Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 19
19


Notas iniciais do capítulo

A música do começo é At the Beginning do Richard Marx. (I'm a sucker for this song and I know it



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/382294/chapter/19

19

"We were strangers starting out on a journey
Never dreaming what we'd have to go through
Now here we are and I'm suddenly standing
At the Beginning with you

No one told me I was going to find you
Unexpected what you did to my heart
When I lost hope you were there to remind me
This is the start

And Life is a road and I wanna keep going
Love is a river I wanna keep flowing
Life is a road now and forever wonderful journey
I'll be there when the world stops turning
I'll be there when the storm is through
And in the end I wanna be standing
At the Beginning with you"

Na madrugada de sábado para domingo choveu bastante, amanhecendo um domingo frio e cinzento. Ainda ouvindo o céu rugindo, Nessie coloca uma calça de sarja e um tênis esportivo, uma camiseta razoavelmente justa com estampa Art Nouveau e estava pronta.

O ar ainda estava denso e uma névoa fina e agourenta pairava no exterior.

Durante a noite, sonhara que estava no banco do piano, com Jacob sentado bem atrás de si, a respiração dele fazendo-lhe cócegas no pescoço, enquanto ela lhe ensinava a tocar, os dedos pequenos dela cobrindo as mãos grande dele, conduzindo-o pelas teclas brancas. O sonho a fizera acordar sorrindo. Era uma pena que o dia acabara com seu humor.

–Que dia feeeiooo – a menina reclama, saindo do quarto. Edward já se encontrava esperando na porta e sorri diante do mal humor da filha.

–Bom dia amor – E ele ri um pouco diante da careta desgostosa dela – Sua mãe já está para sair, se quiser ir indo – E estiva o sorriso – com um pouco de sorte o dia ainda clareia um pouco.

Ela grunhe baixo, guturalmente.

–Deus te ouça! – E sai, pisando duro, fazendo o pai rir ainda mais. Acordar cedo, ainda por cima com um dia feio daqueles, ninguém merecia. Queria voltar para sua cama e ficar debaixo das cobertas, quentinha e protegida.

Alcançava o meio do caminho, quando as duas vozes masculinas a sua frente chamam sua atenção, fazendo sua malemolência passar. Era incrível como estava condicionada a sempre ficar atenta a coisas relacionadas a Jake. Será que todo o primeiro amor era assim? Um pouco obsessivo? Ri de si mesma, achando-se tolinha.

Alcança Jake e Seth logo a frente e o segundo logo os deixa sozinhos, com aquele olhar de quem diz 'se comportem crianças'. Sim, definitivamente era isso que dizia seu olhar. Os dois trocam risinhos diante da expressão quase anciã no rosto do menino mais novo.

–E aí? Qual a programação de hoje? – Ela acha engraçada e cômica a postura de Jacob, com os braços para trás, mas não comenta nada, respondendo ao invés de fazê-lo.

–Meus pais querem passar na plantação de morangos, mas antes, quero, ou melhor, preciso conversar com você – E sorri, carinhosa. Ele lhe lança um olhar desconfiado, como se dizendo que isso normalmente não acabava bem. Ela revira os olhos de leve – Não é nada disso e nada de brigas. Preciso dizer algumas coisas, colocar para fora, só isso. Quando todo mundo estiver indo para a plantação, a gente pode ganhar uns dez, vinte minutos.

–E onde a gente se encontra? – Combina.

–Pode ser no meu chalé, no seu – E, ao ver a expressão duvidosa no rosto do moreno, não consegue evitar provoca-lo, maldosa – No carro… – Ele quase faz uma careta ao ouvir e disso ri abertamente. Depois, algo estala em sua mente – Aliás… No chalé principal tem uma salinha de recreação, jogos, esse tipo de coisa que sempre está vazia. O que acha? – Isso parece agrada-lo e ele anui. Ela resolve deixar de lado o fato. Começava a acostumar-se com o horror que ele tinha a tudo aquilo.

