A Elfa Escarlate escrita por Koda Kill


Capítulo 35
A dança das almas na luz do luar


Notas iniciais do capítulo

Esse definitivamente é um dos meus capítulos favoritos ♥ será que Will vai conseguir consolar nossa elfinha? Estou com um probleminha com as imagens de IA. Assim que resolver conserto os capítulos que ficaram sem imagem.



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— Humm, desculpa. Não consegui pensar em nenhum outro lugar. - Disse Will enquanto eu encarava a porta do Ronney’s, meu bar favorito. Ele apertou o braço ao meu redor e me conduziu para dentro sem que eu esboçasse nenhuma reação. Nada disso importava agora. Apenas continuei a chorar em silêncio. - Vem, vamos tomar hidromel. 

Andamos em direção a um canto escuro e depois de me fazer sentar, Will foi até o balcão pegar nossas canecas. Eu só conseguia olhar para a porta, entregue à derrota. A qualquer momento eu sabia que iriam entrar por aquela porta e me arrastar para a minha morte. Não conseguia controlar meus sentimentos, nem o choro e muito menos os tremores. Eram sentimentos tão intensos que eu precisava ficar imóvel e gastar toda a minha energia tentando não me afogar e perder minha sanidade restante.

Minha mente tentava freneticamente buscar evidências. Se alguém tinha demonstrado um comportamento suspeito, indícios e quem poderia ter colocado aquele bilhete nas minhas coisas. A não ser que ele fosse um psicopata sádico e um excelente ator, não parece ter sido Will. Ele aparentava estar genuinamente confuso e preocupado.

Não que eu descarte totalmente a possibilidade, nunca se sabe. Afinal ele deixou bem claro que seu passatempo favorito é me torturar. Só que, eu não conseguia imaginá-lo chegando a esse extremo por algum motivo. Talvez simpatize com ele mais do que eu imagino. 

Nossos olhos se encontraram por um segundo quando ele pousou minha caneca na mesa e desviei o olhar rapidamente. Era intenso demais, parecia ler a minha alma e eu não podia me dar ao luxo de permitir que ele saiba de tudo. Se soubesse iria embora ou me entregaria. Ele parecia estranhamente desconfortável em vez de presunçoso ou curioso. Não o culpo. Bebemos por um tempo em silêncio, sem que nenhum dos dois encontrasse palavras adequadas para o momento.

— Estou ficando preocupado, nunca te vi assim. - Falou nervoso se mexendo na cadeira. Uma parede invisível, um abismo escuro parecia nos separar. Até sua voz parecia distante de onde minha mente estava. - Eu já vi essa expressão antes… No campo de batalha. - Continuei bebendo em silêncio tentando não derrubar a caneca em minhas mãos trêmulas. As lágrimas falavam por mim, eram tudo que eu podia explicar. Will se mexia inquieto. - Por favor Luna, fala comigo, eu posso ser só o seu amigo Will hoje. Como você fez por mim... É por causa do feriado? Alguém se machucou?

— Porque você está me ajudando? - Já era a segunda vez que eu lhe fazia essa pergunta. Torcia para que a resposta não fosse a mesma. - Porque gosta de me torturar e me ver sofrendo?

— Só estou preocupado. - Confessou ele. - Parece que alguém morreu. - Sim, eu mesma. É o que eu queria dizer. Claro que não podia ou teria muito o que explicar. Explicações que eu nem tinha coragem de lhe contar porque não queria que sua opinião sobre mim decaísse mais ainda. Desde quando eu passei a me importar com sua opinião?

— Eu já te falei, não preciso da sua pena. - Por mais que eu sentisse seu olhar queimando minha pele, não conseguia retribuir. Eu estava em um estado lamentável e apenas encarava meus dedos tremendo ao redor da caneca. Will suspirou. Quem sabe eu desse sorte e ele se irritasse como da última vez e fosse embora.

