Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 58
Depois da chuva... As estrelas


Notas iniciais do capítulo

O capítulo é longo. Exagerei um pouco. Escrevi muito, fiquei empolgada. Espero que isso não seja cansativo e nem atrapalhe. Vale a pena ler. Esse é um dos capítulos mais especiais de todo o contexto. Lembrando: ainda não é o fim, apesar de próximo. Também, ainda não é a escolha final.



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Ariela há muito tempo não se sentia tão inteiramente entregue a um amor como estava se sentindo deitada em um dos sofás da ao lado de Marcos. Ele lhe completa de uma maneira que nenhum outro conseguiu completa-la em toda a vida. Todos antes dele e depois dele, já que Marcos foi seu primeiro namorado, foram insignificantes. Ela não esperava que a vida os unisse outra vez como no passado.

— Marcela, como você está fazendo? – Ariela se sobressaltou, afastando-se dos braços do namorado. — Pra que tudo isso?

— Eu vou embora daqui, Ariela. – Marcela carregava malas, bolas e mochilas com seus pendentes. — Na verdade, eu nunca pertenci a essa lugar. E agora vou me mudar. O Léo e eu vamos noivar em breve, estou prestes a me mudar para a casa dele. Um lugar que eu possa, finalmente, chamar de meu.

Ariela não consegue compreender o vê e o que ouve. Afinal, elas que alugaram juntas aquele apartamento há quase dois anos. Ariela e Marcela são amigas há muito tempo, desde pequenas. A morena, não esperava que esse dia, da separação, algum dia chegasse. Não eram esses os planos.

— Agora você pode finalmente viver sua vida em paz com suas novas amiguinhas. – Marcela estava sendo irônica. — Eu nunca suportei Daniele e agora com o bebê a caminho não posso nem me imaginar morando aqui com essa criança chorona. Tem também a patricinha, Melina, eu odeio aquela garota! Ela é detestável.

Ariela se perguntava quando foi que Marcela, sua melhor amiga, se tornou alguém tão fria e cruel.

— Sim! Eu forjei a urina no carpete do nosso quarto daquela cadela fedorenta da patricinha. Pois eu queria que ela fosse embora daqui. Mas ela nunca foi. E eu não posso mais conviver com isso.

— Marcela... Não...

— Chega Ariela! – Marcela gritou, assustando a todos. — Não vê que eu finalmente posso viver minha vida em paz longe daqui ao lado de quem eu amo? Vamos, tente entender. E me ajude a levar essas coisas lá pra baixo. O Léo tá me esperando!

~*~

O dia do casamento estava cada vez mais próximo e Verônica mal podia se conter. Ela simplesmente adora resolver os problemas quanto à decoração, a festa, os trajes, comidas e bebes. Diferente de antes, agora que ela finalmente se firmou com o noivo, já não o perturba com essas coisas. Ela resolve tudo sozinha junto com as amigas de seu mesmo convívio social. Agora, Jonathan que mostra interesse pelos preparativos do casamento. Ele já não se irrita mais e nem está assustado. Pelo contrário, conta os dias para viver eternamente ao lado daquela mulher.

Verônica fez uma lista para pode controlar melhor tudo que tem a fazer pelos dias seguintes. Muitos requisitos já foram riscas, pois foram resolvidos. Faltam muitos. Mas aquele dia em especial, Jonathan está ao seu lado, para ajuda-la a escolher o modelo do convite do casamento.

— Eu gostei desse. O que acha querido? – Verônica está admirada tamanha variedade de opções para os convites: cores, formato da letra e tipos de papeis. O laço é dourado, o papel branco importado e com renda na frente e no verso. Algo delicado e charmoso.

— Gostei desse. – Jonathan abre um sorriso. Sabia que esse seria exatamente o escolhido por Verônica. A convivência com a noiva diariamente faz com que ele já saiba muito dos seus gostos e preferencias. Já a conhece muito bem. — Ei querida, aquele ali com aquela mulher não é o seu ex-marido? O pai de Melina.

