Contos do Escritor Anônimo escrita por Queen Vee


Capítulo 19
Segredos. /18#


Notas iniciais do capítulo

Siiim, eu sou enrolona. Sim, eu levei uma vida pra postar. Mas, SIM, eu AMO VOCÊS! ;A;
Sério, mil perdões! O ensino médio é tipo um dementador, ainda mais quando vem acompanhado de matérias técnicas muito loucas que querem sugar sua vida social e alegria! ;3; Se bem que... Alguém ainda acompanha isso? Caso a resposta seja um "sim", espero que gostem. É o maior capítulo que eu já escrevi aqui.



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Qual segredo maior para se manter vivo quando sua geladeira é como um buraco negro — qualquer coisa que coloque nela some, e nada mais se vê —, seu armário é uma caverna vazia e sua barriga quer te devorar por não ver comida há tempos? Andar.

Você pode acabar desmaiando? Claro! Mas se não tem um tostão no bolso, é melhor se distrair andando. Teria dor de cabeça se lembrasse que ainda nem era fim de mês e não tinha quase nada comestível em casa… Então me mantive concentrado na caminhada.

Naquele dia em particular, andar mais não estava funcionando. Ainda mais que havia chegado em uma parte da cidade cheia de lanchonetes e restaurantes! O cheiro delicioso de picanha bem-passada vinha de uma churrascaria, me entorpecendo cada vez mais.

Digamos que foi uma experiência. Um tipo de tortura agonizante e ao mesmo tempo deliciosa! Avistei um banco de madeira bem na frente da churrascaria — respiração pesada, ombros tensos. Arrastei-me para lá como quem não quer nada e sentei, como se estivesse descansando.

Ali eu ficaria por pelo menos dez minutos, sentindo o cheiro saboroso das carnes do rodízio sem poder pagar nem cem gramas daquilo. Pelo menos era o que eu achova. Era deprimente, de fato, mas não tinha outra escolha! Bolso vazio, conta bancária vazia e sem nenhum cartão crédito? O que um pobretão como eu poderia fazer em um lugar caro daqueles?

Fechei os olhos, tentando relaxar durante aquele martírio. Pensar em algum conto bom para repassar, alguma coisa minimamente interessante que me tenha ocorrido certa vez! Infelizmente, o odor da picanha havia me deixado ainda mais louco de fome — levei mais tempo do que esperava para me recordar de alguma história.

E… Os minutos foram passando. Amoleci no assento, encarando o sol movimentar-se e levar algumas horas consigo. Sim, horas. Fora o tempo que passei andando de lá pra cá sem saber bem para onde estava indo e o que queria alcançar, a tarde se aproximou e eu permaneci parado no mesmo lugar.

Não sei quando foi exatamente, sei apenas que apaguei. O que veio na minha mente depois foram apenas palavras turvas que se assemelhavam bastante às páginas que agora escrevo e que já foram lidas por vocês. O que guardei aqui foi o que me restou quando acordei, só não entendo bem como.

***

Nós somos parecidos — se você olhar bem, idênticos. Fazemos tudo juntos, temos linhas de raciocínio com diferenças sutis. Nós somos um na maior parte do tempo, e o subconsciente sabe disso. Pelo menos parece saber. É confuso!

Meu lugar não é aqui. Para ser sincero, não descobri ainda se existe um lugar para mim. Foi mais fácil me acomodar onde ele pode me receber, porque é isso que ele faz. Ele cuida de mim como se fóssemos feitos para isso, e isso não me perturba. Ele pode me manter.

Ele também não se encontrou no mundo dele, porque vive vagando pelo meu. Eu sei que faço mal à ele, sei que sou um amuleto de infortúnio e sei também que mesmo me esforçando, vai haver um momento em que vou perdê-lo.

Estou intoxicando minha preciosidade apenas por estar com ele. É egoísmo? Provavelmente. E errado. Eu tive minha chance, podia ter lutado por mim! ...Mas agora nós somos um só. Agora eu luto por nós, meu bem. Luto por nós.

***

Minhas pálpebras se abriram abruptamente, porque alguém balançou meus ombros. A visão turvava, deixando-me um pouco aéreo sobre onde estava e o que estava fazendo antes de me sacudirem daquele jeito. Apoiei as mãos no banco, esforçando-me para focar quem quer que fosse.

