Desisto de tentar escrever algo novo e vou folhear livros antigos de minha autoria para espairecer um pouco. Pego uns oito volumes na estante e vou passando as páginas sem dar muita atenção ao que estava escrito ali.

            Depois de mais de mil páginas de pura chatice antiga, bufo e vou olhar outros livros na estante, em busca de algo interessante. Eis que encontro um álbum de fotos perto do anuário escolar, mas opto pelo álbum.

            Logo na primeira página de fotos, numa gravura bem grande, estão seis garotas e garotos juntos, fazendo caretas e segurando penas nas mãos. Não era difícil me lembrar disso. Era uma lembrança muito boa, de um lado.

            Foi quando eu e meus amigos entramos no grupo de arte do colégio. Mas não era somente uma arte, eram todas as sete, e exercitávamos uma por semana. Aquela foto foi tirada na nossa primeira semana no clube.

            Na ponta da foto, estava eu mesmo, relativamente baixo em comparação aos outros, com o cabelo repicado num corte estranho e os fios negros extremamente bagunçados graças à garota do meu lado, que adorava brincar com meu cabelo. Todos me chamavam de Candy, graças à essa mesma menina.

            Aquela era Ísis, que preferia esculturas à qualquer outra arte. Adorava usar cachecóis, de preferência vermelhos e sapatilhas com laços. Fazia judô no tempo vago e era uma das poucas meninas que conversavam com Marion. Me apelidou de Candy pois tirou sabe-se lá de onde que Chris era “doce”.

            Ao lado dela, com a mão em seu ombro e um sorriso aberto, estava Oliver. Ele tinha preferência pelos quadros, mesmo que antes do clube fosse um desastre com pincéis e tintas. Nunca gostou de dizer quais suas coisas preferidas fora pinturas, pois dizia que elas poderiam ficar chateadas. É, um bobão. Mas, sabia que sua cor preferida era amarelo-ouro.

            Passando para a outra ponta e pulando os dois personagens principais da história de hoje, estava Marion, mas falamos sobre ele e sua fixação pela natureza no conto passado. Só nos resta falar de Alec e Mary.

            Mary era a princesinha do grupo. Todos à adoravam, mesmo quando ela errava feio. Até mesmo eu era capaz de perdoá-la se ela fizesse aquela expressão adorável. Mas, quando discutia com Alec, Mary virava o próprio Lúcifer.

            Alec era seu irmão. Meio-irmão, na verdade. O pai de Mary casou com a mãe de Alec dois anos depois deles se conhecerem. Antes disso, os dois eram melhores amigos. Era um grude ridículo. Ísis costumava fingir que ia vomitar quando eles se abraçavam.

            E eu ria disso.

            Um dia os dois chegaram furiosos no colégio, sem querer olhar um para a cara do outro. Os pais deles tinham brigado e eles não dormiram na mesma casa. Não consegui entender direito a história por que Alec me contou enquanto resmungava.

            Ficaram se alfinetando a semana toda, até mesmo no momento em que tiramos a foto. No fim do dia, ficamos esperando eles para irmos embora juntos, mas os dois estavam demorando demais.

            Adivinhe só? Fomos procurar. Ísis foi para as salas de aula do andar de cima, Oliver pelas do andar de baixo, Marion para os pátios e cantina e eu fui olhar na biblioteca e salas dos clubes.

            Esse dia foi divertido, mas não para eles.

            Entrei na biblioteca já chamando por Mary e Alec, mas o silêncio foi minha resposta. Só que é sempre no silêncio que um escritor quer se aprofundar, e lá foi Chris. No fundo da biblioteca tem umas estantes mais velhas e empoeiradas, onde ficam os livros de poesia.

            Todos no nosso grupinho de seis sabia que somente eu em toda a escola ia ali.

            Porém, os dois estavam lá, e de um jeito bem constrangedor. Mary estava escostada na parede e Alec à pressionava mais ali. Se beijavam com tamanha ferocidade que somente encontramos nos livros e mangás hentais.

            Como adoro ser estraga-prazeres, pigarreei, fazendo o casal se separar na hora. Os dois assustados e com os rostos corados, fora que o uniforme de Alec estava três botões abertos e o de Mary ligeiramente levantado.

            - Desculpa atrapalhar, só vim dizer que estamos indo embora.

            É, foi um dia engraçado. Eles arremessaram um dicionário Aurélio nas minhas costas, mas tudo bem, por que sai do lugar rindo. Quando eu e os outros três estávamos na sorveteria de “meio-caminho”, os dois vieram correndo atrás

            Tiramos sarro da cara deles a semana toda, mas no fim, eles acabaram juntos mesmo. Namoraram até a formatura, e que eu saiba, até hoje se relacionam. Os bons momentos que tive com aquela turma foram realmente inesquecíveis.

            Agora, vamos para a próxima foto, não?

            Nessa outra figura, estávamos eu e Ísis vestidos de pirata e panda respectivamente, mas isso é conto para outra hora. Talvez amanhã? Espero te encontrar em breve para isso.