Verônica se vira rapidamente para ver. E Jonathan tem razão: Alberto e Leila, a namoradinha. Os dois abraçados de costas frente a frente a uma prateleira de convites mais simples e mais baratos.

— Estão pensando em se casar? – Verônica diz logo atrás ao seu aproximar. O casal se vira para olhar para ela. Surpresos.

— Oi Verônica, Como vai? – Alberto sorri, constrangido. — Ei Jonathan, e você, está bem?

Todos se cumprimentam formalmente.

— É Verônica, era para ser uma surpresa, mas realmente, estamos pensando em nos casar.

Verônica engole em seco. Disfarça seu incomodo.

— Estamos dando uma olhadinha em todos os preços. – Alberto pega a mão da namorada. — Vamos para a próxima loja? – Leila assente, muito timidamente. — Tchau pra vocês. E boa sorte.

Verônica vê Alberto se afastar entrelaçados a nova companheira.

Eles parecem realmente se gostar. Têm química e uma sintonia muito evidente. Verônica não sabe se explode de ciúmes por vê-lo o ex-marido tão contente ao lado de outra. Talvez ainda mais do que um dia já foi com ela. Ou se explode de raiva por ele ter conseguido superar numa boa o divórcio mesmo depois de um tempão.

Na verdade, não é nenhuma das opções.

— Alberto? – ela ouve a voz sair sem perceber. — Podemos conversar? Talvez, outra hora, outro dia.

Alberto troca um olhar cúmplice com Leila e ela assente afirmando algo que só eles entendem.

— Se seu noivo não se importar... Tudo bem pra mim.

~*~

Nicolas não consegue prestar atenção nas explicações da aula àquela manhã na faculdade por dois motivos: Analu não para de olhar para ele mesmo do outro lado da sala. Isso o incomoda profundamente. É como se ela esperasse que ele a correspondesse de alguma forma. Mas eles mal têm se falado. Nicolas tem se afastado e acha que essa foi a melhor escolha que ele já fez.

Outro motivo que o desconcentra são as palavras de Daniele ecoando no fundo de sua mente. Ela falou com tanta convicção. Como quem tem certeza do que estava falando. Quase o fez acreditar. Na verdade, Nicolas não pensa em outra coisa. Melina está o preocupando, ainda mais agora, que está distante e raramente mantem contato.

Ele se levanta, com o coração disparado, sabe o que está prestes a fazer e tem consciência disso. Nunca antes ele saiu no meio de uma aula para sair da faculdade. Mas era muito urgente. Ele precisa vê-la agora mesmo. No momento, ela era a única que poderia ajuda-lo.

— Mãe? – ele a abraça assim que ela abre a porta de seu flat. Carolina está sempre tão bonita e radiante com seus cabelos ruivos ondulados e seus olhos verdes.

Os dois sentam em um dos sofás da pequena sala. Carolina segura à mão do filho feliz em vê-lo. Nicolas tem dado uma grande abertura a ela de fazer parte de sua vida. Ele é um garoto adorável. Mas aquela manhã há algo dentro de seus olhos que a preocupa.

— Mãe, preciso dos seus conselhos.

Nicolas despeja em Carolina todas suas preocupações, duvidas e incertezas na esperança de que ela pudesse ajuda-lo. Ele sempre imaginou como era ter uma vida com uma mãe ao seu lado, como a grande maioria das pessoas tem. E aquele momento, pareceu o momento certo para depositar sobre ela a confiança que seus olhos lhe passavam. Carolina é uma mulher fantástica, experiente e vivida.

— O único conselho que eu posso te dar: siga o seu coração. Dentro dele há as respostas das quais vocês precisa.

~*~

Henrique acabara de chegar do abrigo Esperança, aquele que Jorge, um dos seus amigos, cuida com a irmã, Joice. O mesmo abrigo para cães e gatos que ele levou Melina para conhecer antes deles se beijarem pela primeira vez.