— Você precisa pedir ajuda às vezes, Luna... - Ralhou ele. Sua voz não tinha raiva como eu esperava, só um estranho cuidado. Com o canto de olho observei-o dar um longo gole na sua caneca antes de continuar. - Escuta, tem algo importante que eu aprendi na guerra. - Isso chamou um pouco minha atenção. - Não importa qual seja o problema, só acaba quando termina. Sempre existe uma maneira, se você tiver coragem o suficiente. - Aquilo só me fez chorar ainda mais. Tive que conter soluços e gemidos de dor que ameaçam irromper da minha garganta. Já era humilhação o suficiente estar assim na sua frente pela milésima vez. Will… será que você sabe o que está acontecendo?

Eu não conseguia dizer e também não tinha coragem de perguntar. No fundo eu não queria saber a verdade. Senti seus braços ao meu redor em um abraço consolador e não consegui mais manter os sentimentos calados. Por alguns minutos eu me permiti chorar em seus braços enquanto ele me confortava e acariciava minha pele sob sua promessa silenciosa de que tudo poderia ficar bem. As lágrimas traçavam mapas de desespero no meu rosto.

Nunca pensei que aquela cena pudesse acontecer, novamente cá estamos nós. E eu o odiava por isso. Não importa quantas paredes eu crie entre nós, ele simplesmente se teletransporta através delas quando quer. Gemidos da alma escapavam pela minha boca sem que eu tivesse controle. Frustrações de toda uma vida acumuladas e reprimidas por tempo demais. Com certeza minha cara estava terrível. O único conforto que eu tinha diante dessa situação, por mais humilhante que fosse, é que se eu estava horrível e chorando eu estava viva. E isso era algo levando em conta a situação.

Era tão estranhamente apaziguador ficar ali abraçada com Will enquanto eu permitia que todo aquele tsunami de emoções escorresse pelos meus olhos. Deve ser por conta da situação atípica. Ou porque eu nunca tive ninguém para me abraçar enquanto eu chorava. Até porque eu nunca chorava na frente de ninguém e via isso como fraqueza. Seus braços fortes me sustentavam, segurando delicadamente o último fio da minha sanidade. 

Nunca pensei que ele pudesse ser delicado. Nem conseguia imaginá-lo dessa forma. E ainda assim, aqui estamos nós: abraçados, enquanto Will acaricia lentamente meus braços sem dizer nada. Tentando fazer minha temperatura voltar ao normal. Eu acho que era por isso. Ele parecia um forninho enquanto eu estava gelada como a morte que me assombrava. 

Nem mesmo tinha percebido quantos segredos eu estava guardando. Poderia ser literalmente qualquer coisa, inclusive minha morte trajada de humano. Não via nenhum sinal claro, irrefutável ou concreto que pudesse me dar uma pista. Se de fato descobriram que eu me apaixonei por um humano, porque eu ainda estava viva?

Porque mandar um bilhete em vez de me entregar para as autoridades? Para me torturar? Se sim então teria que ser alguém que não gosta de mim como a Vagaba-Adams. Ou pode ser alguém que queira algo de mim. Se for o caso eu ainda tinha chances.

Acho que Will está certo, ainda não acabou. Pode ser que eu ainda tenha alguma chance de virar o jogo. Ainda mais se eu descobrir quem está por trás disso e o que querem de mim. Eu tinha que esvaziar a mente e pensar em estratégias. O que talvez não fosse possível agora pelo meu estado emocional. Preciso colocar a cabeça no lugar caso queira sair dessa. 

Eu estava com aquele livro por dias. DIAS. Ou a pessoa sabia o que eu estava procurando, ou me observava atentamente e colocou o bilhete quando eu não estava prestando atenção. De toda forma, teria que estar por perto, muito perto. Uma sensação terrível de violação me assombrou quando eu pensei na possibilidade de terem invadido meu quarto. Nenhuma das possibilidades era boa.

É assustador sentir-se tão exposta e vulnerável assim, como se não houvesse um lugar seguro que eu pudesse escapar. Quando pensei na possibilidade de acharem o celular de Yuri no meu esconderijo no quarto foi impossível conter uma onda de tremores. Will se aprochegou mais e apertou seu abraço tentando me acalmar, um refúgio no meio desse turbilhão de emoções, como um guardião inesperado.

