Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 11
Um presente chamado Nicolas


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou bem extenso. Eu sei que é cansativo, mas não resisti. Quando dei por mim estava maior que o normal. Me desculpem. E agradeço a todos vocês que ainda estão lendo.



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Depois da aula, Nicolas e Melina caminhavam lado a lado até a loja. Aquela tarde, Nicolas ensinaria a tosar um cachorro a Melina. O cliente já esperava por eles quando chegaram. Era um poodle de porte médio de pelagem branca.

— O segure assim – Nicolas explicava. — Isso. Exatamente. Depois, não se esqueça de trata-lo com carinho e sempre dizer seu nome para que ele não se estresse. Não é mesmo Tobby?

Nicolas tratava o cachorro como se fosse gente. De certa forma era mesmo, muito parecido com uma pessoa. Tem exigências, precisa de cuidados, atenções, ser tratado com respeito e carinho. Melina observava cada movimento de Nicolas com o cachorrinho nos braços. Ele é habilidoso e ágil em tudo que faz. Está sempre conversando com Tobby enquanto o tosa.

O cachorrinho parece frágil, pela sua carinha, Melina percebe que ele gosta do toque de Nicolas. Tudo está sendo feito com carinho e amor, não teria como ele não gostar. Tobby foi bonzinho durante toda a tosa. Melina tentou prestas atenção no máximo de detalhes para poder fazer o mesmo quando fosse preciso. Agora era a vez do banho.

— Me ajude aqui – Nicolas chamou Melina. — Despeje na mão uma boa quantia daquele shampoo. Depois esfregue as mãos.

Melina fez como o pedido.

Tudo estava ocorrendo de maneira correta, até que Nicolas resolveu fazer charme. Jogou algumas gotas de água em Melina. Há principio ela se assustou com o ato. Não esperava. Não vindo dele. Mas depois percebeu que ele queria brincar, então, ela fez o mesmo. E logo se iniciou uma disputa de quem molhava mais ao outro,.

— Parem já com isso crianças – dona Isabel pareceu irritada com toda aquela molhadeira. — Pobrezinho do Tobby, no meio dessa baderna. Deixa que eu cuide do resto. – ela pegou o cachorro nos braços e se afastou. — Limpem já essa bagunça! – ela gritou por cima do ombro.

Melina e Nicolas caíram na risada.

— Você está tão feliz desde hoje cedo – Nicolas comentou enquanto limpavam o chão molhado. — Aconteceu algo em especial que você gostaria de me contar?

— Aconteceu sim – Melina não conseguiu se conter. Nick já estava sendo seu amigo, porque esconder logo dele? — Ontem eu saí com uma pessoa muito especial que reencontrei.

— É mesmo? – Nick pareceu interessado. — Porque você não me conta melhor sobre essa tal pessoa?

Com Nick dando abertura, Melina contou a ele desde o principio de sua história com a de Henrique. Sem deixar de fora qualquer detalhe. Por fim, Nicolas sentiu-se um tanto enciumado. Por mais que não tivesse a intensão. Sentiu-se estranho. Mas não disse nada.

— E você, Nick? – Melina ficou curiosa. — Nunca me falou sobre uma garota de que você gostasse.

— Ah, é complicado – ele suspirou, secando as mãos com uma toalha velha. — Ela é minha vizinha. Nunca me deu bola.

— Mas você gosta mesmo dela? – ela insistiu nas perguntas. Ele assentiu envergonhado. — Não seja bobo, vamos lá, me fala mais sobre ela!

— Ah, tudo começou quando ela chegou na rua. Veio de mudança do Rio de Janeira. Gabriela era a novidade da rua. A alegria da garotada. E comigo não foi muito diferente. Não tem como não reparar nela – ele imaginou. — Ela tem os olhos azuis como de um anjo, os cabelos dourados e a pele branca. Ela tem longas pernas, acho que pratica algum tipo de dança. Não sei, tenho minhas dúvidas. Sei que temos a mesma idade, ela é bem bonita e logo me encantou mesmo sem nunca falar comigo. – ele suspirou aborrecido. — A timidez sempre me atrapalhou muito. Se é que você me entende.

