- Sally, por que não me atendeu antes de ontem e ontem? - ouvi a voz sonolenta de Liam. Ele havia me ligado cedo e pelo jeito não havia dormido bem. 

Enquanto ouvia sua voz, fiquei imaginando porque teria atendido aquele telefone, mas a verdade era que eu tinha resolvido não me importar. Ou pior, fingir que não me importava. 

- Perdi o carregador do meu celular. - tentei parecer seca e falei a primeira desculpa que pensei. 

- Jessica disse que você ligou...

- Claro que disse. 

Liam ficou em silêncio. 

- Está tudo bem com você? 

- Por que não estaria? 

- Você fez de novo. 

- Fiz o que? 

- Essa voz. Totalmente séria. Quem é você e o que fez com a Sally? - riu.

- Só estou cansada, Liam. Está tudo bem.

- Ok, acredito em você. - ficou alguns segundos em silêncio. - Jessica disse que você queria me contar algo... 

- Não era nada. 

- Vamos lá, Sally. Pare com isso e me diga. Não sei o que houve com você, mas... espera! Foi Andrew? Eu acabo com ele. - isso fez com que eu pensasse que Liam só ligava comigo por causa da nossa amizade. 

- Não! Ele deu um tempo. Largou do meu pé e não vamos ficar juntos.

- Então o que foi? E o que queria me dizer? 

- Não é nada, ok? - suspirei. - Eu preciso desligar, tenho que ir na faculdade. 

- Quando estiver melhor me ligue, ok? 

- Está certo. Até mais. 

- Espere. 

Fiquei calada, esperando que falasse algo. 

- Não vejo a hora de te ver. 

Sorri sozinha. 

- Também mal posso esperar. - disse sinceramente, aliviando minha frieza. 

*

Voltei da faculdade e coloquei o Where The Light Is para tocar. John Mayer cantava The Heart Of Life e eu acabei lembrando de quando tinha quatorze anos e meu professor tocava ela durante a aula de violão. Senti falta daquele tempo e de como as coisas pareciam mais fáceis. 

Andei para perto do fogão e abri o forno. Um bolo de limão estava sendo assado e lembrei que era o preferido de Liam. Senti o cheiro do limão e vi que estava quase pronto, mais alguns minutos e estaria perfeito para comer. 

Fiquei encostada na pilastra da cozinha pensando em quando iria vê-lo novamente e em como eu iria me sentir. Fechei os olhos e praticamente me vi na lanchonete no dia em que ele me beijou. Eu sabia que o amava naquele momento. Na verdade soube desde quando o reencontrei no bar, quando passei a noite do acampamento na escola conversando com ele e quando passávamos horas brigando por algo idiota. Na verdade eu sempre soube, mas não admitia pelo simples fato de ter medo e tentar bloquear qualquer tipo de sentimento envolvendo Liam. 

Ouvi a campainha tocar e interromper meus pensamentos. Caminhei pela sala e abri a porta rápido. Algo fazia com que eu pensasse que Liam ia entrar pela porta. 

- Oi, Sally. - ouvi a voz de Andrew. 

- Ah, Andrew. - não consegui esconder minha indignação. 

- Sei que não deveria vir, mas não consegui. Você não me deu resposta e nem nada. - mexeu no óculos, como sempre. 

- Aconteceram algumas coisas, Andrew... - disse abaixando a cabeça. Ficamos em silêncio e um cheiro estranho surgiu no ar. 

- Tem algo queimando? - me perguntou. 

- Oh, Deus. - gritei e saí correndo para dentro do apartamento até chegar na cozinha. Abri o forno e tirei o bolo que estava um pouco preto. 

Observei que Andrew havia me seguido até ali dentro. 

- Acho que foi culpa minha. - tentou rir. 

- Tudo bem, não queimou tanto. 

Olhei de volta para o bolo e senti uma certa pena. Era um receita muito boa que havia ganhado de Jane. 

Voltei a olhar para Andrew, que me encarava em pé perto do forno. O sol que entrava pela janela batia em seu rosto, fazendo com que forçasse seus olhos. Logo desviei o olhar, andando para perto do bolo, mas senti uma mão puxar meu braço. 

Logo estava em frente ao Andrew e praticamente sentia sua respiração. 

- Desculpa, não posso esperar mais por isso. - ao dizer isso, me beijou. Seu beijo era quente e eu tentei me soltar, mas Andrew segurava meu braço forte. 

- Sally? - ouvi uma voz atrás de nós. Finalmente me soltei dos braços de Andrew. 

Ao ouvir sua voz, não acreditei que realmente era ele. Liam estava parado perto da porta da cozinha segurando suas malas e um buquê de rosas brancas, as minhas preferidas. Seu sorriso estava sendo desfeito no rosto e ele olhava para mim e Andrew como se tivéssemos cometido um crime. 

- Eu volto mais tarde. - virou as costas e saiu andando. 

- Liam! Liam, espera. - disse indo atrás dele. 

- O que está fazendo? Isso te importa? - Andrew disse segurando meu braço. 

- Quer saber, Andrew? Sim, me importa e eu vou atrás dele, ok? É melhor soltar meu braço. 

Hesitou um pouco, mas acabou soltando. Seu olhar me dava medo e eu percebi naquele momento que ele não era o mesmo que eu havia conhecido e namorado. 

Me afastei e saí correndo. Liam não podia estar muito longe. 

- Julian! - disse já na portaria. - Viu Liam? 

- O rapaz alto, do cabelo claro e olhos verdes? - fiz que sim com a cabeça. - Saiu agora, entrou no carro e foi embora. Ele parecia chateado e até jogou um buquê de rosas brancas no chão. - disse olhando pra calçada. Meu olhar seguiu o dele e vi as rosas no chão. Aquilo me deu um aperto no coração. 

- Oh, Julian. Não acredito que isso está acontecendo. - passei a mão no cabelo. 

- Tem a ver com Andrew? 

- É, tem. - disse ainda olhando pro chão. 

- Mas você ama Liam, certo? - disse tocando meu braço. Era um velhinho legal. 

- Sim, eu o amo. - olhei-o. 

Julian estava com um papel preto escrito algo e com alguns corações vermelhos desenhados. 

- Liam entregou isso antes de subir no apartamento. Disse que a banda deles iam tocar hoje por causa do dia dos namorados e ao ver que eu uso aliança, disse para que eu levasse minha esposa. Ele tinha um sorriso incrível no rosto. "Cuide do seu amor. Eu vou atrás do meu.". Exatamente essas palavras que ele disse antes de entrar no elevador. Parecia feliz. 

- Você está dizendo que... - estava engasgada e mal conseguia falar. 

- Senhorita Curtis, vá atrás do seu amor. - me entregou o papel.