Partilhar um apartamento com mais duas pessoas não é propriamente a melhor coisa do mundo. Mas o lance complica quando um de nossos colegas de teto é ninfomaníaco e outro é uma motoqueira viciada em drogas. Tudo piora ainda mais quando eu chamo esses dois de melhores amigos.

Mas entre partilhar um apartamento com dois anormais e morar com meus pais e minha irmã, brincando de família feliz, a primeira opção é sempre mais convidativa.

Beth e Ethan eram aquele tipo de amigos que aparentemente ninguém gosta de ter mas eu amava eles. Eles eram meu apoio vinte e quatro horas, sobre vinte e quatro horas. Sempre estavam disponíveis pra mim. Tínhamos uma ligação especial (eles eram as únicas pessoas a que eu considerava família).

Desliguei o fogão e joguei no prato a panqueca que cozinhei. Peguei a Cola que tinha aberto e carregando tudo com as duas mãos, só restava o cotovelo e foi com ele que desliguei a luz da cozinha e fui até á sala, onde encontrei um cenário que preferia nunca mais lembrar. E nunca ter visto. Beth estava deitada sobre o peito de Ethan (para variar) e os dois assistiam a um filme. Só que a atenção de ambos não estava totalmente concentrada no televisor mas sim na boca um do outro e tenho certeza que se não tivesse interrompido, por essa altura os dois estavam na maior pegação de sempre.

Sabia que entre eles não tinha rolado nada mais que uns beijos e abraços ( digamos que Beth é minha melhor amiga), mas da maneira como nas coisas estavam indo minha intuição falava que um dia desses, eu encontraria os dois enrolados na cama brincando de papai e mamãe. Enfim…

_Hey, porque não procuram um quarto? – parei com o momento enjoativo entre as almas. Eles nem ligaram e fizeram de conta que não ouviram voltando o olhar para o televisor. Acho que jamais olharia aquele sofá com os mesmos olhos.

Ficar fazendo de castiçal não era propriamente meu passatempo preferido por isso deixei os dois se divertindo e segui o corredor até meu quarto. E antes de bater a porta ouvi Ethan gritar:

_Sam, não esquece que amanhã chega meu irmão. Te amo, sonha comigo!

Pousei o prato no primeiro apoio que apareceu e liguei a televisão. Já tinha esquecido sim, esse lance de coleguinha/familiar novo. Ethan comentou alguma coisa no inicio da semana, durante o atribulado café da manhã, mas a informação que chega em meus ouvidos se não for expressamente importante entra a cem e sai a mil.

Tinha certeza que o irmão dele sairia mais cedo do que o previsto de nossa casa e com muitos danos psicológicos. Ele com certeza não desconfia  nem de metade da merda que o irmão faz.

Dei uma trinca no meu suposto jantar e fui até ao espelho. Prendi o cabelo com um coque. Sim, porque eu odeio dormir com ele solto. Ou basicamente e resumindo tudo eu odeio meu cabelo.

Como não posso fazer nada mais com ele pinto com a cor que na hora vem em minha cabeça. Abri a cama e como já estava de pijama apenas precisei de deitar-me e trazer o prato junto.

Passava um daqueles programinhas de musica falando do Top 10 da semana e apresentando bandinhas de musicas de quinta.

Entretanto Beth entrou no quarto indo até sua caixinha bendita. E eu já sabia que quando isso acontecia ela e Ethan tinham brigado. Ou então ele falou alguma coisa que ela não gostou de ouvir. Pegou nela, abriu a janela e sentou na varanda, sozinha. Ela apesar de ser viciada nunca fumava no quarto e sempre respeitava o espaço dos outros.

Peguei meu travesseiro e enrosquei meu corpo num casaco perdido. Abri a janela e sentei do lado daquela coisa triste. Mas que no que dependesse de mim, ficaria feliz rapidamente.

