Soul escrita por Writer


Capítulo 8
Cozinheira, na teoria


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, demorei muito. Culpem dessa vez: A Seleção e TVD. SOS EU ESTOU EXTREMAMENTE APAIXONADA POR A SELEÇÃO. QUERO UM MAXON PRA MIM E NÃO CONSIGO MAIS ESPERAR PELO THE ONE. E EU TALVEZ VOU COMPRAR O COLAR DA ELENA AEHBFDHERHYF. Pela primeira vez em quase um ano, eu estou postando pela internet. O nyah não tá funcionando bem pelo Opera Mobile



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O resto do dia na escola foi um tanto que confuso. Várias pessoas me perguntaram se eu e Nico realmente havia chamado Cecily de minhoca de saia e discutido com ela e Christian, me perguntaram como eu havia descoberto aquele podre dele e eu inventei uma história de que era parente e amiga dela. Muitos, inclusive populares e riquinhos, até me disseram que se houvesse uma briga de verdade eles estariam do meu lado. Eu tinha certeza de que sabia segredos suficientes de todos dali que faria com que nunca mais fossem amigos uns dos outros, mas não podia contar. Porque se contasse todos ficariam curiosos pela quantidade de podres que eu sei, ou pensarem que eu estou mentindo. Havia coisas que eu sabia que poderia até mesmo tirar o diretor da escola.

A minha última aula, Geografia, havia me deixado irritada e com a cabeça doendo. A professora não havia passado o conteúdo e conclusão: aula livre. Todos conversaram e eu ouvi meu nome, o de Nico, Cecily e o de Christian sendo murmurando tantas vezes que implorei por um fone de ouvido. Consegui me distrair parcialmente com o livro porque toda hora alguém aparecia na minha carteira. Em compensação a aula havia sido com Nico, e eu consegui conversar um pouco com ele.


 

-Eu quero ir embora. - Choraminguei enquanto colocava as coisas dentro do armário e pegava apenas o livro de Química para fazer a tarefa de cara.

-Eu já ouvi tantas vezes nossos nomes que até fiquei irritado. - Nico estava no seu armário, que era do meu lado. Sua voz era abafada pela porta dele, mas mesmo no meio de uma multidão eu acho que entenderia o que ele disesse.

-Estou com dor de cabeça. - Respondi colocando a mochila quase vazia sobre os ombros e fechando o armário azul.

-Quando chegarmos em casa você toma alguma coisa.

-Onde estão os outros, alias? - Perguntei.

-Acho que estão nos esperando lá fora, ou ainda saindo da sala. - Ele respondeu terminando de fazer as coisas e caminhamos para a saida.


 

Ficamos em silêncio, mas as pessoas ao nosso redor falavam muito alto. Ignorei o máximo que pude, focando em Nico. Me focar nele era mais do que fácil. Ele caminhava com as mãos nos bolsos de sua jaqueta de couro, observando os outros. Seu cabelo liso estava em um bagunçado que me dava a vontade de passar a mão. Eu podia ver o cansaço em seus olhos e algo mais. Olhá-lo de perfil me permitia observar seu nariz delicado, seus lábios grossos.


 

-Está ficando estranho, sabe... Você me olhando. - Ele disse virando o rosto pra mim e sorrindo de leve. Corei como um salmão e desviei o rosto escondendo um sorriso tímido. Respirei um pouco.

-Você vive me olhando. Também posso. - Eu disse dando um sorriso esperto e o dele aumentou tão suavemente.


 

Caminhamos até lá em silêncio para descobrir que eles ainda não haviam saído.


 

-Você tem a chave? - Perguntei. O sol fazia minha pele arder. - Quero ficar no carro, pelo menos tem ar condicionado e a minha pele não arde.

-Que frescura. - Ele disse pegando as chaves do bolso e destrancando o carro. - Do mesmo jeito não vai ter nada pra fazer no carro.

-Tem rádio e ar condicionado. - Disse dando a volta no carro. Abri a porta do lado do passageiro. - Deuses, vão pensar que nós estamos fazendo coisas indecentes!