O cãozinho, ainda filhote, pula sobre o seu colo. Henrique ainda não escolheu o nome. Isso ele faria junto com Melina. O cãozinho pequeno, da raça Beagle é um macho. Henrique o adotou na esperança de dar um lar ao animalzinho e deixar Melina feliz. Vê-la sorrindo é o que mantem a chama de esperança acessa em seu peito. Ele mal consegue conter a ansiedade de vê-la outra vez e contar a novidade.

Alguém bate a porta.

— Nicolas, o que está fazendo aqui? – o ruivo entra sem dizer uma se quer palavra. Ele parece exausto. Henrique fecha a porta.

— O que é isso? – Nicolas pergunta quando foi saudado pelo cachorrinho pulando em suas pernas e abanando o rabinho.

Isso é um cachorro. – Henrique solta um riso. — Eu o adotei hoje mais cedo. Será que Melina vai gostar?

— É justamente sobre ela que eu vim até aqui. – Nicolas não se senta mesmo com Henrique o convidado.

— O que tem ela? Ela te ligou? Mandou alguma noticia? Como ela está? Ela está bem? Aconteceu alguma coisa?

— Esse é o problema, Henrique. Ela não dá noticias há dias! Qual é o seu problema afinal? Você não é o namorado dela? Não está nenhum pouco preocupado?

Nicolas estava irreconhecível, nem parecia aquele garoto tímido e acanhando que Henrique conheceu.

As primeiras gotas de chuva começaram a cair do céu do lado de fora do apartamento.

— Nicolas, Melina me pediu um tempo. Ela quer um tempo de todos nós! Eu entendo. Ela estava mesmo muito estranha... Ela precisou se afastar. Quem nunca precisou fugir? Se coloque no lugar dela...

— Sim! Eu entendo! – Nicolas elevou o tom de voz, deixando evidente sua irritação. — Mas você é o namorado dela! Não se importa nenhum um pouco em saber quais são os motivos dela? Porque, para ela querer se afastar deve ser algo muito sério. Já se perguntou se ela está bem onde quer que esteja? Se não precisa de uma coisa? Ou se não corre perigo! Todos nós desconhecemos o lugar onde ela está...

— Eu não entendo. – Henrique o interrompe, passando a mão pelos cabelos castanhos. — Porque, afinal, você está aqui? Tá, eu entendo que você esteja preocupado, afinal, eu também estou, desde que ela se foi. Mas o que posso fazer? Ela me pediu um tempo! Ela quer pensar! E sozinha! O quer que eu faça? Eu nem sei onde ela está.

— Esse é o problema. Eu também estou preocupado. Mas a minha preocupação é maior que a sua! – Nicolas circula pela sala, pensativo e frustrado. — Estou desesperado! Eu nem consigo dormir direito. Minha cabeça está a mil. Eu fico me perguntando se o motivo dela ter se afastado não seja por minha causa. Eu me sinto culpado! Eu queria, que ela pelo menos, dissesse por que teve que ir...

— Espera. – Henrique se sentou. — Você acha que não me preocupo? Que também não me sinto culpado? – Henrique encara Nicolas, mas ele não o olha. — Também acho que tenho uma parcela de culpa nisso tudo! Como acha que me sinto com ela longe de mim?

A chuva engrossou.

— Eu não sei quanto a você. Mas eu estou enlouquecendo. – Nicolas se acalma. Pensa com mais clareza agora. — Na verdade, nem sei por que estou aqui discutindo com você.

— Mas eu sei.

Os dois se entreolham. O cãozinho está deitado em um canto do sofá, com a cabeça apoiada sobre as patas dianteiras e os olhos fechados. Ele dorme tranquilamente.

— Sabe por quê? – Henrique continua. — Você a ama.

— Sim, eu amo. E você a ama, e ela ama você.

Henrique solta um risinho nervoso.

— Você não entende. Mas não sou quem vai te explicar.

Nicolas está confuso.

— Tá, mas o que vamos fazer? – Henrique se levanta.

— Você eu não sei. – Nicolas caminha em direção à porta por onde entrou. A movimentação faz o cãozinho abrir um dos olhos. — Mas eu não posso continuar aqui parado sem saber nenhuma noticia dela.

