Filha da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 19
Capítulo 19 - Revelações


Notas iniciais do capítulo

Quando eu os vi, andando pela campina, meu olhar se voltou para um deles, meu general. Ele estava tão lindo, tão perfeito. Meus bebês cutucaram.
— Estão vendo o papai? Eu falei para minha barriga.
— Ele é lindo, não é? Espero que vocês se pareçam com ele.
Uma lágrima escorreu e eu tentei impedir que se tornasse uma torneira aberta. Eu mal conseguia controlar minha respiração. Naquele momento, eu tive certeza de que não importava o que tivesse acontecido ou o que acontecesse no futuro, eu o amava, e isso não diminuía com o tempo.
— Acham que o papai vai gostar de nos ver?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/37933/chapter/19

Numa manhã quente e ensolarada, eu saí para o jardim. Estava usando um macacão jeans e uma blusinha colada por baixo – ultimamente meu vestuário estava bastante limitado.

O dia estava bonito e eu me sentia muito bem. Nem conseguia me lembrar direito dos enjôos e do cansaço. Eu me sentia forte.

Resolvi dar uma caminhada pela campina, atrás de nossa casa. Quando percebi, o terreno dos Cullen havia ficado para trás. Eu estava perto da cabana, minha cabana. Andei mais, e a avistei. Olhar para a cabana, onde passara os melhores momentos de minha vida, não era ruim; ao contrário, era bom e agradável.

Fiquei parada em frente á casa, olhando para ela, quando senti mãos quentes em meus ombros.

-                   Não vai me dizer que está deprimida?

Eu sorri ao som familiar da voz.

-                   Não Jacob Black, eu não estou deprimida. Estou apenas saudosa. Eu gosto daqui.

Jacob me pegou em um abraço de urso apertado, descansando as mãos sobre minha barriga e fungando em meu pescoço.

-                   É um lugar bonito.

-                   Vou construir uma casa para mim aqui!

-                   Porque, não quer mais morar com os sanguessugas?

-                   Não é isto, Jake. Eu sempre morei sozinha, ou quase sozinha. Quero ter um canto só para mim, um lugar para onde possa fugir.

-                    Vai deixar um quarto para mim?

-                   Claro Jake, sempre!

-                   E eu posso escolher a mobília?

-                   Pode escolher o que quiser, Jake. Pode até pintá-lo de roxo com bolinhas amarelas, se isso o deixar feliz.

-                   Ótimo! Às vezes também preciso de um lugar para me esconder.

Eu assenti com a cabeça e a encostei em seus ombros. Depois de alguns minutos lembrei-me de algo.

-                   Você iria ao hospital comigo?

Os olhos de Jacob se arregalaram. Ele me segurou como se eu fosse cair.

-                   Está sentindo alguma coisa?

Eu sorri.

-                   Não Jake, não é isto. Só preciso falar com meu pai. Desculpe, acho que estou tão acostumada com hospitais que me esqueço o que eles causam nas pessoas.

-                   Ok, eu vou com você.

Voltamos caminhando até minha casa, onde o carro estava estacionado. Jacob dirigiu meu carro – a barriga estava atrapalhando um pouco, meu carro esporte era pequeno.

            Paramos no estacionamento do hospital e Jacob me ajudou a descer. As expressões nos rostos eram sempre engraçadas quando uma jovem garota branca e grávida, anda pelas ruas com um tão jovem quanto ela, garoto índio. Nós nos divertíamos muito com tudo isso.

-                   Jake, acho que você nunca mais vai arranjar uma garota nesta cidade!

-                   Porque?

-                   Bem, todos acham que você engravidou a pobre filhinha do Dr Carlisle.

-                   Ah, isto seria uma honra, senhorita Cullen!

-                   Jacob Black, eu sou uma mulher grávida!

-                   Mas não será para sempre!

-                   Jake!

-                   Me perdoe mas eu não posso evitar, você sabe o quanto é linda.