 

A risada que ele deu foi completamente espontânea e me fez sorrir. Era deliciosa de ouvir, e era uma pena que ele ria tanto. Entrei no carro, e do jeito que consegui, joguei a mochila no banco de trás.


 

-Credo que calor. - Reclamei.

-Para de reclamar.

-Estou só dizendo os fatos.

-Guarda eles pra você. - Ele colocou a chave na ignição. O ar condicionado ligou mas o ar que saia dali era quente também. - Não vem reclamar do ar condicionado quente pra mim, não. Espera um pouco.

-Grosso. - Murmurei.


 

Liguei o rádio e passei de uma em uma. Quando achei uma música que conhecia, parei. Comecei a cantar Part II do Paramore sabendo a letra de cor.


 

-What a mess, what a misery we've made. Loving all the simple... Puta que pariu. - Falei olhando para um grupo de pessoas que estava caminhando pelo estacionamento.

-Que delicadeza essa sua. E eu tenho quase certeza de que a letra não é assim. - Nico murmurou. - Do que você ta falando? - Apontei com a cabeça para o grupo que estava chegando perto de onde o carro estava. - Eles estão nos procurando?

-Torço para que não, porque não estou no clima de barraco.

-E existe clima bom pra barraco?


 

Era um bando de líderes de torcida e jogadores, incluindo Christian e Cecily. Eles pareciam putos. No sentido de bravos, não no outro. Eram uns sete no total, amigos mais próximos deles. Desliguei o rádio, com o ânimo sumindo de mim. Quando eles passaram na frente do carro, dois dos amigos nos viram e apontaram discretamente com a cabeça para nós.


 

-Eles estão com cara de que vão atear fogo no carro com nós dois dentro. - Nico disse em um tom de estranhamento. Mas eles realmente faziam uma expressão assim.

-Por Hades, eu estou sem ânimo. - Murmurei quando eles vieram na direção da porta de Nico.

-Posso atropelar eles, e depois nos escondemos no Mundo Inferior. - Nico brincou tentando me acalmar e me fez dar um sorriso pequeno e relaxar de leve.

-É mais fácil enrolar as coisas até os outros chegarem. Aliás, porque estão demorando tanto? - Bateram na janela de Nico. - Pronto para um revanche? - Brinquei e tirei um sorriso dele.


 

Ele abriu a janela e o ar fresco foi substituido por um mais quente. Coloquei um sorriso de divertimento no rosto.


 

-Oi minhoquinha! - Meu tom foi engraçado, assim como a palavra era estranha.

-Sua vadia... - Ela rosnou colocando a cabeça dentro da janela. De repente me pareceu interessante imaginar o vidro subindo e apertando a cara dela ali.

-O que querem aqui? - Nico também não estava no clima.

-Saiam do carro. - Christian tentou ordenar.

-Virou policial agora? - Nico soou entediado. Eles pareciam com cara de quem iriam estourar o vidro e nos esfolar no chão.

-Saiam dai, ou eu tiro vocês. - Ele parecia com raiva.

-A gente sai e vocês vão fazer o que? - Perguntei realmente curiosa. Me inclinei para o lado de Nico, evitando tocar nele. - Espero que você não queira me pagar pra ser sua namorada, porque ouvi falar que você beija muito mal. - Dei um sorriso cruel.

-Cala a boca, vadia Alemã. - Cecily rosnou, sem moral nenhuma.

-Quem é que tá usando saia curta só pra tentar mostrar uma bunda que você não tem? - Perguntei.


 

Para o fim da nossa agonia, o pessoal chegou. Eles conversavam alegremente, rindo. Mas quando viram, e imaginaram, o que estávamos fazendo eles fecharam a cara. Trocaram algumas palavras e Jason veio na direção do carro. Dando uma de pessoa boazinha os cumprimentou educadamente e entrou no carro.


 

-Nós vamos desenterrar cada podre sobre vocês e o seu grupo. - Cecily rosnou, cerrando os punhos.