Aliás, a perspectiva de estarem há uma semana de revelarem seu segredo a animava e assustava. Finalmente se veria livre, para o bem ou para o mal. O peso que parecia deixar seus ombros com a perspectiva a colocava em uma séria dúvida se realmente não deveria tê-lo feito antes.

Fora que sabia perfeitamente bem, Jake queria ter contado do começo, só não o fazendo para não passar por cima de suas decisões. Ela apreciava o fato, mas agora... Bem, agora não adiantava mais lamentar-se pelo que não havia feito. Havia apenas o presente e o futuro com o que lidar.

O café da manhã do dia é feito com animação. Certa neblina ofuscara o céu, abaixando a temperatura de modo que um casaco leve talvez fosse necessário. Aquela noite, provavelmente os aquecedores seriam ligados nos quartos.

Terminava de comer seu cereal com frutas quando Emmett, que passara a refeição inteira sentado a seu lado, porém direcionando a palavra a Jasper, finalmente resolve lhe dignar um pouco do seu tempo.

–E aí pirralhinha? Eu soube do seu pai que você anda tendo aulas de moto, é verdade? – E ele fazia uma expressão toda formalmente debochada, como se aquilo realmente importasse para ele. A ruiva revira os olhos, afastando alguns cachos do ombro.

–E que tal algumas aulas de tombo? – É extremamente sarcástica, mas aquilo faz o homem alto cair em uma boa gargalhada, não esperando pela descrença descarada.

–É sério? – Quando ela não muda de expressão ele ri ainda mais – Fique sabendo que eu não esperava nada diferente de você piveta – E ele faz questão de bagunçar os cabelos dela, fazendo-a bufar. Jasper, que também assistia a cena sorridente, também o acompanha, vendo a expressão que ela é obrigada a montar.

Seus tios eram terríveis. Ela dá uma cotovelada em Emmett, com força, sabendo ser praticamente impossível, com sua força, machuca-lo, dessa vez vendo-o franzir o rosto.

–Puxa Nessie, isso é tudo o que você tem? Eu esperava tão mais de você, tem certeza que você anda comendo direito? – E quando ela desiste e resigna-se a voltar a arrumar os fios acobreados, todos em desalinho, os dois rapazes riem mais.

Nessie anda sorria de leve quando levanta o rosto e, por acidente encontra na mesa a frente da sua, os olhos de Jacob. Ele tinha uma expressão séria e um pouco introspectiva. Em um movimento automático, a ruiva quebra o contato, sentindo o coração acelerar.

Era difícil estar em um ambiente tão conhecido, tão seguro e ter Jake e o relacionamento secreto que tinha com ele acrescentado a lista. Tem de conter-se para não olhar em volta e ver se alguém mais assistia. Tinha se transformado em uma neurótica.

Depois de mais alguns pedacinhos de tortas, bolos e até alguns biscoitinhos, Nessie se via satisfeita e pronta para oficialmente começar o dia e qualquer programação que estivesse na agenda.

Alice e Rosie já haviam se aproximado estavam paradas a seu lado, conversando banalidades do dia a dia, sobre seus trabalhos e dificuldades. Era um pedaço de suas vidas que Nessie ainda não entendia, mas que, aos poucos, a chateava por não ter nada para acrescentar.

Bella ainda estava parada ao lado de Edward e os dois pareciam conversar algo de certa importância, uma vez que se reclinavam um na direção do outro para falarem. Talvez Nessie estivesse apenas lendo demais a situação e os dois estivessem apenas aproveitando para namorar um pouco.

O pensamento a agrada e sorri de leve, satisfeita, inconsciente.

Os quatro rapazes estavam juntos, mas logo Seth assume e vem em sua direção. A menina lhe dá um sorriso caloroso de acolhimento e os dois saem da porta da recepção para o ar livre, logo do lado de fora, no chão de pedregulhos.

–Até que está mais divertido do que eu imaginei – Ele começa.

–O que? – Ela estranha.

