World's Asleep escrita por Gilbert


Capítulo 3
Má companhia?


Notas iniciais do capítulo

Depois de um looooongo tempo, eu resolvi postar.
Não há muito o que falar, mas COMENTEM. E recomendem também gente, por favor ):
Obrigada.
Espero que gostem..



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Tava difícil de acostumar com o frio, com o extremo frio, da Inglaterra. Havia amanhecido, porém o tempo estava escuro. As nuvens carregadas lhe deram uma injeção de preguiça e Elena mal conseguia acreditar que já era hora de levantar, mudar de roupa e ir pra escola.

O cheiro de bacon com ovos vindos da cozinha, cheiro repugnante e delicioso, a fizeram crer que realmente tinha que sair da cama, ou chegaria atrasada. Torcendo pelo pai ter lembrado-se de comprar frutas e saladas, e ter feito seu café vegetariano, pulou da cama e vestiu o uniforme. Mal se olhou no espelho enquanto penteava o cabelo e passava uma dose exagerada de lápis de olho e rímel. Havia substituído às sapatilhas que as outras meninas usavam na escola, pelo seu all star surrado e usou a gravata do uniforme como sinto.

Pegou a mochila no canto do quarto, juntamente com o celular e desceu as escadas apressada.

John abriu um enorme sorriso assim que a garota adentrou a cozinha.

– Bom dia, princesa! Seu café está pronto. - apontou para a salada de frutas em cima da mesa.

Elena agradeceu silenciosamente aos céus por ser uma salada.

– Bom dia pai, obrigada.

Jeremy ainda não havia descido. Talvez ela não tenha sido a única a ficar preguiçosa essa manhã. Além disso, ela também sentia falta do modo carinhoso como sua mãe a acordava toda manhã, com um sorriso e dizendo "acorda, dorminhoca".

Elena nunca foi uma filha "fofa", tampouco carinhosa. Em geral reclamava do excesso de cuidado que sua mãe tinha com ela, porém, como já era esperado, isso começou a fazer falta. E mesmo se falando diariamente, seja por internet ou por telefone, não era a mesma coisa.

– E ai, preparada para o segundo dia de aula? - John perguntou, quebrando o silêncio que havia se formado.

– Err.. Mais ou menos. - falou. - Quer dizer, lógico que eu gostei da escola, mas os alunos agem de forma estranha comigo! - não havia motivos para ela esconder isso do pai.

– É só porque você é nova, logo vão se acostumar. - tentou reconforta-la.

Mas o olhar do pai parecia mostrar que ele sabia de alguma coisa a mais, que por algum motivo, estava escondendo. Achou melhor não perguntar, até porque sabia que teria uma desculpa qualquer e que ele não lhe falaria a verdade. Era certo que já havia perdoado John por todos os seus erros, mas a ponte de confiança ainda estava em reforma.

– Bom dia, foi mal o atraso. - Jeremy entrou na cozinha.

Com o cabelo bagunçado, uniforme completo e impecável, exceto pela gravata que ele insistia em deixar mais larga que o normal em volta do pescoço.

Permaneceram em silêncio enquanto terminavam de comer, e as vezes Elena pegava Jeremy analisando o seu rosto. Não reclamou, mas ficou um tanto quanto incomodada e, certamente curiosa. Ele olhava pra ela como todos os outros da High State.

___

Damon grunhia contra o travesseiro enquanto Klaus insistia em bater na porta do quarto.

O garoto não havia dormido absolutamente nada na noite passada e seu humor, que de costume era ruim, estava péssimo. Ele não tinha a menor vontade de levantar, muito menos de ir pra escola e ver aquele rosto novamente.

– Acorde Cinderela. - Klaus falava e sua voz ecoava pelo apartamento.

Na verdade, era um flet, não muito grande, mas com espaço o suficiente para ele e seus pensamentos perturbadores.

