Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 4
04




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"Por que eu fico acordada e pensando em você?

Eu preciso dormir um pouco.


Amanhã eu tenho coisas para fazer.

Toda vez que eu fecho meus olhos eu vejo seu rosto...


Estou obcecada por você?

Eu faço o meu melhor para não querer você..."

Nessie acorda um pouco tonta, sentindo-se um pouco mal. Provavelmente tinham sido os sonhos, os malditos sonhos. Passara a noite inteira sonhando com ele! Não bastava atormentar sua vida quando acordada, tinha de atormenta-la enquanto dormia agora também?

Desce sentindo a cabeça pesar, sem nem ao menos precisar ter bebido, chegando à cozinha, onde agora, os outros três moradores da casa estavam.

–Bom dia – Murmura baixinho, não querendo chamar muita atenção para si, mas falhando.

–Bom dia filha – Edward é o único a lhe responder, ganhando um sorriso por isso. A menina se senta a mesa, pegando um pão torrado a sua frente.

Hoje estava um pouco mais arrumada, embora comportada o suficiente para seus pais e para o colégio. Usava um shorts curto, preto, que exibiam suas longas pernas bonitas, e uma camiseta cortada na parte de cima, para deixar um ombro caído, comprida, que quase encobria o short.

O cabelo era preso em um rabo de cavalo alto, deixando-o terminar em cachos bonitos e bem feitos, um tênis All Star simples, preto, para completar. Ela boceja, sonolenta.

–Por que todo mundo acordado tão cedo? – Indaga, passando manteiga na fatia, mordendo-a de leve em seguida.

–Tenho um projeto para revisar e vou me encontrar com um cliente – Edward é o primeiro a responder.

–E eu preciso voltar a trabalhar no livro, que tive de parar para escrever a reportagem.

Com isso faltava só Jacob, que ela encara, esperando por uma resposta, sem perceber que um sorriso inocente vinha brincar em seus lábios. Ele a encara de volta, fazendo as sobrancelhas subirem e descerem, divertido.

–Resolvi começar a fazer logo o que tenho para fazer, e quando mais rápido começar, mais rápido termino – Ela concorda, e ele volta a comer, passando o pão de leve no molho que tinha em seu prato.

A ruiva não percebe que ainda o seguia com os olhos, os movimentos quase a hipnotizando. É nisso que sente outro olhar pesar em si, e, engolindo em seco, rapidamente tira os olhos de Jacob e vira-se, lançando-lhe um olhar, antes de voltar-se para o pão torrado a sua frente.

Edward não era sua mãe e se esquecera, teria de tomar um pouco de cuidado para que seu pai não percebesse exatamente que tipo de pensamento passava em sua cabeça, mesmo que fosse contra sua vontade.

E a última coisa que queria no momento, era alguém desconfiando daquilo.

Pega carona com o pai para a escola, mas, durante todo o percurso não tem coragem de dizer nada, pensando na cena do café. Esperava sinceramente que ele não tivesse percebido e, se sim, que já tivesse esquecido.

Desce do carro apressada, dirigindo-se para o prédio de aparência modernista, quadrado, cinza.

–Tchau pai, obrigada – É a última coisa a dizer, antes de mergulhar na multidão de pessoas que compunham seus colegas. Faz o caminho sem reparar nisso, acostumada. Entra na sala, sentando-se em sua cadeira de costume, soltando um suspiro.

Cruza os braços e volta a lamber o lábio inferior, mordendo-o em seguida.

–Nessie? – A voz de Jane a assusta, fazendo-a sobressaltar-se. A loira ri, maldosa, divertindo-se. – Está tudo bem? Você parece – Han – Preocupada?

A menina olha para si mesma por um instante, e depois para a amiga, com a saia xadrez vermelha, a blusinha preta e decotada, o crucifixo no pescoço, as inseparáveis pulseiras e maquiagem preta, ponderando se deveria ou não falar a origem de suas preocupações. Decide-se pela segunda. Era muito cedo para falar qualquer coisa por enquanto.

–Não, estou bem, não é nada.