— É uma pena que não tenha acontecido nada. Você nunca nem tentou? Acho que você seria o par perfeito para qualquer garota. Você é especial, Nick. É doce, adorável, carinhoso, sua timidez é encantadora, seu jeito desastrado apesar de arrancar risos nas pessoas, é tão bonitinho. Como se você não soubesse agir na maioria das vezes.

— É, não sei mesmo – ele admitiu, abrindo um largo sorriso. Com mais frequência, desde que conheceu Melina e eles se aproximaram, Nick vem ficando menos envergonhada diante dela. Vem se abrindo aos poucos. — Mas eu tentei. Juro que tentei. Do meu jeito, mas tentei.

Melina se pôs a imaginar que tipo de namorado Nicolas seria, sem sombra de duvidas, o melhor de todos.

— Eu poderia te ajudar. – Melina sugeriu. Eles se encaminhavam para perto do balcão. — Se você quiser, é claro.

— Não sei não Meli – ele foi sincero. — Há muito tempo eu não vejo Gabriela. Está sendo bom pra mim me manter distante dessa ilusão que eu criei na minha mente quando se trata dela.

— Está querendo me dizer que, você quer esquece-la? – Melina foi direto ao ponto.

— Como se fosse possível – Nick soltou um risinho. — Mas eu venho tentando. De todas as formas.

— Se é assim que você prefere, pra mim tudo bem – Melina avistou um cliente entrar na loja. — Mas caso, algum dia, precise da minha ajuda, estarei à disposição – ela deu um passo a frente. — Deixe que eu cuide do cliente.

No dia seguinte, Melina estava tão perdida em seus devaneios que nem prestou atenção que o professor, a sua frente, vazia um sorteio entre todos os alunos da turma para fazerem seminários aleatoriamente nos próximos dias para apresentar a classe inteira.

— Próxima aluna ou aluno escolhido é – o professor de Bioquímica veterinária abriu vagarosamente o pequeno pedaço dobrado de papel em suas mãos. — Melina Schneider.

Todos voltaram seus olhos para ela. Que assustada ficou sem entender o que acontecia. Até os fatos caírem sobre si.

— O que houve? – Nicolas perguntou durante o intervalo. Ambos comiam a sanduíches e compartilhavam um copo de suco.

Nicolas sempre percebia quando ela estava diferente ou incomodada com algo. Mesmo em pouco tempo em que se conheciam. Era como se ele pudesse ler seus pensamentos ou Melina era obvia demais para deixar passar despercebida.

— Tenho um seminário a fazer Nick. Dá pra acreditar? As aulas mal começaram e... Eu detesto seminários!

— Nem me fale! Também não tenho boas lembranças do ensino médio, tudo por causa dos seminários. – Nick logo percebe que seu comentário foi desnecessário. Não veio em boa hora. Melina estava aflita e ele precisava fazer algo por ela. — Posso te ajudar, se quiser.

— Jura? – ela ergueu os olhos. — Você é inteligente, estudioso, presta atenção em todas as aulas. Realmente seria de muita utilidade. Está disposto mesmo a me ajudar?

— Por você eu faria qualquer coisa. – sua frase soou um tanto expressiva, mas Melina gostou do que ouviu. Nicolas não se arrependeu do que disse. — Poderíamos estudar sempre depois do trabalho.

— Ótima ideia!

Dali todas as noites, Nicolas se empenhava a ensinar ao máximo tudo o que sabia para sua amiga. Melina não tinha dificuldades, com as explicações de Nick e suas anotações, tudo parecia tão mais fácil.

— Quero que você leia esse capítulo de Bioenergética, principalmente sobre as leis da termodinâmica - Nick se levantou do carpete, onde o material de apoio para aquele estudo, estava todo espalhado. — Eu já volto! Leia, pois depois vou pedir que você me explique tudo que compreendeu.

Melina suspirou fundo, assim que Nicolas saiu do quarto. Ele vinha sim se desempenhando para ajuda-la, ele estava sendo muito melhor do que qualquer professor da faculdade. Melina admira a facilidade com que Nick armazenado todo o conteúdo de todas as matérias.

