Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 17
17


Notas iniciais do capítulo

A música do começo é Run Away do Live okayy? ;)



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17

"'Looks like I've lost my will to carry on, my friend' she said
And you can hear it in my whispered cries for love
I need your blissful touch to carry me away again
So can we roll tonight, roll through your desert, can we start over and just...

Run away, run away tonight
It aint no victory, but I don't care, I don't care if its wrong or right
We can just run away, run away tonight..."

Acorda sentindo mãos acariciando seus cabelos. Ressalta-se, abrindo os olhos, apenas para se deparar com sua mãe, sorrindo-lhe de leve, enquanto passava a mão pelos cabelos de cachos bem formados.

–Mãe? - A voz era grogue e engasgada.

–Sim?

–O que você está fazendo?

–Eu senti saudades, você lembra quando eu te colocava todos os dias na cama? O que aconteceu com aquela época? Como você cresceu tão rápido? - E disso Nessie sorri ainda anestesiada, escondendo a cara no travesseiro. - O tempo passa tão rápido - E a morena parecia distante, enrolando algumas mechinhas nos bonitos dedos compridos. - Desculpe-me, atrapalhei seu sono, vou te deixar dormir - Mas a menina segura a mão da mais velha, não permitindo que saísse.

–Não vai embora - Diz, e mexe-se, apoiando o rosto no colo da mãe, sentindo seu cheiro gostoso e familiar. Sentia tanta saudade daqueles tempos, do colo de sua mãe. Fecha os olhos e volta a cochilar por alguns instantes, permitindo que ela lhe fizesse carinho e a fizesse se sentir amada.

–Você precisa ir pra aula - A mãe quase sussurra e Nessie ronrona em resposta, grunhindo em seguida.

–Mããããããeeee... - Geme, levantando o rosto e encarando a morena - Por que você tinha de estragar tudooo? - E vendo a manha da menina, Bella ri, beijando o rosto de sua menina, deliciada.

–Vamos, senão você se atrasa. - Nessie ainda tinha os olhos inchados e sentia-se particularmente preguiçosa. Sua mãe levanta-se e ela faz uma careta, fazendo a outra cair na gargalhada - Deixe disso menina, vamos!

Nessie bocejou e espreguiçou-se, bagunçando os cabelos no processo. Levanta-se e vai ao banheiro, lavar o rosto e aprontar-se, sem se esquecer de cobrir a marca, ainda incrivelmente visível, agora até mais forte, que Jake lhe deixara antes. Quando volta, sua mãe já havia descido. Troca-se rapidamente, colocando uma jeans e uma blusa aberta nas costas, estampada com uma frase de música na frente. Veste um tênis All-Star e descendo as escadas, vai prendendo o cabelo em uma trança embutida, mantendo-o em ordem, simplista.

Senta-se a mesa. Edward lia uma revista de arquitetura e Bella se servia de café.

–Bom dia pai - E a menina lhe beija o rosto. Ele lhe lança um sorriso de lado. Os três tomam o café em silêncio. Do lado de fora já era possível ouvir os ônibus escolares e vozes de crianças que corriam para pega-lo. Era uma cacofonia de mochilas de rodinhas no chão, gritos, risos, buzinas e rodas. Era o som rotineiro de todas as manhãs. A Nessie, particularmente, lhe agradava.

Suspira, cheia. Passara o final de semana pensando no encontro com Jake. Com a chegada de Seth, que decidira ficar até que Jake fosse embora, dentro de pouco tempo, seus pais, Rosalie e o bebê e mais a ajuda de alguns trabalhos escolares, não o havia visto desde então.

Segue pegando a mochila e indo para a escola. Sentia-se bem. No carro, de carona com o pai, uma música de clima aprazível tocava no rádio. Os dois não trocaram palavras.

–Bom dia querida - E ele aproxima-se dela, inclinando-se e beijando sua bochecha quando chegam. Ela sorri agradecendo e desce do carro, batendo a porta. Corre para o colégio, sentindo o sol forte na cabeça.