-Boa sorte com isso. - Nico disse fechando a janela e quase esmagando a cara dela.


 

Eles sairam dali de perto batendo os pés, expressões furiosas, e quando chegaram longe do carro eles dois discutiram entre si. Os seus amigos haviam ido embora no começo da briga. Eu voltei ao meu lugar, respirei fundo e passei as mãos pelo rosto.


 

-Oi Jason. - Nico falou ligando o carro.

-Oi. - Murmurei.

-Vocês passam três horas sozinhos e arrumam briga? - Ele não se importou em cumprimentar a gente.

-Por ai. - Respondi colocando os pés no console do carro.

-Porque?

-Porque eles são irritantes. - Nico respondeu me fuzilando por ficar com os pés ali. Não me importei com ele.

-Eu também odeio eles, mas não me meto.

-Eles começaram! Ficaram falando mal de Piper, do cabelo dela. Ai depois ela perguntou de você, eu falei que você tinha namorada e ela disse que ia ganhar você dela e eu chamei ela de minhoca de saia. - Explodi, diminuindo meu tom ao mencionar a parte da minhoca de saia.

-E depois me chamaram de gótico, Sophie soltou um segredo deles no meio da sala lotada. - Nico prosseguiu.

-Ela falou o que de Piper? - Ele tentou soar calmo. - Ele não ficou preocupado com o resto da história, apenas com ela.

-Christian falou do cabelo dela. Só isso eu acho. - Encostei a testa no vidro quente por causa do sol.


 

Ficamos em silêncio no caminho inteiro. Imaginei se Nico ainda iria me treinar apesar dos pesares. Eu queria dormir, e estava com dor de cabeça. Para me distrair, repensei meu dia. Estressante era a palavra que definia bem. As pessoas me perguntaram as mesmas coisas o dia inteiro e eu repetia a mesma coisa toda hora. Por outro lado, eu ainda não acreditava que tudo estava mesmo acontecendo. Era incrível estar viva. Cada conversa irritante, cada brisa batendo, cada cheiro, me fazia ficar feliz. Maravilhada. Respirei fundo e fechei os olhos, achando divertida a sensação que eu sentia quando Nico virava o carro, acelerava ou freiava.

Então a velocidade diminuiu, o carro virou, e desceu. Abri os olhos bruscamente, agoniada com o frio na barriga. Estávamos entrando na garagem no subsolo do prédio. O outro carro estava na frente. Desci do carro com todo o meu bom humor estranho.

Esperei os outros saírem do carro, para irmos juntos. Não sei por que fiz aquilo e não me importei. Nos unimos com os outros no elevador.


 

-E ai. - Jason disse pra eles, e eu bocejei.

-Oi denovo. - Piper disse dando um sorriso leve. Ele colocou o braço ao redor da cintura dela, a troxe mais perto e a beijou. Meu humor estava bom, e eu estava habituada a presenciar esse tipo de coisa. Portanto não fiz careta nem nada.

-Então... - Leo disse chamando a atenção e olhando de mim para Nico com expressão curiosa. - no que se meteram hoje?

-Eu chamei uma menina de minhoca de saia e contei o segredo de um jogador de futebol americano. - Murmurei olhando para o chão.

-Você fez o que? - Hazel se assustou. Continuei olhando para o chão. Todos estavam me olhando meio pasmos e eu não estava gostando da atenção.

-Vocês entenderam.


 

Um "plim" avisou que estávamos no nosso andar. Fui a primeira a sair dali. Nos apertamos no hall pequeno até Hazel destrancar a porta. Entrei e joguei minha mochila no lado do sofá, me sentando ali.


 

-Pode levantar e ir trocando de roupa porque vamos treinar. - Nico falou fazendo sinal para mim levantar.

-Ahhhh! - Murmurei escorrendo pelo sofá e ficando assustadoramente confortável.

-Anda. - Ele disse indo para o seu quarto.

-Vem que eu vou te ajudar a escolher alguma coisa pra vestir. - Hazel disse pegando a minha mochila e me entregando.


