Radioactive escrita por Anna Beauchamp
Levanto da cama pela manhã com a sensação de que meus ossos amoleceram.
A preguiça é tanta que me arrumo de vagar, tendo então que correr para não me atrasar.
Ao chegar na escola percebo que toda a Sams está falando sobre o Grande Soldado Voluntário - como estavam chamando.
Sempre achei o governo do país muito individualista, egoísta e até mesmo hipócrita. Desde que a ditadura foi imposta e as regras foram modificadas o país se tornou uma espécie de campo de concentração. Em todo lugar haviam soldados e qualquer decisão precisava da permissão do estado.
Era muita hipocresia que o Estado resolvesse pedir ajuda dos cidadãos depois de ter mandado seus parentes para morrer em uma guerra que começou com o "aumento populacional". Era quase que um grande absurdo.
Mas a idéia de lutar para transformar o país era tentadora. Ser aquele que pode ter o poder de mudar a vida dos futuros netos.
Eu estava pensando nisso enquanto guardava meus livros no armário do corredor. Seth veio até mim, mas eu não o notei.
- Oi, Alex - ele disse.
Demorei um pouco para responder, pois estava perdida em meus próprios pensamentos.
- Oi, Seth - respondi - Você...vai se voluntariar?
No fundo não queria que Seth se voluntariasse, nunca se sabe o que acontece em uma guerra. E o presidente não revelou de que modo ele usaria esse Grande Soldado para ganhar a guerra contra a Rússia.
- Sim.
Meus olhos se arregalaram.
- Ah, não - eu comecei.
- Qual o problema, Alex? Eu posso lutar pelo meu país - ele disse calmo e sem nenhuma entonação de que a coisa era perigosa.
Não queria que nada acontecesse a Seth.
- Seth...
- Alex, fica fria. Talvez eu nem seja o escolhido. E não há nenhum problema em ser - ele disse.
Respirei fundo. Ele não poderia nem sonhar que eu pensava em me voluntariar...mas era apenas uma possibilidade.
Andamos até a sala. Fiquei pensando naquilo o dia inteiro. Como eles pretendiam vencer essa guerra? E como escolher o voluntário?
Depois da aula notei que havia uma fila grande na frente da escola, e ela parava em uma mesa na qual estava sentado um homem mais velho de cabelos grisalhos, ele usava uma farda verde-musgo com um monte de medalhas. Pelo menos foi o que eu pude ver de longe.
Era a fila para o Grande Soldado.
Haviam muitos na espera, mas comparada a fila da cantina, ainda não era uma multidão.
- Vamos - disse Seth.
Ele agarrou meu braço e me arrastou para a fila.
- Seth, não acho isso uma boa ideia - eu disse.
Depois de alguns minutos chegamos até a mesa.
Seth pega a caneta e começa a rabiscar seus dados - era um pouco raro se usar papel e caneta, mas tudo bem.
- Seth.
- Quieta, Alexandra.
Droga. Odiava quando ele me chamava pelo meu nome.
- Pronto.
Ele entregou o papel.
Eu o empurrei para o lado e peguei a caneta com a certeza de que minha letra saíria sofrível. Escrevi os dados básicos como meu número de celular, e-mail, endereço, etc. Entreguei o papel para o sargento e me virei para Seth que parecia não acreditar que eu havia me voluntariado para participar de uma guerra. Na verdade nem eu mesma acreditava.
- Pronto, está feito.
Ajeitei a mochila no ombro e fui caminhando até a rua.
- Alex! - chamou Seth.
Não me virei, apenas continuei andando e esperei que ele me alcançasse.
- Por quê fez isso? - ele perguntou passando a mão pelos cabelos.
Respirei fundo.
- Se algum dia você descobrir. Me conte - eu disse entrando no ônibus escolar.
Sento na janela vendo Seth vir na minha direção logo depois.
Ficamos em silêncio durante toda a viagem. Esse mesmo dia provavelmente seria o dia em que escolheriam o voluntário, já que esse tipo de sorteio era feito bem rápido. Acho que isso me deixava um pouco mais aflita.
Quando cheguei em casa não havia ninguém, o que não me deixava surpresa. Meus pais eram muito ausêntes, trabalhavam muito, e eram muito estressados. Era quase como se não morassem ali, mesmo que eles aparecessem na hora do jantar.
Sentei no sofá da sala, deixando a mochila no chão. Peguei o celular e apertei o botão para ligar. Entrei em uma das redes sociais vendo que todos estavam falando sobre sua ansiedade pelo Soldado.
Senti uma sensação esquisita na boca do estômago. A ansiedade tomava conta de mim.
E se Seth fosse escolhido? Eu não sei o que eu faria se acontecesse algo a ele. Meu melhor amigo corria o risco de ser levado para a guerra. Isso me deixava preocupada.
Então algo passou pela minha cabeça me deixando um pouco mais apreensiva.
Eu sentia alguma coisa por ele? Seth era meu melhor amigo. Vê-lo por uma outra perspectiva era estranho. Mas e se eu sentisse mesmo algo por ele?
Balancei a cabeça espantando o pensamento. Afinal, Seth era meu amigo, e os amigos não se apaixonam pelas amigas chatas e rudes.
Mas uma coisa era certa: Eu não queria que ele fosse escolhido.
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