Antes de eu falar o que quer que fosse ela rosnou:

_Eu estou bem. – como ela era má atriz hein! Beth era má atriz e suficientemente presunçosa e orgulhosa para abri seu coração e falar de uma vez que tá completamente apaixonada por ele. Só é cego quem não quer ver.

Não insisti muito conhecia ela razoavelmente bem, pra perceber que se começasse com os interrogatórios criminais acabava morta, graças ao impacto da queda de um sexto andar. Digamos que o nome do meio de Beth era violenta, e olha que sendo ela menina, e não discriminando sexualmente ninguém, pois eu sou completamente contra essa coisa de os homens serem superiores, Beth deixava muitos meninos e machos com o queixo caído.

Ela fez rapidamente um baseado e depois acendeu com facilidade, não rolava ventinho e acender um cigarro tornava-se a coisa mais fácil do mundo.

O típico cheiro a maconha pairou e depois dela dar um trago me passou. Eu não sou viciada tá! Apenas dou umas tragadas de vez em quando. Tá bom quase sempre. Mas ainda sei me controlar. Ela e Ethan tem vezes que fica difícil.

Ficamos as duas olhando os prédios altos de San Diego e como eu já calculava ela acabou me contando o que rolou e para terminar com o clima chato ficamos as duas rindo á custa das conversas dos vizinhos, sim porque das varandas de um prédio ouve-se muita coisa. Tem vezes que até dá dó.

E eu fiquei com a leve sensação que Beth teria que carregar sua caixinha sagrada, pois a gente devorou grande parte do que ela continha.

(…)

_Surpresa!! – Dois gritos assustadores interromperam meu sono de beleza, me fazendo saltar na cama.

Estava de costas para a porta e me virei para ver o que aqueles dois queriam. Passando primeiro os olhos pelo relógio.

_ Gente, eu admiro sua boa vontade de trazer meu café no quarto, mas não é um pouco cedo demais?

Olhei para a porta e se não estivesse fazendo mal as contas via no total seis olhos me encarando. Esfreguei os meus e depois olhei de novo e continuavam lá seis.

_ O irmão de Ethan chegou!. – Ah muito mais descansada! Nossa por breves segundos ainda achei que fosse sonho. – Vem dar boas vindas pra ele!

Sabia bem que seu joguinho sábio de palavras trazia água no bico e eu é que ficaria com a fava.

_Fala logo de uma vez o que quer! – exigi jogando minha cabeça no travesseiro.

_A gente tem aula agora de manhã e como você é uma sortuda e só atura professores durante a tarde, pensamos que não se importaria de fazer as honras da casa para o Brandon.

_Mas eu me importo. Esse apartamento é seu e o irmão é seu. Por isso seja responsável por quem mete dentro desses num sei quantos metros quadrados. Não sou guia turística de ninguém.

Nunca gostei de apresentações, e nos últimos tempos passei a detestar era rara a semana que Ethan e Beth não invadissem meu quarto apresentando os novos intermediários de maconha. Eles dois estavam cada vez mais viciados e eu é que tinha que atura-los.

_Tem panquecas feitas e há mousse de chocolate na geladeira, tem certeza que não quer guiar Brandon.

Sorri e meu pensamento mudou. Saltei da cama e como sempre meu cabelo esvoaçou, sim porque o coque quase sempre desprendia, digamos que eu movimento-me bastante enquanto durmo.

Calcei minhas pantufas do Super Mario, que meus pais me ofereceram no Natal. Ou melhor, mandaram o correio oferecer e caminhei até á porta onde eles estavam aglomerados. Prendi as mãos na cintura e depois de Ethan abrir um espaço vi uma mão estendida. Nossa o menino tinha elegância. Até demais pra mim. Fiz de conta que não vi seu ato de cortesia e sorri, com o sabor da mousse já na minha boca.

_Oi, eu sou a Sam!

Esfreguei um morango na mousse e depois dei uma trinca. Eu sei que chocolate não é de todo o café da manhã ideal para uma garota ainda em fase de crescimento, mas era tão bom que eu punha esse pensamento de nutrição pra trás das costas.