Entra jogando o fichário da mochila na mesa, assim como o estojo. Hoje seria um bom dia para se matar aula.

–Janeeee - E dá um chamado longo, quando entra na sala, a amiga já sentada, toda jogada com seu visual rocker, folhando uma revista sem na verdade, se interessar por ela.

–Tudo isso é tédio? - E a loira lhe lança um de seus costumeiros sorrisos maliciosos, mas já muda o assunto a seguir - Você pode me ajudar? Preciso retocar o meu cabelo hoje e estou morrendo de preguiça de fazer tudo sozinha.

Nessie anui e se senta, bocejando e voltando a se espreguiçar.

–E aí? Como foi seu longuíssimo dia sem mim? - Como sempre, Jane não parecia muito interessada na pergunta, seus olhos se voltando para a revista. Nessie apoia o rosto na palma direita, o corpo levemente virado em direção da amiga, as costas dobradas para frente.

–O meu, nada interessante. Lembra do menino que eu te falei? - E Nessie volta a assentir, mesmo que Jane não estivesse vendo. - Então, dei um fora nele, ele estava querendo uma coisa mais séria e já estava me dando nos nervos. Ele estava achando que podia saber onde eu estava, onde ia com meus amigos e essas coisas, então eu disse chega e dei um pé na buda dele. - E vira a página com força, com raiva contida.

Nessie segura um risinho e pensa, pela primeira vez, que seria bom se Jane fizesse algo para canalizar sua raiva contida. Ela provavelmente precisava.

–O que foi? - E a menina se volta para ela, ainda cheia de cólera, os olhos pesadamente maquiados um pouco irritados, provavelmente pela mesma.

–Nada - E a ruiva levanta as mãos na altura do rosto, sinalizando paz.

–E você nojenta - E ri um pouquinho. Como foi seu dia? - Haviam quebrado aquela barreira de todas as manhãs, os maus temperamentos e tudo, o que no fim, mais a tornava amigas, sabendo contornar-se, sem geralmente se irritarem, sabendo exatamente o que deviam ou não dizer para inflarem uma a outra ou se acalmarem.

–Quer mesmo saber? - E a menina levanta uma sobrancelha, toca sorrisos. Aquilo desperta a curiosidade da de longos cabelos loiros, que prende sua atenção total a ela, ansiosa.

–Você finalmente... - Mas não termina, quando Nessie revira os olhos. - Então o que...? - Mas também não termina essa pergunta, quando Nessie puxa algo de dentro de uma pasta da mochila, ao seu lado, no chão. Jane tentava ver o que era, sem sucesso, quando a moça lhe passa o papel.

Era um conjunto de fotos daquelas máquinas de fotografia, que se encontravam em parques ou coisas assim. A loira levanta sobrancelha, puxando-as para si para vê-las melhor, as várias pulseiras se mexendo sobre o pulso fino no percurso.

Eram fotos de Nessie e Jake. Eles riam, conversavam, faziam caretas e se beijavam. Jane ri um pouco, balançando a cabeça negativamente.

–Eu gostei dessa aqui - E sinaliza a foto mais embaixo. Nessie cora instantaneamente.

–Veio uma foto a mais, a gente não fazia ideia de que a máquina ainda estava tirando! - E parecia tão sem graça, que Jane ri com gosto. Na foto, Nessie e Jake pareciam perdidos em um senhor torpor corporal, a mão do moreno até podendo ser vista, por baixo da blusa da menina. A expressão de deleite dela, enquanto ele lhe beijava o pescoço.

–Isso podia ser foto de propaganda, sabia? - Nessie emburra e puxa as fotos da mão da amiga, que cai na gargalhada, com deleite, para a insatisfação da de cabelos presos.

–Você é um saco menina! - E murmura, irritada, fazendo-a rir ainda mais. Nisso, a professora entra, com um bloco na mão. Eram as provas corrigidas. Sem pedir para que todos se sentassem, ela puxa do saco preto os papéis, chamando o primeiro nome, depois o de Nessie, aparentemente sem nenhuma ordem.

