Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 35
O sonho que os uniu


Notas iniciais do capítulo

Esse é um dos meus capítulo preferidos! Pois aqui é retrato como foi que Melina conheceu Henrique. Tudo começou com um sonho no passado.
Dedico esse capítulo a Isa Cipriano, LillianBarreto, buchuds e Gi ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384593/chapter/35

Nicolas estava certo de que foi injusto com Analu, um tanto rude e grosseiro. Mas ela o irritou, debochou de sua intimidade e não o compreendeu. Nicolas perdeu a paciência. Analu não estava sendo tão boa amiga o quanto Nicolas esperou que ela fosse ser. Ele pensou em ir atrás e desculpar-se, mas não pareceu correto. Ela quem deveria admitir que errou tão mais do que ele.

Nicolas revirava-se sobre a cama com os olhos pregados nas pequenas letras de seu livro. Nenhuma frase de sua leitura parecia fazer efeito dentro de sua mente. Ele não conseguia assimilar nada do que lia e relia mais de mil vezes o mesmo parágrafo. Desistiu e colocou o livro de lado, pôs a pensar em Melina e o quanto gostaria que ela estivesse ali.

Nicolas pensou em ligar, encarou o celular por alguns minutos, mas acabou desistindo. Estava tarde. E além do mais, uma ideia lhe ocorreu: E se ela estava ocupada com Henrique? Seu novo parceiro, já que Nicolas não vinha sendo tão bom amigo nos últimos tempos.


~*~


— Você é corajosa. Eu gosto disso. – Henrique sorria. Acabara de ouvir Melina relatar sua pequena aventura no andar de cima do prédio.

— Você gosta? Só porque fui corajosa uma vez na vida para defender uma amiga? – ela o olhava. — Você não faria o mesmo?

— Eu faria, claro. Por um amigo vale tudo, ainda mais quando ele precisa. Mas, com você é diferente. Eu gosto porque você é espontânea, age com a cabeça e com o sentimento. É muito bonito! Qualquer coisa vindo de você é muito bonito.

Melina corou, riu sem jeito.

— Porque veio até aqui? – ela perguntou um bom tempo depois, Henrique foi pego de surpresa pela pergunta.

— Uma visitinha não faz mal. Ou faz? – ele perguntou, sorrindo torto. Melina sorria.

Ele tem o dom de me deixar sem jeito.

— Não. Não faz mal. Fez muito bem. Foi bom você ter vindo pra quebrar o gelo. Mas, mais do que eu, Ariela gostou muito da sua visita.

— Ah. Ariela – ele riu. — Ela é adorável. Nos beijamos uma vez e conversamos... Mas, eu não quero ficar com ela. Ela é muito grudenta, fica no pé, é carente, quer que eu ligue, quer que eu abrace...

— Ela é... Uma antiga romântica. Deve estar apaixonada por você. O que não é muito difícil... – Melina se arrependeu do comentário que fez, mas agora era tarde demais. Para disfarçar: — Ela me disse que você prometeu que ligaria.

— Mas eu liguei. Uma ou duas vezes, mas liguei. Só não sei como dizer a ela que aquilo não passou de um simples... Uma ficada. Um beijinho.

— Garotos e suas manias de nos iludir.

Os dois riram.

— Não generalize, não é verdade. A verdade é que algumas pessoas e alguns momentos são mais importantes que os outros. E damos mais valor a aqueles que têm mais importância.

— Como por exemplo...?

— Você. E o dia em que nos conhecemos.


~*~


— Não consigo falar com ela! – Thomaz andava de um lado para o outro. Como uma fera enjaulada. Já tinha tentado mais de vinte vezes, naquele dia, ligar para Melina e contar-lhe toda a verdade.

— Deixe isso pra lá, Thom. Volte aqui – Rebeca estava só de lingerie sobre sua cama. Com uma pose um tanto sexual.

