Essência escrita por AnaMM


Capítulo 15
Seria tão errado?


Notas iniciais do capítulo

Temos lidinho, temos novidade e temos novos rumos.

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"Filho, onde você está?"
"Dinho, você vai perder mais um semestre de aula?"
"Adriano, volte imediatamente!"

O celular vibrava incessante. As mensagens de seus pais tentavam arrastá-lo para uma realidade que tinha esquecido. Que ela o fizera esquecer. Sua mãe tivera razão desde o início: sua relação com Lia não lhe era saudável. Desde que a perdera já havia abanonado os amigos, afogado-se em álcool e ignorado a família a sua espera em Miami. Estava tão destruído que não se reconhecia no espelho. Sua vontade de viver, de sorrir sumira. Nando tinha razão. Era seu dever retomar as próprias rédeas, seguir adiante, vencer o vazio. Não dependeria mais de alguém cujo principal hobby era rejeitá-lo. Era Adriano Costa, o pegador, o aventureiro dono do mundo, e essa viagem não o levava a lugar nenhum. As mensagens insistentes de sua família o haviam despertado. Estava na hora.

Não a via há dias, tendo voltado para o apartamento dos pais de Orelha. Nando o visitava frequentemente, fazendo a limpa no apartamento atrás de qualquer resquício de álcool. Orelha o ajudava e seus pais também estavam em alerta. Estava sóbrio de álcool e sóbrio de Lia Martins, sua maior doença. Encontrou uma foto antiga sua com o melhor amigo, deviam ter doze anos ou menos. Havia sido tão injusto... Abandonara o amigo sem olhar para trás e, agora, voltava por Fatinha, por Lia, como se Álvaro Gabriel sequer existisse, como se o nerd service apenas para dar-lhe hospedagem e apoio moral. Apesar disso, Orelha seguia ao seu lado, fazendo de tudo para que permanecesse sóbrio. Não merecia um amigo como o que Adriano estava sendo, muito menos Nando podia deixar o bar por um moleque dependente. Fez suas malas com raiva, frustrado consigo por como tratava seus amigos, por como girava em torno de Lia. Havia errado, e estava na hora de admitir a si que o preço era ficar sem a roqueira e aguentar a solidão que merecia. Não era o cara certo para alguém tão frágil emocionalmente. Vitor, sim, cuidaria da estabilidade de Lia. Quando se reencontrassem, a veria bem, completa, com uma família que jamais abandonaria, e abraçando sua mãe. Saberia que havia feito o certo, que nunca teve o direito de intervir na felicidade de Lia Martins.

As ruas o engoliam, puxando-o de volta a seu passado. O chão parecia ter freios, andar para trás tentando mantê-lo ali. De alguma forma estava de volta ao Botafogo, e não ao aeroporto. Seu antigo apartamento, a praça, o colégio. Vozes de seu passado ecoavam, a rua criava vida. Tinha que vencê-la. Não se prenderia mais ao passado, precisava criar coragem para sair dali. Só mais um gole. Um gole e estaria livre.

–x-

Não o via há dias, estava bem com Vitor, por que, então, sentia-se tão vazia, como se o espectro de Dinho a assombrasse? As palavras de Ju e de Nando não saíam de sua cabeça, como uma consciência invasora que parecia querer empurrá-la para Dinho. E se estivessem certos? Havia sonhado tantas vezes que Adriano voltaria, imploraria por seu perdão, e que começariam tudo de novo, do zero... Por tantas vezes esperara que voltasse, que dissesse que tudo havia sido um grande erro, que a amava acima de tudo... Estava tão mal sentir o que sentia pelo ex? Aquilo pelo qual tanto esperara estava acontecendo, por que, então, resistia tanto? Não podia se enganar por mais nem um segundo, não era feliz com Vitor como havia sido com Dinho. Precisava de ajuda, precisava dos conselhos de alguém que não se importasse com o que Lia pensaria, que realmente não se importasse se estava ferida ou não. Precisava de uma luz, da razão de alguém que vivesse fora dos padrões que tanto sufocavam Lia Martins. Afinal, por que achava tão errado se render ao que sentia?

Bateu na porta de Fatinha, que provavelmente já havia voltado.

– Dinho?! - Exclamou surpresa.

– Lia... - Respondeu desanimado, sentindo que seus planos de deixar o Brasil não iriam mais tão longe.

– Que foi? E o que você tá fazendo aqui?

– Eu vim me despedir, - Apontou para a mala. - mas eles não chegaram ainda.

– Se despedir?

– É, eu... Eu vou voltar pra Miami. Eu acho, quer dizer...