A ruiva se levanta para buscar a prova. Nisso, algumas meninas passam ao lado de sua mesa, conversando e sorrindo, parando um pouco para ver as fotos, sem encostarem nelas.

–Então esse é o namorado da Nessie? Um gato não? - E trocam risinhos - Sortuda - E se afastam. Jane solta um suspiro irritado, olhando-as com o canto dos olhos. Sem querer mais exposição, pega as fotos e coloca dentro do livro de química da menina, que estava em cima da mesa. Pronto, isso seria o suficiente.

A menina volta, sorrindo. Isso significava uma nota boa para Renesmee Swann Cullen, ou melhor, mais uma nota boa para ela. Jane bufa, afastando o cabelo dos olhos.

–Onde estão as fotos? - A menina se pergunta, olhando o chão em volta, assim que se senta.

–No livro - Jane responde, sinalizando, mas é chamada em seguida e se levanta, para pegar sua prova. Tinha certeza de que a sua não seria motivo de sorrisos. Não que se importasse, no fundo, de qualquer forma.

Depois disso, a aula começa e se calam, até o intervalo. Matéria depois de matéria, as duas se concentrando, Nessie desligada e fazendo anotações, Jane rabiscando seu caderno.

–Então quer dizer que você realmente está sério com esse tal de Jake? - É a primeira pergunta que Jane lhe direciona na hora do intervalo, em um tom tão sério, que a surpreende. Ela afirma. - Por que?

Nessie estranha e dá uma risada esquisita.

–Por que o que? - As duas estavam no pátio e comiam um saquinho de bolachas, debaixo de uma árvore, em um banco de cimento, entre os vários do colégio. A algazarra em volta era grande, centenas, talvez até milhares de adolescentes conversando, sentados nas mesas de lanche, há alguns metros, alguns passeando, passando perto de onde estavam, sentados nas cadeiras iguais as delas, espalhadas pelo gramado, meninos nas quadras de esporta, jogando e rindo.

–Por que vocês estão sérios? - A pergunta lhe pareceu tão descabida, que acabou hesitando em responde-la.

–Acho que não existe muito uma resposta certa para isso não. Simplesmente estamos. Talvez por ele ser mais velho, quem sabe. De qualquer forma, não posso dizer que não estava avisada quando a gente começou. - E solta um sorriso sonhador e distante - Penso nele o tempo inteiro - E suspira.

–Percebi - A resposta da amiga é tão naturalmente ácida, que as duas caem na gargalhada, pelos seus contrastes.

Uma pergunta que nunca parara para ponderar fora levantada. Para onde estavam indo com tudo aquilo. Sabia que estavam em um período de testes, antes de contar para seus pais. Mas e depois? O que fariam? Para onde iriam? Começar um relacionamento a distância não parecia nada promissor. Mal conseguia ficar dois dias sem vê-lo que já não conseguia parar de pensar nele um instante, chegando a doer sua falta. Como conseguiria fazer isso por meses e meses sem fim? Só com trocas ocasionais de emails e telefonemas? Chegava a lhe parecer irreal.

Pela primeira vez, uma pontada de decepção tocou o seu peito. O peso da realidade afundava seus ombros de maneira dolorosa. Não queria que fosse dessa forma. Mas, novamente, que outra escolha tinha?

Gostava de só estar perto dele, sua companhia era reconfortante e a fazia sentir um calor gostoso por dentro, a fazia se sentir segura. Imagina o que faria durante tanto tempo sem isso, só de pensar, sentia-se taciturna e frígida e o sorriso de segundos atrás arrefece.

E depois de tudo isso então? Terminaria a faculdade e se casariam? Moraria com ele na reserva? Tudo parecia tão distante e intangível que se sente incomodada. Será que Jake se sentia assim também? Puxa o celular, sem pensar muito no que fazia, pensando em ligar para ele, mas para, notando o que fazia.

Não podia ligar a cada insegurança, a cada nuance em seu humor podia? Engole em seco, sentindo-se subitamente agoniada. Detestava quando seus pensamentos saiam de controle daquela forma.