Mesmo com todas essas possibilidades, me senti estranhamente reconfortada por suas palavras que me fizeram enxergar por perspectivas que eu ainda não tinha visto. Ele estava certo, não era o fim. Ainda pelo menos. Eu estava ali em seus braços e não morta ou presa. Havia uma pequena chance de me livrar dessa situação. Preferi me ater a isso com todas as minhas forças. Me sentia esperançosa por ele ainda estar ali. Mesmo depois de toda a minha raiva, de todas as palavras duras e ter tentando afasta-lo de mim tantas vezes.

E se não conseguir escapar desse destino… Deveria aproveitar ao máximo meus últimos momentos. Não sei quantos deles eu ainda teria pela frente. Sempre me segurei por medo, vergonha, por não querer parecer patética ou para manter a imagem que eu gostaria de ter. Isso parecia irrelevante agora. Eu vou aproveitar, pelo menos nos últimos momentos. Sem me importar com a imagem que isso passaria ou grandes significados. E quem sabe, talvez eu consiga pensar em uma forma de sair dessa situação.

Mesmo depois que parei de chorar ainda ficamos abraçados por um tempo enquanto Will tinha certeza de que eu, de fato, tinha me acalmado. Chorei até cansar, então me afastei dele e dei alguns goles no hidromel que já estava terrivelmente quente. Ele tossiu enquanto se ajeitava na cadeira.

— Pode limpar o rosto na minha camisa, não tem problema. - Disse sem me encarar parecendo muito mais interessado em uma mancha na parede.

Senti vergonha por um momento, depois me repreendi. Não tinha mais tempo para vergonha ou para me importar com bobagens. Era melhor do que ficar com o nariz escorrendo o resto da noite. Tentei não olhar para o seu corpo enquanto puxava a camisa para o meu rosto e expunha seus músculos torneados. Terminei rapidamente e bebi mais cerveja olhando na direção contrária a dele. Droga, isso é tão constrangedor. Que inferno, porque ele sempre tinha que me ver chorando e demonstrando fraqueza.

— Se sente melhor? - Apenas concordei com a cabeça e ele suspirou aliviado enquanto bagunçava meus cabelos. - Sua pirralha… - Brincou ele.

— Cala a boca velhote. - Tentei parecer irritada, mas estava sem forças e minha voz saiu estranha e oscilante. Com o canto do olho vi que ele sorriu. - Só vamos ficar bêbados e esquecer que isso aconteceu, ok?

— Um brinde a isso. - Disse batendo sua caneca na minha. Então enchemos a lata até ficarmos bêbados e todos os problemas desaparecerem da minha mente mesmo que apenas por um tempo. 

Tendo em mente que eu não teria mais muitas oportunidades de me divertir, resolvi abstrair um pouco tudo que estava acontecendo e aproveitar os poucos momentos felizes que eu ainda tinha. 

Will tinha esse estranho efeito calmante sobre mim que ninguém mais parecia conseguir. Pode ser por conta do ódio que sentimos um pelo outro e a liberdade de nos insultarmos e ainda assim continuar convivendo como se nada tivesse acontecido. Ligados… Mesmo que pela droga da detenção. Ou talvez eu tenha me acostumado à sua presença irritante, e estar com ele me fazia sentir que estava tudo normal.

Se a pessoa enviou um bilhete, deve querer algo de mim. Me agarrei a isso com todas as minhas forças restantes. Pelo menos por aquela noite eu esqueceria de tudo. Que odiava Will, que sabiam sobre Yuri (potencialmente) e todos os meus problemas para me divertir um pouco. Se eu quisesse uma chance de sobreviver não podia me entregar ao sofrimento.

Nem sei dizer ao certo como ou quando... Quando dei por mim estávamos bêbados e cantando enquanto andávamos pela floresta cada um com uma garrafa na mão. Dava pra ver que Will estava bêbado quando sua magia para esconder as cicatrizes desaparecia. Na minha opinião ele nem deveria escondê-las para começo de conversa. Ficava tão mais bonito assim.