– E você ia embora sem se despedir de mim? - Respondeu sarcástica.

– Porque eu sabia que se te visse não iria mais.

– Você não vai mais, então?

– Vai embora, por favor. É o que você queria, não é?

– Desde quando o que eu digo é o que eu quero?

Dinho a encarou confuso, o líquido de uma garrafa inteira de vodka ainda o confundindo. Devia estar alucinando quando Lia pulou em seus braços e o beijou sem culpa, sem amarras. Deixou-se envolver por aquele sonho desconexo, seus braços percorrendo cada centímetro do corpo que tanto desejara. Parecia tudo tão real... Aproveitou cada segundo da miragem nua que o marvilhava. A melhor alucinação de sua vida, tão física e arrepiante que pouco se assemelhava a um sonho. Não sabia mais onde estava, nem quais eram seus planos de algumas horas antes. Estava com Lia novamente, era só o que lhe importava.

Abriu os olhos ofegante, mas o cenário não era a cama vazia de um barco. Estava em um apartamento quase desconhecido, e Lia Martins seguia ao seu lado, seu peito arquejando agitado, suas mechas grudadas em seu rosto úmido.

– Isso realmente aconteceu?

– Sim, Dinho, isso aconteceu.

– Ok, quem é você e o que você fez com a Lia que até ontem queria me matar?

– E a gente não foi sempre assim? Se bem me lembro, não é a primeira vez que a gente se odeia em um dia e no outro está na cama. Aliás, é a terceira, ou quarta...

– Você é maluca.

– E é por isso que você não consegue me esquecer. - Respondeu com um beijo.

Dinho tentou retomar o controle, separando-se da ex novamente.

– Por que você faz isso?

– Isso o que? - Lia perguntou mordendo o lábio.

– Eu já tinha decidido ir embora, te deixar em paz, e você vem e atrapalha tudo!

– Dinho, eu... Era o que você queria, não era? - Respondeu imitando o garoto.

– Foi muito mais do que eu esperava, e você acaba de eliminar qualquer possibilidade de eu te esquecer, mas eu preciso!

– Você não precisa me esquecer, Dinho. Eu que tava com essa ideia fixa na cabeça de tentar lutar contra o que a gente tem, mas quer saber? Não faz sentido.

– Você vai me deixar louco.

– Eu sei.

Beijaram-se novamente, calando suas consciências, apagando qualquer questionamento quanto ao quão certo e saudável era o que faziam.

– Chega disso. - Lia avisou juntando a garrafa vazia ao pé da cama. - Você pode até voltar pra Miami pra morar com os seus pais, mas você volta sóbrio.

– Eu já falei que te amo hoje?

– Vai com calma, campeão, primeiro você vai ficar bem. Eu não vou ser a culpada pelo seu buraco.

– E você pretende acabar com o meu vício com... sexo?

– Se funcionar. - Brincou. - Falando sério, Dinho, a Fatinha vai ficar uma fera com a gente se descobrir o que a gente fez.

– Primeiro, você acha mesmo que ela vai se importar de ter sediado a nossa reconciliação? Segundo, ela me deve essa.

Lia o encarou confusa.

– Eu arranjei as passagens pra lua-de-mel deles. - Sorriu.

– A Fatinha tem sorte de ter um amigo como você. Eu te julguei como a um monstro, Dinho, você está longe de ser um. E quem disse que a gente se reconciliou? Você me vê solteira, por acaso?

– Eu te vejo em uma cama, comigo, recém voltando a se vestir.

– Ok, falando sério, eu vou te ajudar com esse lance da bebida, mas eu não terminei com o Vitor, nem sei se quero voltar com você.

– Ô, Lia, você me beijou, a gente transou com o seu consentimento, e voce vem com essa agora?

– Eu tô confusa, ok? Eu quero ficar com você, eu só não...

– Você quer?

– Sim, Dinho, eu te amo e quero ficar com você, satisfeito? Eu só não tô 100% segura ainda de que posso confiar em você.

– Você me ama?

– Como se você não soubesse...

– Lia, por que eu estragaria isso se é tudo o que eu mais quero?

– Não sei... Você é tão inconstante, desapega rápido quando tem o que quer.

– Então fica comigo que eu provo pra você que não vou te deixar mesmo quando a gente estiver bem e sem nada que nos atrapalhe.

Lia o beijou em resposta.

– Primeiro vamos focar na bebida, ok? Vem, a gente não pode ficar o dia no apartamento deles, daqui a pouco eles estão chegando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e vamoquevamo que Lidinho is back!