-                    Jake, se eu não te conhecesse, diria que está me passando uma cantada, mesmo parecendo que eu engoli uma melancia!

Jacob sorriu e nós paramos na recepção para perguntar por meu pai.

A sempre gentil garota da recepção nos indicou uma salinha de exames, onde meu pai estava atendendo naquela manhã.

-                   Pai?

Eu o chamei e ele se virou, lindo como sempre, em seu jaleco branco.

-                   Que bom vê-la, querida. Vejo que arranjou companhia para passear.

-                   Bem, eu ando meio entediada de ficar em casa. Além disso, Jacob está bancando o marido hoje.

Eu me sentei na maca e fiquei olhando meu pai ajeitar os instrumentos. Jacob se encostou ao meu lado. Eu sentia falta daquele ambiente hospitalar, sentia falta dos plantões e de clinicar. Minha esperança era de que pudesse começar a atender logo que o bebê nascesse, ainda que fosse em Port Angeles.

-                   Pai, quanto tempo acha que falta para o bebê nascer?

-                   Sinceramente Satine, não faço a menor idéia. Sua gravidez não está seguindo um padrão normal.

-                   Segundo o pai de Billy contou, a minha gestação durou entre quatro e cinco meses, talvez meu filho siga o mesmo padrão.

Meu pai estava de costas para mim, mexendo em um aparelho de ecocardiograma. De repente, ele se virou com um sorriso nos lábios.

-                   Amor, o que acha de tentarmos ouvir o coraçãozinho dele?

-                   Será que é possível, pai?

-                   Podemos tentar.

Jacob se manifestou no mesmo instante.

-                   Nossa, seria muito legal!

Eu me deitei na maca e desabotoei as alças do macacão, deixando minha barriga exposta. Meu pai passou um daqueles líquidos viscosos e gelados próprios para ultrasson e começou a deslizar o aparelho sobre minha barriga.

Para o desapontamento de Jacob, não apareceu nada além de um borrão na câmera. Meu pai e eu imaginamos ser por causa da textura de nossa pele. Foi quando a mágica aconteceu, um sonzinho forte e repetido começou a ficar mais alto.

-                   Achei! Pelo menos podemos ouvi-lo, já que não podemos vê-lo.

O rosto de Jacob era pura admiração – quem o visse naquela situação, diria mesmo que o filho era dele.

Meu pai continuou deslizando o aparelho em minha barriga, para localizar melhor o som.

-                   Espere. Bem, alguma coisa não está certa.

Eu sabia exatamente o que ele estava falando, mas, sendo a minha barriga em jogo, eu não queria acreditar em meus ouvidos.

-                   Satine, você está ouvindo?

-                   Estou.

-                   Querida, que maravilhoso! Vamos ter dois bebês!

Jacob se apoio na maca – havia sido noticias demais para ele. Meu sorriso não cabia no rosto, nem o do meu pai.

Depois de alguns minutos ouvindo as duas batidas rápidas e fortes; Jacob balbuciou algumas palavras quase inaudíveis, mesmo para dois vampiros.

-                   Te... tem certeza que são dois?

-                   Bem, se não são dois bebês, então meu neto terá dois corações!

Jacob abraçou meu pai, ele retribuiu meio sem jeito.

Sentei-me na maca e vesti-me novamente. Eu estava feliz, havia ganhado da vida um presente ainda maior do que imaginava.

            Abracei meu pai longamente. E me despedi, eu ainda estava meio em estado de choque, e Jacob com certeza precisava respirar ar puro.

            Andamos de volta para o estacionamento, Jacob em silêncio.

-                   Então, quer dizer que teremos gêmeos?

-                   Acho que sim.

Ele me agarrou e rodou comigo em seus braços.

-                   Ah Satine, isso é muito legal!