~*~

O céu está escuro e há uma forte ventania lá fora. O mar está agitado e as ondas são altas. É tudo muito assustado, ainda mais por ela estar sozinha. Melina dispensou os empregados há uma hora depois de jantar. No momento, ela está na suíte principal, deitada sobre a cama com um livro sobre o colo. Ela não consegue ler. Nenhuma palavra parece fazer sentindo quando só se sabe pensar em duas coisas: Nicolas e Henrique. Melina também se sente apavorada, afinal, está sozinha em uma mansão de frente para o mar, lá fora a chuva forte começa e o vento sacode as janelas.

Melina balança a cabeça de um lado pra o outro na tentativa de espantar os pensamentos. Ela ainda não conseguiu tomar uma decisão, mas sabe que precisa toma-la antes de voltar para casa. Porém precisa de ajuda. Sozinha não sabe se é capaz de conseguir.

— Deus, por favor, me ajude. – ela clama.

Dentro de sua cabeça uma vozinha um tanto família repete a mesma frase várias vezes ao dia: “Vamos lá! Não desista! Continue! Você consegue. Não duvide de sua capacidade.”

Ela tem tentado evitar esse momento, mas quando mais evita se decidir, mas confuso tudo fica dentro de sua mente. Ela tenta voltar a sua leitura, mas é surpreendida por recaída da energia de toda a casa. A luz acende e apaga rapidamente. Melina sente o coração disparar de medo.

Melina senta-se na cama fechando sue livro e o deixando de lado.

E agora? O que fará sozinha?

Outra vez a luz pisca e fica tudo escuro por uma fração e segundos e logo em seguida tudo volta a se iluminar outra vez. É tão aterrorizante como nos filmes de terror. Melina tenta dizer a si mesma, na tentativa de se acalmar, que é por causa do vento e da chuva lá fora. Não há outras explicações. Mas não deseja que isso volte a acontecer.

O estrondo de um raio a faz soltar um gritinho abafado.

A chuva é ainda mais forte, e pra piorar, agora além do vento que aprece chacoalhar a casa, há também raios, relâmpagos e trovões.

Melina está arrependida por ter dispensado todos os empregados. Se ao menos qualquer um deles tivesse ficado ela não se sentia tão apavorada e sozinha.

As luzes se apagam. Todas elas.

Melina fecha os olhos e torce para que ela volte rapidamente como das duas ultimas vezes. Mas quando volta a abrir os olhos não é o que realmente aconteceu e ainda está tudo muito escuro. Como em um abismo sem mim. Ela pisca uma ou duas vezes para ter certeza de que aquilo é mesmo real, que não é só mais um pesadelo como o que vem tendo desde que chegou aqui.

~*~

Nicolas tomou sua decisão rapidamente e não se arrepende por finalmente estar agindo da maneira que ele sempre quis. Sua cabeça processa tudo muito rapidamente e ele mal consegue conter a euforia.

Descobrir onde Melina está foi fácil. Primeiro ele falou com Alberto, mas ele não soube dizer. A última opção e a ultima saída foi Verônica, que depois de longa insistência acabou falando toda a verdade. A verdade que Nicolas precisava saber para ir atrás de Melina.

Ele pegou sua moto, mesmo seu pai tentando impedi-lo tamanha a loucura. Na verdade, Renato se sentia inseguro em relação à moto desde o acidente. Mas Nicolas não teve medo. Era o que ele queria fazer e o quer faria mesmo que isso lhe custasse caro depois. Sua mãe, Carolina, foi quem o ajudou a convencer Renato a permitir que ele pegasse a moto e seguisse seu coração.

Nicolas dirigia o mais rápido possível. A velocidade fez com que alguns flashes do seu acidente alguns meses atrás voassem por sua mente, mas isso não o apavorou, pelo contrário, agora ele estava correndo por uma boa causa.

O céu já estava escuro e a chuva molhava sua capa, seu rosto mesmo coberto pelo capacete e sua moto. Em dias de chuva, as pistas tendem a ficarem mais escorregadias, mas nem isso amedrontava Nicolas. Era só pensar no sorriso de Melina e seu coração batia mais forte e uma calmaria preenchia o vazio em seu peito.

