, mas ela o ignorou e continuou a me encarar.

— E mesmo que você esteja certa, que tivesse sido escolhida para o ultimo sacrifício, acha mesmo que os demônios iam libertar o pai da Melizza assim? — Foi Sam que disse, me encarava de um jeito sereno e seu tom era o mais compreensivo possível. — Vocês dois acabariam mortos. Não ia adiantar nada.

— O Sam tem razão. — Dean disse. — Temos que analisar a situação, não meter os pés pelas mãos.

— E nós vamos achar um jeito de encontrar o meu pai. — Completou Melizza. — Eu tenho certeza.

Isso não me acalmou, se quer saber.

Continuamos mexendo nos papeis da pasta, mas a pesquisa feita por John não foi muito além do que já sabíamos. Desenhados, de forma bem improvisada, alguns símbolos acabaram aparecendo entre todos os papeis. Aqueles eram exatamente os que Rebecca e eu vimos nos corpos de Elena Porte no necrotério.

— A cruz invertida é sabidamente satanica. — Comentou Sam. — Os outros símbolos eu nunca vi antes.

— São símbolos usados em rituais de oferenda. — Eu disse, Melizza e os garotos me encararam. — Fazem parte do ritual todo, eu acho.

— Como sabe? — Dean perguntou com um certo tom de espanto.

— Pesquisa. — Tentei responder com naturalidade.

— Ela tem razão. — Melizza se meteu, talvez tenha percebido que eu estava um pouco sem jeito. — Foi isso que eu e meu pai concluímos.

Depois vimos boletins meteorológicos de Carlsbad: Seca repentina e tempestades elétricas marcaram o dia em que Giuseph Ruso sumiu da cidadezinha de New México. Isso já era sabido, Ash havia descoberto.

— Os animais foram morrendo pela cidade instantaneamente nesse período. — Lembrou-se Melizza. — Um amigo pesquisou sobre isso.

Talvez fosse importante.

Estávamos lidando com um demônio que deixava rastros, isso era um fato. E talvez isso pudesse ajudar.

Mas a grande questão era encontrá-lo e o que fazer depois.

Os papeis que John Winchester havia pesquisado e deixado para seus filhos a respeito do caso acabaram ai. Não houveram mais novidades naquele momento. Nada que pudesse nos levar ao pai de Melizza até então. A loira e eu deixamos o quarto e fomos procurar o que comer na tal “cozinha” que a recepcionista havia dito. Não tinha muita coisa, mas deu para o gasto. Dean não tardou em também aparecer naquela cozinha, que na verdade era mais como uma cantina, em busca de algo para ele e o irmão comerem. Sam ficou pesquisando. Depois do almoço improvisado, Melizza e eu voltamos para o nosso quarto. Eu e ela havíamos combinado de pesquisar mais sobre o assunto, mas isso não aconteceu.

Até tentamos.

Melizza não era do tipo paciente com pesquisa. Odiava leitura, o que é incomum em uma geminiana. Enquanto eu lia um velho livro sobre demonologia, Melizza pegou no sono. Era compreensível.

Foram quatro dias cansativos.

Ao cair da noite, Melizza acordou finalmente. Eu ainda estava enfiada nos livros, mas bem esgotada com tanta informação.

— Foi mal ter dormido. — Disse Melizza ainda sonolenta. — Eu sinto que não dormia por décadas.

— Tudo bem. — Disse automática encarando a página do livro.

— Alguma novidade?

— Não. — Respondi, acabei por soltar o maldito livro, esfregando os olhos. — Eu nem cheguei na metade ainda. O livro é muito complexo.

Foi ai que ouvimos um som vindo do lado de fora. Vozes baixas, como um cochicho. Mel me encarou e se levantou de sobressalto. Virei meu rosto em direção da porta quando alguém bateu.

Nos encaramos por um breve momento até escutarmos uma voz que já conhecíamos.