Naquela tarde, depois de deixar Jacob em casa e almoçar com Billy – no momento, todos queriam sempre me encher com algum tipo de alimento – eu voltei para nossa linda casa e contei a novidade. Minha família não se agüentava de tanta felicidade e Esme correu para o calendário, onde anotava minhas semanas de gestação. Ela estava muito ansiosa por ter meus pequenos nos braços e eu também.

Alice, minha irmã, saiu correndo e arrastando Rosalie pela mão para fazer compras – não importa o quanto já tivéssemos de roupas para bebê, Alice sempre dava um jeito de comprar mais.

Emmet me levantou em seus braços, dizendo que dois eram sempre melhor do que um e que seria ainda mais divertido brincar com dois pirralhos – esta era sua maneira de dizer que tinha gostado da novidade.

Naquela noite, Jasper me levou para caçar. Conversamos bastante e foi muito agradável. Jasper, meu irmão mais calado, era também o que mais me lembrava Demetri. Sua gentileza e cordialidade, eram próprias de um cavalheiro.

Algumas semanas se passaram, desde que meu irmão Edward havia saído em viagem núpcias. E naquela noite agradavelmente quente, depois que Jasper me deixou em meu quarto com um beijinho na mão, eu senti falta dele e de nossas noites juntos. Esperava que ele voltasse logo.

            Quando recebemos em fim a ligação do retorno de Edward e Bella, a situação não foi assim tão agradável. Alguma coisa acontecera durante este tempo, e isso não deixava meu irmão feliz.

Edward irrompeu pela sala, na manhã seguinte, quase arrastando Bella pelas mãos. Sua barriga estava inchada e ela tinha uma aparência horrível. Meu irmão estava ainda pior, seus lindos olhos de âmbar estavam negros e ressentidos.

Ao olhar para a pele esticada e cheia de hematomas de seu ventre, eu não entendi. Não conseguia assimilar a razão de ela estar tão machucada. Meu pai e Edward corriam de um lado para o outro da sala, tentando resolver as coisas. Eu não conseguia compreender e eles tentavam de todas as maneiras me deixar fora do assunto.

-                   Ei, se não se lembram, eu sou médica também!

-                   Filha. Não queremos que se preocupe, vamos dar um jeito em tudo isto.

As palavras “vamos dar um jeito em tudo isso” soavam como se algo errado estivesse acontecendo, e pelo rosto de Bella, ela não compartilhava da mesma opinião que eles.

-                   Esperem!

Eu entrei no quarto e me coloquei entre os dois, deixando bem claro que eles teriam que me ouvir.

-                   Qual é o problema?

Edward segurou em minhas mãos, seus olhos frios estavam voltados para a barriga da garota na cama.

-                   Não vê qual é o problema?

-                   Vejo uma garota grávida. Qual é o problema nisto?

-                   Aquela coisa a está matando!

-                   Como assim?

Edward me arrastou até a cama em que Bella repousava. Quando cheguei mais perto, percebi olheiras fundas em seus olhos. Sua pele clara estava ainda mais pálida e a barriga imensa e machucada, estava maior que a minha. A pobre garota estava totalmente disforme.

-                   Vê agora? Nós precisamos tirar isso de dentro dela!

As palavras de Edward foram como um soco no estômago, e as pequenas criaturas dentro de mim responderam chutando.

-                   Espere. Com que direito querem fazer isso a ela? Vocês precisam perguntar o que Bella acha.

Como se eu fosse uma tabua de salvação, Bella segurou em minha mão livre. Ela estava fraca e mal conseguia falar. Quando ela tocou a mão em sua barriga machucada, ternamente, eu entendi sua resposta.

-                   Ela não quer tirar o bebê!

-                   Bebê? Isto não é um bebê, Satine. Isto é... é... um monstro que a está matando!

-                   Não seja bobo garoto! Olhe para mim, eu estou aqui não estou? Minha mãe conseguiu, porque acha que ela não vai conseguir?

Meu pai nos interrompeu, saindo em defesa de Edward.

-                   Satine, sua mãe não era uma humana normal, as coisas são diferentes com Bella. Ela pode não suportar.