Já faz duas horas desde o trabalho que eles estão estudando sem dar nenhuma pausa. Melina está cansada. Ela odeia química, apesar do seu curso escolhido na faculdade ser repleto de química. E agora tem que fazer um seminário sobre uma porção de coisas que não entram na sua cabeça com tanta facilidade.

— E ai? – Nick voltou ao seu quarto. Onde Melina estava debruçada sobre o livro em que ele pediu para que ela lesse. — Conseguiu entender alguma coisa?

— Nick – Melina levou os olhos até sua direção. Ele estava parado próximo à porta do quarto. Com um meio sorriso de contentamento. Pelo que ele viu na expressão de Melina, ela estava muito impaciente com aquela situação. Estava na hora dele dar uma forcinha a ela. — Estou farta. Não quero continuar. Não por hoje. Te agradeço pela paciência e tudo mais... Mas não dá.

Ela se levantou, fechou os livros um a um e guardou as canetas dentro do fichário.

Nicolas riu. Ela fica ainda mais bonita nervosa. Melina olhou para ele impaciente, sem entender o motivo da graça.

— Não me olhe desse jeito como se eu fosse o culpado – ele encolheu os ombros. — Venha! Vamos comer algo.

Enquanto Melina esteve lendo o que ele pediu, Nick aproveitou para ir até a cozinha e preparar algo rápido que eles pudessem comer.

— Você que fez? – Melina perguntou devorando o macarrão com molho branco. — Está ótimo!

— Eu quem fiz. Obrigado! – ele admitiu. — Meu pai saiu. E é tudo que aprendi fazer em todos os meus anos de vida.

Melina o ajudou a lavar a louça.

— Não vamos ter que continuar estudando por hoje, não é mesmo? Por hoje, acho que já aprendi o necessário.

Melina lembrava a Nicolas uma garotinha farta de fazer a tabuada que o pai havia lhe pedido. Ele riu outra vez.

— Então, me fale tudo que você conseguiu entender – ele pediu se fazendo de difícil. Como se fosse mesmo o pai dela.

— Ah Nick, por favor, me dê uma desconto. Só por hoje – ela tinha os olhos piedosos, como de um cãozinho abandonado. — Eu leio novamente amanhã e...

— Tudo bem. Tudo bem – ele sorria maravilhosamente. — Vamos parar por hoje. Amanhã retornaremos. – ele enxugou as mãos molhadas em um pano de prato. — Quer da uma volta pelo quarteirão?

— Eu adoraria. – ela finalmente pôde sorrir aliviada.

A brisa da noite estava gelada, apesar de suave. Batendo no rosto de Melina e balançando os fios ruivo dos cabelos de Nicolas, deixando-o ainda mais sexual. Tanto ele quanto ela não se incomodaram com o ar gelado e continuaram a caminhar pelas ruas vazias do bairro com a pouca iluminação os postes de luzes.

— Nick você está sendo maravilhoso comigo – Melina quebrou o silêncio. — É muito mais que um amigo. É um anjo que Deus me deu de presente. Não sei o que seria de mim se não tivéssemos nos conhecido.

Ele enrubesceu.

— Eu quem agradeço a você Meli – Nicolas parou no meio do caminho, virando-se de frente para ela. Ainda sem coragem de encara-la frente a frente. — Desde que te conheci as coisas vêm dando certo para mim. Conheci novas pessoas, fiz novos amigos, perdi um pouco da timidez, me relaciono melhor com os desconhecidos e não tenho tido motivos para me entristecer como antigamente.

Melina ficou preocupada ao ouvir a ultima frase. Não compreendeu muito bem o que ele queria dizer. Ao tocar no assunto, Nicolas pareceu levemente entristecido, como se voltasse a uma era em que ele não foi feliz. Seria por causa da morte de sua mãe?

Como boa amiga, Melina ergueu as pontas dos pés e se colocou na altura de seu amigo. Levou uma de suas mãos, que manteve aquecida no bolso de seu sobretudo, até o rosto gelado dele. Com seu polegar, ela acarinhou levemente a maça do rosto de Nicolas.

Os dois se olharam, e sorriram.

— Tem alguma coisa que você queira me dizer, Nick? – Melina perguntou diretamente. Ainda o fazendo estremecer ao seu toque.