“Que olhos bonitos”, foi a primeira e única coisa que pensei quando identifiquei quem estava à minha frente. Os cabelos cor de mel desciam ondulados até a altura do queixo, com pouco volume. O queixo redondinho… E… Os olhos azul-esverdeados.

Não tinha como confundir uma aparência como aquela, apesar de que talvez ele não tivesse me reconhecido ainda. Ficamos nos encarando por longos segundo, analisando a expressão um do outro enquanto sua mão continuava em meu ombro.

Soube que ele havia associado o rosto ao nome quando os dedos me apertaram suavemente, e um sorriso contente iluminou sua face. Como costumava ser, correspondi seu sorriso com a animação que podia estando exausto e faminto.

— Oi, Marion! — Ele riu, me abraçando carinhosamente antes de se sentar ao meu lado. Sempre me fazia muito bem vê-lo com aquele humor, desde que nos conhecemos. Ele era muito mais tranquilo quando não se preocupava com nada.

Há quantos anos não nos víamos mesmo? Mais de dez? Ver o meu fanático pela natureza outra vez me fazia muito bem. Ele usava um suéter de gola alta, como sempre achou bonito, e provavelmente não estava indo para uma caminhada como eu.

O que seria de mim se Marion soubesse o quanto estava cobiçando uma picanha naquele momento? Com certeza teria um filé de Chris para o almoço! ...Será que eu tenho um gosto bom? Mwn… Fica a reflexão para vocês.

— Candy! Que saudades de você! Já faz tanto tempo, não é? Faz sim! — Esfregou a bochecha contra a minha de forma carinhosa, e seus dedos brincaram nos meus cabelos em um excesso de contato físico que não costumava ter com a maioria das pessoa. — O que está fazendo aqui, largado nesse banco?

Pressionei meus lábios um contra o outro, e minha mente deu voltas e voltas. Meu estômago teria embrulhado, se não fosse só um balãozinho quase vazio, com um copinho de refrigerante dentro. Que era suposto representar o suco gástrico.

É. O que eu deveria estar pensando naquela hora mesmo? Ah, sim! Uma desculpa para não ser assassinado em praça pública, claro.

— Oh, bem… Só dando uma volta, pegando um ar. E você? Está tão bonito, arrumado… E cheiroso. — Pisquei algumas vezes a mais, desviando o olhar para seu rosto. Meu cérebro exaurido foi trabalhando com um jeitinho mais lento que o normal, e processando devagar os estímulos do ambiente. — Marion, você está indo ver alguém?

Talvez pela escrita você não sinta o grau de insinuação da frase, mas eu posso garantir que não me expressei de forma inocente. Quem sabe não fosse apenas efeito da fome? Ou a sensação de juventude que me abateu novamente por estar perto do meu amigo de infância?

De qualquer forma, pude observar o rosto ligeiramente moreno de Marion ruborizando devagar, e seus lábios tremerem como se não conseguisse se decidir entre defender-se, me xingar ou apenas ficar quieto para não levantar suspeitas.

Tenho consciência de que sou cúmplice de um crime, e que guardo um segredo sórdido. Sei que não sou muito diferente dos que me atacam, e que compactuei com esse fato horrendo por anos! Sempre tive isso em mente, e já pensei várias vezes em me punir por isso.

Ainda assim, não consigo parar de enxergar o amante da natureza como uma criança mal-compreendida, de cabeça mais inocente do que se pensa. A constante falta de emoções no rosto, o jeito contido de falar e como sempre desprezou maior parte das pessoas com quem conviveu, para mim são apenas detalhes de uma bonequinha de porcelana sem voz.

Uma marionete com um coração guardado à sete chaves em algum baú escondido das vistas. Não como Hunter, aquele insano! ...Uma boneca manipulada por forças que remetiam uma criança cruel. Algo como uma garotinha sorridente — e como um sorriso tão largo quanto as próprias más intenções que ocultava.

Porém, no fundo, eu nunca soube nada sobre ele.

— Que história é essa? Acabamos de nos reencontrar e você já quer fuçar minha vida?! — Respondeu em um tom mais agudo que lhe era habitual, totalmente na defensiva. E, quando notou meu sorriso vitorioso, desviou o olhar. Bingo. — Não é nada do que você está pensando!