— Somos nós. — Disse a voz masculina, era Sam.

Mel franziu a testa e abriu a porta revelando os Winchester parados a nossa porta. Sam com um sorriso simpático, Dean nem tanto.

— Nós vamos comprar comida chinesa em um restaurante aqui perto e queríamos saber se querem alguma coisa? — Sam perguntou.

— Qualquer coisa é melhor do que a papa de batata. — Resmungou a loira referindo-se ao “purê” do almoço.

— Se quiserem vir com a gente?! — Ele perguntou gentil.

Dean fechou a cara, o que fez Melizza sorrir abertamente. É claro que a loira prontamente aceitou, eu acho que foi bem mais para irritar Dean do que para qualquer outra coisa. Ele com certeza não havia gostado da ideia, reclamava em tom baixo com o irmão enquanto Melizza foi pegar algum dinheiro, mas acabou aceitando a ideia.

Fomos todos no Impala.

O restaurante era realmente perto, duas ruas da pousada. Foi o tempo que tivemos para saciar a nossa curiosidade à respeito dos dois irmãos e seu pai. Em um resumo rápido Sam nos contou que John virou caçador quando Mary, a mãe dos dois, foi morta por um demônio. Sam e Dean foram criados como caçadores desde pequenos pelo pai, o negócio da família era esse. Dean não parecia confortável com a conversa. E não era para menos, Melizza e eu éramos duas desconhecidas, não fazia nem um dia que havíamos nos encontrado no saguão daquele hotel. Eu lembrei da carta e conclui que quando escreveu “nosso demônio”, John falava do demônio que matou Mary, era isso que ele estava caçando. Mas não demorou para o Impala estacionar e a conversa parou ai. O Impala teve que estacionar um pouco antes do restaurante devido a quantidade de carros na rua.

— O que vão querer que a gente traga? — Dean nos perguntou quando descemos do Impala.

— Um Bifum. — Melizza respondeu rapidamente. — De carne bovina, é melhor.

— E você? — Dean agora me encarava.

Eu abri e fechei a boca. Nunca tinha comido esse tipo de comida antes e não fazia ideia do que responder.

— Deixa que eu vou. — Pedi.

Dean franziu a testa.

— Por quê?

— Porque lá em vejo o que eu quero. — Foi a melhor ideia que eu tive.

— Ela não come carne. — Explicou Melizza. — Nem nada que seja bom.

Encarei Melizza revirando os olhos.

Os dois acabaram cedendo ao meu pedido, para a minha sorte. Com os pedidos dos garotos e de Mel, lá fui eu em direção ao restaurante.


–~-~-~-



Os três encararam a garota morena, Elisabeth, até a figura dela sumir ao entrar pela porta do restaurante chinês. Logo depois houve um silencio um pouco incomodo. Dean, de braços cruzados, sentado no capô do seu amado Impala. Melizza escorada na lateral ao lado de Sam. O mais novo coçou a cabeça e resolveu iniciar uma nova conversa.


— Seu pai caça há quanto tempo?

Melizza virou um pouco o rosto em sua direção.

— Desde sempre. — Voltou a encarar a rua. — Meu avô era caçador, e o meu bisavô, a coisa é antiga.

— Bem-vinda ao clube. — Brincou Sam.

Dean acabou descruzando os braços e se virando em direção a conversa um pouco mais interessado.

— Então você também caça desde pequena?! — Disse ele. — Sendo filha de dois caçadores...

Melizza assentiu.

— Deve ser difícil os dois pais sendo caçadores. — Sam disse pensativo, com o pensamento distante por um momento. — Quer dizer, deve ser mais perigoso!?

— Depende. — Melizza deu de ombros e tirou o cabelo do rosto, que o vento insistia em espalhar. — Nós vivíamos em Fallon, Nevada, na maior parte do tempo. Éramos uma família quase normal. Depois que eu nasci meus pais começaram a caçar mais em Nevada que em outros estados, pelo menos na minha infância. Que eu me lembre, poucas vezes foram muito longe ou passaram muito tempo longe.