 

Levantei e fui até meu quarto com ela arrastando os pés. Abri a porta, coloquei a mochila do lado da escrivaninha e de frente para o guarda-roupa. Evitei sentar na cama para não ter problemas pra levantar. Hazel abriu meu guarda-roupa e vasculhou ele como se fosse seu. Para não ficar sem fazer nada tirei meu livro da mochila e o coloquei em cima da cama bagunçada, para evitar que o livro ficasse com marcas das molas do caderno e da apostila.


 

-Toma. - Hazel jogou algumas roupas pra mim. Olhei.

-Legging comprida, porque? - Questionei.

-É mais difícil de se arranhar ou ralar o joelho com isso. - Assenti, seguindo sua linha de raciocínio. Ficamos em um silêncio constrangedor. - Eu, vou lá pra fora pra você se trocar.

-Ok. - Dei um sorriso leve.


 

Ela saiu e fechou a porta. Tratei de vestir a legging preta e comprida e a regata vermelha que ela tinha pego pra mim. Fiz um rabo no meu cabelo e calcei um tênis. Por último peguei a pedra/espada roxa que estava dentro da minha carteira.

Sai do quarto indo direto pra cozinha pegar um copo de água e ver se tinha algo pra comer. Comi duas fatias de presunto e bebi um copo de água antes de Nico aparecer.


 

-Terminou seu presunto? - Ele perguntou abrindo um mini sorriso de lado. Ele estava com as mesmas roupas. Coloquei o resto na boca, levantei o dedo em um sinal para ele esperar. Terminei de mastigar e bebi o resto da água.

-Agora terminei.

-Então vem. - Coloquei o copo na pia e peguei a pedra que deixei no balcão.


 

Atravessamos a cozinha, e ele abriu uma porta que eu não tinha notado que estava ali. Subimos uma escada, e havia literalmente uma luz no fim do túnel. Subia a escada fez minhas pernas reclamarem um pouco. Credo, eu estava mole como gelatina. Demos direto em um terraço. Ele era metade coberto e metade sem. Paredes e chão branco. Haviam vários bonecos de palha com aparência macabra em um canto e no outro vários alvos de flechas. Estava com uma brisa fresca, diminuindo o calor.


 

-Vem cá. - Nico disse e percebi que ele havia alcançado o meio da parte coberta sem eu perceber. Acredite em mim, aquele lugar era enorme.


 

Ele fez um sinal com a mão para mim me aproximar e eu achei assustadoramente sexy. Meu coração pareceu pular algumas batidas e eu respirei o fundo tentando voltar o foco. Caminhei até ele com meus passinhos curtos e rápidos.


 

-Faz isso virar uma espada. - Ele pediu apontando para a pedra na minha mão.


 

Apertei a pedra de leve e ela mudou, ficando maior e mais comprida. Logo eu estava segurando uma espada longa e fina de bronze, com o punho preto e com uma bola oval grande também de bronze na ponta. Ela era leve e pareceu esquentar ao meu toque.


 

-Ok. Levanta ela, como se estivesse indo lutar com alguém. - Fiz o que ele pediu. - Você consegue usar ela com uma mão só?

-Acho que sim. Não é tão pesada. - Respondi.

-Não aperta tanto. E não a espada está virada pro lado errado. - Ele disse chegando mais perto e ajeitando ela nas minhas mãos. O toque frio e repentino da sua mão fez meu coração perder o ritmo denovo.

-Eu não sabia que tinha lado certo.

-Na verdade você estava segurando ela de lado.

-Ah. - Disse levemente envergonhada. Ele tirou uma espada preta do nada, e eu abri a boca maravilhada. - Como você fez isso?

-Eu não sei bem. Só vou lá e faço. - Ele fez uma cara engraçada ao ver minga expressão maravilhada. - Vamos começar a treinar logo.