– Você deveria saber que o certo seria Bela Adormecida. - falou sonolento e rabugento, enquanto levantava da cama e andava em direção a porta. - Já levantei, satisfeito? - abriu a porta.

– Claro, muito... vou ficar ainda mais quando você se vestir e formos pra escola!

Parte do acordo para não ter que voltar a fazer trabalho comunitário era, além de arrumar um trabalho de verdade, faltar o mínimo de aulas possíveis e ficar longe de confusão. Então, apesar de não querer nem um pouco ir à escola, não havia alternativa melhor. Fingir que estava doente também não era uma opção, levando em conta que estava doente já fazia 12 meses.

Ninguém se importava com seu estado de espírito, só ligavam para o fato de um possível delinquente e assassino cumprir sua tarefa e tentar levar uma vida normal.

– Me de um minuto. - falou e se dirigiu ao banheiro.

Lavou o rosto e enfiou a cabeça debaixo da pia. Secou o cabelo mais ou menos, escovou os dentes e vestiu o uniforme. Não se preocupou em pentear o cabelo ou se olhar no espelho. Seu reflexo não o agradava. Pendurou o óculos escuro no cordão que ela havia lhe dado.

– Pronto.

– O "um minuto" mais longo da minha vida. Vambora!

Damon colocou a mochila no ombro e pegou um pacote de biscoitos em cima da bancada... não estava com muita fome, então aquilo ia servir como café da manhã.

– Não esquece a chave do carro... vim exatamente porque queria uma carona! - Klaus falou, com um sorriso sacana.

___

O carro que levava Elena e o carro de Damon chegaram praticamente juntos na escola. A garota ficou observando o sujeito estranhamente atraente descer do veículo, novamente com a aparência cansada por trás dos óculos escuros.

Ela não entendia o motivo de ele ter sido tão frio com ela, e estava o analisando atentamente, na busca de alguma coisa que denunciasse seu comportamento no mínimo estranho. Mas o mais berrante que fez foi pegar um maço de Marlboro, porém aquilo não a espantou.

– Jeremy. - se virou para o irmão, enquanto caminhavam em silêncio pra fora do estacionamento da escola. - Qual o problema do cara? - apontou pra Damon.

– Damon Salvatore? - assentiu. - Bem, ele perdeu a namorada faz um ano, e nunca se recuperou. Mas já garanto que ele não é boa pessoa... vivia se metendo em confusões, era o cara mais popular da escola e tinha o maior currículo em fazer merda. Ficou um tempo afastado de tudo depois que foi considerado um dos suspeitos do desaparecimento/morte de Katherine.

– Um dos suspeitos? - Elena interrompeu boquiaberta.

– Sim. Eles tiveram uma enorme briga antes de tudo acontecer e ela estava rondando a casa dele antes de sumir. - ele fez uma pausa, mas como a irmã não disse nada, a alertou. - Falo sério quando digo que é pra tentar ficar longe dele!

Tudo bem que pelo pouco que o conhecia ela não podia julgar, mas o cara não parecia ser essa pessoa tão ruim. Claro, tinha aparecia que alertava "não se aproxime", era bem rabugento e nojento, mas... um assassino?

(...)

Jeremy e Elena caminharam em silêncio até o corredor principal, mas a cabeça da menina estava à mil. Ela tinha várias perguntas e, com certeza, nenhuma delas seria respondida. Não por alguém acessível...

– Vou encontrar meus amigos... se precisar de alguma coisa, me manda mensagem ou manda alguém me chamar.- o menino pareceu preocupado.

Talvez as perguntas que Elena tinha feito tenham causado isso nele.

– Ok. - respondeu.

Assim que se despediram, Elena se virou para andar até o armário e acabou esbarrando em, ninguém mais, ninguém menos, que Damon.

Ele bufou e pareceu irritado, mas assim que viu quem era, a expressão mudou. Lógico, a irritação ainda estava presente, mas seu olhar ficou perdido no dela. Ela notou a dor que aqueles olhos azuis transmitiam, e não deixou de, quase, ficar preocupada. Lembrou-se do que o irmão havia dito e tudo o que queria era fugir dali, mas, por algum motivo, permaneceu imóvel.