–Seus pais resolveram encrencar de novo? – A menina ainda tenta, mas a ruiva nega com a cabeça, sorrindo. A loira concorda, encarando-a, estranhando. – E então, tá a fim de dar um rolê depois disso aqui?

A idéia não era exatamente convidativa. Mas, novamente, não era sempre assim? O pensamento de preencher seu dia caminhando parecia monótono, mas a manteria ocupada... Por outro lado, se voltasse para casa...

Tenta bloquear aquilo. Não poderia voltar para casa, teria de sair com Jane, era o 'certo' a se fazer. Sua briga interna a estava deixando louca. Eram tantas opiniões próprias ao mesmo tempo. Nisso, a professora entra e a loira vira-se para voltar-se para o lugar.

–Depois você me responde então – E solta um risinho, sentando-se no lugar de costume.

Infelizmente, Nessie não consegue prestar atenção a aula, pois estava em um duelo consigo mesma. E tudo o que ela menos precisava agora era uma matéria entediante, que não conseguia manter sua atenção.

Tenta voltar-se para si mesma, e distrair-se, mas não sabia sobre o que mais pensar.

Afinal, o que seria menos errado?

Tenta pensar nos dias recentes, nas conversas importantes que tivera, tudo para bloquear seus pensamentos. Estava frustrada novamente. Deveria ser bipolar, não era possível uma pessoa ter tantos humores em tão pouco tempo.

Lembra-se da conversa do dia anterior, e resolve focar-se nele, afinal, era um assunto preocupante, e que ela era a mais interessada.

O que poderia fazer com as coisas que gostava de fazer, e, nelas, o que realmente gostava. O que desenhar, fotografar, escrever tinham em comum? Ainda estava pensando, quando o sinal bateu, e foi só então que notou que a técnica funcionara, e que não tinha sido capaz de pensar em nada além disso durante todo o tempo.

Sorri, vitoriosa.

Jane volta a se aproximar, andando como um gato, lentamente, predatória.

–E então, decidiu-se? – Sabia a resposta antes mesmo que a amiga fizesse a pergunta, embora não quisesse admitir.

–Acho que vou voltar para casa – E ao ver a outra desconfiada, emendou – Minha mãe anda cansada, preocupada, é melhor eu ficar por lá uns dias – E tenta sorrir, mas tem quase certeza que falha. A menina ignora, levantando uma sobrancelha e dando-lhe as costas.

–/-

Chega em casa esgotada psicologicamente, pensar e brigar consigo mesma era um exercício mental e tanto, e nunca imaginou que poderia se cansar tanto ao faze-lo. Sua mãe descia as escadas.

–Oi amor – Cumprimenta-a, indo para cozinha. A ruiva a segue, vendo-a pegar um copo de água gelada na geladeira. A menina contém a vontade de perguntar onde Jacob estava. Se continuasse por aquele caminho, não só seu pai perceberia, como todos ao redor de si, talvez até o próprio Jacob, e não queria isso, queria?

Sorri, fracamente, dizendo que iria se trocar antes do almoço. Naquele dia só as duas almoçam juntas, em silêncio. Bella preocupada com seu texto, Nessie preocupada consigo mesma. O que diabos estava fazendo? Onde estava se metendo? E se deixaria fazer isso? Não podia se entregar.

Sua mente se tornara outro campo de batalha, e, pondo de lado todas as brigas interiores, agora esse era o centro de sua guerra, mas já estava cansada de tudo aquilo.

Acaba subindo para o quarto, mas falha em tentar estudar. No fim, deita-se na cama, pondo-se pensativa, abraçando o travesseiro. Os pensamentos a acompanham, vagando por sua mente, parecendo vazar pelo seu ouvido.

Estava, verdadeiramente sufocando-se em si mesma, tão literalmente, que começa a sentir um pouco de falta de ar pelo nervosismo. Tinha de por um fim a tudo. Concentrando-se no assunto principal que vagava sua mente, critica-se.