Ele não estava acostumado a tanta aproximação com o sexo oposto. Nunca uma garota foi direta com ele, tão longe, a ponto de toca-lo com tamanha intimidade. Nicolas sentia calafrios.

— Algo foi muito difícil pra você no passado – ela insistiu na pergunta. Ele pensava na melhor forma de dizer.

— Eu sofri muito Melina. – eles continuaram a caminhar. Melina pôs o braço em Nicolas. — Como eu já disse, minha timidez sempre atrapalhou muito. Não é uma opção minha me trancar em casa, no meu quarto, me dedicar aos estudos, aos meus games, aos livros. É um refugio da minha realidade. Eu nunca tive amigos que estivessem dispostos a ir até lá casa, para podermos brincar, ou apenas conversar.

Melina deu um tempo a ele, esperou que ele pudesse continuar.

— Nunca antes uma garota se apaixonou por mim. Não que eu soubesse, pelo menos. Sempre sentei nas primeiras carteiras na sala de aula. No intervalo, eu ficava sozinho, exatamente como você me encontrou aquele dia, lendo. Eu via as outras crianças, os outros garotos, brincando de bola na rua, paquerando as meninas. E eu sempre me perguntei por que eu não era como eles – tocar no assunto, fez Nicolas querer chorar. Mas ele se conteve. Seria vergonhoso se Melina o visse chorar. — Talvez porque eu, diferente da maioria deles, não tivesse tido uma mãe. Como você sabe, mamãe morreu no parto. Papai desde então nunca se relacionou com outra mulher. Eu nunca tive uma referência de mãe ou de mulher na minha vida, dentro de casa.

Voltar ao passado sempre foi muito doloroso a Nicolas. Ele nunca teve com quem conversar sobre aquelas coisas. Nem como seu próprio pai, o único amigo que ele teve em todos os anos de vida. Não se sentia seguro em lhe contar sobre essas fraquezas. Seu pai poderia não entender e se entristecer, até mesmo se culpar por nunca ter dado uma mãe a ele, desde que Carolina morreu.

Agora ali, aproveitando aquela noite, na insistência das perguntas de Melina, pela primeira vez, Nicolas estava abrindo seu coração a alguém. Exposto todas as suas feridas ainda abertas. Podia confiar nela, tantas vezes ela confiou nele e lhe falou sobre sua vida, sobre seu passado, sobre seus planos para o futuro. Nicolas sempre soube mais sobre ela, do que ela sobre ele. E aquilo lhe parecia injusto, já que os dois vinham se tornando amigos inseparáveis.

De repente, ele não conseguiu se conter. E deixou que as lágrimas escorressem por seu rosto. Melina notou rapidamente, ouviu seus soluços baixinhos. Como se ele tivesse vergonha de expô-los. No fundo, ela compreendeu. Deixou que suas lágrimas se derramassem e brilhassem a pouca iluminação vinda dos postes. Ele precisava chorar, colocar para fora tudo que lhe incomodava, tudo que ele manteve guardado todos aqueles anos.

Melina queria que Nicolas pudesse confiar nela, assim como ela já confiava nele. Mesmo sabendo pouco sobre sua vida. Mas tudo era só questão de tempo.

— Acho que por isso sou tão estranho – ele sorriu em meios às lágrimas. — Tão desastrado na maior parte das vezes, quieto, tímido, calado, conservador, estupido... Praticamente um bicho do mato que tem medo de se expor para o mundo.

Ele chorou ainda mais. Estava tão envergonhado de si mesmo: porque tinha que ser assim? Tão ridículo a ponto de temer a aproximação de qualquer garota. Tão estupido a ponto de perder praticamente a maior parte da sua infância se escondendo das outras crianças com medo de que elas rissem de sua fragilidade.

— Não diga isso. Nunca mais! – Melina o abraçou. Ninando-o em seus pequenos braços. Na tentativa de acalma-lo. — Você é a melhor pessoa que conheço. O garoto mais inteligente da turma, o mais apaixonante de toda a faculdade, o mais bonito também – ela não estava exagerando. — Eu já disse e repito: seu jeitinho é o que mais me encanta. Desde o princípio, desde que nos conhecemos aquele dia. Foi o mais reparei em você. A diferenciação dos outros! Você não precisar ser como ninguém para ser especial.