Finalmente Damon balançou a cabeça, saindo do transe.

– Desculpa. - ela falou.

Ele apenas murmurou alguma coisa a qual ela julgou ser um palavrão e saiu andando irritado, com passos duros.

_____

Aulas mais pareciam dias naquela escola... ele já deveria estar acostumado. Mas não estava. Cada segundo que passava ele tinha cada vez mais vontade de sair correndo feito o covarde que sabia que era.

O pior, na verdade, não eram as aulas, nem o tempo que não passava, e sim a presença perturbadora dela. Elena estava sentada no canto da parede, com a cabeça encostada e cantarolando alguma coisa baixinho. O Sr. Philips já tinha terminado a matéria, portando todos os alunos estavam apenas esperando o sinal.

Damon não entendia o porquê de não conseguir deixar de observá-la, mesmo quando a dor de ver aquele tão conhecido rosto ficava insuportável. Ele simplesmente não conseguia tirar os olhos dela. Talvez procurasse algum vestígio de que aquilo tudo era uma ilusão da sua cabeça, ou uma piada muito sem graça do destino.

Ele ia acabar enlouquecendo. Se é que já não estava louco. A parte boa disso é que não teria aula Filosofia então não teria de sentar em dupla com a garota até amanhã.

____

Caroline dividia o olhar, junto com Bonnie, entre Elena e Damon... percebeu que ele não parava de olhar pra ela e que, de vez em quando, ela olhava pra trás, cheia de dúvidas de acordo com a sua expressão facial.

– Eu vou falar com ela. - a loira disse.

– Pra quê? Deixe a menina em paz... ela não é ela.

Bonnie falou o óbvio, mas Carol não estava intrigada com o fato de que ela idêntica a Katherine..

– Eu sei o que to fazendo! - respondeu.

Imediatamente Caroline arrastou sua cadeira até o canto da sala em que a novata estava. Aquilo seria um tanto quanto cômico, se a história não tivesse a possibilidade de ter um desfecho trágico. Ou se a Katherine não estivesse morta.

Afastou tais pensamentos e deu seu melhor sorriso.

– Oi... Elena né? - a menina assentiu com a cabeça.

– Sim.. E, Carolina? - perguntou, na duvida.

Carol deu uma risadinha baixa.

– É Caroline! - corrigiu.

– Ah, me desculpe.. Eu sou péssima com nomes! - sorriu, pouco envergonhada.

– Não se preocupe. - sorriu de volta. - Você é americana né? Percebi pelo sotaque.

No segundo que falou, se arrependeu. Era uma coisa idiota de se falar... Mas não tinha mais o que comentar. A menina não facilitava puxando assunto. E, apesar do que disse pra Bonnie, não fazia ideia do que estava fazendo.

– Posso te fazer uma pergunta?

– Claro!

– O que sabe sobre Damon Salvatore?

A pergunta a atingiu com força. Não seria possível ela e Kath serem tão parecidas.

– Pra que quer saber? - sua voz saiu falhada.

– Só.. Curiosidade! - respondeu simplesmente.

– Bom, ele tem dezoito anos, é filho de um politico importante na Inglaterra e no passado costumava ser muito mais alegre do que é agora. Mas, eu se fosse você, ficaria longe dele! - alertou.

Ela sabia que Damon era boa pessoa, mas de modo algum queria que a história se repetisse.

Elena engoliu seco e apenas concordou.

– Já me falaram que ele... - não conseguiu terminar de falar, pois o sinal de fim de aula acabara de tocar.

"Caroline estava no quarto de Katherine, esperando que a amiga ficasse pronta para a festa de comemoração do time da escola, quando o celular de Kath vibrou em sua cama e ela ficou um tanto quanto incomodada com o nome do visor ser "Stefan".