Mas afinal de contas, o que esperava alcançar ficando ao lado dele? Não é como se esperasse uma chance, pois sabia que não a teria, por isso, nem ao menos ia tentar. Afinal de contas, vamos lá, ele era treze anos mais velho que ela, treze! E ainda por cima era o melhor amigo de sua mãe. Nem ao menos sabia o que estava fazendo. Era uma idiota por pensar assim, ele nunca repararia nela, uma garota de dezessete anos, que mal sabia o que gostava, o que queria da vida.

Fora que não era como se realmente gostasse dele. Mal o conhecia, o que sentia era uma forte atração, e isso provavelmente iria passar rápido. Antes que percebesse, provavelmente, tudo seria como antes e ela nem ao menos notaria a presença do rapaz.

Por mais incrível que pareça, o pensamento parece acalma-la um pouco, e se sente bem graças a isso. Remexe-se um pouco, reparando em como estava confortável. Antes que percebesse, acaba adormecendo.

Acorda com o som da porta batendo. Olha no despertador, reparando que eram seis da tarde. Senta-se na cama, sonolenta, assimilando brevemente, que nos últimos dias tinha estado no seu quarto mais do que o de costume.

Levanta-se, os olhos se acostumando a escuridão que estava entregue. Anda na ponta dos pés, cuidadosa, a sede falando mais alto. Desce rapidinho, os pés descalços gelando.

Idiota como era, depara-se frente a frente com Jake, que, provavelmente, como a brilhante batida de porta lhe dissera, acabara de chegar. Ela sorri, não se deixando abalar.

–Hei – Murmura, colocando a mão no bolso da jeans, sorrindo. Ele vira-se, um copo de água na mão, e ela não tem certeza, mas acha que o vê engolir em seco, para depois beber dois goles grandes da água gelada.

–Hei – Ele responde.

–Como foi seu dia? – E ela se aproxima da geladeira, o fazendo dar alguns passos para trás, dando-a espaço para abri-la.

–Não consegui definir muita coisa – E ele parece incomodado, mas lhe dá um sorriso cristalino, que atinge seu coração, fazendo-o acelerar. – Espero conseguir mais amanhã.

–Espero que sim – Ela responde, enchendo o copo, e voltando a depositar a jarra de onde viera. – Mas e então, garoto do interior? – E sorri torto, pelo apelido, provocante – O que está achando da cidade grande?

Ele balança a cabeça, inconformado, mas parecendo divertir-se. Ele parecia ter o sorriso sensual grudado ao rosto.

–Não tão ruim.

–Não é tão ruim? – Ela repete as palavras dele dando um passo para frente, para observar a expressão de seu rosto abaixado, passando a encara-lo de baixo. Ele lhe sorri, batendo de leve em seu ombro, afastando-a.

–Pentelha! – Ela ri, levando a mão ao "machucado".

–Auch! – E ria tanto que era difícil leva-la a sério – Isso doeu, sabia?

Ele acena positivamente com a cabeça, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, fazendo-a bater nele, de volta, com força, e ele levanta as mãos, tentando se defender.

–Só uma vez! Eu só bati uma vez! – E os dois caem na gargalhada, parando o que faziam, sem agüentar.

Os dois se mudam para sala, mas continuam a conversar, ininterruptos. Nessie perguntava de quem o moreno pegaria a motocicleta, e se poderia fazê-lo rápido.

–É de um amigo, e acho que a consigo para esse fim de semana – E os dois se sentam em seus lugares usuais, um de cada lado da sala, separados pela mesinha de centro – E aí? O que me diz? Pronta pra sua primeira aula de moto?

Ela se empolga tal qual criança, esquecendo-se completamente de controlar-se.

–Claro que sim, eu nasci pronta! – E pára um pouco, um pensamento lhe ocorrendo – Seu amigo tem problemas se a gente devolver a moto toda destruída?

O moreno faz uma cara de quem não entendia, e ela explica-se.

–Porque você vai estar ensinando a mim, e, embora eu não seja estabanada, tenho certeza de que aquilo ali vai cair vááárias vezes antes de eu sequer conseguir andar dois minutos em linha reta – Ele ri do comentário, a arcada branca e perfeita.