Melina segurou o rosto molhado de lágrimas dele.

— Sua mãe se orgulharia muito de você, Nick. Você é educado, sensível, e se mostrou forte todos esses anos que não a teve ao seu lado. Lembra-se quando você caiu no primeiro dia de aula? Foi engraçado para muitos, mas para mim, você se mostrou forte, indiferente ao que as pessoas pensam sobre você.

Finalmente ela conseguiu arrancar-lhe um sorriso, ele se pôs a imaginar aquela cena patética no laboratório.

— Além de que, você é o melhor amigo que alguém poderia ter. – ela sorriu ao vê-lo sorrir. — Sorte a minha ter você por perto.

Ele não resistiu a abraçá-la. Apertou-a forte, como se ela fosse um urso de pelúcia.

— Obrigado, Meli. – ele tinha a voz fraca e falha pelo choro, porém compreensível. — Tudo que você me disse agora, é muito importante pra mim. É tudo que eu precisava ouvir.

— Agora você sabe que pode contar comigo, ouviu bem? – ele assentiu. — Agora, deixe de choradeira – ela secou suas lágrimas. Uma por uma. Ele agradeceu.

Os dois continuaram a caminhar, agora de mãos dadas. Outra vez, Nicolas não deixou de notar o quanto estavam próximos e envolvidos.

Ele se sentia aliviado por ter encontrado a pessoa certa para conversar. Estava se sentindo muito melhor agora, depois que colocou tudo para fora e havia chorado tudo que era preciso. Um dia, ele acreditou que esse momento seria bem mais difícil, mas viu que se enganou, foi mais fácil do que ele imaginara. Pois ao seu lado, caminhando ali com ele, ele tinha a pessoa certa para se contar.

Por sua vez, enquanto continuava sua caminhada, Melina pensava como teria sido sua vida sem ter uma mãe por perto. Por mais que sua mãe não a compreendesse quando era preciso, e por mais que, ela amasse a seu pai de um jeito bem diferente de que amava sua mãe, não conseguia imaginar viver sem Verônica.

De fato, Nicolas era mais forte do que ela acreditava que ele fosse. Nicolas é praticamente um guerreiro por ter crescido e se tornando um grande homem, ao invés de usar a ausência de sua mãe, como uma justificativa por ter se incrementado no mundo da criminalidade.

Esses pensamentos causavam calafrios em Melina. Ela não conseguia nem suportar a ideia de imaginar ver Nicolas segurando uma arma para matar friamente alguém inocente, ou, vê-lo fumando um cigarro com algum tipo de droga, ou coisas do tipo.

— Nick? – Melina espantou tais pensamentos. — Você nunca chegou a fumar, não é mesmo?

— Quer pergunta é essa Meli? – ele riu. — Claro que não! Nunca! Só o cheiro da fumaça me causa náuseas.

— E você também nunca – ela articulou antes de dizer. — pegou em uma arma, certo?

— Também não! – ele riu outra vez. Achando graça na situação. — Eu nunca nem vi uma arma de perto.

— Ótimo! – ela suspirou aliviada. — Essas informações são realmente muito tranquilizadoras para mim.

Assim, eles se calaram outra vez. Mas outros tipos de pensamentos invadiram a mente de Melina outra vez.

— Nick? – ele olhou para ela. — Você também nunca se meteu com prostituição, não é?

— Não, Melina. – ele ria. — Nunca! Na verdade eu nunca nem... Bom... Como eu poderia lhe dizer...?

— Nunca beijou uma garota? – Melina foi mais rápida. Outra vez ele enrubesceu.

— Sim. É isso – ele desviou o olhar. — Eu nunca beijei uma garota em todos os meus dezoitos anos de vida.

— Tá falando sério? – Melina sorriu discretamente. Não conseguia imaginar que ele nunca tinha beijando uma garota. Mas pensando bem, ele mesmo disse que nunca teve um contanto intimo com nenhuma delas. Então, faz todo sentindo que ele nunca tenha beijado.

— É sério. Mas, por favor, não ria de mim. E não conte isso a mais ninguém. É vergonhoso!

— Se é assim, eu prometo a você, não contarei. Seu segredo estará guardado comigo.