E quando mais irritado ele parecia, maior ficava meu sorriso, exatamente como a criatura que o manipulava (?) em algum canto do mundo. Então, uma risada serena simplesmente veio, e não pude e nem quis contê-la.

Aquele vegetalzinho me fazia feliz. Estar perto dele não era doloroso, ainda que aquela memória horrenda existisse em minha mente. Era calmo, era bom. Marion me fazia sentir como uma flor bem cuidada, lentamente desbrochando. Tão lentamente, que, se você ficasse bem quietinho e se aproximasse, ouviria o som das pétalas e abrindo.

— Pensei que deixaria de ser idiota quando crescesse… — Suspirou, cruzando os braços e recostando-se ao banco. No fundo, ele queria sorrir também, só não queria me deixar ver. — Sabe muito bem que eu não levo jeito pra romance. Só estou indo comprar algum livro.

O corpo foi sutilmente deslizando para mais perto de mim, tentando disfarçar a lenta aproximação até que a cabeça repousasse em meu ombro. Oh… O toque macio dos seus cabelos. Como sentia falta daquele crianção…

Algum livro? Com um melhor amigo como escritor, você vai mesmo comprar algum outro livro? Isso não é justo, Marion. — E, sem tantas cerimônias como as dele, passei o braço sobre seus ombros, em um abraço lateral.

Sei o que está se perguntando agora. “Não vai ter história nenhuma hoje, Chris?”...Você me chama assim? Talvez com o passar dos contos tenha se estabelecido algum tipo de intimidade de você para mim — e não o contrário, já que mal sei que tipo de pessoa é você.

De qualquer forma, caro leitor anônimo, a sua resposta é um sim. Sempre acaba havendo uma história, independente de como você olhe. Selecionar qual seria de hoje me complicou um pouco, afinal, todas as minhas aventuras com Marion são vagas.

Acabei usando justamente uma que achei ser a história central dos nossos anos de amizade. Marion sempre esteve em todas as loucuras do nosso grupo de amigos, seja correndo ao redor de piscinas ou fugindo de lobos famintos.

Recordo-me de forma bagunçada de certos momentos. Foi perto do nosso primeiro ano do ensino médio, no meio de uma semana atordoada e cheia de trabalhos, provas e seminários. A coordenação da escola havia inventado uma tal feira de ciências de participação obrigatória, em dupla. Porém, alunos de turmas e séries diferentes poderiam participar juntos, caso desejassem.

Como Mary e Alec se arrumaram juntos e um garoto ruivo o qual flertava com Oliver o convencera a trabalhar com ele, Marion e eu decidimos formar nossa dupla e construir o que chamamos de “M.I.N.H.O.C.A”.

Mais Inteligente Neofertilizador Hiper Orgânico Compressor Adorável.

Nenhum de nós sabia exatamente por que “neo” ou “compressor”, mas sabiámos que “adorável” era o melhor adjetivo possível para nosso projeto sustentável e que passaria por cima dos vulcões de argila de qualquer um — inclusive o garoto ruivo e Oliver.

Bah, o relevante não é o nosso trabalho, muito menos o resultado da feira de ciências. O que aconteceu foi o seguinte: para evitar que alguma outra dupla roubasse nossa ideia da M.I.N.H.O.C.A, decidimos não fazê-la na escola. No fim das aulas, iríamos juntos para minha casa e faríamos isso a semana inteira até o trabalho ficar pronto.

Porém, para variar, um empecilho surgiu tão de repente quanto uma cratera se abre ao receber o impacto de um meteorito. Quando fomos andando até a minha casa, meu pai não estava. Não estava e muito menos havia deixado a chave, resultando em Chris e Marion trancados do lado de fora com material de ciências acumulados em montanhas nos braços.

Assim, sentamos os dois na calçada e largamos as coisas e mochilas na grama, olhando pra cima e sentindo a brisa se suavizar, acariciando nosso rosto. Suspiros frustrados, o aquecer terno do sol sobre o asfalto e quase nenhum transeunte no fim de tarde.

Não acredito que viemos aqui pra nada…”, resmungou, meio inquieto enquanto remexia os dedos nas barras do uniforme. “E ainda com essa quantidade de peso! O Sr. Noah deve estar tentando te punir pela pegadinha da galinha que pregou nele.