–Ninguém é assim tão ruim.

–Está duvidando da minha capacidade?

–Veremos, veremos então. Sábado, está marcado?

–Marcadíssimo.

–Sobre o que vocês conversavam, tão animados aí? – Bella entrava na sala, fazendo os dois pularem no lugar, a ruiva inclusive levando a mão ao coração.

–Aff mãe, não faz isso, quer me matar do coração? – Mas a mulher só balança a cabeça diante do comentário, voltando a prestar atenção. Jacob é o primeiro a se recuperar, sua usual expressão amigável voltando a ser usada.

–Nada demais, só estávamos combinando a aula de moto.

–Hum, e para quando ficou essa primeira aula?

–Pra sábado! – Nessie responde rápido, atropelando Jacob pelo caminho. Ele a encara, surpreso, e ri do jeito infantil empolgado. Ao ver aquilo, Bella não consegue deixar de pensar que ele fazia bem a garota, afinal, não a via tão genuína desde... Na verdade, não conseguia se lembrar exatamente desde quando, o que a deixa mais preocupada, mas, ao mesmo tempo, faz seu coração acalmar. Convidar Jake para ficar em sua casa tinha sido a decisão correta.

Os dois jantam mais tarde, antes de Edward chegar, e, diferentemente das outras duas noites, essa é dominada pela conversação de Jake com Renesmee. Eles conversavam sobre a aula, ela queria saber cada detalhe técnico sobre motos, e sobre como ele parecia saber tanto sobre elas, o que não podia levar a outro assunto, senão o que deu.

–Quando tenho tempo, costumo remontar carros e motos – O moreno dá de ombros, escondendo um sorriso, vendo a menina tão empolgada.

–Sério? E quantos você já fez até agora?

–Não tenho muita certeza, muitos deles eu vendo ou acabo dando para algum dos meus amigos que me ajudaram. No momento, estou trabalhando em um Volkswagem Rabbit de 1986. Ele está um pouco abatido, mas tenho certeza de que consigo restaura-lo.

–Trabalha nele há quanto tempo? – Pergunta a moça, jogando os cabelos ruivos que caíam para frente, para trás, impaciente.

–Há quase dois anos.

–Nossa, tudo isso? – E se impressiona, fazendo-o rir, rouco.

–Me faltam peças, ainda não consegui terminar por isso.

–Peças caras?

–Pode-se dizer que sim. – E o assunto arrasta-se, até o final da refeição, quando Bella, com um sorriso bonito no rosto desculpa-se e volta a trabalhar.

Jacob precisava fazer um telefonema, o que deixa a Nessie sozinha durante alguns instantes.

–Não, não consegui muita coisa hoje – O ouve dizer no telefone, enquanto se distraía, pousando os olhos em diferentes objetos da sala, as pernas cruzadas como as de um índio. – Vejo se consigo mais amanhã – E ele suspira, fazendo-a constrangida – Eu sei, eu sei, talvez eu tenha de ficar mais... Tento resolver o mais rápido possível – E quando ele parou, compenetrado, ela sentiu que deveria deixa-lo conversar sozinho, e esvaiu-se da sala, silenciosa.

Fica um tempo com sua mãe, enquanto ela escrevia, tentando estudar alguma coisa, até seu pai chegar, quando decide voltar para o seu quarto.

O dia não tinha posto tudo a perder como imaginara a princípio, e aquele fim de semana prometia, mal podia esperar. Queria que a semana simplesmente voasse. Não se sentia assim desde que era uma criança, esperando o Natal ou seu aniversário. Estava desnorteada entre os extremos que podia chegar dentro de tão pouco tempo.

A solução? Não pensar a respeito.

–/-

Na terça-feira, volta a dispensar Jane com a mesma desculpa, ainda por cima avisando-a da aula de moto. A loira começava a ficar irritada e fazia questão de demonstra-lo, tal qual era sua personalidade agressiva. Nessie não se importou, andava empolgada demais, ou introspectiva demais para se importar.