–Nessie? - A amiga a chama com tanta suavidade que a assusta, fazendo sua pele arrepiar - Tudo bem? Você está pálida.

A ruiva concorda e volta a guardar o celular no bolso. Simplesmente tinha de manter a questão em mente e, assim que se encontrassem novamente, discutiria com ele sobre isso. E tudo ficaria bem, certo? O que mais poderia acontecer?

Ainda assim, a dúvida parece pairar sobre sua cabeça e sobre suas emoções, agourenta como um corvo, em torno de um cadáver, o resto do dia.

E pensar que até pouco tempo atrás, pensava que seus pais eram seu maior problema. Colocando o caso em perspectiva, realmente, o que não era problema ali?

As duas vão para a casa de Nessie depois da aula, trocando piadinhas e rindo, a tinta de cabelo na bolsa surrada de Jane, pendurada, batendo com um ruído seco, em seu quadril estreito.

As duas chegam em casa e batem a porta com força. Bella que descia as escadas ri, agraciada pelo conhecido burburinho. Nessie abre a mochila e puxa o celular, checando as mensagens.

–E aí meninas? - Pergunta, solícita, um sorriso carinhoso nos lábios. Nessie beija a mãe e a abraça, enroscando-se a ela.

–Bella - E Jane a cumprimenta, sorrindo, mostrando os caninos pontudos, em uma atitude incomum de educação, só mostrada para a mulher a sua frente.

–Mãããããeeeee - E Bella a segura, mas dá palmadas em suas costas, rindo.

–Você vai me deixar cair menina! - E a ruiva a solta, mas desequilibra-se, tropeçando em uma perna de sua mãe, tombando. Sua mochila entreaberta tomba do ombro que a carregava, o material inteiro espalhando-se pelo chão. Jane e Bella rapidamente tentam ajudar a menina a se levantar, mas ela apenas cai na gargalhada, fazendo-as aliviadas.

Os materiais escorregaram, chegando a sala de estar ao lado, cobrindo distâncias. Levantando-se e apenas limpando de leve a roupa, por costume e para ver se se machucara, rapidamente, pegam as coisas espalhadas.

–Obrigada e me desculpe gente - E ri um pouco, acompanhada, depois, marota, puxa a já conhecida amiga escada a cima - Vou ajudar a Jane a tingir o cabelo e depois a gente volta para comer, ok? - A morena concorda, balançando a densa cabeleira castanha de um lado para o outro, inconformada, mas ainda sorrindo, enquanto as moças levavam a algazarra para cima.

As duas ficam lá durante algumas horas, enquanto Bella, no andar de baixo, ouvia estrondos e risadas ocasionais, que a faziam negar com a cabeça, mas rir, divertida. Era engraçado como ainda era capaz de lembrar perfeitamente bem a primeira vez que Nessie levara Jane até sua casa. As duas deviam estar na sexta série ou algo assim. Jane ainda era uma menina morena, calada e esquisita, mas que já tinha as unhas pintadas de preto e algumas pulseiras no pulso. Algumas coisas nunca mudavam.

Nessie, pelo contrário, hoje em dia parecia-se mais com a menina que fora aos onze, doze anos, solícita e amável, madura, até sensível e sociável. Bella sinceramente esperava que os anos negros tivessem ficado para trás. Tudo o que ela não queria era uma recaída.

Mas ultimamente, Nessie andava tão segura e firme, que de alguma forma, duvidava disso. Se pergunta se teria outro motivo para achar isso, mas, antes que pudesse se aprofundar em suas dúvidas, as meninas descem, barulhentas, parecendo que iam quebrar a escada, rindo muito. Bella tem certeza de que alguma delas derrubara alguma das fotos que estava pendurada na parede, antes de recolocar, rindo.

As três se sentam e comem, em uma leve conversa agradável. O sol entrava pela janela da cozinha em um ângulo bonito e reconfortante, amarelo e forte. Algum barulho era ouvido do lado de fora, pessoas andando e as meninas vizinhas brincando.