 

Ele me ensinou um golpe básico para defesa. Depois de me mostrar uma vez, ficamos fazendo ele várias vezes bem devagar e depois aumentando a velocidade. Depois disso ele me ensinou dois golpes de ataque e mais um de defesa. Fizemos o mesmo esquema de ir aumentando a velocidade, e depois ele fazia uma sequência de um golpe de defesa e outro de ataque, ou dois de ataque, ou dois de defesa. Quando terminamos era 16:40 no relógio da parede. Meus braços e pernas doiam e eu queria que Nico me carregasse até a sala pelo menos.


 

-Nem vem, folgada. - Ele disse fazendo sua espada ir para o nada.

-Porque você não me leva?

-Porque, você é folgada e consegue andar até lá.

-Por favor. - Joguei minha espada para o alto e ela voltou a ser a pedra ainda no ar e caiu na minha mão. Havíamos descoberto aquilo quando eu perdi a espada em um dos golpes dele.

-Não. - Ele disse já descendo as escadas.


 

Dei uma corridinha estranha pra poder chegar até ele. Meus braços e pernas doíam, eu estava suada e havia um corte na minha bochecha porque eu não consegui defender direito um dos golpes. Mas na verdade, eu havia adorado treinar e aprender a usar uma espada. Só não gostei muito dos efeitos colaterais.


 

-Minha bochecha tá ardendo. Culpa sua. - Falei enquanto descia as escadas sentindo uma dor pavorosa nas pernas ao fazer isso.

-Não. Foi sua por não defender direito. - Ele esperou eu sair para fechar e trancar a porta.

-Claro. Assim como foi minha culpa ter sido jogada no chão.

-Foi. Sua falta de equilíbrio, não minha. - Nico mal estava suado. Provavelmente ele fazia aquilo sempre.

-Eu tenho um bom equilíbrio!

-Na maioria do tempo. - Ele disse me deixando sozinha na cozinha.

-Ah, cala a boca! - Gritei para ele me ouvir.


 

Bebi dois copos de água antes de ir para a sala. Meu rabo estava desmanchando e haviam cabelos grudados na minha nuca. Meu corpo gritava por um banho frio e algum remédio pra dor. Jason, Hazel e Piper estavam jogados no sofá assistindo Valente.


 

-Se não fosse pelos seus gritos com Nico pensaríamos que você estava morta. - Hazel disse parando de ver a TV e olhando pra mim. - O que que é isso no seu rosto? - Instantaneamente coloquei a mão no corte, sentindo o liquido quente e estranho e um ardor horrível. Fiz careta e tirei a mão devagar.

-Culpa do Nico. - Gritei propositalmente para Nico ouvir.

-Fica quieta. - Eu ouvi a voz dele vindo do quarto.

-Eu vou tomar um banho gelado. - Falei atravessando a sala e parando na frente da entrada do corredor. Me virei pra eles. - Aqui tem alguma coisa pra dor muscular pra mim tocar e desmaiar na cama?

-Tem, mas não é um remédio. - Piper acabou com o meu sonho de dormir até o dia seguinte. - Vai tomar o banho que eu te dou depois.

-Ok. - Respondi baixo e indo tomar o banho.


 

Peguei apenas uma toalha e fui para o banheiro. Como planejei, e com um pouco de coragem, tomei um banho frio. Lavei o cabelo com um pouco de irritação e trabalho para não deixar os potes de shampoo e condicionador cairem no chão. Sai do banheiro com a toalha em volta do corpo e fui direto para o meu quarto.

Enquanto vestia o sutiã bateram na porta. E denovo, e denovo. Até eu gritar.


 

-Quem é caramba?

-Sou eu. - Nico. - E para de falar palavrão. Isso não é decente. Posso entrar?

-Não. A não ser que queira me ver se lingerie. Alias, mesmo assim não entra.

-Melhor eu não falar nada.

-Tarado!

-Eu estava brincando! - Ouvi sua risada ecoar do outro lado da porta e fechei os olhos para um momento de apreciação. - Vai abrir ou não?

-Espera.