Ah, claro… A pegadinha da galinha. Lembram disso? Mel, ovos, penas e três meses de castigo que valeram muito à pena!

...Entendeu? Foi uma piada. Galinhas tem penas, e a pegadinha valeu.. A pena! Puxa, eu sou muito engraçado. Deveria largar a literatura e virar humorista! Deve render bem mais dinheiro. Uau. Hilário. Acho que urinei minhas calças.

Ei, Marion… Por que não vamos para sua casa? Eu nunca fui lá.

Puf. Um estalo e a expressão do meu amigo se contorceu em uma careta de desagrado e um pouco de medo, apesar de ter tentado disfarçá-la logo no instante seguinte. Assim, começou a mover a cabeça negativamente antes mesmo da frase terminar.

Não, não, não… Sem chance, Candy. Vamos fazer na biblioteca da cidade! Lá é grande, espaçoso e confortável! Na minha casa não dá mesmo, desculpa.

Como se uma rejeição assim não fosse causar uma desconfiança, não é? Estreitei o olhar exatamente como fiz na frente da churrascaria, e o encarei por quando tempo foi necessário até ele se sentir ameaçado. Era uma boa tática.

Apenas alguns segundos com as íris focadas nele causaram um nervosismo claro em seu semblante, impedindo-o cada vez mais de me enganar. Até porque, ele não poderia.

É verdade, Candy, não tem como! Fora que minha casa é longe da sua, e vamos cansar mais ainda! Não tem necessidade de ir lá quando a biblioteca é muito mais perto!

É do outro lado da cidade, Marion. Não há vantagem nenhuma em ir lá.

Foram tentativas e tentativas, uma atrás da outra. Independente do que eu dissesse, ele insistia e não dava o braço a torcer. Acabou que fui obrigado a usar a força bruta que não tinha e o puxar da calçada, depois apelando para as forças da chantagem emocional.

Com aquela mesma técnica patentada (ou não) por Mary, grudei em seu braço e fiz beicinho, usando todas as minhas habilidades para fazer meus olhos lacrimejarem. Obviamente não foi dessa forma que o convenci, já que essas coisas não mais funcionam no ensino médio.

Mesmo assim, Marion desistiu de relutar. Já pelas cinco horas da tarde, pegamos nossas coisas e fomos caminhando para, aparentemente, o subúrbio. O céu escurecia devagar, mas as ruas também pareciam trabalhar da mesma forma. As paredes mofadas, pichadas… Ainda que só fosse um pouco a mais do que o resto da cidade.

Andamos um pouco mais do que eu imaginava, mas chegamos lá. Um prédio pequeno, de apenas dois andares, com suas paredes sujas e pichadas pelas laterais. Não foi difícil ver qual dos apartamentos era o dele, já que na varandinha minúscula uma fileira de vasos de flores e plantinhas cresciam, colorindo a vista.

Entramos. A bancada do porteiro estava vazia e caixas de correio arrombadas — as cartas estavam espalhadas pelos espaços, entre um amassado e outro. Subimos as escadas desviando de camisinhas usadas e de odores que jurei ser de urina de cachorro.

Enfim, no segundo andar. Na porta ao lado da dele, o som de pessoas discutindo e gritando, derrubando coisas, até. Apesar do susto que eu levei ao ouvir os gritos, Marion permaneceu quieto, tirando a chave dos bolsos e destrancando a porta.

Ignora. Uma hora eles vão parar.”, murmurou. Àquele ponto, a última coisa que importava era M.I.N.H.O.C.A. Dentro de mim, meu estômago se revirava, e algo latejava de curiosidade para descobrir quem era de fato o garoto que andara comigo por tantos anos.

Alguma coisa estava diferente, ou eu simplesmente não havia notado antes. Quando entramos, por sorte, o odor predominante era de lavanda. Avistei plantinhas pelos cantos do apartamento diminuto, fui preenchido de alívio quando vi as cores belas das flores que até mesmo se penduravam do teto.

Quieto, deixei minhas coisas no canto e fui convidado a sentar em baixo tom pelo garoto que parecia o meu completo oposto. Ainda que estivesse silencioso, eu poderia notar o quão nervoso estava quando se retirou para preparar um chá para nós dois.