–E então meninas? Quais são seus planos para hoje? - Bella pergunta, assim que terminavam a refeição, tomando o último gole de seu suco de uva.

Sua filha dá de ombros.

–Acho que não temos um cronograma. - E, pela primeira vez no dia, para Bella pelo menos, Nessie parece um pouco distante e até desalentada. Franze as sobrancelhas.

–Podemos ir para a minha casa, assistir um filme e jogar videogame, o que acha? - A roqueira propõe e Nessie demora para olha-la, mas concorda, com um sorriso um pouco forçado. Resistia, a cada pausa de pensamento, a vontade de alcançar o celular no bolso. Estava em uma pequena batalha interna que fingia ignorar.

Depois disso, as meninas saem, despedindo-se de Bella com acenos e sorrisos, deixando-a novamente sozinha na casa vazia. O contraste do súbito silêncio a deixa subitamente friorenta. Abraça-se com seus próprios braços e decide voltar a subir, pois ainda tinha trabalho a fazer. Com um suspiro, espreguiça-se, pronta para as próximas horas de trabalho.

As meninas chegam na casa da loira, agora devidamente retocada e jogam-se na cama, preguiçosas, antes de qualquer coisa.

–E aí? Tá a fim de fazer o que? - Nessie propõe, de bruços na cama desarrumada, os joelhos dobrando as pernas para cima, cruzando-as, enquanto remexia nas unhas.

–Dormir vale? - A loira responde e boceja, na cadeira giratória do laptop, na escrivaninha revirada. O carpete no chão parecia fazer anos que não via um aspirador. A menina cheira o cabelo e faz careta - O pior é que agora meu cabelo vai ficar dias com esse cheiro de tinta - E volta a colocar a língua pra fora, em total desagrado.

Nessie ri um pouquinho, apoiando o rosto sobre a palma da mão.

–É amônia - E responde. Jane lhe faz uma cara de inconformismo.

–É amônia - E imita, com voz fina e irritada, fazendo a de tranças cair na gargalhada. Nisso, Jane puxa do meio da bagunça um retrato caído, mostrando-o a Nessie. Nele, duas meninas com cerca de dez anos sorriam, sujas de terra.

–Você lembra disso? - E pergunta, nostálgica.

–Sim, foi no passeio... Da quinta série? - E Nessie levanta uma sobrancelha, olhando a foto, os sorriso escancarados chegavam a ser assustadores, embora a felicidade, claramente fosse genuína. Pegava-se surpresa por Jane ainda ter algo como aquilo no meio de suas coisas. É quando Alec bate na porta, só por conveniência, uma vez que a mesma estava aberta, escancarada para o corredor escuro.

–A mamãe não volta hoje né? - Ele pergunta, monótono, sem nem ao menos se dar o trabalho de cumprimentar Renesmee.

–Não, por que? Ela foi fazer a tal viagem pro trabalho que esteve falando - E dá de ombros.

Ele dá um sorriso frívolo, parecido com o dá irmã, mas com menos emoção.

–Chamei uns amigos aqui hoje. - A irmã simplesmente revira os olhos. Alec e suas festas. Sua mãe ficaria fula quando descobrisse. Provavelmente o colocaria de castigo por séculos, ela iria sair para trabalhar e ele faria o que queria, como sempre tinha feito.

Aquilo tudo era um aborrecimento. Bem, pelo menos agora tinha uma festa para ir. A loira se espreguiça demoradamente, deixando as costas estralarem e soltando um som de alívio.

–Bem, a gente pode se arrumar já - E sorri, como se dissesse o óbvio. Nessie sente-se desconfortável.

–Talvez eu devesse voltar para casa - A voz saía baixa. A outra a olha inconformada, sem entende-la.

–E por que? Você está ficando louca? É só uma festa, você fica uma, duas horas, depois se quiser, vai embora, mas para que antes disso?

A moça pondera, remexendo-se na cama. Morde o lábio inferior e afasta a franja dos olhos.