Volta para casa decidida a estudar para um teste que teria na outra semana. E as coisas estavam indo razoavelmente bem, até lembrar-se da estréia de um filme, que queria muito ver. Pensa um pouco em seus horários, e decide sair sexta com Jane, para acalma-la um pouco, mostrar que ainda era normal, que era si mesma. Sábado teria aulas de moto, e ainda não sabia o horário, o que sobrava domingo.

Apressa-se para dentro do escritório da mãe, que ficava no final do corredor, de frente para a escada, do lado do quarto do casal.

–Mãe! – E Bella leva um susto ao ver a menina irromper pela porta.

–O que foi menina? – Ela tinha o cabelo solto e bagunçado, na metade das costas, os cachos rebeldes para todo lado.

–Lembra daquele filme que eu queria assistir? – Mas não dá tempo de Bella responder – O de terror, mistério, sei lá? Ele estréia essa sexta, você não pode vir ver domingo comigo? – E o sorriso da moça se estica, implorativo, fazendo a morena rir um pouco. Em pouco tempo, Nessie estava bem mais parecida ao que era no passado do que jamais estivera recentemente.

–Domingo? – E a mãe abre a agenda no computador, a moça se aproximando para ver, sentando-se à mesa, esperando pela resposta.

–Desculpe amor, mas domingo eu tenho uma reportagem pra fazer, não pode ser semana que vem? – A moça põe um muxoxo, mas não reclama, vendo-se mimada, saindo da sala vagarosamente, contrária ao que tinha entrado. A cena parece cortar o coração de Bella, que sugere uma alternativa.

–Por que você não chama o Jacob para ir com você? – E sorri de leve, traquinas. A moça parece desconfiar por um instante.

–Posso mesmo? – E levanta a sobrancelha, parecendo seu pai. A mãe acena com a cabeça.

–Eu não vejo por que não. – Diz simplesmente. A menina sorri, animada com a possibilidade.

–/-

Quarta-feira não vê nada de diferente. Jane estava meio intempestiva, indecisa de como deveria trata-la, decidindo por trata-la bem e mal, ao mesmo tempo. Novamente, aquilo não a incomoda. O fim de semana prometia demais para ser atrapalhado por isso. Fora que já estava acostumada ao temperamento de Jane, e não seria uma de suas crises que a abalaria agora.

Suas preocupações anteriores? As guardara no fundo de si, decidindo aproveitar o momento, dizendo firmemente pra si mesma que, se queria superar sua atração por Jacob, o melhor a fazer era vê-lo como um amigo, pois assim ele se tornaria, e seus problemas estariam acabados. Estava no caminho certo.

Sua vida, pela primeira vez em muitos anos, parecia completa, e não deficiente, com um buraco em algum sentido.

Àquela noite ela e Jacob decidem jogar cartas, o que foi péssimo para os dois, que tinham uma cara de mentira péssima, não conseguindo ganhar, estendendo o jogo infinitamente. Estavam rindo, quando Edward entra em casa.

–Você é péssimo nisso! – Nessie comenta, lambendo os lábios devagar. Os dois estavam na mesa da cozinha, a menina sem conseguir parar de rir, engasgando de tempos em tempos.

–Desculpa então especialista – E ele estava realmente irritado, pelo visto era do tipo de pessoa competitiva, que detestava perder em jogos, o que só tornava tudo mais divertido – Até agora não te vi ganhar não.

–Só espere mais um pouco, só espere mais um pouco – Provoca, o fazendo grunhir baixo, voltando-se para suas cartas.

O clima estava tão bom, que Bella mudara-se para o andar de baixo, fazendo seus textos na sala, ouvindo as vozes grave e graciosa contrastarem de maneira agradável. Edward entra, encarando-a entre o preocupado e o irritado. A morena percebe imediatamente, levantando-se, largando o laptop em cima do sofá.

–Algo de errado? – E se põe de frente para ele, levando a mão a seus ombros, acariciando-o devagar, tentando faze-lo relaxar. A expressão dele permanece dura enquanto falava.