–Isso aqui – Ela faz uma expressão de 'continue', as mãos no bolso da calça. – Quando me falaram que a gente viria para o interior, para relaxar ainda por cima, tudo o que eu conseguia pensar era 'Por que fomos deixar Forks?' É sério, talvez você não se lembre, porque a última vez que visitou seu avô faz muito tempo, mas aquilo lá é o interior, não precisamos visita-lo para entrar em contato com ele, sério, sério! – Nessie ri um pouco, notando que o ar que saía de sua boca começava a esfumaçar-se diante de seus olhos, condensado. Talvez realmente já devesse pegar algo para usar – Mas não é tão ruim, é divertido, tem vários programas, cavalos e talz, até piscina, se alguém for louco o suficiente para entrar em um tempo como o de agora.

–Tá vendo? Você tem de largar sua mente preconceituosa, isso não faz nada bem! – Ele lhe sorri, agindo exatamente como ela agira a pouco e acotovelando-a. Só que dessa vez, dói.

–Aiii, seu lazarento! – E ela lhe dá um tapa no braço – Doeu! – E os dois se olham e riem, infantis. Nisso, o grupo deixava a recepção.

–Vamos indo pessoal? – A voz de fada de Alice se faz ouvir, chamando a atenção dos dois, que a seguem pelo caminho de volta para os quartos. Pelo visto de fato, ninguém mais previra a nova temperatura.

–-/--

Já antecipando o sentimento de pertencer a um livro de Jane Austen, Nessie adianta-se para o local combinado com Jake. Gostava daquele vento fresco nos seus cabelos e gostava de conseguir ouvir o relinchar de cavalos ao longe, assim como do cheiro único de grama e terra, que só lugares do interior pareciam ter, a umidade gostosa, pequenos barulhos e caprichos da natureza.

Talvez a única coisa que ficasse fora de lugar ali fossem suas vestimentas, a jeans skinny, preta, a blusa roxa, caída de um ombro e os tênis Converse, desgastados, seu par favorito. Por um momento se pergunta o que aconteceria se voltasse no tempo vitoriano, usando aquelas roupas. Certamente causaria um certo burburinho.

Isso a faz rir um pouco. Essa era Nessie Swan diria sua mãe, sempre causando, não importa aonde.

Sua mente volta à imaginação, devido ao livro largado em sua cabeceira. Sua mente ativa visualiza Jake em uma roupa e época, o cabelo preso para trás, a postura pomposa, a roupa cheia de frisados. A imagem mental a faz voltar a rir.

E ainda ria, quando alcança o lugar combinado.

A cabeça de Jacob levanta-se naturalmente da revista que folheava, do sofá onde estava sentado, para a menina de cabelos acobreados, fazendo-o sorrir ao vê-la feliz.

–O que aconteceu? – Inquere, quando ela se senta a seu lado, depositando um leve selinho em seus lábios, a mão indo naturalmente para o seu joelho, gesto cotidiano que não lhe passa despercebido e lhe agrada. Gostava da intimidade entre eles, confortável.

–Nada. Só pensando sozinha. – E o sorriso dele de lado se estica, mostrando os caninos pontudos, fazendo o estômago dela dar aquela volta, que ela tanto gostava. Era bom saber que ele ainda conseguia mexer com ela assim.

–E então? Por que marcamos esse pequeno encontro às escondidas? – Nessie faz uma feição desentendida.

–E já marcamos algum às claras? – E levanta uma sobrancelha, que ele devolve com uma levantada da dele. Ela suspira, largando da brincadeira. Mexe de leve no pescoço em um gesto nervoso, preparando-se, até se afastando um pouco dele, o que chama sua atenção.

Ela se senta de lado no sofá, virada para ele, uma perna dobrada, como a de índio, a outra, a direita, solta, apoiada no chão a seu lado.

–Bem, eu sinto que precisava esclarecer algumas coisas, te contar sobre mim. – E ela parecia tão nervosa e embaraçada, que começava a fazê-lo nervoso também. Ele sentia a expectativa formando-se no ar. Para onde tudo aquilo estava se conduzindo?

–Nessie… – Mas ela o interrompe com o olhar, séria.

–Acho que preciso colocar isso pra fora. Um momento – E respira fundo, antes de começar. – Quando você me conheceu, eu estava em uma fase ruim da minha vida, perdida, sem saber direito para onde ir, achando que a vida não tinha muito objetivo.