Deuses como ela era desafinado! Como cantor Will era um excelente guerreiro. Ele entoava uma música antiga em uma língua que eu não conhecia. Não fazia a menor ideia do que ele estava dizendo, o que só tornava tudo ainda mais engraçado. Eu tentava conter uma crise de risos quando ele começou a se irritar comigo.

— Do que você está rindo pirralha? - Eu nem conseguia responder.

Senti uma fraqueza com a crise de risos e cai no chão gargalhando sem ar. Nós havíamos andado até uma clareira quando eu sentei para rir e descansar. Um refúgio secreto no coração da floresta, onde os raios prateados da lua penetravam timidamente entre as folhas das árvores altas, pintando o chão com um mosaico de sombras e luz em movimento. O verde exuberante das plantas ao redor formavam uma moldura natural delicada.

O silêncio noturno era profundo, quebrado apenas pela própria natureza que sussurrava seus segredos com um suave murmúrio de uma brisa delicada, grilos cantando e pequenos animais se movimentando pela floresta.  A copa das árvores balançava suavemente, criando movimentos hipnóticos. Will bufou encarando o estrago em sua camisa.

— Nossa, mas você destruiu mesmo minha camisa hein?

— Foi você que falou que eu podia usar! - Reclamei. Ele tirou a blusa e jogou no chão.

— Eca, nojenta.

— Cala a boca! - Falei ficando irritada e vermelha de vergonha. 

Ele me deu a língua e deitou no chão ao meu lado, usando a camisa como travesseiro. Muito maduro. Dei um soco no seu braço de brincadeira e deitei ao seu lado. O chão estava cheio de pequenos galhinhos que espetaram minha cabeça. Tentei me ajeitar de todo jeito só que sempre tinha alguma pedrinha me incomodando. Will cutucou minha cabeça com seu braço estendido, indicando que eu me apoiasse nele. Hesitei desconfortável.

— Só aceite a ajuda, caramba. - Ralhou ele irritado. O que me fez sorrir um pouco.

Timidamente eu apoiei a cabeça no seu braço estendido e ele me puxou instintivamente para o seu peito. Isso não é nada demais, sem significados Luna. Encaramos as estrelas por um bom tempo sem que nenhum dos dois quebrasse o silêncio, absorvendo a beleza natural da clareira. Me pergunto o que ele estava pensando. 

Me sentia grata por ele não insistir para saber do que se tratava tudo isso e na verdade tentar me animar. Me sentia ainda mais grata por ele querer saber e perguntar, mesmo que eu não pudesse responder. Os sons da floresta me acalmavam e estranhamente eu nem pensava no que ela poderia esconder com ele ao meu lado. O céu estava especialmente estrelado e absorvi sua beleza sem pressa.

— Me desculpa por atrasar seus planos. - Disse envergonhada rompendo o silêncio. Grata, porque ele não podia ver meu rosto e nem eu o seu. Ele demorou algum tempo para responder.

— Antes do amanhecer estaremos na capital, não se preocupe. - Depois suspirou e soltou um ruído de frustração.  - Você é irritante, sabia? - Levantei o rosto e o encarei, perto até demais, com uma expressão desafiadora.

— Você que é insuportável. 

— Fale comigo quando conseguir me derrotar. - Disse com aquele ar de superioridade que eu tanto odeio fechando os olhos.

— Você está bêbado como um gambá. Aposto que consigo.

— Você também está - Ele nem mesmo abriu os olhos.

— Isso é um desafio? - Questionei me apoiando com a mão para encara-lo melhor. Ele me encarou.

— Isso é impossível.

— É mesmo? - Seus olhos amarelos quase brilhavam no escuro.

— É mesmo. - Confirmou ele.

— Vamos tirar a prova então. - Falei me levantando de uma vez. Estendi a mão para ele.

— Está falando sério? - Questionou ele levantando a sobrancelha.

— Ficou com medinho? - Provoquei.