Thomaz balançou a cabeça, na tentativa de se livrar da vontade de largar tudo e ir até ela. Beija-la, toca-la...

— Vou tentar de novo, pela ultima vez. Se não der certo, amanhã eu ligo de novo. Quantas vezes for preciso.

Rebeca suspirou, impaciente.

— Alô? Thom? – Melina o atendeu, no quinto chamado. — Thom! Meu amor! Que saudades!

Melina agradeceu o telefone celular por ter tocado quando o rumo da conversa dela e de Henrique não estava se direcionando para um bom lugar. Ao ver o nome de Thomaz no identificar de chamadas, ela correu até a varanda, deixando Henrique no quarto.

— Melina! Melina, querida. Que bom que você atendeu! Finalmente consegui falar com você.

— Oh, Thom, sinto tanta a sua falta meu amor. Pensei muito em você nos últimos dias. Especialmente à noite. E muitas vezes sinto um aperto no coração, como se tivesse acontecendo algo de muito ruim com você. Fiquei preocupada, não conseguia falar com você.

Thomaz apertou os olhos, já marejados só de ouvir o som da voz de Melina. Ela é sempre tão doce... Teria coragem de contar-lhe tudo?

— Não tenha medo, Melina. Está tudo bem querida. Eu estou bem, você está bem e nada mais importa. – ele engoliu em seco. Uma lágrima escorreu de seus olhos azul piscina. — Eu não estava conseguindo falar com você também.

— Eu imaginei – ela sorria. — Como vão as coisas no trabalho? Está tudo bem? Você está feliz? Aproveitando muito?

— Melina, eu estou indo já pra aí – ele não respondeu a nenhuma de suas perguntas. Melina ficou tensa. O que estaria acontecendo? — Vou pegar o primeiro voo disponível ainda essa noite. Precisamos muito conversar!

Sem palavras, acreditando que se falasse mais não suportaria esperar o momento certo e acabaria piorando a situação, Thomaz desligou o celular sem mais palavras. Rebeca olhava atônica para ele, aguardando uma explicação.

— Você vai me deixar aqui sozinha? – ela perguntou, sentando-se na cama. Mal podia acreditar no que acontecia.

— Fique aqui Rebeca, e cuide das coisas para mim. – Thomaz procurava suas roupas. — E, por favor, procure na internet uma passagem de avião pra agora mesmo! Eu preciso ir para São Paulo. A conversa que tenho com Melina não pode esperar! Preciso olhar no fundo dos olhos dela e lhe contar toda a verdade!

Rebeca estava imóvel.

— Vamos! Agora Rebeca! É pra ontem.


~*~


— O que foi que aconteceu? – Henrique se aproximava vagarosamente. Encontrando-se com Melina na varanda do apartamento dela. — Porque está com essa carinha...?

— Eu não sei. É o Thomaz, meu namorado. Ele estava tão diferente ao telefone. Eu pude sentir de longe a tensão na voz dele. Eu o conheço! Não estou enganada! Algo de ruim está acontecendo...

Henrique não gosta de ter que ouvir falar de Thomaz, nunca foi com a cara do namorado de Melina, mesmo não sabendo exatamente o porquê. Thomaz não lhe agrada. Mas Melina aparentava estar atordoada aquele momento, frágil, pequenina, precisando de cuidados. Ele a envolveu em um abraço apertado e sentiu sua camiseta umedecendo com as lágrimas dela.

— Não chore! – ele passou a mão pelos cabelos dela. — Vai ver nem é nada de tão grave...

— Tem alguma coisa muito ruim acontecendo, Henrique. – Melina se afastou, limpando os olhos úmidos com as costas das mãos. — Ele está vindo pra cá, de avião. Disse que precisávamos conversar. Parece urgente e muito importante.

Melina estava se sentindo angustiada. Podia sentir um aperto forte oprimindo seu coração. Pela sua cabeça passava mil e uma possibilidades de coisas ruins acontecendo com o namorado. Com esses pensamentos, de repente, ela se sentiu tonta, como se o chão tivessem sumido debaixo dos seus pés e ela não tivesse apoio.