– Katherine, você não acha que não é certo enganar assim duas pessoas? - perguntou.

– Não são pessoas.. São garotos! Eu não estou enganando, só não decidi. Os dois são gatos e prestativos, como decidir? - respondeu de dentro do banheiro e soltou uma risadinha.

– Você vai acabar se dando mal nessa história. - alertou-a.

– Ou vou acabar me dando muito bem. Não pragueje!"

Caroline? - Elena a sacudiu, tirando-a de suas lembranças.

Foi inevitável não ser cercada por memórias enquanto conversava com Elena. E, apesar de Katherine ser uma perfeita vadia no que se tratava de garotos, ela fazia uma falta enorme.

– Me desculpe, me distrai... to com problemas em casa. - mentiu.

Talvez a menina não soubesse de Katherine, ou da sua história com Damon. Não queria ser a primeira a despejar isso em cima dela. Até porque ela parecia ser uma pessoa bastante legal.

____

– Cara, você tem que sair dessa fossa. - Tyler falava, mas Damon mal dava atenção. - Ei.. MANO!

– Sim, oi.. Desculpa. O que foi?

Ele estava perdido em pensamentos aleatórios.. um deles era o "porque de ela estar junto com Caroline". Tudo estava confuso o bastante e dificil de entender.

Sem contar que ele esperava ficar sozinho novamente na hora do almoço... e realmente queria ficar sozinho. Mas diferente de ontem, Klaus e Tyler o seguiram o dia todo. Já Stefan, ainda não havia dado as caras na escola. Quer dizer, ele não sabia ao certo, já que não tinha procurado o irmão.

– É disso que to falando, você ta mais morto que vivo cara. Reage!

– Quem me dera se eu realmente estivesse morto. - resmungou.

– Você devia voltar pro time de futebol... ou pro nosso grupo. A musica te faria bem. - Klaus sugeriu.

– Para de me encher com isso. Já falei que não quero e que não vou. - levantou a voz.

O amigo levantou a mão em rendição, como se dissesse "desisti de você". Ele era um caso perdido, porque as pessoas insistiam em perturba-lo? Deveria ser divertido chutar cachorro morto, pelo jeito.

Quando se levantou, querendo sair dali, foi que avistou o irmão de longe, sentado sozinho em uma das mesas no refeitório. Sentiu uma pequena inveja de sua situação.

Ele era grato pelos amigos não terem o deixado de lado, mas insistir na mesma história enchia o saco. Ele já havia dito que não ia voltar a tocar e nem a jogar futebol... Será que essas eram as únicas coisas que podiam fazer? O que ele precisava mesmo era ficar bêbado e divertido por umas horas, mas a animação de sair não existia depois que chegava em casa.

Stefan, assim que viu Damon, sorriu de lado, mas com o olhar endurecido. Eles haviam se distanciado muito desde os últimos acontecimentos. Damon queria ir até lá, conversar, como se nada tivesse acontecido.. mas alguma coisa o impedia. Medo de ser rejeitado, talvez.

– Aquele é seu irmão? – uma voz assustou Damon, e assim que olhou para trás, deu de cara com Elena.

Respirou fundo. Era difícil olhar pra ela. Mais difícil do que deveria.

– Como sabe? – perguntou, com a voz dura.

– Pelo sobrenome. – ela respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Olha, eu sei que não gosta de companhia, ou pelo menos não foi com a minha cara, mas nós somos uma dupla na aula de filosofia e artes e eu não quero tirar nota baixa por causa de você...

– Sim.

– O que? – ela pareceu confusa.

– Eu não gosto de companhia. – Damon foi se afastando, mas Elena insistiu em segui-lo.

– Não estou aqui pra lhe fazer companhia. Só quero te falar para ler Hamlet, vamos nos basear nesse livro nas aulas e eu não quero tirar nota baixa, como já disse.

O garoto bufou, pouco irritado.