Foi difícil encontrar a casa. Além de luxuosa, era a única avista em meio aquela tempestade fria. O mar estava agitado o vento chacoalhava as palmeiras. Mas, o mais estranho, era o fato de todas as luzes da casa estarem apagadas. Melina estaria mesmo ali? Talvez estivesse dormindo. Mas ainda eram dez e meia da noite. Ou talvez tivesse ficado cansada e tirado um cochilo.

Estaria ela sozinha em casa?

Por sorte, Nicolas encontrou o portão aberto. Ele não se importava com a quantidade de água que caia do céu e molhava seu corpo. Sentia frio, mas isso também não o preocupava. O que realmente importava era a certeza de que Melina estava bem.

Um trovão fez um grande estrondo, assustando-o.

Na varanda, antes de entrar na casa, Nicolas tirou a capa de chuva e o capacete e os deixou ali de lado. Não queria ter que molhar a casa toda, mesmo assim, não poderia evitar. Estava todo ensopado.

— Melina? – ele entrou na casa. Sentiu a madeira sob os pés rangerem. — Você está ai? – casa parecia assustadora, muito calada e escura. — Tem alguém ai?

Nenhuma resposta. Ele fechou a porta e resolveu entrar a fundo.

Melina, muito apavorada, encolhida em um canto de seu quarto como uma criança sensibilizada, não conseguia se mover, ouviu uma movimentação vinda do andar de baixo.

Seria um dos empregados para socorrê-la? Ou um assaltante?

Por via das duvidas, ela pegou um objeto e segurou-o firme um pouco acima dos ombros. Quem quer que fosse, ela estaria preparada para atacar e se proteger. Sozinha.

Melina podia sentir o ranger da madeira dos degraus da escada, sinal de quem, o alguém estava subindo e se aproximando cada vez mais. Seu coração batia forte e ela temia que o outro pudesse ouvi-la.

— Melina? Sou eu, Nicolas.

O objeto que ela segurava, um abajur, caiu ao chão e se quebrou em pedaços. Melina não podia acreditar no que estava ouvindo. Estaria ficando louca? Nicolas, por sua vez, assustou-se com o barulho, sentia-se um tolinho das historias de terror, mas então, percebeu que poderia estar cada vez mais próximo daquilo que procurava.

— Melina? É você? – ele insistiu, entrando no corredor que dava acesso às suítes e os quartos. — Porque diabos, essa casa está toda escura? Onde estão as luzes?

Melina abriu a porta da suíte e correu para abraça-lo. Mesmo não podendo vê-la, Nicolas correspondeu, pelo perfume sabia exatamente que era ali, em seus braços, tremendo.

— Você está com medo? – ela não queria solta-lo. Ele a apertou ainda mais. Ela podia sentir a paz voltar para dentro do seu coração.

— Nicolas, por favor, fica aqui comigo. Por favor. Não vai embora! Fica aqui comigo. Pra sempre. Não me deixe. – ela se encolheu em seus braços, com a voz embargada enquanto chorava.

Nicolas não conseguia entender, mas não a soltaria por nada nesse mundo. Ela estava amedrontada e era seu dever protege-la.

— Ei, por favor – ele segurou às mãos dela quando ela finalmente conseguiu se afastar. — O que foi? Porque está com medo?

Eles não conseguiam enxergar um ao outro. Não havia luz, estava tudo muito escuro e calmo. Além da chuva forte lá fora, som dos trovões e a respiração, de cada um, frente a frente parados no meio do corredor.

— Eu estou com medo. Não gosto de tempestade! – ela ria de si mesmo. Sentindo-se ridícula. — E pra piorar, faltou energia. Mas não é só o medo.

— Então, o que é? – apesar de molhado, ele podia sentir sua temperatura se adaptando a temperatura quente das mãos dela.

— Foi um erro vir até aqui. Eu não podia ficar sozinha. Eu não consegui chegar a uma decisão para o que preciso. É tudo muito confuso. Sinto-me sozinha e perdida. – Melina ainda chora. — Mas afinal, o que você faz aqui? Como me encontrou?