 

Vesti o mais rápido possível o macacão azul curto, daqueles que a parte de baixo é um short. Com uma toalha enrolada na cabeça eu abri a porta. Ele estava escorado na batente da porta com cara de divertimento mascarado com um tédio. Mas assim que abri, ele desescorou dali e me olhou.


 

-Quer o que? - Perguntei, sendo direta.

-Ver se está inteira e se quer algo pra dor. - Ele levantou a mão delicadamente, meus olhos seguindo cada movimento seu. Tocou minha bochecha com o corte e passou o dedo pelo corte tão levemente que eu mal senti. Sua mão era fria na minha pele duas vezes mais fria por causa do banho. Apesar disso, senti calor aonde a mão dele tocou. Soltei o ar que estava prendendo inconcientemente. - Bom saber que não foi fundo. - Sua mão saiu dali e eu quis que ele colocasse novamente.

-É. - Murmurei um pouco fora do ar.

-Então, você quer algo pra essas dores nos músculos que você tanto reclama? - Dei um sorriso tímido.

-Não precisa. Piper vai trazer pra mim.

-Pode deixar que eu vou pegar pra você. - Ele disse indo para a sala ou a cozinha no mesmo instante.


 

Enquanto ele não voltava, tentei acalmar as batidas do meu coração que batia como asas de um passarinho. Escorei na batente, fechei os olhos e respirei fundo. Tentei, sem muito sucesso, limpar minha cabeça. Mas não pude deixar de pensar sobre a sensação estranha que senti quando ele me tocou. Deuses, eu só podia estar maluca.


 

-O que está fazendo? - A voz dele me assustou, e lá se foi meu foco para acalmar meu coração.

-Nada. Só estou cansada. - Disse apenas parte da verdade. Não era bem mentir. Ele me entregou um bolinho quadrado. Parecia um daqueles bem-casados. - O que é isso aqui? Um brownie pálido?

-Não. - Ele fez uma cara engraçada e fofa olhando pra mim. - Um brownie pálido, ainda seria escuro. - Dei de ombros. - Não importa. Come.

-Porque?

-Come logo.


 

Peguei o negócio que parecia um bem-casado. O examinei e coloquei ele na boca. Tinha gosto da batata frita de ontem.


 

-Que droga é essa? É algo bem nojento que tem gosto bom né? - Disparei sem mal engolir a comida.

-Não. - Ele fez aquela cara estranha e fofa ao mesmo tempo. - É ambrosia.

-Aquele doce de ovo? - Fiz careta.

-Não! É comida dos deuses. - Eu estava terminando de engolir tudo quando ele falou. Acabei engasgado.

-Buraco errado. - Falei entre tossidas, com meus olhos enxendo de água.

-Quer água? - Ele perguntou segurando um sorriso.

-Não eu to bem. - Respondi me recuperando. - O que isso que eu comi faz? Espero que engasgar e quase perder os pulmões tossindo não seja uma das utilidades.

-Curar. Se você comer muito você entra em combustão.

-Bom saber. - Ri levemente. - Valeu Nico.

-De nada. - Ficamos em silêncio por um tempo. - Eu... Vou indo. Quero dormir um pouco antes do jantar.

-Ok. Eu vou arranjar algo pra fazer.


 

Com aquela estranha despedida, ele entrou no quarto na mesma hora que Leo saiu. O quarto deles era no fim do corredor, quase do meu lado. Ele veio logo me comprimentar.


 

-E ai pequena Sophie.

-Parece que eu tenho cinco anos quando você fala isso. - Ele riu.

-Porque está com essa toalha na cabeça? Tá parecendo a Carmen Miranda. - Dei uma risada que era misturada com uma risada de timidez.

-É porque eu lavei o cabelo, ai o Nico apareceu e eu esqueci de tirar. - Respondi desenrolando a toalha da cabeça.

-Vai fazer o que agora? - Ele cruzou os braços em frente ao peito e encostou na batente da porta.

-Pentear meu cabelo, obviamente. - Ele soltou o ar pelo nariz em forma de risada e sorriu. - Depois, acho que nada. E você?