— Então você não ia junto nas caçadas? — Dean indagou mais sério, era a primeira vez que os dois conversavam sem birras.

— Não até ter dez anos, no mínimo. — Melizza respondeu lembrando-se da sua primeira caçada, um espirito preso a uma casa em Vernal, Utah, foi a primeira vez que esteve tão longe de casa, tinha acabado de fazer doze anos. — Eu ficava com um tio que era padre. Mas depois comecei a ir junto à eles nas caçadas.

— Mesmo assim, não me parece possível ter uma vida normal em família e ser caçador. — Sam disse, depois do que aconteceu com Jess parecia uma coisa impossível, pois o seu trabalho uma hora ou outra acabava se encontrando com os laços emocionais e as consequências não eram as melhores.

E com isso Dean concordava.

— Depende do que é normal para você?! — Foi a resposta de Melizza, Sam estreitou o olhar.

Dean acabou caindo na tentação de fazer uma pergunta.

— Como sua mãe morreu?

Seu tom não saiu cauteloso como pretendia. Até esperava que Melizza hesitasse, ele mesmo odiava tocar em determinados assuntos, mas ela não pareceu se incomodar.

— Um vampiro a atacou. — Baixou o olhar por segundos apenas, depois voltou a encarar a rua.

Mesmo que estivesse evitando demonstrar o quanto tal assunto ainda lhe doía, Dean pode perceber que falar sobre aquilo não incomodava, só lhe despertava saudade.

— Achei que vampiros estivessem extintos. — Comentou olhando na mesma direção.

— Foi o último de um ninho e eu espero que tenha sido o último de toda aquela maldita espécie. — Ela disse. — Minha mãe esteve no Alabama e acabou com um ninho, quase todos, mas um deles escapou. Isso há dez meses atrás. — Pausou, agora encarava diretamente o mais velho dos irmãos. — Ai o desgraçado a farejou por quase três meses. A atacou em um momento em que estava desprevenida.

— O que aconteceu com o desgraçado? — Indagou Dean.

— Nós o encontramos. E acabamos com ele.

Sam e Dean se encararam.

Esperavam ter essa sorte.

–~-~-~-


Não pensei que uma ida a um restaurante chinês fosse ser educacional, mas foi. Bifum, o pedido de Melizza, se tratava de macarrão de arroz e mais um monte de outras coisas como flocos de ovo, cenoura, feijão e carne em tiras. Já o pedido de Dean, Yakisoba Clássico, era feito de carne e frango, além de legumes, macarrão e cogumelo. O pedido de Sam foi o Yakimeshi, feito de flocos de ovo, cenoura, presunto e cebolinha. Eu não sabia muito bem o que pedir, eu mal sabia pronunciar os nomes dos pratos, para dizer a verdade. Acabei ficando com o Yakisoba de Vegetais, com macarrão, legumes e cogumelo. Esperei alguns minutos enquanto o pedido saía. Logo uma mulher de altura mais baixa que eu, que tinha o cabelo preso e usava um uniforme branco veio até mim. Trazia uma sacolinha e nela as quatro caixinhas. Me entregou.



— Obrigada. — Disse à ela com gentileza.


Ela não respondeu.

Manteve seus olhos fixos em mim, o que me arrepiou. Virei as costas e comecei a andar em direção a saída. Percebi, na metade do caminho até a porta, que estava sendo seguida.

Me virei bruscamente e meu coração disparou com o susto.

Não era a mesma mulher.

Era a recepcionista que anotou meu pedido. Loira, de cabelos bem mais longos que os meus e um sorriso simpático.

— Ia esquecendo. — Ela me disse estendendo a mão.

Havia uma caixinha pequena e branca em suas mãos.