— Ah – ele riu. — Não foi muito difícil te encontrar. Eu precisava te encontrar. Precisava saber de você.

De repente, Nicolas lembrou-se o verdadeiro motivo para estar ali pertinho dela. Não era só a preocupação, envolvia também muito além do que ele poderia suportar longe dela.

Desde que conheceu Melina sua vida mudou. Não foi só pra melhor. Ele também mudou. Mesmo sem perceber. Já não é mais aquele garotinho tonto sem mãe, tímido e desajeitado. Hoje, ele tem amigos, amigos que conheceu através de Melina. Uma vida social mais agitava, mais coragem, prazeres e motivação para ser ainda melhor.

Ela é como um anjo em sua vida.

Melina sempre esteve ali, desde o inicio. Mesmo quando ninguém mais conseguia enxerga-lo. Antes, Nicolas sentia-se invisível, incompleto. Ela o apoiou, o compreendeu, o escutou. E ele nunca se sentiu tão livre, liberto e a vontade diante de uma garota. Contou a ela verdades, preferencias e segredos. Com ela aprendeu a ser um bom amigo, um irmão. Depois que a conheceu, não conheceu alguém tão bom quanto Melina. Uma garota incrível, extraordinária, de bom coração, inteligente, doce e adorável. Além de linda, tanto por fora quanto por dentro. Ela é quase irreal. Como se não existisse e fosse apenas um fruto de sua imaginação. Ela é inacreditável.

Juntos eles fizeram tudo e nada. Desde passar noites estudando, tardes no trabalho e manhãs na faculdade, até finais de semana jogando videogames, passeando com os cachorros, aprendendo a dançar, contar piadas, sair pra comer fora ou simplesmente conversar como se nada fosse mais importante que estar ao lado um do outro.

Ter Melina por perto é não precisar se esforçar. Ela sempre te aceita do que jeito que você é. E mesmo assim, Nicolas foi mudando, pois tê-la ao lado já era uma motivação suficiente para desejar ser alguém diferente do que um dia já foi.

E agora ali, diante dela, sem saber ao certo o que dizer ou por onde começar, Nicolas percebe o quanto tentou se enganar todo esse tempo em que dizia serem só amigos e isso bastava. No inicio sim, foram muito amigos, melhores amigos. Mas com o tempo, Nicolas foi se apaixonado mesmo sem perceber. A paixão passou despercebido todo esse tempo, mas estava sempre ali em algum ponto. No ciúme, na saudade, na preocupação, no carinho excessivo, na falta, na carência.

Todo esse tempo, por mais que tentasse se enganar, era dela que ele precisava. Muito mais que apenas uma melhor amiga. Era por ela que ele foi se apaixonando cada dia a mais. Não teve outra, nem antes e nem depois. Muito menos Analu. Foi Melina quem o redescobriu, o cativou, o motivou, esteve ali sempre quando precisou, cuidou dele, o protegeu, o fez rir e sorrir e sonhar acordado.

— Acho que eu estou apaixonado. – sua voz saiu em um sussurro fraco e lento. — Eu não sei o que é estar apaixonado. Eu nunca me apaixonei. Mas o que eu sinto por você é forte demais para ser um simples amor entre dois amigos, dois irmãos.

Sem mais palavras, Nicolas pressionou Melina de encontro a parede e a beijou com toda a vontade que esteve acumulada todo esse tempo sem que ele pudesse admitir nem pra si mesmo.

Melina admite, que sempre houve um diferencial em relação a Nicolas. Se parasse para voltar no tempo e analisar os fatos com mais precisão, veria que era ele, quem estava ali, como uma sombra, sempre ao seu lado rodeado de boas intensões.

Como não se apaixonar por aquele par de olhos verdes cor de esmeralda e aquele cabelo liso em tons alaranjados? Sem contar a sarda cor de ferrugem espalhadas pelo rosto e as covinhas que surgem em sua bochecha quando ele sorri mostrando seus dentes perfeitos.