— Opa! – Henrique a segurou a tempo. — Sente-se aqui. Fique calma. Vou pegar um copo de água para você.

Ele voltou em menos de um minuto.

— Beba. Vai te fazer bem.

Henrique sentou-se algo lado de Melina, em outra espreguiçadeira e observou a jovem beber o copo com água. O corpo de Melina tremia.

— Do que você tem medo? O que está te assustando?

Melina suspirou fundo.

— Tenho medo de que esteja acontecendo algo muito ruim com Thomaz. Eu me preocupo. Tenho medo de perdê-lo. Nosso namoro não é mais o mesmo há um bom tempo. Nos últimos dias venho me sentindo muito mal quando penso nisso, fico imaginando coisas ruins...

Melina não conseguiu completar a linha do seu raciocínio. Sua cabeça estava processando muito depressa.

Henrique se ajoelhou de frente para ela a abraçando novamente enquanto ela desatava em prantos mais uma vez.

— Fique calma. Espere que ele chegue e te conte tudo pessoalmente. Não há nada que você possa fazer enquanto não souber o que ele tem a dizer de tão importante.

Em silêncio, aos poucos, Melina foi se sentindo melhor e reconfortada nos braços de Henrique. Sabia que estava transformando aquela tempestade em copo d’agua e ainda não tinha porque se precipitar se mal sabia o que Thomaz tinha a dizer.

— Pense em coisas boas – ele sorriu, segurando o rosto dela. — Não se precipite. Provavelmente o que ele tem a dizer a você nem é tão grave o quanto você imagina que é.

— Você tem razão! – ela enxugou as ultimas lágrimas. — Thomaz é um homem bom. Ele não iria me preocupar atoa. – Melina olhou para Henrique com compaixão. — Obrigada pelo apoio.

Ele voltou a se sentar ao lado dela, envolvendo sua mão.

— Sente-se melhor agora? – ele perguntou, sem tirar os olhos dela.

— Sim, bem melhor. Obrigada, mais uma vez. – ela sorria, desviou o olhar.

— Antes de o seu namorado ligar, estávamos falando sobre... Momentos. Momentos importantes e outros nem tanto. Eu senti que, você estava evitando falar diretamente no assunto, por quê?

Melina foi pega de surpresa pela pergunta. Ela havia agradecido à ligação de Thomaz por ter interrompido aquele momento e agora Henrique fazia questão de tocar no assunto mais uma vez. Deveria se irritar? Ou relevar?

— Eu... Não sei, Henrique. – não foi a melhor resposta que ele poderia lhe dar. Mas como explicar algo a ele que nem ela mesma poderia compreender?

— Você não gosta de relembrar. É isso? – ele perguntou diretamente. Queria ter respostas a todas suas perguntas não feitas.

— Não é isso. Não é exatamente isso. – ela retirou sua mão bruscamente de dentro da dele. — Porque esse assunto logo agora?

Melina o encarou, irritada.

— Eu só queria saber como foi, ou como é pra você diferentemente do que foi pra mim e está sendo agora.

~*~

Tudo começou com um sonho, há quatro anos atrás. Um sonho que mudou tudo o que venho depois e fez com que tudo que tivesse acontecido antes do sonho não tivesse tanto sentindo para Melina. Um dos poucos sonhos que Melina conseguiu se recordar ao acordar. Ela sonha todas as noites, ou quase todas as noites, embora raramente se recorde de seus sonhos.