Aquilo o deixa ainda mais alerta, atencioso e intrigado.

–Eu tinha um vazio dentro de mim, era como se, mesmo que estivesse com outras pessoas, sempre tivesse algo faltando. Até que eu conheci você.

Ele ri, sem graça.

–Eu não fiz nada, você exagera.

–Deixe-me terminar sim? – E ele se cala, percebendo como ela falava sério – Não estou falando nada daquelas besteiras, você completa o que faltava, minha metade e todas essas merdas que as pessoas dizem. Você apenas me mostrou as coisas de uma maneira diferente. Nós somos muito parecidos, você e eu. Teimosos, impulsivos. Você foi meu amigo quando eu mais precisei de um...

Ele genuinamente estava tão embaraçado que não sabia nem o que dizer, tão lisonjeado se sentia naquele momento.

–Talvez você tenha razão, mas mesmo assim, foi você que me mostrou que tudo que eu precisava era amadurecer um pouco para olhar a vida com outros olhos, que sempre iam haver pessoas que se importavam comigo e alguma coisa interessante para se fazer com o meu tempo e que valia a pena sim, mesmo que eu não conseguisse ver na época. Você me ensinou o que fazer para preencher meu vazio – E depois riu de si mesma – Você está certo, você me mostrou o que fazer para preenchê-lo – E sorriu, meiga, encostando-se a ele, sentindo seu calor alto e usual, sentindo quando ele a puxava para mais perto, abraçando-a de leve, passando a acariciar sua cintura. Ele fazia dela uma pessoa melhor, ele a ajudava a crescer.

Sem saber, ele acariciava seus cabelos, embaraçado, pois com ela, também sentia que algo que faltava havia sido achado. Ela o fazia uma pessoa melhor, ela o ajudava a crescer.

Antes, ele também se sentia sozinho, mas agora, com ela, ele sentia que nunca mais precisaria ser novamente.

Naquela tarde, depois de muito se abraçarem e curtirem a simples presença um do outro, se despedem com um abraço gostoso, um beijo quente e desejoso, íntimo.

E naquele dia, quando Jake a pressionou entre ele e a parede, foi com tanta calma que a deixou quase enfurecida, enquanto massageava os lábios dela com os seus, segurando seu rosto, controlando o ritmo dos toques, das ardências.

Ele ia com cuidado, sentindo-a plenamente contra si, toda sua pressão.

Ela sentia que havia tanta tensão entre eles, que achava que fosse explodir. Ele a puxou com delicadeza, encaixando o quadril dela contra si, segurando-a pelas laterais de seu corpo, apertando-a com força, marcando sua pele.

Se consumiam devagar, queimando-se um contra o outro, enlevando-se na companhia amada.

–-/--

Aquela tarde, talvez pela felicidade que lhe espalhava pelo peito, talvez pelo frio desagradável que pontuava o céu platinado, Nessie não tem vontade de juntar-se a sua família na plantação de morangos e, por isso, acaba em uma mesa de piquenique, com Seth e Jake como companhia.

Os três conversavam assuntos leves e bestas e riam bastante enquanto esperavam os outros terminarem a colheita das frutas vermelhas.

Eles falavam de antigas séries de televisão, de desenhos animados, quadrinhos, livros, músicas e videogames, brigavam, discutiam e concordavam sobre personagens, tramas, diretores, motivos, gráficos e tudo o que podia ser discutido.

Muitas vezes Jacob simplesmente inclinava-se e desfrutava a discussão acalorada entre os dois mais jovens, empolgados como eles pareciam ficar, divertindo-se.

–Como assim você prefere a versão remasterizada de Star Wars? – E Nessie parecia injuriada, enquanto Seth tentava explicar-se, sem sucesso – Eles tiraram o antigo Darth Vader se despedindo do Luke, colocaram o nome Anakin, que nunca nem tinha existido, é ridículo!

–Mas deixa as coisas muito melhor explicadas!