No começo, o beijo é mais uma necessidade de se livrar de todas as duvidas que ainda pairam pelo ar. Um beijo lento e suave. Um tanto romântico. Enquanto a chuva continua a cair na fora. Em sintonia, nenhum dos dois mais teme o barulho do vento e dos trovoes. E o beijo, aos poucos, vai aumentando seu ritmo, o desejo vai incendiando os corpos e Melina vê a necessidade de tocar todos os centímetros daquele corpo forte e molhado de encontro ao seu.

Já deitada sobre a cama, Melina observava, com a pouca iluminação, Nicolas a despindo enquanto sorri. Não é mais aquele sorriso tímido e acanhado. Diferente, como se houvesse tornando outra pessoa, ou finalmente revelado seu verdadeiro eu, é um sorriso indecifrável e cativante de quem sabe o que está fazendo.

Ele beija o pescoço dela e depois vai descendo até o ombro, depositando em cada parte do seu corpo um beijinho carinhoso. Melina suspira enquanto sente o contato dos lábios quentes dele em sua pele onde os pelos se arriçam.

Quando eles pausam os beijos intensos, Melina aproveita para se livrar das roupas molhadas dele. E abre cada botão de sua camisa molhada sem tirar os olhos dele. É tudo muito diferente, mas não há nada melhor que observar os gestos de prazer de Nicolas.

— Tem certeza disso? – ela resolve perguntar. Com a voz baixinha. Antes que a explosão finalmente aconteça, assim quem seus corpos estivessem encaixados como peças de quebra-cabeça.

Melina sabe que é a primeira vez dele. Assim como um dia ela desejou pra si mesma, quer que seja especial.

— Eu nunca tive tanta certeza – ele afaga os cabelos soltos dela, que descem escorridos pelos ombros, seios e vai até a cintura emoldurando seu rosto de traços delicados. — Eu amo você.

Eles voltam a se beijar. Nicolas está sobre Melina, com os dois braços apoiados um de cada lado do corpo dela para não machuca-la com o peso do seu corpo; ele faz movimentos vagarosos sem tirar os olhos de dentro dos delas. Melina consegue enxergar o brilho cintilante de dentro dos olhos cor de esmeralda dele e sorri satisfeita.

Quando já estão cansados, Nicolas deita-se ao lado dela, cobertos pelo lençol branco fino da cama. Ele tem a cabeça encostada na palma de uma das mãos onde o cotovelo está apoiado sobre a almofada de algodão. Ele não consegue conter o sorriso. Não imaginava que sua primeira vez aconteceria daquela forma. Algo tão lindo e magico, apesar de repentino. E melhor, com a pessoa amada, longe de tudo e todos.

Melina também olha pra ele, sorrindo. Ela fecha os olhos sem ainda conseguir acreditar no que acaba de acontecer. Nem todas as vezes que fez amor com outro antes de Nicolas foram tão boas como agora. Foi diferente. Ele é diferente. E ela gosta disso. Gosta tanto que sente as lágrimas escorrerem pelo canto dos olhos. Não chora de tristeza ou arrependimento, chora da alegria que não consegue expressar.

Nicolas limpa suas lágrimas com a ponta do dedo indicador.

— Estar com você era exatamente o que eu precisava. – ele a beija docemente. Um selinho apenas. — A falta que você me faz é insuportável. Dói, aqui, dentro do meu peito. A necessidade que eu tenho de você é maior que qualquer obstáculo. Eu iria até o fim do mundo por você, Melina. Eu nunca senti algo tão profundo por alguém como sinto agora, nesse momento, aqui com você.

Melina sente-se como se estivesse sonhando ou em uma dimensão paralela onde tudo é possível e surreal.

Pela janela, ela observa que a chuva parou. E surpreendentemente, as nuvens negras se foram com a tempestade, dando espaço a um céu azul repleto de estrelas.


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Notas finais do capítulo

Se encontrarem qualquer errinhos, me avisem. Espero que tenham gostando ao ponto de comentarem. E aguardem pelo próximo capítulo, garanto que vai acontecer algo inusitado.



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