Essência escrita por AnaMM


Capítulo 17
Imaturidade


Notas iniciais do capítulo

A fic está perto do fim. Assim que essa e UVM estiverem concluídas, postarei nova fic deles, curta, e, depois, uma guilice, como já havia prometido. Aguardem e espero que sigam gostando dessa enquanto ainda se encaminha ao final.

Trilha:
https://www.youtube.com/watch?v=gXb6lr2t1bw
http://www.vagalume.com.br/fifth-harmony/leave-my-heart-out-of-this.html



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– O que eu faço, Nando? Eu quero ficar com o Dinho, mas não quero.

– Você diz pelo medo?

– Pela razão. O Dinho é o Dinho... Eu não posso confiar nele, por mais incrível que tenha sido.

– Lia, ele estava indo embora e ficou por você, pelo que eu entendi. Ou você assume de vez o que sente, ou fala a verdade e deixa ele seguir com a própria vida.

– Você fala como se ele estivesse fazendo um favor ao ficar.

– Eu falo que, se ele não terá nenhuma chance, o melhor que você faz é acabar com as ilusões dele. Ou você acha que ele mesmo não está se sacrificando por você ao ficar aqui por mais tempo, deixando família e estudos em Miami?

– Ele nem devia ter vindo...

– Talvez se você fosse mais convincente ele não estivesse mais aqui.

– O que eu faço? Eu quero livrar o Dinho dessa, mas não quero empatar a vida dele, e eu quero ficar com ele, mas não quero estragar a minha vida de novo.

– Lia, a verdadeira rebeldia é lutar pela própria felicidade. Qual é a sua felicidade?

A roqueira permaneceu calada, observando os dedos de Gil formarem acordes no palco do Misturama.

– O Gil tá tocando cada vez melhor. – Uma voz masculina comentou em seu ouvido.

– Dinho?

– A gente precisa conversar.

Nando voltava do banheiro quando avistou o ex-casal conversando no balcão. Desviou-se de sua trajetória em direção a algumas mesas distantes.

– Dinho, você precisa voltar pros Estados Unidos.

– Eu sei.

– Pensei que você pretendesse ficar por mim. – Comentou cética, certa decepção disfarçada em sua voz.

– E pretendo, se você me quiser aqui, mas eu tive uma conversa séria com o pai do Orelha e ele me fez perceber o quão infantil eu estava sendo.

– Por achar que merece tanto uma segunda chance? – Lia debochou.

– Você sabe que não é isso.

– Eu sei? – Desafiou.

– Lia, se você quisesse que eu fosse embora, teria me mandado, e não dito que eu preciso ir, então, sim, você sabe do que eu estou falando. Não sei como, mas sabe.

– O Nando...

– Entendi.

– O que a gente faz? – Perguntou, falhando em seu plano de esconder resquícios de preocupação.

– A gente? – Dinho sorriu. – Então você me quer aqui?

– Pensei que você já soubesse.

– Sempre bom ouvir de novo. – Respondeu debochado.

Riram juntos. As discussões bobas, pelo menos, seguiam do mesmo jeito. Era bom ter Dinho de volta, ter a si mesma de volta. Estranhou sua nova realidade. Em questão de segundos, suas preocupações sofreram um giro. Agora, além de pensar no que seria melhor para si, se voltar ou não com Dinho, também tentava encontrar a resposta do que seria melhor para Dinho, se ficar por ela ou esquecê-la de vez e seguir sua vida.

– Dinho, se você tiver voltado pra resolver as coisas comigo, eu te perdoo, ok? Se você voltou só pra recuperar o que perdeu por orgulho, bom, eu já esperava, e você ontem conseguiu. Seja qual for o motivo da sua volta, você não precisa ficar.

– Lia, eu quero ficar.

– Entende uma coisa: a sua família está lá, aqui você vai ter que esperar um ano pra voltar ao Quadrante, você quer mesmo abrir mão de família e futuro por mim?

– Por você, qualquer coisa, Lia. Eu conheci o mundo sem você, e não vale a pena.

– Dinho, eu te conheço, daqui a um ano você nem lembra que eu existo. E mais: a Alice acabou de ter um bebê, você tinha que estar lá cuidando deles.

– Se nós não cometêssemos loucuras, não seríamos a gente. Nós somos Lia e Dinho, esqueceu? A gente fugiu de todos os problemas, sobreviveu a bandidos, enfrentou amigos e família...

– Já está mais que na hora de crescer.

– Se crescer significa deixar de acreditar no que eu sinto por você, Lia, eu prefiro continuar adolescente pro resto da minha vida.

– Você bebeu?

– Um pouco, só.

– Dinho...

– Foi só um pouco, eu juro! Eu estou consciente, você não tá vendo?

– Verdade, você é maluco naturalmente... – Ironizou.

– Por você.

– Credo, Dinho! – Lia gargalhou. – Cafona você continua!

– Duvido que mais que o Vitor! – Retrucou rindo.

– Sobre isso... – Controlou o riso por um momento.

– Sobre isso... – Enfatizou.