Apreciei o morango depois de trincado e senti que me apreciavam a mim. Ethan e Beth já tinham saído e a mais no apartamento só tinha o… o.. Como era o nome dele mesmo? Virei a cabeça no ato que desconfiei meio que exorcista e…

Ele sim é que era comestível! Não reparei minimamente nele quando me acordaram, pois quando o lance é chocolate o corpo e a alma não pensam em mais nada, mas ele tal como Ethan não era pedacinho de jogar fora.

Tinha um corpo escultural e um estilo muito semelhante ao do irmão, e isso já revelava o porquê de Ethan estar sempre referindo ele. Tinha cabelo escuro e bem arrumado. E seus olhos eram esverdeados. Tinha a linha do rosto bem definida e o queixo, meu deus era tão… tão apetecível.

No seu braço chamou minha atenção umas quantas palavras tatuadas. Não dava pra ler o que dizia mas pela aparência parecia ser uma tatuagem bem legal.

Parei de mastigar e dirigi o olhar pra onde ele direccionava o dele. E a única conclusão que eu cheguei foi que ainda estava de pijama! De shortinho de pijama. Ow!!! Que grande descoberta. Será que ele se sentia incomodado por isso? Ethan não costumava mostrar grande importância. Tanto comigo, tanto com a Beth ele apenas passava e andava.

Não estava gostando de tanta atenção, por isso feita lerda apontei para a mousse.

_Também chega pra você. Quer?

Ele mordeu o lábio inferior (sem duvida ele era gato demais) e depois me olhou no olho, deixando minhas pernas em paz. Graças a Deus.

Aproximou-se demais. Encostando minhas costas em seu peito e depois pegou num morango enterrando no chocolate. Dando uma valente trinca.

_Então você é que é a Sam! Meu irmão me falou bastante de você!

_O que ele falou? – entrei em um estado não aconselhava a ninguém. Com que então ele andou falando de mim?! – O que a aberração de Ethan andou comentando?

_Nada que não seja verdade! – ele engoliu o restante morango e depois lambeu os dedos, me deixando na merda com uma resposta desse tipo. Passou a língua pelos lábios, que apenas só de olhar já despertavam vontade de arrancar um pedaço e pegou outro morango. – Me mostra meu quarto.

Levei ele pelo corredor, mostrei onde era o banheiro, a sala, meu quarto e de Beth e instalei-o nos seus aposentos.

Voltei pra meu quarto, troquei de roupa, muito rapidamente me sentindo um pouco incomodada, mas sem saber ao certo o motivo, liguei o PC, fiz a cama e me sentei na secretária vendo as ultimas fotografias que tirei, organizando tudo em pastinha. Precisava mesmo de tirar boa nota nessa droga de trabalho.

Estava desconfortável e minha concentração estava com um nível 0. Não estava conseguindo me manter atenta. Olhei em volta do quarto e bufei pela milésima vez. Tudo estava um tédio. Estava cansada de estar cansada porque estar cansada é cansativo.

Desviei o pensamento até minha bolsa e lembrei que tinha um maço de Marlboro perdido lá dentro. Tinha deixado ela na sala e depois de remexer em todos os bolsinho e cantos (quem mandou eu ser tão desarrumada, mesmo?) encontrei o maço. Era incrível como numa bolsa mais pequena que sei lá o quê eu conseguia perder uma coisa com tanta facilidade. Peguei num cigarro e levei na boca acendi e fui até á janela para não intoxicar as paredes da casa com cheiro a tabaco e depois ter que ouvir Ethan. Debrucei meu corpo sobre o peitoril da janela e apreciei o animadíssimo jogo de futebol de uns garotos com 5 ou 6 anos de idade lá em baixo. Um pontapé pra cá, um xuto pra lá e finalmente gol!

_Nossa eu vou ter que levar com você nessas posições provocadoras todo o dia? Não sei se sabe mas seu traseiro é gostoso demais! E um cara não tem tanto auto controle assim pra resistir a uma menina bonita em situações como essa!