~*~


O dia da apresentação de Melina chegou.

Aquele dia ela já acordou sentindo-se angustiada, como se já pressentisse que nada naquele dia daria certo. Estava nervosa e aparentemente destruída por todas as noites que virou estudando para ter o conteúdo na ponta da língua. Mas Melina não sabe se isso será o suficiente para ela perder o nervosismo que a apavora.

— Você vai conseguir Meli – Daniele deu-lhe um abraço aquela manhã antes de saírem para a faculdade. Seu sorriso era radiante.

As primeiras aulas foram terríveis, Melina não conseguia prestar a atenção em nenhuma das explicações. Estava com a cabeça a mil e não conseguia pensar em mais nada a não ser em seu seminário.

Melina olhava para o lado e não via Nicolas. Isso a apavorava. Ter ele ao lado era tudo que ela mais precisava. Dessa forma, sem saídas, ela saiu da sala no meio da explicação e sentou-se no jardim na tentativa de colocar os pensamentos em ordem e diminuir o nervosismo.

— Oi – alguém se sentou ao seu lado. Ela ergueu os olhos para ter certeza de que não estava delirando ainda mais. — Tá tudo bem?

— Não! – ela sorriu nervosamente. — Nick – ela olhou para ele com os olhos marejados. — que bom que você está aqui!

Ela se aprofundou em seus braços. Mas não chorou. Nicolas, era tudo que ela precisava naquele momento. Ele a reconfortava de uma maneira que ela não poderia explicar.

— Deduzi que você estava precisando de mim – ele sorriu, afastando do rosto dela alguns fios que insistam em lhe cobrir os olhos.

— Desculpa. Eu te atrapalhei não foi? – ela parecia uma criança se desculpando por ter feito algo de errado. Nicolas sorriu. — Você nunca perde aula, pelo que eu saiba, por nada no mundo!

— Por você eu posso fazer esse sacrifício – ele riu. Voltando a abraça-la forte em seus braços. — Se sente melhor?

— Com você aqui? Sim, me sinto melhor! – eles sorriam um para o outro como estivessem em um tipo de vinculo.

— Que tal se – ele desviou os olhos. Sentindo-se acanhando com a situação. — repassássemos suas falas?

No intervalo, eles fizeram a mesma coisa. Só para terem a certeza de que ela não se esqueceria de nada com o nervosismo.

Por sorte, a próxima aula, os dois teriam juntos. Nicolas sentou-se na primeira fileira, bem de frente ao quadro negro. Não só por causa da ocasião, mas também por já estava habituado a se sentar ali. Onde poderia prestar melhor atenção nas explicações e fazer suas melhores anotações.

Dois alunos se apresentaram antes de Melina, foi decido a ordem através de um rápido sorteio. Logo depois era ela. Melina não conseguiu conter a vontade de roer as unhas recém-feitas. Ela balançava as pernas nervosamente e mal conseguia sorrir. Nicolas, que estava bem ao seu lado, todo o tempo, não pode deixar de rir com a situação. Ela meio que lembrava ele quando passava pela mesma situação.

Melina levantou-se quando o professor a chamou. Ela se posicionou de frente para a classe. Ela tinha um pequeno pedaço de papel na mão, onde fez pequenas anotações para ajudar se lembrar, caso esquecesse-se de algo. A ideia foi de Nicolas.

Pelo tremor da folha que ela tinha nas mãos, todos puderam ver o quanto estava nervosa.

A turma estava em silencio. O que de certa forma era reconfortador para ela. Já que não precisaria fazer muito esforço para chamar a atenção de todos para suas falas. Muitos ali presentes, Melina já conhecia, outros ela até fez amizade. Mas nenhum deles eram seus amigos como Nicolas. Isso a deixava mais nervosa. E se eles rissem dela? E se ela se esquecesse de tudo? E se eles não entendessem o que ela tinha a dizer? Muitas perguntas como aquelas passavam por sua mente antes que ela tivesse coragem de iniciar sua apresentação.

Três minutos depois Melina ainda continuava travada a frente de toda a turma sem saber se deveria começar ou se seria melhor sair correndo dali. Se bem que a ultima opção era vergonhosa.