– Duvida da luz dos astros, de que o sol tenha calor. Duvida até da verdade, mas confia em meu amor. – o garoto citou. – Pode não parecer, mas eu gosto de ler.

O garoto saiu andando, e dessa vez Elena não o seguiu. Ficou apenas parada, de boca aberta e ainda mais curiosa sobre Damon. Ele realmente era imprevisível e cheio de surpresas.

___

Elena se lembrava de tudo o que haviam falado pra ela, sobre “tomar cuidado” e não se aproximar de Damon. Mas a curiosidade sobre esse garoto a deixava louca. Quer dizer, ele era tão estranho... Mas ela entendia toda a angústia que demonstrava em seu olhar. Ele perdeu alguém, e com toda essa tristeza presente, era difícil acreditar que ele tenha feito o que todos dizem que ele fez.

Ela estava encucada com isso em seu quarto. Eram 20 horas, e ela ainda estava pensando nesse garoto. Com certeza isso não era um bom sinal.

Olhou pela janela e percebeu que o céu estava limpo. Dava para ver todas as estrelas e a meia lua, o que era uma surpresa, pois mais cedo estava frio e o tempo estava quase completamente nublado. Desligou o seu toca discos, no qual tocava um disco do Artic Monkeys que juntava todos os cd's, que seu tio havia feito pra ela. Elena colocou seu tênis e resolveu fazer um passeio noturno... John e Jeremy haviam ido à um jogo de basquete, então ela pretendia voltar antes que eles chegassem.

Haviam poucas lanchonetes e lojas abertas, mas uma particularmente lhe chamou a atenção "Salvatore's Coffee". Ficou imaginando se teria alguma relação com a família dele e resolveu dar uma olhada.

Mas, na hora de atravessar a rua, se esqueceu de um pequeno detalhe: na Inglaterra, as pessoas dirigiam pelo lado esquerdo. Ela conseguia ouvir as buzinas altas e conseguia ver claramente os faróis se aproximando em uma velocidade muito alta, mas seus pés se recusavam a correr. Sabe quando dizem que a vida inteirinha passa diante dos seus olhos quando está prestes a morrer? Pura mentira.

– CUIDADO!! - foi o que ela conseguiu ouvir.

Em seguida dois braços a abraçaram e a empurraram para o outro lado da rua, quando abriu os olhos viu uma luz muito forte que a deixou pouco cega.

– Estou morta? - uma risadinha grossa ecoou dentro de seu ouvido.

Elena passou as mãos nos olhos, para tentar enxergar algo, e tudo o que viu foi Damon sentado na calçada e a encarando. Apesar de estar rindo, sua expressão era dura e, de alguma forma, mostrava preocupação.

– Se estivesse morta eu não estaria aqui. - ele disse. - Você está bem?

– Não sei... Tudo aconteceu muito rápido. - ela ainda estava meio confusa. - Você me salvou?

– De certa forma. - ele passou as mãos no cabelo, jogando-os para trás.

E apesar de ter tido uma experiencia de quase-morte, não conseguia deixar de reparar no quanto ele era bonito e charmoso, e a luz da lua refletia seus intensos olhos azuis, o que a deixava um pouco distraída. Balançou a cabeça na tentativa de espantar tais pensamentos.

– Obrigada. - falou por fim.

Elena se levantou da calçada, disposta a ir pra casa, mas assim que se virou sentiu uma tontura e tudo em volta ficou meio preto. Mas antes que caísse novamente, Damon a segurou.

– Não quer que eu te leve pro hospital?

– NÃO!

De jeito nenhum ela podia ir pro hospital. Seu pai iria se preocupar atoa, e era bem capaz de sua mãe pegar um avião pra cá o mais rápido.

– É só uma tontura.. - ela falou. - Eu provavelmente devo ter batido a cabeça no chão.

Quando sentiu que conseguiria ficar em pé sozinha, se soltou dos braços de Damon, apesar de se sentir completamente confortável ali.

– Pelo menos entre aqui e coma alguma coisa. - ele sugeriu.