–Ai Seth, Seth! Estou inconformada! – E ela levanta-se, indo em sua direção. Ele, agindo por instinto, segura ambas as suas mãos, fazendo-a começar a rir.

–Você ia me bater não ia?

–Auch! Então é isso que você pensa de mim? – E ela ria inda mais – Acho que agora você nunca saberá! – E ela tenta desvencilhar-se, para lhe fazer cócegas. Dessa vez, ele também começa a rir, enquanto tentava contê-la. Ela lhe empurra com o quadril, conseguindo soltar-se e sentando-se em seu colo. – Pronto, fique aí e pense sobre os seus erros! – Ela diz, rindo e sentindo-o gargalhar embaixo de si.

Os dois ficam assim durante mais alguns minutos, entre risadinhas e insultos, até se acalmarem, a energia infantil pouco a pouco se dissipando do ar, embora o clima divertido e leve ainda permanecesse.

Jake apenas os observava, com uma sobrancelha erguida e um sorrisinho no rosto.

Ele espera um tempo mais passar e a conversa retomar antes de jogar, casualmente.

–Você sabia que alguém vendo vocês dois assim, poderia até ter uma visão errada sobre o que está acontecendo? – Os dois jovens o encaram, contendo riso. Nessie levanta-se. Era uma provocação boba e infantil e Nessie sabia que ele não queria dizer nada por isso, mas aceitou a provocação, divertindo-se.

–Talvez eu até tivesse, mas não vejo motivo, uma vez que você está aqui – E olha para Jake, provocativa, que ri de volta. Os dois trocam olhares e ela se aproxima, sorrindo. Ele a puxa para o colo e os dois trocam um beijo longo. Seth pigarreia, quando os dois se separam e a moça passa a acariciar com a ponta dos dedos o rosto másculo e bem definido, o contorno dos lábios, do queixo.

–Vocês são insuportáveis, sabiam? – E os dois param para encara-lo, surpresos, para em seguida cair em uma gargalhada gostosa – O que foi? É verdade!

Isso só os faz rir mais. Era um completo acesso de bobeira.

–E imagina se seus pais chegassem agora? – Aquilo chama a atenção dos participantes, que param de rir tanto, para a vitória sentida de Seth.

–Relaxa, eles ainda vão demorar na plantação de morangos, nunca os vi saírem de lá antes das quatro, cinco da tarde – E ela pisca de leve.

Mesmo assim, por mais distantes da plantação de morangos que estivessem, por via das dúvidas, não houve mais beijo ou colo naquela tarde.

–-/--

–Até que tivemos uma boa colheita não é? – Bella exclama, extasiada, olhando para a cesta de morangos, fazendo Alice rir.

–Quem diz uma coisa dessas menina? Parece até que viemos do século passado! – A morena lhe lança um olhar mal humorado, mas as duas riem um pouco. De fato, com várias cestas cheias, todos pareciam satisfeitos com a atividade do dia.

A tarde se aproximava sorrateira e com ela vinha um vento frígido, que balançava cabelos e levantava roupas, entrando por debaixo de tecidos, impiedosamente cruel.

–Eu devia ter trazido um agasalho – Nessie resmunga, friccionando as mãos nos braços, de maneira a se aquecer.

Instantaneamente Jake tira o agasalho, cobrindo-a. Ela lhe sorri, surpresa e agradecida. Ela, Seth e Jake andavam um pouco a frente e não percebem o olhar um tanto o quanto desgostoso que Edward lança a cena, suspeito.

Simplesmente havia alguma coisa ali que o desagradava, embora muitas vezes nem soubesse dizer o que. A suspeita nascera e parecia florescer cada vez mais, sem espaço para a dúvida.

Os toques casuais, o carinho excessivo, tudo parecia fora de lugar. Era simplesmente demais. Ele resmunga uma coisa para si, respirando fundo.

–-/--

A bagunça que se faz antecedente a partida nunca foi algo que atraiu Nessie e ela se perguntava como faria quando precisasse ir para a faculdade. Enquanto seus pais fechavam a conta, pagavam, arrumavam seus pertences e deixavam tudo no carro, rotina que provavelmente era imitada por todos seus amigos, Nessie achou um lugar confortável e afastado. Uma plantação de roseiras. O local era lindo, como um jardim longe das balbúridas do próprio hotel.