– Eu quero ficar com você, Dinho, de certa forma masoquista, mas, sei lá, eu sei que o melhor é você voltar pra casa, e que eu vou sofrer e tudo mais, e por isso...

– Você não vai terminar com o Vitor.

– É.

– Entendo... Você quer usufruir sadicamente do meu corpinho até eu ir embora, de acordo com o seu plano, e daí volta pro seu porto seguro sem sal.

– Mais ou menos isso. – Respondeu culpada. Pensou por um momento nas palavras de Dinho. – Ou melhor... Eu termino com ele, mas não pode ser assim, de forma abrupta, e a gente vai escondendo, até você ir.

– Menos peso na consciência, marrentinha?

– Uma lógica lógica. Você não abandona os pais, nem os estudos. Eu não traio o Vitor, nem fico sozinha quando você for, e você volta satisfeito porque a gente se despediu em bons termos. Todo mundo sai feliz.

– Feliz? Lia, você sinceramente estava feliz quando eu cheguei?

– Dinho, se o pai do Orelha falou pra você o que eu acho que falou, ele também mencionou que nós estamos nos comportando como dois adolescentes caprichosos, você com isso de largar tudo por mim, eu com a minha negação...

– Aí a gente tem um impasse. A sua resposta é ficar comigo, e a minha é superar o que eu sinto por você.

– Exatamente.

– E então?

– E então a gente não decide nada, deixa acontecer.

– Isso nunca deu muito certo com a gente. – Dinho lembrou.

– A gente segue o meu plano?

– A princípio.

– Por onde a gente começa?

– Por isso. – Puxou-a para si, beijando-a com fúria.

Segurava em seus cabelos com força, em uma rebeldia contra tudo e todos. Tinha Lia, estava com Lia, mesmo não sendo uma decisão racional, mesmo que representasse um capricho de uma paixonite adolescente. Paixonite adolescente... O pai de Orelha não sabia de nada. Tinha vontade de levá-la até o apartamento pelo simples prazer de confrontá-lo, de lhe mostrar que Lia era especial, que qualquer homem que não a visse como a mulher de seus sonhos devia ser louco. E, ainda que assim a visse, também era louco. Louco a ponto de jogar tudo para o alto por aquele beijo, de ignorar passado, presente e futuro por tê-la de volta, por deixar de lado uma vida nos Estados Unidos por ela. Era louco, e tinha prazer em ser louco. Se fossem racionais, não seriam Lia e Dinho.

–x-

– A Lia transou com o Dinho e você não quer terminar? – Fatinha questionou incrédula.

– Eu tenho meus motivos.

– Fatinha, como você pode estar mais preocupada com as escolhas do Vitor, sem ofensas, que com o fato de aqueles dois terem rebatizado a nossa cama? – Bruno perguntou irritado.

– Ai, amor, você sabe que, por mim, se eles virarem amantes, com todo o respeito, Vitor, eles podem vir aqui quando quiserem, se no Orelha e na casa da Lia estiver complicado.

– Pra isso existe motel, Fatinha!

– Você é muito careta, Bruno. Lavar os lençóis existe! Você nunca foi a um motel? Por aquelas camas também já passou mais de um casal!

– Vocês vão mesmo discutir a aprovação ou não do “ato” na cama de vocês na minha frente? Ela ainda é a minha namorada, esqueceram?

– Vitor, deixa eu te contar uma coisa. Eu já vi a minha irmã passar por isso, e depois que eles começam, eles não param. Eu terminaria.

– Eu não posso terminar, Bruno. – Tentou se explicar, mas não podia contar tudo. – Se eu deixar ela livre, daí que ela volta pra ele de vez.

– Anjo, se eu bem os conheço, eles estão juntos nesse exato momento. – Fatinha se manifestou. Termina com ela antes que fique chato pra você.

– Você não entende, Fatinha.

– Posso não entender, mas estou vendo os chifres daqui!

–x-

– Por isso tudo o Orelha tá puto comigo. – Terminou de contar.

– Não sem razão, Dinho. Mas você ia ter que ir embora igual, não ia? Você só errou com ele ao apressar o processo, e ele sabe que foi por um sonho seu.

– Será?

– O Nando tem razão, Dinho. Você não abandonou o Orelha.

– Só você.

– Eu te expulsei, não lembra? – Lia riu.

– E eu, como bom covarde, saí correndo.

– Mas, como bom aventureiro, você voltou.

– Conversa com ele, Dinho. – Nando interrompeu a troca de olhares entre o casal. – Aproveita que você tá aqui e retoma essa amizade como tem que ser. Com a Lia tá dando certo, não tá?

Adriano olhou para Lia hesitante, em busca da resposta.

– Sim, está dando certo. – Lia respondeu com um sorriso, enlaçando com o braço o pescoço de Dinho, em um semiabraço. Dinho beijou seu rosto. Conquanto sua imaturidade o tivesse levado ao que conhecia por felicidade, tinha feito certo ao ficar por mais tempo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, agora teremos lidinho pra valer, e, no próx capítulo, a Fatinha vai ter uma importante pista sobre os motivos por trás da opção do Vitor.