-                   Pai, eu não vou permitir que façam isso.

Encostei-me na cama, colocando meu corpo entre Bella e Edward. Ela agarrou minha mão e sorriu para mim, como se agora se sentisse protegida.

-                   Olhe para ela, Satine, ela está morrendo! Está fraca de mais e não consegue se alimentar.

-                   Já tentaram sangue?

Os dois olharam para mim com os olhos arregalados.

-                   Como?

-                   Bem, tecnicamente, o bebê é um vampiro, portanto, se alimentaria de sangue. Além disso, no começo era só o que parava em meu estômago.

Bella sorriu novamente, e apertou ainda mais a minha mão. Eu sabia – por mim mesma – que ela seria capaz de qualquer coisa para manter seu cutucador ali dentro, protegido.

-                   Só pode estar louca! Eu não vou obriga-la a beber sangue apenas para manter aquela coisa dentro dela!

-                   Edward Antony Masen Cullen, se der mais um passo em direção a esta cama, eu me esqueço do quanto amo você e o quebro em dois!

-                   Você não faria isto!

-                   Tente!

E antes que eu pudesse mostrar meus dentes a ele, Rosalie entrou pela porta e se acomodou ao meu lado.

-                   São dois contra um!

Embora não estivesse feliz com nossa atitude, Edward se viu obrigado a concordar. Era a decisão de Bella e ele não faria nada que a magoasse ainda mais.

Bella não ficou melhor com o tempo, na verdade, ela piorou. A cada dia que passava, ela ficava ainda mais pálida e fraca e eu cheguei a me sentir culpada. Nossa casa se transformou em um hospital dia e noite e todos perambulavam como zumbis, esperando pela noticia fatal.

Eu amava Edward demais e fiquei ao lado de meu irmão o máximo de tempo que pude, embora não pudesse esquecer de mim mesma, e de meus pequenos vampirinhos.

Aproveitei o tempo em que Edward ficava com Bella, para dar andamento às obras de minha nova casa. Esme me ajudou com tudo, desde a planta, até os acabamentos finais. Confesso que fiquei surpresa em saber como uma casa de dois andares pode ser construída rapidamente, quando se tem dinheiro suficiente.

Projetamos três suítes no andar de cima, a maior para mim, e outras duas um pouco menores e interligadas para os gêmeos e um belo escritório. No andar de baixo, tínhamos uma cozinha que se separava da sala apenas por um balcão de madeira de lei e uma suíte para Jacob, além de um estúdio de Balé e um banheiro social.

Era como um chalé, porém um pouco mais refinada e com muito vidro – eu gostava de observar a noite. Fizemos também um belo jardim, com madressilvas em um pergolado, e um banco em sua sombra.

Antes que o bebê de Bella, ou os meus pudessem nascer, terminamos o chalé. Aquele era meu cantinho de tranqüilidade, e era também onde eu consolava os homens de minha vida. Jacob estava o tempo todo comigo, e Edward sempre ia lá para que eu o abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem.

Alguns dias antes do nascimento de Renesme eu fui ao chalé dirigindo o BMW, Jacob estava sentado na varanda, com os pés apoiados em uma mesa. Eu o chamei.

-                   Jake, o que acha deste carro?

-                   Além de absurdamente caro e maravilhoso?

-                   Jacob, é sério!

-                   Bem, é um grande carro. Muito bonito e veloz, além disso, é um BMW e isso por si só já grande coisa!

-                   Você gosta dele?

-                   É claro, o que há nele para não se gostar?

-                   Eu e meu pai queremos que fique com ele!

-                   Ficou louca?

-                   Jake, escute. Meu pai me deu o carro para que pudesse circular por aí, eu não ando saindo muito de casa. É um carro pequeno demais para uma mãe de gêmeos, e isso é uma situação irreversível! Além disso, eu acho que você merece por cuidar tanto de mim, e meu pai concorda comigo. Além disso, eu já tenho o Nissan. Por favor, aceite!