–Ahh, por favor Nessie, prometo que te deixo ir sem emburrar, só um pouquinho vai? - E insiste, juntando as mãos na frente do corpo, em um nítido pedido desesperado. A de cabelos acobreados suspira e acena.

–Mas por pouco tempo ok?

Jane sorri e comemora com pulinhos no lugar, vitoriosa. Nessie apenas relanceia a janela. Lá fora, o céu de cor de fuligem lhe sorria, sorrateiro. Não se sentia bem.

–-/--

Já era noite quando, convencida de que Nessie não a deixaria fazer mais nada, Jane sai de seu quarto, devidamente arrumada. A festa já ia longe e, como estava vestida, a loira parecia mais estar indo a um concerto de rock ou uma balada. Nessie, embora tivesse se recusado terminantemente a mudar de roupa, ficando com suas jeans surradas e sua blusinha baby look preta, usava uma maquiagem carregada, no estilo 'Jane look' e os lábios tinham a cor de cereja.

Era a parte que, mesmo querendo negar, acabara gostando. A casa dos irmãos Volturi virara um verdadeiro caos, a ruiva pôde notar, assim que colocou um pé fora do quarto. As centenas de vozes e a música alta e abafada já ouvira, mas, agora, em meio ao caos, percebia o quão fora de proporção a festa acabara sendo.

A música agitada retumbava em seus ossos, fazendo-os estremecer e a cacofonia das pessoas tentando conversar era tanta que beirava o insuportável. No segundo andar, onde agora estava, tentando passar, pessoas surgiam de todos os lugares, deixando a menina a ponderar como não caíam pelo corredor para o andar de baixo.

As risadas eram abafadas e os sorrisos, um borrão. As bebidas em copos coloridos de plástico, os adolescentes com roupas chamativas. Já devia estar acostumada com isso, mas, de alguma forma, desacostumara-se.

–Vamos? - E Jane grita, com voz estridente, alcançando sua mão no meio das várias do tumulto, puxando-a, fazendo-a ir se esbarrando por quem passava. Aquilo era pior do que transporte público no horário de pico. O pensamento a faz sorrir, deixando-se levar.

A menina a puxa até o meio da sala, onde aparentemente, as pessoas dançavam, umas de encontro as outras. A menina apenas sorri, quando Jane se insinua para ela, de brincadeira. As duas caem na gargalhada e tentam se mexer um pouco.

–Não está dando para dançar aqui! - Nessie grita, alto, para ser ouvida e então se vira, indo em direção a porta. Sai para o pórtico, na parte de trás da casa, sentando-se no chão. Ali, diversas pessoas encontravam-se para fumar ao ar livre. Nessie suspirou, sentindo que podia, finalmente, respirar.

É quando Jane aparece, sentando-se a seu lado. As duas ficam um longo tempo caladas.

–Você realmente mudou bastante não? - E o que a amiga diz de repente, quebrando o silêncio entre elas, apoiando os cotovelos nos joelhos, inclinada para frente.

–Eu acho que sim - Responde, remexendo as mãos, olhando a cutícula das unhas. - Na verdade acho que só... - Ia dizer que passara daquela fase, mas soa mal aos seus ouvidos e não quer magoar a amiga que mantinha tão carinhosamente há tantos anos - Não combina mais comigo.

A loira concorda.

–Posso ver isso. E sabe de uma coisa? - Dessa vez Nessie lhe lança um olhar interrogativo - Essa nova postura combina muito mais com você, Reneesme Cullen, sua careta! - E as duas riem um pouco, mas depois de outra troca de olhar, cúmplice e compreensiva, riem ainda mais, descontroladas.

E, enquanto Nessie ia para frente da casa, pronta para chamar alguém, Jane continuou sentada onde estava, pegando um cigarro de alguns dos meninos próximos, sem poder deixar de sentir uma pequena pontada de ciúme, observando os cachos acobreados sumirem de vista, pois, enquanto Nessie crescia e amadurecia, aproximando-se cada vez mais de um futuro, ela ainda permanecia onde estava, perdida e sem ver objetivo.