Melina se encontrou sozinha em um lugar desconhecido. Ela estava rodeada de muitas outras pessoas com expressões de pavor e medo. Melina diferentemente de todas aquelas pessoas não sabia como agir e não conseguia compreender o porquê daquelas pessoas estarem tão atordoadas, correndo sempre em frente como se fugisse de alguma coisa muito assustadora. Melina procurou em volta alguma resposta para tantas perguntas. Mas tudo que viu foi destruição. Tudo estava acabado: casas, prédios, ruas, postes e carros. Quase não podia se ver a cor do céu, pois o ar estava denso por causa de uma fumaça escura. Melina respirava com dificuldade, como se lhe faltasse ar. Uma ideia repentina passou por sua cabeça. Ela tirou o cardigã e tapou o nariz evitando ser intoxicada. “Corram! Está tudo sendo queimado” alguém gritou passando depressa demais por ela. Como uma avalanche, uma multidão de pessoas surgiu do meio da fumaça e quase passou por cima de Melina. Assustada e seguindo o fluxo de pessoas Melina correu junto com elas mesmo sem entender exatamente porque. Mas como já era de se esperar ela acabou caindo e foi pisoteada. Melina tentou se proteger com os braços e pernas. Acabou perdendo seu cardigã que até então segurava contra o nariz e a boca. Melina tossiu inalando a fumaça preta, sentindo-se afogada perdendo o ar e os sentidos. Ninguém se dispôs a ajuda-la. Melina acreditou que morreria ainda sem saber porque.

Como um anjo que caiu do céu um garoto se aproximou ajoelhando-se próximo a Melina já semi-inconsciente. Ele pegou a mão dela e ela sentiu ao toque gelado de suas mãos. Os olhos de Melina foram abrindo lentamente e ela viu quem estava em sua frente: Henrique. Ou alguém muito semelhante a ele. Mas de onde o conhecia? Qual era o nome dele? Ela não soube. Apenas aceitou a ajuda dele. O jovem tirou a camisa e deu a ela. Melina cobriu o rosto, apenas deixando os olhos a vista. Ele a ajudo a levantar e atirou dali, levando-a para longe da multidão eufórica e a fumaça negra. O garoto ajudava Melina a caminhar mais depressa, ela podia sentir as pernas agindo rapidamente. Era como se ele lhe desse a força necessária. Onde ele estaria me levando? Ela pensou. Melina poderia perguntar, mas ele seria incapaz de ouvir o som de sua voz. Já que as pessoas gritavam desesperadas procurando meios de salvarem a própria vida. Melina apenas o seguiu, ainda segurando a sua mão. Sentia que nele poderia confiar e se apoiar, como se não precisasse de mais nada. Com ele estava protegida. Henrique levou Melina a uma espécie de abrigo, onde os dois estavam sozinhos e mais protegidos. Mas por quanto tempo? Melina tirou a camiseta perfuma dele de frente do nariz e da boca e antes que pudesse agradecer a ele pela solidariedade, ele tapou sua boca, pressionando-a de encontro à parede. Sem violência, apenas a pegando de surpresa. E a olhou calorosamente dentro dos olhos. “Eu amo você!” ele disse, disparando o coração dela. “Nunca vou deixar nenhum mal lhe acontecer. Pode confiar em mim.” Melina teve a impressão que mal podia respirar. Não por causa da fumaça, mas sim pela intensidade que as palavras dele a atingiram em cheio.”

~*~

— Como foi que tudo começou Melina? Porque eu? Porque você sempre me olhou como se me conhecesse melhor do que ninguém?

Henrique pegou a mão dela. Melina sentiu seu toque gélido e não evitou o sorriso. Ela já não estava tão irritada por ele ter que voltar aquele assunto à tona. As lembranças daquele sonho reativaram alguns sentimentos que ela manteve adormecidos por muito tempo.

Certas coisas nunca mudam. Seja na realidade, seja na ficção.

— Porque você? – ela sorria. — Eu nunca soube e talvez nunca venha á saber. Talvez por coincidência, por acaso ou por destino. Eu não sei. Existem respostas que eu gostaria muito de ter.









Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. A história não acaba aqui e ainda há muita coisa pra acontecer. Aguarde. E comente! É importante pra mim.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luz Dos Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.