Um sorriso sincero começou a brotar no rosto bronzeado de Jacob.

-                   É sério?

-                   Seríssimo! Aqui estão as chaves e os documentos.

-                   Ah, Satine! Obrigado, é muito, muito legal mesmo. Nem sei o que dizer.

-                   Aproveite o carro e seja feliz! E por favor, não vá enche-lo com qualquer desclassificada que encontrar pelo caminho!

Jacob sorriu, nós nos abraçamos, e aquela foi uma noite um pouco menos pesada e mais agradável.

Alguns dias depois, Renesme nasceu, e a alegria voltou a casa dos Cullen. Ela era uma bonequinha e eu amava segura-la sobre minha barriga. Ela conversava com meus vampirinhos e sorria. Eu não podia deixar de ficar feliz em saber que meus filhos teriam uma outra criança para brincar, das lembranças de minha infância essa era a mais triste – eu nunca tive com quem brincar!

Como nem tudo, dura para sempre. Um dia nossa felicidade acabou. Soubemos que os Volturi viriam para julgar-nos por causa de Renesme.

Quando meu pai foi até o chalé me contar a triste noticia, eu não sabia o que me entristecia mais, se era a luta em si e o risco que todos que eu amava corriam com ela, ou se era ter que rever alguém de meu passado, principalmente porque alguns, ainda não eram caso vencido. Demetri. Pensar nele ainda era difícil.

-                   O que vamos fazer?

-                   Vamos lutar, meu amor. Vamos proteger nossa família da maneira que pudermos.

-                   Eu vou ajudar.

-                   Não Satine, você não pode.

-                   Porque eu não posso?

-                   Filha. Olhe o tamanho da sua barriga, você não pode lutar. Os bebês vão nascer logo.

Inclinei minha cabeça para baixo, e enxerguei o inevitável. Eu não queria que ninguém soubesse da gravidez. Eu havia fugido e me escondido quando Marcus tentou me procurar, algum tempo atrás.  Eu não queria que os Volturi soubessem dos meus vampirinhos e principalmente, eu não queria encarar Demetri naquela situação. Aquela barriga deixava minha aparência vulnerável e eu não queria vê-lo assim.

-                   Eu não queria que ninguém soubesse.

-                   Eu sei amor, por isso acho que deve ficar aqui.

Suspirei fundo. Eu não gostava da idéia de ficar assistindo minha família lutar, e não ajudar.

-                   Posso pelo menos ajudar nos preparativos?

-                   Toda a ajuda será bem vinda, querida.

Naquela noite, depois que meu pai me deixou e antes que Jacob voltasse da casa dos Cullen – ele não saia mais dela por nada – eu me sentei á beira do riacho que passava ao lado de minha casa.

A noite estava quente e deixei que a água tocasse meus pés. Pensei durante algum tempo e cheguei a conclusão de que precisava de um plano alternativo. Eles provavelmente precisariam de mais ajuda do que tinham. Por mais que meu pai tivesse muitos amigos, não era o suficiente contra o poder de fogo dos Volturi – eu os conhecia o suficiente para ter certeza disso.

Cheguei a conclusão de que o melhor seria acumular o máximo possível de poderes em minha mente. Eu poderia ajudá-los caso fosse inevitável.

Na manhã seguinte, minhas amigas de Denali chegaram em Forks. Kate, é claro, bateu em minha porta antes mesmo que eu acordasse. Desci as escadas, meio cambaleando entre o corrimão e a parede - o enjôo havia passado, mas o sono, estava cada vez pior!

-                   Calma Kate! Já vou abrir a porta.

Quando abri a porta, Kate correu para mim e me abraçou tão apertado que meus vampirinhos reclamaram chutando.

-                   Ai que bonitinho! Você esta... está...

-                   Gorda? Imensa? Inchada?

-                   Não, sua boba! Eu ia dizer linda. Você está linda, Satine, ainda mais.