–Acho que você devia afastar aqueles dois – Comenta, indicando os que se divertiam na cozinha. Bella estranha.

–E por que eu faria isso? – Indaga, realmente não entendendo as preocupações do marido, o que só parece deixa-lo mais irado.

–Você quer saber com todas as letras? Porque vai dar merda, por isso. – A morena achava tudo cada vez mais estranho, mas continua a encara-lo, indagando com o olhar. Ele suspira, acalmando-se – Segunda feira, eu peguei Nessie olhando para ele.

–E daí? – Continuava sem entender.

–Não olhando para ele que nem uma pessoa olha para outra, eu a peguei olhando para ele como uma mulher olha para um homem! Estou dizendo, isso vai dar errado – Aquilo parece fazer um sentimento agonizante e desconfortável surgir no coração de Bella.

–Mas você tem certeza disso? Não foi impressão? – É a vez dele olha-la, descrente. – É porque ele tem feito tão bem a ela, não percebeu? Ela passou a semana inteira aqui e está agindo tão mais naturalmente, e ainda parece se divertir tanto. Ela perdeu aquela constante cara preocupada e distante. Será mesmo que você está certo?

–Você tinha dezessete anos quando Nessie nasceu – Aquilo parece surtir efeito em Bella, que solta o marido, distanciando-se alguns passos, parando de costas para ele. O ruivo, instantaneamente arrepende-se do que falou. – Desculpe, não deveria ter dito isso – Murmura, abraçando-a por trás, suavemente, acariciando os braços delicados, devagar.

–Não, você está certo, é uma possibilidade. É que eu quero tanto acreditar que ela pode voltar a ser quem era que nem pensei nisso. – Algo parece estalar em sua mente – Mas ele não a vê desse jeito, não poderia. Vamos Edward, dê um voto de confiança aos dois, Jacob logo, logo irá embora, e você terá sua tranqüilidade de volta. Deixe Nessie ser feliz, só mais alguns dias – O pedido da mulher era algo inegável, e Edward suspira, abraçando-a.

–Só vamos ficar de olho neles está bem? Para nos prevenir – E ela sorri, beijando-o de leve. A bagunça e a conversa alta continuavam, o que só provava que os dois nada tinham ouvido, um tanto melhor.

–/-

Sexta-feira parece chegar a galope, sem ser esperada. Nessie anima-se com o fato, e, embora tivesse de ir a uma festa hoje para que o dia seguinte acontecesse, pensava que com mais coisas pra fazer, o dia chegaria mais rápido, então realmente não se importava. Fora que era só ir, matar algum tempo, três, quatro horas, e ir embora. Jane não ficaria brava, e ela sabia que não.

Passa o seu tempo em aula dividida, entre a ansiedade e expectativa do dia seguinte e tentando achar a resposta, da mesma forma que antes, para o que iria querer fazer de sua vida.

A menina chega em casa, e decide brevemente que roupa iria usar aquela noite. Não é como se precisasse fazer uma super escolha.

Mata o resto do dia no computador, vendo uma coisa ou outra, informando-se dos horários do filme no domingo, procurando por imagens, lendo textos. Pára na hora do jantar, descendo, desanimando-se, conforme o horário da festa chegava. Só então, percebe que chovia.

Solta um grunhido baixo de frustração.

Teria de sair debaixo da chuva.

Sem nem pensar em quebrar sua promessa, sobe para o quarto, mas se vendo incrivelmente desanimada. Naquele dia Jake ainda não chegara, e estava sozinha com sua mãe em casa. Esta apenas fez uma cara contrariada quando Nessie disse que iria sair, mas não disse nada.

A menina toma um banho rápido, colocando o vestido decotado. Ele era listrado de azul escuro e branco, e soltinho, mas era um mini vestido, quase do tamanho de uma blusa. Por isso, a ruiva coloca um shorts por baixo, preto.

Olha-se no espelho, sem estar satisfeita. Engole em seco ao ouvir a porta do andar debaixo bater. Lança um último olhar a sua imagem, antes de voltar ao banheiro, resolvendo trabalhar um pouco na maquiagem.

