Contos do Escritor Anônimo escrita por Queen Vee


Capítulo 2
Café com canela/ 2#


Notas iniciais do capítulo

Yep, já voltei com o conto número dois!
Tipo, não se incomodem com o tamanho do capítulo, porquê é de contos, afinal '-'
Espero que gostem e até as notas finais! ~



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Nosso escritor anônimo levanta de sua cadeira e vai caminhando em meio à tanta sujeira para chegar à cozinha. Como disse, sou eu. Minha garganta já estava seca de tanto tempo que passei naquela mesa cinza.

A pia só não estava cheia de pratos sujos por que não usava pratos. Comidas enlatadas, de preparo rápido e fast food eram as únicas na minha dieta. Fora os energéticos. A única coisa que me dispunha à fazer era café.

Café é uma gasolina do corpo. Se ficar um dia sem tomar uma gota de café que seja, sou capaz de finalmente cair duro no chão. Minha saúde não deve estar no padrão dos médicos, mas pelo menos um bom café eu tomo.

Lembrou um pouco minha ex-vizinha, Lilla. Era uma moça de 30 anos que morava sozinha, apenas com a companhia de um gato persa esquisito. Todos os dias ela se sentava na varanda da casa, tomando um café quente com canela.

Sempre, no mesmo horário que eu saía para brincar com meus amigos, Lilla se sentava na varanda, com o gato estrábico no colo fazendo carinho e com a outra mão, segurando uma xícara decorada com um café bem forte, exalando até onde estávamos.

Em uma semana nem um pouco diferente das outras (exceto pelo que aconteceu), a moça começou à receber umas visitas estranhas. Todos os dias, uma mulher de sobretudo roxo batia na sua porta. Ficava lá por uns cinco minutos e saía, mas sempre voltava.

Às vezes ela me chamava para entrar. Até onde sei, Lilla como escrivã da polícia, tinha em sua casa prateleiras e prateleiras de livros. Ela me emprestara tantos livros...e sentado na sala, em cima do carpete, lia enquanto sentia aquele cheiro de café com canela.

Lilla despertara meu gosto pela cafeína, dando-me um gole de sua xícara, certa vez. Deixava de brincar com os garotos da rua para ir ler e beber café em sua casa, sempre me divertindo muito.

... O tempo é algo que não volta atrás. por isso, plante seu jardim e decore sua alma...”, começava fragmentos de poemas soltos pelos livros e me olha esperançosa, esperando que completasse.

...Ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.”, ríamos, para depois dizer, com bastante certeza de nossas palavras:

William Shakespeare.

Começávamos à passar muito tempo juntos. Ela era uma grande amiga, a melhor que um garoto prodígio e incompreendido (tanto que nem ele mesmo se compreendia) de doze anos poderia conseguir.

As semanas íam passando e Lilla continuava recebendo visitas daquela moça de sobretudo. Um dia, fui alegre, segurando um livro que seria uma coletânea de meus poemas favoritos (sim, eu fiz um. Na verdade, vários), mas ela não estava na varanda.

O cheiro de café forte não estava presente, muito menos a canela. A cadeira estava intocada, o que me deixara preocupado. Aproximei-me da porta, que estranhamente estava aberta e procurei por ela.

Tinham alguns vasos quebrados e quadros ao chão. Os livros todos caídos de suas prateleiras, o que deveria deixá-la muito incomodada. Lilla e eu arrumávamos os livros juntos, em ordem alfabética, toda semana.

O gato persa se escondia debaixo da mesa com a toalha florida, fazendo sons estranhos e com os pelos eriçados. Revirei a casa inteira buscando minha amiga mais velha, porém só encontrei bagunça.

Quando fui olhar a cozinha,fiquei meio chocado. O pó de café estava espalhado por todo o chão e a água quente esparramada na pia com o bule. Dei três passos para trás e sai correndo para casa, abraçar o travesseiro e esperar.

Esperar que Lilla aparecesse.

O dia após esse amanhecera frio. Vesti uma blusa de moletom, uma calça e tênis e fui novamente para a porta da casa dela. Naquele dia, o cheiro era de cigarro queimando, não de café com canela, e quem estava na varanda era um homem da polícia.

É, senti muita falta da minha amiga adulta e das vezes que lemos livros juntos e tomamos café na sala quente da casa dela. Mas acho que outra pessoa fazia muito mais questão de viver com ela, senão não teria a levado embora.

Aquela moça de sobretudo devia gostar mesmo do gosto do café nos lábios de Lilla.

Passei os últimos anos apenas bebendo café e lembrando dos dias que passei com a moça mais caseira que já conheci. Era realmente muito bom. Fiquei meses esperando notícias, mas quando recebi, não eram boas.

Nunca mais pude aproveitar e ler poemas com ela, graças à moça de sobretudo roxo e seu amor estranho. Se bem alguns dizem que nenhum amor é estranho, se for mesmo amor. Não sei, mas uma coisa é certa: Esse amor tirou minhas tardes de poesia.

Suspirando, olho o armário semi-vazio de meu apartamento e tiro o pó de café de dentro, com uma cara de puro desgosto. Lilla teria que me perdoar, mas na situação financeira que estava, a canela tinha que ficar para depois.



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Notas finais do capítulo

>w<' Gostaram? Se sim, comentem. Se não, também.
u-------u
Até mais ~



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