-                   Obrigado, Kate. Eu estava com saudades.

-                   Eu também! Porque não foi a Denali?

-                   Aconteceram tantas coisas...

-                   Estou vendo!

Entramos e eu fui para a cozinha, preparar um pouco de café. Jacob ainda estava dormindo – ele havia vigiado durante o turno da noite e provavelmente dormiria até o almoço. Kate se sentou sobre minha bancada de madeira e ficou chacoalhando os pés, ela ás vezes me lembrava muito Alice.

Ficamos conversando por algum tempo, enquanto eu tomava meu café e preparava o de Jacob.

-                   Desculpe falar, mas sua casa está com cheiro de cachorro molhado!

-                   Obrigado pela parte que me toca!

Jacob havia levantado e estava em pé no corredor. Os cabelos desgrenhados e o rosto molhado. Ele usava apenas uma calça de moleton cinza. Passou por Kate e veio até mim, me abraçando e beijando a bochecha.

-                   Pois para mim, você está com cheiro de pasta de dente!

-                   Engraçadinha! Então, o que tem para comer?

Jacob encostou-se na pia, enquanto me olhava preparar bacon e ovos mexidos. Cumprimentou Kate apenas com um aceno de cabeça – ele ainda não ia muito com a cara de qualquer vampiro que não fossem eu, Renesme ou Bella.

-                   Lembra-se de meu amigo Jacob, não é?

-                   O cachorro, claro!

-                   Prazer em vê-la também!

Jacob sentou-se á mesa e devorou meia dúzia de ovos e oito fatias de bacon, bem como um bule de café.

Depois que terminamos, seguimos os três para a casa dos Cullen. Todos já estavam reunidos no campo atrás da casa. Bella tentava desesperadamente controlar seu escudo mental, enquanto Zafrina a ajudava.

Eu fiquei com Renesme no colo. Ela me acalmava e me alegrava e isso era especialmente bom, nos últimos tempos.

Eu estava com saudades de Alice, ela havia saído já fazia alguns dias e embora eu soubesse do plano, não tê-la por perto era ruim.

Durante o último dia, antes da chegada dos Volturi, eu andei pela casa o máximo de tempo que pude. Toquei em todos quanto consegui e tentei acumular cada poder importante que eles tinham. Eu pretendia ajudar Bella, caso ela não conseguisse mantê-los em segurança sozinha.

Naquela noite, meu pai me acompanhou até a casa de Billy, na reserva. Chegamos a conclusão de que ficar sozinha no chalé não seria bom, já que Demetri sabia onde era.

Ficamos na varanda, sentados em pequenos bancos de madeira que Billy deixava lá. Meu pai estava preocupado e triste, e isso me deixava ainda mais angustiada.

-                   Filha. Quero que me prometa que não irá á campina amanhã.

Eu odiava mentir para ele, me dava um nó no peito, mas era necessário.

-                   Tudo bem pai, eu não vou.

-                   Satine, falo sério. Não posso correr o risco de perdê-la, principalmente agora. E não quero que tenha que encarar Caius novamente.

Eu segurei sua mão entre as minhas. A lembrança daquela noite, embora eu quisesse muito apagar, ainda era forte o suficiente.

-                   Eu também não quero pai, nem sei se posso.

Ele se despediu de mim com um abraço suave e um beijo na testa. Suas mãos deslizaram pela minha barriga e eu chorei. Ele havia cumprido a promessa de não me deixar nem um momento, durante a gestação, e agora que o resultado final estava tão próximo, eu temia não tê-lo comigo.

Naquela noite, eu não consegui dormir. Billy e eu ficamos lá, sentados na mesma varanda à noite toda. Eu sentia o medo dos meus amigos lobos, e sentia também os temores de meus amigos vampiros. Estava inquieta e meus vampirinhos também.