Ali, no sofázinho pequeno da sala, comecei a olhar ao redor. Não parecia nada de errado. Um televisão de tubo não muito grande, uma estante antiga, alguns livros sobre jardinagem e matérias escolares. Nenhum romance, nenhuma ficção sequer.

Como um escritor jovem, aquilo me fez profundamente ofendido, mas não disse nada. Buscando desviar o olhar daquele abuso, passei a encarar o estofado em que estava sentado. Era… Limpinho. Não possuia o mesmo cheiro de lavanda que exalava pela sala, mas não cheirava a sujeira.

Naquele momento, observei alguns rasgos perto do braço do sofá. Arranhões como os de unhas na camada superficial do estofado, lembrando vagamente os que gatos fariam. Franzi o cenho, perguntando-me mentalmente se Marion teria algum felino por ali.

Decidi, então, ir atrás do bichano. Fazendo baixinho sons que era suposto de chamar os gatinhos — cujo eu só sabia que existiam por Oliver sempre chamar minha atenção dessa forma —, fui andando pela sala, olhando por debaixo de móveis.

Sem pelos ou caixinhas de areia. Sem potes d’água ou ração para animais. Porém, pude identificar uma outra coisa largada atrás do sofá. Uma… Coleira? É. Até mesmo com a correntinha para guia. E quando digo “corrente”, estou sendo específico.

Não era uma coleira de tecido, mas sim uma de couro — e posso garantir que a guia era mais pesada do que é normal para levar um bichinho de estimação. Ou Marion tinha um gato gigante do tamanho de um Pastor Alemão, ou aquilo não era uma coleira para animais.

E antes que eu pudesse criar mais alternativas na minha cabeça, passos se aproximaram da cozinha para a sala, e fui obrigado a largar o objeto onde havia encontrado e pular o encosto do sofá para me ajeitar onde estava.

Assim, ele me serviu o chá de forma mais calma, e se sentou ao meu lado. Ficamos em silêncio, apreciando a fumacinha quente e com cheiro de erva doce subir… E permaneci maquinando tudo aquilo até bebermos a última gota.

Marion…”, ele me olhou com a expressão neutra, piscando vagamente. “Você tem algum gato de estimação ou algo assim?

E o silêncio perdurou por mais tempo do que imaginei. Os olhos cor de mar tremularam por um instante, e a xícara quase escorregou de sua mão enquanto a depositava na bandejinha em que a trouxera. Respirou devagar e fundo… E relaxou os ombros antes de me olhar com um sorriso calmo nos lábios.

Não. Eu sou alérgico. Por quê?

Mesmo com o coração na mão, sorri.

Nada. Você tem cara de quem teria um gatinho.”, foi a minha resposta. Depois, simplesmente arrumamos as coisas e colocamos nosso projeto em prática, ainda que aquilo não saísse da minha cabeça. Era estranho pensar nas possibilidades para aquela situação.

Então, fiz um esforço enorme e tentei ao máximo esquecer. Até porque, se aquilo fazia parte da vida sexual do Marion, não era da minha conta. Todos têm segredos. Ainda que Marion seja meu melhor amigo, ele não vai me relatar sua vida inteira.

— Como se você estivesse comendo vegetais direitinho só porque eu lhe pedi isso, não é? — Ele sorriu, esfregando suavemente a bochecha em meu corpo como se fosse uma criancinha contente… Ou um gatinho.

— Como assim? É claro que tenho! Como vegetais e frutas todos os dias, se quer saber! Não estou mentindo!

Claro que eu estava. Sequer comer todos os dias eu comia. Mas… Ele também não precisava saber. Afinal, todos guardam segredos. Imagine que caos seria se não guardassem? Algumas mentiras nós somos obrigados a contar para proteger quem amamos.

— ...Está sim.

— ...Estou sim.


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Notas finais do capítulo

Talvez esteja uma bosta... ;u; Mas pelo menos tem o Marion, oba!
Gente, desculpa mesmo pela demora... Eu não queria, mas ando cheia de coisas pra fazer e criatividade no lixo. Nem sei se as pessoas que acompanhavam antes ainda acompanham, mas... ;H; Tá aí. Sério, foi mal. Eu ainda AMO vocês, de verdade.
Beijocas da sua soberana,
QueenVee~



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