Rosas vermelhas, champanhe, rosas cor de rosa e amarelas, por todos os lugares, com um cheiro inebriante e uma aparência de veludo quente, que a fazia desejar toca-las.

Contrária a seus desejos, senta-se em um balanço de madeira, com cheiro de chuva e espaço para duas pessoas, precisamente localizado no meio do jardim, em um espaço aberto.

A menina fecha os olhos, sentindo uma leve brisa fresca, carregada do cheiro das flores e de mato, grama. Podia ouvir insetos voando por perto, alguns pássaros e sentir o sol no rosto, banhando-a. Ali era alguma espécie de santuário.

A menina abre o livro e estava tão entretida em uma de suas passagens, não nota a moça, até que a mesma estivesse bem a sua frente.

–Se refugiando? – Abaixa o livro, encarando-a. O sol estava tão branco e forte que não consegue vê-la, apenas seu contorno contra a luz. Leva a mão ao rosto, parcialmente cobrindo os olhos, espremidos. Alice estava a sua frente e solta um pequeno risinho, sentando-se. - Estava me perguntando onde você estava.

Renesmee sorri e a moça tira uma mexa que lhe caía no fronte.

É um gesto tão natural, que a pega desprevenida, fazendo-a sorrir.

–Está tudo bem?

–Sim, só não gosto dessa parte, da bagunça. Já deixei minhas malas arrumadas e tudo, estou esperando apenas meus pais me chamarem para ir embora.

–Eu sei, eu sei. Só faz tempo que a gente não conversa e quando vi que você tinha sumido, resolvi procura-la. – E dá mais uma risada – Espero que não se importe. Nessie nunca se importaria, Alice era quase uma de suas melhores amigas, uma segunda mãe, nunca se importaria. A moça encara o livro que repousava em seu colo. – Persuasão?

–Sim, estava com vontade de reler e o peguei – Dá de ombros e a de cabelos repicados concorda.

–Está tudo bem mesmo? – É a vez de Nessie de rir.

–Sim, está, por que?

–Às vezes te vejo tão quietinha, fico preocupada. Você já tem idade para problemas mais sérios – E as duas trocam um olhar maroto, deixando o tema subentendido, começando a rir. E é quando a atinge. A falta que aquelas pessoas fariam a sua vida a partir do ano que vem.

Não queria nada daquilo, aquela vida a ser construída, aquele futuro obscuro e desconhecido, amedrontador. Pela primeira vez, em muito tempo, tem vontade de chorar, quando pensava no que viria. Como uma garotinha assustada precisando de colo.

E exatamente por isso, sabia que precisava seguir em frente, enfrentar seus medos, crescer e se deixar amadurecer. Por que tudo aquilo agora lhe parecia tão difícil? Por que sentir era tão difícil?

Amava tanto, mas tanto todos eles. Nunca colocara a reparo a imensa falta que todos fariam, de forma toda especial a nova etapa de sua vida. Desesperadamente temia não estar pronta.

Engole em seco e brinca com as mãos.

–Alice? – Chama, baixinho, fazendo a que encarava algo a sua frente, totalmente imóvel, virar-se para encara-la, o vestidinho curto e rodado que usava fazendo barulho ao raspar contra sua pele. – Vou sentir sua falta. – Ela não precisa explicar, sabia que não precisaria.

–Eu também – As duas se encaram apenas por mais um instante e Nessie tem certeza, se Alice resolvesse abraça-la, choraria. Ao contrário disso, a pequena moça põe-se de pé, em um saltito e espreguiça-se. – Está ficando tarde – Ela encarava algo além, para frente, sem encarar a menina a seu lado e Nessie se pergunta se ela também sentia vontade de chorar – É melhor eu voltar e ajudar o Jasper, senão ele vai ficar louquinho da vida. Você vem? – Mas quando a moça vira para encara-la, não havia nada além de ternura em seus olhos, fazendo-a se perguntar se não imaginara tudo aquilo.