Sorrindo e balançando a cabeça, afastando os pensamentos negativos que definitivamente não lhe eram nada comuns, levanta-se, limpando a roupa com tapas. Afinal de contas, a noite era uma criança e ainda tinha uma festa inteira para aproveitar.

Com isso, apaga o cigarro no sapato e, com um sorriso ainda escrito nos lábios desenhados de vermelho, entra porta adentro. Em cima de si, uma lua melancólica sorria de volta, observando o desenrolar dos fatos e os caminhos tão distintos que as amigas, sempre tão juntas tomava, tomando o primeiro passo para uma distância tangível e intransponível.

–-/--

Quando alcançava o gramado, Nessie ainda tentava enfileirar, em ordem, todas as boas memórias que tivera com Jane. Em seu peito, parecia haver um machucado e sua garganta apertava, com vontade de chorar.

Suprimindo os sentimentos confusos no peito, olha para o céu, banhando-se no mar de estrelas e limpa o rosto, borrando a maquiagem. Algumas lágrimas escapam, furtivas, mas consegue manter a maior parte delas guardadas, dentro de seu coração.

Percebendo o quão tarde ficara, a menina leva uma mão próxima a boca, tentando esquenta-la. Era uma noite fria em que as névoas se estendiam, cobrindo o chão com efeitos bonitos e melancólicos.

Não tinha dinheiro para voltar para a casa sozinha, pois antes, pensara que voltaria a pé.

A moça puxa o celular do bolso. Podia ver o ar que saía de sua boca, branco. Encolhe-se e roda sua lista de chamadas. Hesitante, sem querer ligar para seus pais, não querendo que a vissem onde estava, liga para quem achava, melhor compreenderia sua situação.

No terceiro toque, é atendida.

–Nessie? - A voz estava realmente surpresa, fazendo-a sorrir. É quando nota que seus lábios ressecavam e já não usava mais o gloss.

–Sou eu Seth, você pode me fazer um favor?

–-/--

Quando o táxi chegou, nem vinte minutos depois de chamado, a ruiva já começava a sentir-se esbranquiçar e as juntas doerem, o frio agudo apossando-se de si e de sua alma. O nariz começara a escorrer e tinha de esquentar as mãos com constância.

Seus olhos estava úmidos, mas pelo vento, que insistia em invadi-los. Seu peito, comprimido contra o peito, parecia grudado contra sua caixa torácica, imóvel. Sentia-se surpreendentemente mal. Não como se tivesse feito uma coisa terrível, ou alguma dor física, mas sentia que parte de si acabara de morrer e que deixara alguma coisa importante para trás, esquecida, em alguma estante para tomar poeira.

O sentimento era vazio e rígido, como uma bola de gude, entalado em sua garganta, espalhando sua friagem devagar, chegando até a base do peito, onde o coração não parecia mais bater. Mordia o lábio com força, pois sentia que, se não o fizesse, começaria a chorar.

E qual não é sua surpresa, ao colocar os pés dentro do carro, ajustando-se a temperatura confortável, ao ver Jacob Black sentando a seu lado, olhando de maneira acusatória, frio, distante e incomum. Nunca antes o vira assim. Ele parecia decepcionado. Abaixa a cabeça, sem disposição para discutir com ele agora, na frente do taxista, quando ainda se sentia tão vulnerável, a apenas um passo de quebrável.

O silêncio no local era pesado e Nessie sentia seus ombros estremecerem, o corpo parecendo recusar-se a aumentar a temperatura, mesmo que o táxi se esforçasse ao máximo para isso.

Quando o veículo para na esquina de sua casa, na rua que conhecia tão bem, as árvores altas agora balançando com vento, um cachorro latindo longe, a casa onde as meninas que sempre brincavam e corriam pela rua apagada e silenciosa, desce do carro, tropeçando no cinto de segurança, segurando-se ao carro para não cair.

Acima de si, o holofote provocado pelo poste de luz zumbia alto, com uma frequência irritante. A fumaça que saía do carro fazia desenhos, antes de sumir, junto ao vapor do vento, a névoa brilhante.

