— Como eu estou? - escutei Jack dizer

Levantei os olhos do meu livro e olhei para ele.

Jack estava usando uma camisa de botão xadrez azul e uma calça jeans. A composição das roupas estava ótima, mas ele havia colocado a camisa para dentro da calça e a abotoado até o pescoço.

— Para onde você está indo? - perguntei, fingindo que havia esquecido.

— Eu já te disse milhares de vezes. - ele disse - Eu estou indo para o meu encontro com Rachel Kirke.

— Hmm… - murmurei

— Liz… - suspirou ele - Por favor?

O encarei novamente.

— Eu faço tudo o que você quiser! - ele exclamou - Eu busco comida para você em qualquer país! Eu prometo que não vai ter neve em nenhum dos seus aniversários daqui pra frente! Eu assisto filmes da Disney com você! Eu cozinho pra você! Eu peço para o Papai Noel te visitar!

Ri.

— Você está bem desesperado… - sorri

Ele sorriu.

— Eu te levo na festa do time que vai ter sábado, na casa de John… - Jack disse - Você não perguntou, mas eu entrei no time, afinal.

Sorri.

— Dave vai estar na festa… - ele murmurou - Na verdade, ele que me sugeriu que eu te levasse…

— É sério? - perguntei

Jack sorriu e deu de ombros.

Suspirei.

Ele veio até minha cama e sentou do meu lado, me encarando com seus olhos absurdamente azuis. Ninguém no mundo conseguiria resistir aos olhos de cachorrinho de Jack.

Suspirei mais uma vez e puxei sua camisa para fora da calça. Depois, desabotoei seu primeiro e o segundo botão.

— Assim está bem melhor. - murmurei

Ele assentiu.

— Então, eu estou indo. - ele disse

— Certo. - eu disse - Se divirta…

Ele sorriu.

— Obrigado.

Sorri para ele.

Ele se levantou e foi até a porta, se virando para mim mais uma vez.

— Última chance para me beijar antes que Rachel o faça. - ele murmurou

Ri.

— Parece que temos alguém muito confiante em relação ao encontro… - murmurei

Jack deu de ombros.

— Sou um otimista. - ele disse

Sorri.

— Eu estou começando a desconfiar que você que quer me beijar. - eu disse

Jack deu uma gargalhada.

— Pare de ler tanto, sua imaginação está ficando muito fértil. - ele me provocou, saindo do quarto em seguida.

Bufei e dei uma risadinha.

— Bea está aqui! - escutei ele gritar do andar de baixo.

Ouvi a porta se fechando e os passos de Bea na escada.

— Onde Jack está indo todo arrumado e cheiroso? - Bea perguntou

— Para um encontro. - murmurei

Bea franziu as sobrancelhas.

— Encontro? - ela perguntou - Mas é o segundo dia dele na escola?

Suspirei e dei de ombros.

— Com quem? - ela perguntou

Ri.

— Rachel Kirke… - eu disse

— O QUE? - ela gritou

Dei uma risadinha nervosa.

— Como isso é possível? Jack é um cara legal! - ele protestou

— De acordo com ele, ela é muito gentil. - eu disse

Bea riu.

— Certo. - ela disse - Você está brava?

— Um pouco. - eu disse - Mas é a vida dele.

O que eu quis dizer foi “é realmente a vida e a existência dele”, mas o sentido de “a vida é dele para que ele tome suas decisões” também se encaixou perfeitamente.

— Você vai na festa de sábado? - ela perguntou

— Você foi convidada? - perguntei

— Fui - ela deu de ombros - Você também.

— Desde quando somos convidadas para festas do time? - perguntei

— Desde sempre! - ela riu

Ri.

— Eu nunca soube! - exclamei

— Alice! - Bea riu

— É sério! - ri - Jack me chantageou com a festa!

Bea deu uma gargalhada.

— Bom, que bom que você vai! - ela disse

Sorri e assenti.

— John que me convidou, de qualquer forma. - ela disse

— John Shepard? - perguntei - Ele é o dono da festa.

Ela assentiu.

— É, eu sei. - ela riu - Mas ele me convidou de uma maneira especial.