–Vou ficar mais um pouco – Alice anui e, em poucos instantes, estava sozinha. Agora carregada com uma estranha fumaça de medo, nostalgia e expectativa, balança-se para frente e para trás no balanço, sentindo-se trêmula, pequena e insegura.

Um torvelinho surgira em sua garganta.

Um minuto, dois minutos, quase três.

–Ness? – O rosto dela ricocheteia para cima, em um movimento brusco. Em algum lugar dentro de si, ela sabia que ele viria, ele sempre vinha quando ela se sentia assim. Ela se levanta e o abraça, sentindo os braços dele entornarem-se em sua cintura. O calor dele era familiar e reconfortante e por agora, era tudo o que precisava.

Ela afunda o rosto em seu peito, não querendo fungar ou chorar, de qualquer forma.

–O que aconteceu? – A voz dele era doce e macia, uma rouquidão suave, que ela tanto amava.

–Nada, não aconteceu nada – A voz embargada a denunciava. – Só estou com medo, com muito medo de tudo. Me abraça com força? – E ele não diz mais nada, apenas ficando onde estava, segurando-a com mais força junto a si, encaixando o rosto contra a dobra de seu pescoço. Ela sentia sua respiração e a dela própria.

Os segundos dobram-se em horas infinitas. Queria continuar exatamente ali, para sempre. Em todos os aspectos, estava perfeito.

Era engraçado pensar como não reparara. Como não reparara o quão perfeita era sua vida até ele aparecer. Ele tinha aberto seus olhos para toda a realidade que a cercava e agora, tarde demais, percebia o que perdia. O que teria de, mesmo que por pouco tempo, deixar para trás.

Ele a ajudara a amadurecer e a enxergar e por isso, ela sempre lhe seria grata. Ela só o solta quando sente-se segura, todo o tremor deixando o seu corpo, escorrendo por seus pés.

–Melhor? – Ela acena e ele mexe em seus cabelos, depositando um beijo suave e cálido em sua testa. Ela se sente ronronar. Jake afasta-se alguns passos, pegando uma rosa de um rosa claro, bonita. Ela sorri, colocando uma mecha atrás da orelha, aceitando o presente. Nunca recebera uma rosa antes.

Ele se senta e a puxa de leve, pela mão. Ela se senta também, acomodando-se contra ele no balanço, recostando-se em seu peito, encaixada entre suas pernas. Ele passa a acariciar seus cabelos e ela fecha os olhos. Sua tristeza se evaporara.

Na calmaria, ela remexia na rosa entre suas mãos. O silêncio imperava o local, sendo quebrado apenas pelo ocasional canto de insetos e pássaros menores. Nessie suspira.

Aquele lugar de fato era um santuário. Aquele lugar era um santuário e, naquele momento, sua vida estava perfeita.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Terminada em: 02.01.2015

Publicada: 10.01.2015

Olá pessoas! Desculpe a demora, sei que não atualizei mês passado, mas a correria acabou sendo tanta que não tive tempo, mesmo mesmo, nem de acabar o capítulo, muito menos publica-lo. Como vocês podem ver, chegamos aquele terrível ponto onde a parte publicada alcançou tudo o que eu tinha escrito, o que é péssimo porque eu demoro muuuuito para escrever, geralmente e logo, para publicar. Ainda assim, tentarei manter o ritmo, considerando que estamos a quatro, no máximo cinco capítulos do final da história :)

Obrigada a todas as meninas que acompanham e comentam, sem vocês a história não seria nada nada nada! Sério mesmo, de coração. ^^

Quanto a Wind Rose, minha nova fanfiction envolvendo JakeNess, ela está muito no comecinho, e quero ver se começo a publica-la assim que terminar de publicar esta aqui. Quem sabe publique o último capítulo e o primeiro da próxima ao mesmo tempo, o que acham? :)

Anyway!
Espero vê-los mês que vem!
Mais uma vez, obrigada pelo carinho e atenção, espero que tenham tido um excelente Natal e virada de ano! :)
Até a próxima!
See u folks!
XoXo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Serendipidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.