A festa do casamento acontecia no Misturama. Dinho e Lia não ousaram se aproximar desde a chegada ao local, ainda que o primeiro quisesse mais do que qualquer outra coisa falar com sua marrentinha. Foi abordado por seus amigos enquanto observava a ex-namorada fechada em um grupinho com Gil e o tal One Direction que Orelha havia mencionado uma vez.

-Disseram que ele não vinha, olha o Dinho aí... - Pilha se aproximou cantando.

-Fala, Pilhote! - Dinho cumprimentou.

-Aí, você fez a maior falta! O nosso time nunca mais jogou tão mal! - O funkeiro zoou.

-Mas a gente não perdeu metade dos jogos? - Fera perguntou confuso.

-Ele estava sendo irônico, meu caro amigo Fera. Sem o meu melhor amigo o time fica uma merda! Aquele Harry Potter não serve nem pra fazer gol, rapá, devia voltar pro Quadribol! Não que o time antes fosse grande coisa, mas consegue ficar ainda pior sem o Dinho!

Adriano riu. Orelha e Fatinha já tinham atualizado o amigo quanto a tudo que mudou desde sua viagem. Lia estava namorando... E pior: com o one direction almofadinha. Aquela não era a Lia, não podia ser... Eles não tinham nada a ver um com o outro. Não era ela que tanto zoava a irmã por gostar de Justin Bieber? Agora era a roqueira que namorava a versão brasileira do cantor... Talvez Raquel a tivesse feito surtar mais do que esperara. Notou outras diferenças em sua marrentinha: suas mechas agora eram de cor rosa. "Logo rosa?" estranhou. Seu olhar parecia sem vida, desconfortável. Claro, estava arrumada e maquiada, mas era um casamento, normal. Viu Lia voltar o rosto para ele e desviar ao perceber que Dinho estava olhando. Estava ao lado de seu namorado, mas a roqueira parecia mais próxima de Gil, seu melhor amigo. Percebeu, então, que Lia e Vitor não pareciam se portar como um casal. Ele a envolvia em seus braços, mas era como se ela mal notasse sua presença. Lembrou-se de quando sua marrentinha era, de fato, sua. A roqueira sorria, beijava-o, segurava sua mão... Nada disso acontecia com o motoqueiro. O garoto de olhos azuis mais parecia um acessório que um namorado.

-Quer um babador? - Era Juliana. Estava tão distraído que mal a viu se aproximar.

Sem jeito, Adriano tentou focar na it-girl. Era tão difícil desviar os olhos de Lia... Se deixou abraçar por Ju e correspondeu.

-Você fez falta por aqui. - A morena tentava encontrar palavras... Não tinha esquecido do ocorrido com Lia e, ainda que não tivesse tanta raiva do garoto quanto a amiga, também não queria que Dinho pensasse que estava tudo bem, não depois do quanto sua irmã de coração chorou. Ao mesmo tempo, gostava muito de Adriano e de verdade sentira sua falta. Dinho animava o colégio, juntava a galera e, apesar de não ser muito bom com relacionamentos, estavam em bons termos quando o aventureiro foi embora.

-Tudo bem, Ju? - Era difícil falar com ela sem pensar em Lia. Precisava saber se estava tudo perdido, se algum dia teria chance... Perguntara antes de partir, mas muita coisa havia mudado.

-Bem, e com você? - Ju respondeu hesitante.

Para a sorte de ambos, a buzina da limousine anunciou a chegada dos noivos. Foram novamente cumprimentados pelos convidados, até se posicionarem no centro da festa, com Gil e Nando já no palco, com suas guitarras a postos. Vitor estava como DJ e anunciou a dança dos noivos.  Não era um funk, não era uma música clássica de casamento, mas a letra era autoexplicativa. Sobre dificuldades, sobre se conhecer pela primeira vez depois de se conhecerem por tanto tempo... Havia sido um ano, para Fatinha e Bruno, mas parecia mais. Era como se tivesse passado uma eternidade desde aquela festa, quando a funkeira se aproximou do irmão de Juliana pela primeira vez, sendo rejeitada em seguida. Bruno era o irmão careta e estudioso da it-girl que jamais levaria a sério uma periguete repetente que pensava apenas em causar. Eram tão opostos e, para Fatinha, seus sentimentos pelo moreno pareciam quase impossíveis de serem vividos. E depois de tanto tempo, depois de tantas desavenças... Só agora se conheciam pela primeira vez. Não eram mais os mesmos daquela festa. Bruno havia mudado Fatinha e vice-versa. Ambos amadureceram juntos, por mais maluco que parecesse o relacionamento. Se completavam, por mais opostos que fossem.

Os noivos se separaram na metade da música, quando todos se aproximavam da pista para dançar também. Bruno sussurrou algumas palavras para Juliana e puxou Lia para dançar. Fatinha, por sua vez, puxou Dinho. Como se de repente se lembrassem que ainda não estava na hora, que deveriam dançar juntos até o final da música, destrocaram os casais. Bruno pediu desculpas à roqueira e voltou a dançar com sua noiva, restando a Lia...

-Você acha que eles fizeram de propósito? - A roqueira perguntou para Adriano, que passou a mão por sua cintura.

-É a Fatinha, o que você acha? - Dinho riu.

-E o Bruno dificilmente erraria uma coisa dessas... Deve ter passado semanas ensaiando o que fazer. Você tem parte nisso? - Lia perguntou acusativa.

-Eu não sabia de nada, mas confesso que gostei da ideia. - Olharam-se fixamente.

Desconfortável, Lia desviou o olhar.

-E eu confesso que gostei do que você fez pela Fatinha, foi... Você é como um irmão pra ela, não é?

-E ela é como uma irmã pra mim. O Orelha me avisou do casamento e eu vim.

-Foi só por isso que você voltou? - Lia se repreendeu por demonstrar fraqueza. Como pôde ser tão ingênua? É claro que ele não voltaria por ela, era de Adriano, ó pegador, que estava falando.

-Não só por isso. - Dinho olhou fundo nos olhos da ex-namorada. - O casamento da Fatinha só me deu a coragem que faltava, o empurrão final.

O coração de Lia pareceu voltar a bater, mas o mundo a sua volta seguia paralizado, ainda que sentisse seus pés se movendo ao som da música.

-Eu confesso que tinha receio de te reencontrar, medo de ser decapitado ou pior... Que você não sentisse mais nada por mim.

-E quem disse que eu sinto? - Lia perguntou.

-Os seus olhos.

We just now got the feeling that we're meeting

For the first time

Ah these times are hard,
They end up making us crazy
Don't give up on me baby