Delineador, sombra esfumaçada, cinza e azul, rímel, um batom claro e estava pronta. Sorri, vitoriosa, soltando os cabelos que antes estavam presos em coque, agora se espalhando por suas costas, os cachos, previamente cuidados, irradiando um laranja vivo.

Por fim, põe um salto preto, não muito alto para não se cansar. Estava pronta. Pára a maçaneta, pensando um pouco no que estava prestes a fazer, hesitante, mas antes de ter tempo de mudar de idéia, sai do quarto, o coração acelerando devagar. A verdade é que ela mesma não se reconhecia, mas tinha sido uma coisa de momento, fora que, mesmo se não quisesse, era inevitável não é?

Sabia que não precisava ter caprichado tanto no visual, ainda assim, arranjava desculpas para isso, os pensamentos girando em sua mente, como um tufão. Tinha se arrumado para provoca-lo, na verdade, para ver se conseguia faze-lo, mas não queria admiti-lo.

Volta a hesitar no fim da escada, ao ouvir a voz conhecida, grave e rouca, e sua mãe, conversando. Suas pernas pareciam bambear um pouco, estava nervosa, e é por pouco que não sobe e troca de roupa, mas não o faz, acalmando-se, levando a mão ao cabelo, em uma vã tentativa de se acalmar.

Sem perceber, joga algumas mechas por cima dos ombros, andando a passos decididos, e entrando no recinto, o moreno tinha o rosto virado, falando com sua mãe.

–Mãe – Interrompe a conversação – Você poderia ao menos me levar até o metrô? – As duas cabeças viram-se para si, mas o que quer que Jake estivesse dizendo morre em sua boca, quando ela nota, claramente, seus olhos se arregalarem um pouco em surpresa.

Aquilo lhe fez tão bem que foi preciso toda a sua força de vontade para esconder um sorriso. Tem de morder o lábio inferior, novamente contendo a pergunta 'como estou?'.

Era hipócrita e começava a sentir raiva de si mesma. Em um instante, dizia não querer nada com ele, queria transforma-lo em um amigo, porque afinal, não é como se tivesse alguma chance, mas por outro lado, queria provoca-lo e ficara imensamente feliz ao saber que podia fazê-lo.

–Posso sim, você já vai sair? – A morena pergunta, voltando-se para doce que comia, sem se mostrar abalada.

–Ainda não, ainda tenho algum tempo – Responde, sorrindo, o mais inocentemente que podia, mas o sorriso saindo demasiadamente feliz pelo que sentia.

O moreno limpa a garganta.

–Ela vai assim? – A voz estava mais rouca que o normal, mas ele parecia se recuperar, aos poucos, voltando a achar sua voz.

–Vou, algum problema? – E levanta uma sobrancelha, levando a mão ao cabelo, parecendo um pouco mais feliz do que deveria.

–Você vai deixa-la ir assim? – Ele repete, agora já totalmente normal, virando-se para Bella. A moça dá de ombros, fazendo-o balançar a cabeça negativamente, inconformado. A menina sorri, já vitoriosa e vai para a sala dos fundos.

–Vou ver um pouco de televisão para matar o tempo, está bem? – E sai, um misto de vitória e briga em seu interior. Adorara saber que tinha algum poder na situação, ao mesmo tempo de que, para que fizera aquilo? Não era como se fosse ajuda-la a fazer o que queria.

Senta-se no sofá de couro escuro, na sala que ficava logo depois do escritório de seu pai, aconchegando-se, tirando os sapatos. Liga a televisão, e vagueia um pouco pelos canais, procurando por algum entretenimento. Tudo o que passava era entediante.

Fica assim durante uma meia hora, quando a porta atrás de si abre, o homem alto e de musculação extremamente definida passando por ela.

–Hei – Ele diz, aproximando-se.

–Hei – Ela responde, sorrindo. Ele parecia sem graça, e dessa vez, não tinha nada haver com o jeito que estava vestida. – Tudo bem? Pergunta, olhando-o de baixo, tentando ver algum sinal de preocupação. Ele só sorri de lado, fazendo-a estremecer, o arrepio de costume passando por sua espinha.