— O que é isso? — Perguntei encarando a tal caixinha.

— Seu biscoito da sorte. — Respondeu e eu peguei a caixinha. — Cada cliente recebe um ao final de sua compra.

Assenti sem graça.

Quase morri por causa de um biscoito.

Na saída, abri a caixinha e observei o tal biscoito. Pequeno, arredondado e difícil de quebrar. Acabou esmigalhando quando o forcei. O gosto era meio adocicado, meio salgado, mas isso não era o importante. No meio dele, claro, o tradicional papelzinho que normalmente vinha com uma frase avulsa, que não fazia sentido nenhum. Foi o que eu pensei quando li a frase no pequeno e comprido pedaço de papel.

“Faça três desejos”

— Faça três desejos. — Repeti erguendo a sobrancelha. — E quem vai vir realizá-los? Um biscoito Noel?

Meu primeiro impulso foi amassar aquele pedaço de papel e jogá-lo ali mesmo, na calçada. Mas acabei não fazendo isso quando percebi que a simples mensagem me alertara de algo estranho sobre mim: Por mais que eu pensasse, não conseguia encontrar três desejos para fazer, nem os mais simples. Se aquilo fosse verdade, se fosse um gênio ou qualquer coisa desse tipo, que naquela situação nem me surpreenderia, se esse fosse o caso... Eu não saberia, honestamente, o que pedir.

Despertei das minhas inquietações, por mais atípicas que fossem e segui em direção ao Impala. Ali estavam Melizza, Dean e Sam. Me aproximei estendendo a sacola e cada um foi tirando a sua caixinha, sobrando só a minha na sacola. Fazia uma noite bonita e não tinha porque voltarmos para aquela pousada agora, então Dean decidiu dirigir até um parquinho ali perto. Haviam algumas crianças correndo e brincando, em alguns dos bancos algumas mães estavam sentadas zelando pelos filhos. Descemos do Impala e ficamos por ali, sentando em um dos bancos.

Em certo momento conclui que deveríamos multiplicar os desejos por quatro. Encarei a loira ao meu lado.

— Melizza, faz três desejos. — Eu disse de repente.

— Que? — Ela franziu a testa.

— Dizia no biscoito da sorte. — Expliquei. — Faz três desejos.

— Encontrar meu pai, acabar com esses demônios e poder comer em paz sem ter que responder coisas óbvias. — Finalizou com mais ironia do que começou.

Me voltei para Dean, do outro lado de Melizza.

— Dean, sua vez.

Dean pareceu gostar mais da brincadeira que Melizza, enquanto Sam o encarava sorrindo de canto, atento ao pedido do irmão.

— Uma máquina magica de torta, ganhar na loteria e.... — Ele engoliu a seco, mudando o tom de voz que antes era brincalhão. — Acabar com o desgraçado demônio que matou a nossa mãe.

Sam desviou o olhar, também ficou mais sério. Encarava o parquinho à nossa frente quando eu virei o rosto para encará-lo.

— Sam, faz três desejos.

Ele abriu e fechou a boca, sem responder. Nos encarou rapidamente e parecia um pouco sem graça.

— Qual é?! — Melizza se meteu. — Todo mundo tem três desejos!

— Os meus não são nada que seja possível. — Foi a resposta dele, depois voltou a encarar o parque.

Houve um breve silencio. As crianças do outro lado brincavam, corriam e gargalhavam. Inocentes. Desprotegidas em um mundo onde o mau e as sombras sempre estavam à espreita.

— E ai Lili, sua vez. — Melizza disse.

— Ainda estou pensando. — Disse estreitando o olhar para as crianças que ali, tão distantes do nosso pesadelo, só estavam sendo crianças.


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Notas finais do capítulo

OBS: Eu editei os primeiros capítulos e arrumei alguns erros ortográficos.

( o sinal "-~-~-~-" significa que a narração mudei de primeira para terceira pessoa e vice-versa )



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