Sorri.

— Ele é bem bonito. - eu disse - E legal.

Ela assentiu.

— Bea… - murmurei

— Nem comece, Alice. - ela me cortou

— Você tem certeza de que é o que você quer? - perguntei

Ela assentiu novamente.

— Certo. - murmurei

— Eu estou bem. - ela disse - É sério.

Suspirei.

— Tudo bem… - assenti

Bea havia namorado Brad Handler por oito meses.

Brad Handler era um idiota. Talvez o maior deles. No começo, eu achava que estava sendo apenas um pouco implicante com ele, mas com o passar dos meses, eu me vi tentando tirar minha melhor amiga das garras daquele monstro. Ele mentia para ela e a fazia acreditar que ele era a única pessoa do mundo que conseguiria amá-la. Depois de oito meses daquele abuso, Bea conseguiu terminar com ele. Ela havia finalmente percebido o que estava acontecendo, mas aquilo havia acabado com ela.

Depois de uns dois meses, com ela triste e desanimada, eu consegui ajudá-la a seguir em frente depois daquela história toda. A escola inteira sabia como Brad era e todos foram muito prestativos e me ajudaram a animá-la novamente.

Desde então, ela vem ficando com vários garotos e bebendo. Isso seria ótimo se houvesse um limite e se a fizesse feliz, mas Bea estava bebendo muito e ficando com garotos idiotas iguais a Brad. Ela fingia que estava tudo bem, mas no fim das festas ela sempre me ligava ou ia para a minha casa para chorar e dizer o quanto estava infeliz e o quanto não se sentia amada.

Ver Bea daquele jeito me machucava, e muito. Eu estava tentando fazer com que ela parasse de ceder a essa pressão social, mas até aquele momento eu não havia tido muito sucesso.

…

Acordei com um cheiro de algo delicioso no ar.

Bea havia colocado um filme depois da nossa conversa, para fazer com que eu não ficasse pensando naquilo, mas eu dormi antes mesmo dos créditos iniciais terminares.

— Bea? - murmurei

— Ela foi para casa. - escutei Jack dizer

Abri os olhos e vi Jack segurando uma sacola de papel, parado na minha porta.

— Ei. - sorri - Como foi?

— Foi bom. - ele sorriu

Sorri.

— Está com fome? - ele perguntou

Ri.

— Sei que sim. - disse ele deitando ao meu lado.

Ele tirou um sanduíche da sacola e me entregou.

— A boca dela tinha gosto de cereja? - perguntei

Jack riu.

— Tinha. - ele disse

Ri.

— Sempre… - murmurei

— Isso é você tentando me contar que já beijou Rachel Kirke? - ele perguntou

Dei uma gargalhada.

— Na quarta série, ela resolveu que gloss de cereja seria a marca registrada dela. - eu disse - Ainda é, eu acredito.

Jack deu uma risadinha.

— Você teve que parar de usar gloss de cereja por causa dela?

— Não. - sorri - Eu sempre odiei cereja.

Jack sorriu.

— Vou me lembrar disso. - ele disse

— Que bom. - sorri

Desviei do olhar de Jack e resolvi que encarar meus pés seria mais confortável.

Jack tentou pegar uma mordida do meu sanduíche mas eu o tirei de seu alcance, fazendo-o me olhar, confuso.

— Escove os dentes primeiro! - eu disse - Eu não quero cereja na minha comida. Ou os germes de Rachel.

Jack riu.

— Você é inacreditável! - ele disse se levantando

Ele entrou no meu banheiro.

— E estou esperando a visita do Papai Noel, esperando muita comida. Podemos ver Bela e a Fera hoje! E estou louca para não ter mais neve no meu aniversário, acho que vou dar uma festa de piquenique.

Escutei Jack rir.

Ele saiu do banheiro e se encostou na parede, sorrindo.

— Quer sair para tomar sorvete? - ele perguntou

— Está frio! - exclamei

— Nunca está frio demais para sorvete… - ele sorriu

Sorri, me levantando.

— Vamos.

— Eu pago. - ele disse

Segurei sua mão e saímos.