–Nada, só queria dizer que o que eu disse lá na cozinha. Não é da minha conta, e eu não queria me intrometer – Era um pedido de desculpas, mas, de alguma forma, a deixou chateada. Queria que ele se incomodasse.

–Tudo bem, não me importo – E sorri de leve, sinalizando o lugar ao lado do seu no sofá, encolhendo-se para o lado. Dessa vez ele sorri abertamente, deslumbrante, sentando-se.

–Fico feliz de saber que você não é do tipo que guarda mágoa – Diz, encostando-se ao estofamento.

–É? Senão o que? Não poderíamos ser amigos? – Pergunta, provocativa.

–Talvez, quem sabe. – E ele ri. – Mas e então? O que está passando de bom?

–Nada, absolutamente nada, pelo contrário! Tudo um lixo – E ele se admira.

–Não quer colocar um filme então? – E ela pondera, levantando-se, encarando a estante a sua frente.

–O que quer ver? – E ele a acompanha. Escolhem um filme de ação, só para poderem conversar enquanto assistiam, sem ter de prestar muita atenção, e, quando esse acaba, repetem o ato.

Jake contava de sua infância, de sua mãe, todo o seu passado, e a menina ria, fazendo comentários casuais ou ácidos em alguns pontos.

–Então, não seria errado dizer que se minha mãe não tivesse se mudado, provavelmente, hoje você seria meu pai? – A pergunta soou errada até seus ouvidos, e, novamente, a incomodou mais do que deveria. Interrompera a narrativa para pergunta-lo, mas uma vez formulada em sua mente, precisou exteriorizar seu pensamento.

Ele faz como que não soubesse.

–Por que diz isso? – E ele a encara fixo, deixando-a encabulada.

–Do jeito que você fala, apesar de ela ser amiga da sua irmã, vocês pareciam indesgrudáveis. – Ele concorda.

–Não deixa de ser – E lhe faz mal de uma maneira bizonha. Só de pensar em Jake como seu pai, seu estômago dava uma reviravolta. Seria algo muito errado, definitivamente, e estava feliz com a situação atual.

Volta a se aborrecer. Não deveria estar feliz, não era o que queria? Pelo menos, repetia para si mesma, e, se necessário, repetiria até estar cansada.

Os créditos do filme começaram a rolar, e Nessie lança um olhar ao relógio, assustando-se.

–Merda! – Levanta-se em um pulo – Preciso ligar pra Jane! Já são duas da manhã, droga! Perdi a hora – E pensa rápido – Será que dá tempo de passar lá ainda? – Falava consigo mesma, mas ele prestava atenção, um ponto de tensão surgindo em sua testa.

Ele puxa sua mão de leve, com a sua, quente. Ela sente um choque elétrico a subir pelo braço e engole em seco, virando o rosto.

–Não acha que está um pouco tarde? Talvez você possa tentar falar com ela amanhã, mandar uma mensagem...

Ela pesa o que ele falara, concordando. Já não queria ir, para começo de conversa. Agora então... E a idéia de continuar a conversar com Jake parece saltar de cada um de seus poros.

Sorrindo, senta-se novamente.

–Talvez você esteja certo. – Ele levanta uma sobrancelha.

–Talvez? Eu estou sempre certo.

E ela volta a rir. Pode ser que Jane ficasse fula consigo, pode ser que tivesse de se explicar por horas, mas a verdade é que, no momento, não poderia se importar menos.


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Notas finais do capítulo

Tal mãe, tal filha, estão vendo? A Nessie também tentou seduzir o Jake, como a Bella fez na lua de mel com o Edward. Kdoaspdospakoapdkopsadasop

E, antes que seja dito, não, o Jake ainda não gosta dela. É só um instinto protetor de quem se importa mesmo, afinal, se conseguiu causar tal reação nele, imagine em outros garotos...

Terminada em: 30.11.2011
Publicada em: 31.07.2013