– Então isso aqui é realmente da sua família? - Damon assentiu.

– Sim... Meu pai é empresário e político, e eu trabalho aqui. Mas isso não vem ao caso... Ande, venha. - ele foi andando na frente.

Sem pensar muito no assunto, ela resolveu ir com ele. Talvez esse seria um tempo para conversarem, assim poderia descobrir o motivo de ele agir tão estranho com ela. Afinal, eles nem se conheciam e o garoto mal conseguia olha-la. E agora, havia salvado sua vida.

Se sentaram em uma mesa que tinha no canto, um de frente pro outro, não havia muita gente e o lugar era bem aconchegante.

– O que você vai querer? - Damon perguntou.

– Um capuccino de chocolate...

– Vou pedir um pão açucarado que tem aqui pra você, que é muito bom. Você precisa de colocar algum açúcar pra dentro! - ela concordou.

Era estranho ver ele todo cuidadoso. Quer dizer, pelo que ela conhecia de Damon, ele era carrancudo, mal humorado e arrogante. Apesar de que ele continuava meio áspero e com a expressão cansada, de quem não dormia fazia tempo.

– Rich, trás dois cappuccinos de chocolate e um pão de açúcar. - ele pediu e o rapaz alto e magro que estava atrás do balcão fez um sinal de positivo com o dedo.

– Algum motivo para você estar menos rabugento? - Elena não se conteve em perguntar.

– Eu estou? - ele a olhou, pouco confuso.

– Sim... Mais ou menos, na verdade.

– Talvez eu esteja apenas evitando te aborrecer, com medo de você passar mal. Sei la... Você quase morreu né? - ele cruzou os braços e sentou de forma relaxada.

– Hm.

O tal do Rich rapidamente levou o pedido à mesa, analisou Elena de maneira estranha, mas Damon fez um sinal para que ele saísse dali e ele saiu em silêncio.

– Por que todas as pessoas me olham estranho por aqui? - ela perguntou, mais como um pensamento ao alto do que diretamente para ele.

– Você não sabe mesmo né? - Damon deu um riso seco.

– Deveria?

– Não. - ele pensou um pouco antes de voltar a falar. - É só que, você tem cara de gringa.

– Sei..

Ela voltou a atenção à sua comida e não falou mais nada, assim como Damon. Permaneceram em silêncio, mas o engraçado é que isso não os incomodava. Ele era do tipo calado, e ela, apesar de falar muito as vezes, era quieta também.

– Eu tenho uma pequena teoria. - Elena não conseguiu ficar em silêncio por muito tempo.

Damon já havia terminado com seu cappuccino, estava apenas brincando com o copinho.

– Hm?

– Sobre o seu humor. - explicou.

– Mas é simples: quando eu to triste eu fico mal humorado; quando eu to feliz, eu fico quase-bem humorado. - ele sorriu amarelo.

– Ha. Jura?

– Sim. - Elena revirou os olhos. - Tá, então qual é a sua teoria?

– Bom.. - ela terminou de engolir o pão. - É que, na escola o seu humor deve ser pior, porque te lembram a tal pessoa que você perdeu.

– E o que você sabe sobre isso? - ele se inclinou na mesa e ela encarou seus olhos.

– Nada além do que todo mundo fala. - respondeu simplesmente.

– E o que todo mundo fala?

– Você sabe...

– Sim, sei. - ele voltou a se sentar normal, porém mais tenso que antes. - Aposto que já te alertaram para não andar comigo. - seu tom era quase irônico.

– E olha onde estou. - ela deu de ombros.

– Bom, as pessoas estão certas. - ele se levantou da mesa. - O lanche foi por minha conta.

Ele se levantou e não disse mais nada, mas ela havia entendido o recado: isso que rolou hoje não vai se repetir. Mas Elena já sabia, Damon era inalcançável e, talvez, perigoso. Mas, há algo que ninguém pode negar... Ele salvou sua vida.

(continua...)


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