Quando começou a clarear, eu entrei e tomei um banho. Eu me sentia boba e ingênua, mas de alguma maneira dentro de mim, eu queria parecer bonita para ele. Coloquei um vestido de algodão e alças finas. Era comprido e tinha um padrão floral rosáceo, com um recorte abaixo do busto. Ele deixava minha barriga ainda mais pronunciada e eu amava vê-la daquele jeito. Penteei os cabelos, deixando que caíssem sobre meus ombros e coloquei o colar com o brasão dos Cullen. Assim que saí do quarto de Jacob, Billy me esperava na sala.

-                   Vai até lá, não é?

Eu sabia que minha resposta não o deixaria feliz, e muito menos tranqüilo. Eu não queria mentir e não achava necessário, não para Billy. Ele tinha um filho naquela batalha e com certeza entenderia meu desespero.

-                   Eu preciso.

-                   Seu pai não vai gostar.

-                   Eu preciso pelo menos estar perto. Prometo que só vou vigiar.

-                   Satine, não prometa o que não pretende cumprir.

-                   Ok, eu vou vigiar e ajudar, se for necessário.

-                   Prometa que vai se cuidar!

-                   Eu prometo. Além disso, não acho que Aro faria algo contra mim. Eu estou segura.

Saí apressada, com os pés descalços na grama. Antes que pudesse desaparecer de vista, Billy ainda gritou:

-                   Proteja meu filho para mim!

É claro que eu faria isso! Eu protegeria todos, todos os que eu amo, e todo que se arriscaram pelos que eu amo!

Andei até o riacho, e me sentei. Eu estava escondida o suficiente para que Demetri não pudesse sentir o meu cheiro e para que eu pudesse observá-los.

Quando eu os vi, andando pela campina, meu olhar se voltou para um deles, meu general. Ele estava tão lindo, tão perfeito. Meus bebês cutucaram.

-                   Estão vendo o papai? Eu falei para minha barriga.

-                   Ele é lindo, não é? Espero que vocês se pareçam com ele.

Uma lágrima escorreu e eu tentei impedir que se tornasse uma torneira aberta. Eu mal conseguia controlar minha respiração. Naquele momento, eu tive certeza de que não importava o que tivesse acontecido ou o que acontecesse no futuro, eu o amava, e isso não diminuía com o tempo.

-                   Acham que o papai vai gostar de nos ver?

Um deles me cutucou mais forte.

-                   Ei, você acha!

E minha conversa foi interrompida pelo começo das negociações. Meu pai estava lá, na linha de frente. A pobre Bella tentava protegê-lo com seu frágil escudo. Aro parecia irredutível. Eu me aproximei mais. Os lobos estavam com os pelos eriçados e os dentes à mostra. Senti meus pelos se eriçarem junto, e segurei o rosnado que surgiu em minha garganta. Eles eram minha família e eu não os abandonaria.

Andei mais e mais. A distância já não era tão segura e eu tentei ficar contra o vento para impedir que Demetri me rastreasse. Alguns minutos se passaram como se fossem horas. Meu coração estava acelerado.

De repente Demetri se virou em minha direção, e aspirou o ar, os olhos fechados. Ele se demorou no suspiro – havia sentido meu cheiro.

Tentei engolir o bolo que se formou em meu estômago e passei a mão pela barriga. Eu sentia a tensão no ar e sentia o sofrimento dos meus irmãos.

A situação apertava a cada minuto. Aro tinha medo de Renesme, ele não queria outra Satine nas mãos dos Cullen. Eu sentia a dor de Edward e Bella, em vê-la em seus braços. Não podia suportar mais.

Andei pela campina, no espaço entre os dois clãs. Meus pés descalços pisando suave pela grama, meus cabelos balançando com o vento. Descansei as mãos sobre a barriga e me dirigi a Aro. Meu pai, depois de recompor do susto, se afastou.

            Eu não olhei nos olhos de nenhum deles, mas percebi o espanto no rosto de cada um. Parei em frente a Aro e sorri com suavidade estendendo minha mão para ele.

-                   Meu pai?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filha da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.