Jake também desce, pedindo para que o motorista esperasse um pouco. Os dois caminham em silêncio apenas alguns passos. Os dois param em frente ao vizinho de Nessie e, silenciosos, se encaram. Ela, procurando apoio, ele, explicações.

–Ligou para o Seth então não foi? - E, ao perceber a agressividade em sua voz, a menina se encolhe um pouco no lugar, abraçando-se. Ele não lhe oferece o agasalho. - Está escondendo coisas de mim agora? - E ele parecia totalmente enraivecido, os olhos eram duros e ríspidos e Nessie sente-se próxima de alcançar seu limite - Pelo amor de Deus Nessie, eu pensei que você já tivesse superado isso. Eu não posso ficar com você, se continuar agindo como uma criança mimada desse jeito.

Ela chuta uma pedrinha imaginária no chão. O ar ainda formava uma fumaça visível, saindo das bocas geladas, as palavras cortantes tendo o formato de vapor, quentes e marcantes, em contraste com os corações endurecidos.

–Você não pensa muito de mim mesmo, não é? - E a menina abaixa o rosto, encarando o chão, sentindo sua visão começar a nublar - Você acha que eu sou só uma menina perdida e mimada não é? Talvez você esteja certo, no final das contas.

Isso o surpreende, a submissão inesperada, mas o tempo de perceber que poderia ter feito algo errado é o tempo de ela virar-se e começar a correr. Ele fica parado alguns instantes ali, olhando-a alcançar a porta certa e entrar, batendo-a com força. E então olha para as próprias mãos, aquecidas, sem saber o que fazer ou como agir.

Cabisbaixo e culpado, vira-se e volta para o táxi, mas, antes de entrar, ainda relanceia a casa de luzes acesas a distância. Em sua cabeça, a luz forte do poste ainda batia, o zunido incômodo sincronizando-se com o de seu coração.

–-/--

Uma vez dentro de casa, Nessie sentia-se completamente incapaz de se conter e, enquanto o calor agradável do aquecedor chegava a suas maçãs do rosto, as lágrimas o tingiam, fortes, torrenciais. Corre escada acima sem pausa e bate a porta do quarto.

Sentia-se terrível. Um dia que começara totalmente leviano terminava com sendo um dos piores dos últimos tempos. Seu emocional estava destruído, em frangalhos. Toma um banho com temperaturas exorbitantes, apenas para sentir o vapor do ar ao redor de si, confortando-a.

E, mais tarde, quando sua mãe passa em seu quarto para saber se tudo estava bem, chora em seu colo, abraçando-a contra si. Naquela noite, a primeira em muitos anos, Reneesme dorme abraçada a sua mãe, sentindo sua proteção, seu carinho e seu calor.

Em sua cabeça, seu futuro com Jake, Jane sorrindo nostálgica segurando uma foto de quando eram pequenas, como uma memória preciosa e a briga que tivera ainda a pouco, a decepção no tom de voz da pessoa que amava brigavam por espaço, expansivas e exigentes.

Era um dia de perda.

Não havia mais nada a se fazer.


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Notas finais do capítulo

Terminada em: 29.06.2013
Publicada em: 14.10.2014

Aqui o Jake não confiou na Nessie e pisou na bola não? :/
Vamos ver se ele consegue achar um jeito de remendar o que fez e se reconciliar com a Nessie, afinal, nesse momento, ela merecia muito mais do que isso i.i
E não fiquem muito bravas com ele meninas, afinal, ninguém é perfeito! Ele notou que fez besteira, então fiquem calmas, okay? Não foi de propósito! ^~

Muito obrigada a quem comenta! Sem vocês eu não teria publicado a continuação! Obrigada pelos reviews e pelo incentivo, sério mesmo! Reviews deixam uma escritora mais animada e feliz, disposta a postar! Por isso agradeço tanto a vocês pelo feedback :)
Até a próxima meninas!

XoXo,
Suss.



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