-Fazer o jantar. - Minha expressão de surpresa deve ter me entregado. Ele riu e ergueu as mãos. - Alguém aqui tem que cozinhar. E eu sou o único que sabe, então... - Eu ri dessa vez.

-Quer uma ajudante?

-Você sabe cozinhar?

-Na teoria. - Respondi e ele deu um sorriso charmoso.

-Ok. Me encontre na cozinha depois.


 

Ele saiu e eu entrei no quarto com um sorriso bobo no rosto. Penteei o cabelo e fui direto pra cozinha, virar ajudante de cozinheiro.


 

-Só pra constar, eu não vou usar avental ou fazer coisas nojentas. - Anunciei entrando na cozinha.

-Não prometo nada. - Ele disse colocando coisas na ilha da cozinha.

-O que vamos fazer?

-Strogonoff de frango. - Ele fez gestos no ar e eu ri.

-Ok então. O que eu faço?

-Lava a mão. - Eu o fiz, virando para ele logo em seguida esperando uma nova coisa pra fazer. - Quer tentar cortar o frango?


 

Eu juro que tentei. Mas o frango era esquisito. Era meladinho e duro ao mesmo tempo. Cortei dois pedaços, com uma cara de nojo indiscreta, antes dele tomar a faca e o meu lugar de mim. Passei o resto do tempo na cozinha apenas mechendo panelas, abrindo pegando e colocando coisas nelas. Eu sabia como fazer, e fiz tudo que não envolvia tocar em frango cru.

Quando terminamos, ajudei Piper a colocar a mesa e comemos. Parecíamos uma família, na verdade. Conversamos bastante, eu e Nico fomos obrigados a contar sobre as brigas do dia, Leo fez piada comigo tentando cortar o frango. Mas em todo o meu tempo, eu nunca havia visto nada tão diferente como aquilo. E apesar de tudo, eu não me sentia mais tão deslocada.


 

-Toc toc. - Leo falou abrindo minha porta que estava apenas encostada.

-Oi. - Respondi girando a cadeira pra poder olhar ele. Ele entrou, olhando tudo com curiosidade.

-Tá fazendo o que?

-Procurando um wifi pra poder assistir filme. Aqui tem um?

-Tem. É o único com números. - Ele apontou na tela qual era.

-E a senha? - Ele me respondeu uma série de números e letras. - Nossa. Os vizinhos devem odiar isso. - Ele riu com a minha piada podre.

-Vai assistir o que? - Ele se sentou na minha cama, ainda bagunçada, e puxou assunto depois de um tempo de silêncio.

-Não sei ainda. - Abri o navegador. - Talvez The Bling Ring.

-Posso ver com você? - Ele soou tímido ao perguntar isso e eu achei fofo. Pensei um pouco.

-Só se... Você pegar pipoca e refrigerante! - Ele riu novamente, do meu ânimo pra comer pipoca.

-Quer que eu pegue manteiga também?

-Aham. - Ele levantou da cama e se espreguiçou.

- O que você não pede rindo que eu faço chorando. - Dramatizou.

-Se não quiser pegar não pega. - Falei rindo do seu drama. - Mas depois não reclama que eu não deixei você assistir comigo.

-Mas que chata. - Ele disse com seu bom humor impenetrável, deixando o quarto para ir a cozinha. Era a segunda vez que ele me deixava sorrindo para o nada, e eu queria saber se aquilo era um bom sinal.


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Notas finais do capítulo

Ok, os recados são os seguintes: LIZZIE MINHA LEITORA FAVORITA DE TODAS AS FICS OBRIGADA POR RECOMENDAR ♥33333
O outro recado está mais para uma pergunta: Quem ai curte TVD e A Seleção?
O outro é: Quem quer participar da fic como personagem secundário, respondam essas perguntas nos reviews
—Nome, apelido
—Aparência
—Um pouco sobre você (tipo, o seu estilo e tal)

BEIJOS E ATÉ A PRÓXIMA ♥333