Nicolas olhou para os lados e viu que o murmúrio começou a agitar a classe. Pois ela estava demorando demais. Mas Melina nem pareceu perceber. Ela estava perdida em suas próprias incertezas.

— Meli – Nick sussurrou chamando-a de volta a realidade. Diante da situação, ela deu um pulo de pavor. — Vamos lá! Comece. Estão todos esperando por você.

Melina fez uma careta engraçada para Nicolas. Uma careta de menina birrenta.

— Eu confio em você! Lembre-se. – ele continuou a sussurrar para incentiva-la. Sem se importar se todos havia se calado só para ouvir o que ele tinha a dizer a ela. — Ignorem o resto da classe! Finja que somos apenas eu e você. Lembra-se? Apresente pra mim! Como fizemos nesse últimos dias.

Sentindo-se mais motivada, Melina fechou os olhos, suspirou fundo e se concentrou. De repente foi como se o resto do mundo se calasse. Ela só podia ouvir as batidas aceleradas do seu coração. O papel que ela tinha em mãos estava sendo encharcado de suor. Eu consigo! Eu posso conseguir! – ela disse a si mesma. Nicolas confia em mim! Estão todos esperando que eu inicie.

Quando ela abriu os olhos, não viu ninguém, foi como se todos tivessem evaporado. Mas na verdade, a multidão ficou negra. A única luz que ela via em sua frente era a de Nicolas, que a motivava, a incentivava, a aquecia, a enfeitiçava e a incendiava de certezas.

Eu consigo.

Ela deu um passo à frente, abriu a boca e... Foi como se todas as palavras tivessem desesperadas para sair voando. Melina disse tudo que precisava dizer. Sem se esquecer de nenhuma parte. Nem viu o tempo passar. Nem percebeu que todos se calaram para ouvi-la e que estavam admirados com a facilidade que ela manuseava o assunto especifico.

Por fim, todos a aplaudiram.

Ao invés de voltar ao seu lugar, sentar-se e esperar a próxima apresentação, de outro colega, Melina saiu da sala às pressas deixando os colegas todos intrigados, afinal ela tinha se saído bem. Nicolas foi logo atrás. Ela se recostou na parede do corredor, respirou fundo sentindo-se aliviada e liberta daquela tal aflição que tanto a perturbou. Eu consegui.

— Parabé... – Nicolas nem teve tempo de completar sua frase, quando Melina olhou para ele e saltou em seus braços.

Ele não esperava pela reação, mas a segurou sem dificuldades.

— Parabéns! – ele disse finalmente. Com o nariz enterrado entre os cabelos dela, que cheiravam a shampoo. — Você foi ótima!

— Nada disso teria sido possível sem você – ainda em seus braços, ela olhou nos olhos cor de esmeralda dele, sentindo-se imensamente grata. — Obrigada por tudo! Você é presente pra mim, que veio dos céus.


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Notas finais do capítulo

Tenho algo muito importante a compartilhar com vocês, especialmente com aqueles que leram a minha primeira história (Antes Que Seja Tarde). Amanhã, sexta, eu vou a gráfica ver o boneco do livro já pronto. O boneco seria a primeira a amostra de como tudo vai ficar, já encapado, formatado, essas coisas. Prontinho para leitura. Eu não tenho muita certeza se já tinha comentando antes, mas volto a comentar: Antes Que Seja Tarde foi a primeira história que consegui finalizar, com isso, minha mãe decidiu que faria dela o meu primeiro livro. A principio eu não queria, tive medo de expor por não acreditar que eu seja tão boa escritora. Mas meus amigos, minha mãe e meus familiares insistiram muito e apoiaram desde o principio. E amanhã lá vou eu, tocar a primeira amostra do MEU livro. Não é um máximo? Um sonho se tornando realidade! Um sonho sendo concretizado! Mas porque estou dizendo tudo isso? Bom, além de querer compartilhar com vocês um momento tão especial, meus poucos leitores por quem sou tão agradecida, há também algo muito importante para dizer: se você gosta de escrever mesmo não tendo certeza se é bom no que faz... Nunca desista se você tem um sonho. Persista! Pois quando você menos espera ele pode se tornar realidade. Acredite! ♥



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