— Claro que não! - Will segurou minha mãe e também se levantou. Pude ver que ele cambaleou levemente.

— Vamos virar o resto das garrafas antes. - Brindamos e viramos. Depois de jogar as garrafas no chão nos preparamos para o combate.

Era difícil dizer quem estava mais bêbado. Com meu histórico de bebidas eu arriscava uma vantagem. Todo esse tempo treinando duas horas a mais todos os dias com Will me levou a um outro patamar quanto às minhas habilidades. Estava confiante de que se soubesse aproveitar as oportunidades poderia conseguir uma brecha.

Senti a adrenalina percorrer todo o meu corpo, dessa vez de uma forma agradável e brincalhona. Estava decidida a aproveitar e viver cada segundo ao máximo. Principalmente agora que eu não sabia quanto tempo ainda tinha restante. iria dar tudo de mim na luta, curtir tudo que eu podia curtir e fazer o que me desse na telha. Chega de me conter, chega de vergonha, chega de querer desaparecer no cenário.

A luta começou timidamente enquanto nós estudávamos com sorrisos perversos nos lábios. Esperando… Nossos reflexos não estavam dos melhores, o que tornava as coisas mais divertidas. Conforme o sangue esquentava senti minha mente acordando e despertando.

Era muito difícil lutar contra Will, mesmo que ele estivesse alterado e errasse um golpe ou outro. Isso nos fazia sorrir e vibrar cada vez que acontecia. Seus reflexos eram fora do normal, assustadoramente sobrenaturais. Parecia que ele funcionava em uma velocidade totalmente diferente e que o mundo inteiro estava em câmera lenta ao seu redor. E olha que ele nem estava usando magia, apenas técnicas de combate. Era tão impressionante que às vezes eu esquecia o que estava fazendo e acabava errando também.

Ele conseguiu me derrubar no chão e eu soltei um gemido de dor ao aterrissar em um galho retorcido do chão. Era bem menos agradável que no tatame do instituto, confesso. Ele vacilou distraído e eu usei as técnicas que ele mesmo me ensinou, usando o peso a meu favor para nos fazer girar.

Parei em cima dele por um momento triunfal. Nós estávamos ambos ofegantes do esforço e rindo como dois idiotas. O álcool que bebemos não parecia gostar muito de toda aquela movimentação e ameaçava voltar pelo caminho inverso. Enquanto controlávamos uma crise de riso, uma ideia passou pela minha cabeça. Era loucura, mas podia funcionar. Qualquer coisa para tirar aquela expressão presunçosa do seu rosto.

Nos encaramos por algum tempo e comecei a me aproximar lentamente do seu rosto. Seu sorriso vacilou discretamente. Dava quase para ver as engrenagens da sua mente girando, tentando entender o que estava rolando.

— O que você está fazendo? - Brincou ele sorrindo. 

Eu estava tão próxima que ao falar seus lábios roçaram levemente nos meus, lançando raios eletrizantes pela nossa pele. Ele prendeu a respiração e eu não pude evitar fazer o mesmo. Já tinha ido longe demais, não podia recuar agora. Lentamente eu peguei minha adaga que estava escondida e encostei a lâmina no seu pescoço enquanto seus olhos fechavam.

— Você está morto. - Brinquei imitando a forma que ele sempre brinca comigo. 

Seus olhos brilharam de surpresa e choque. Era engraçado ver um homem tão perigoso e imponente ficar tímido. Seu rosto ficou vermelho, mesmo na penumbra. Ele me encarava intensamente sem se mexer ou falar nada, apenas com um leve sorriso brincando no rosto. Também sorri vitoriosa. Por algum motivo eu não queria me mexer. Queria saborear aquela vitória.

Will tocou meu rosto com sua mão, fazendo a adrenalina disparar ainda mais nas minhas veias e colocou delicadamente uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Parecia não estar nem aí para a lâmina que estava encostada na sua garganta, quase como se dissesse que eu poderia matá-lo se quisesse. Eu poderia de fato matá-lo. Mesmo assim ele não se importava. Porque ele não se importava? Um calor se espalhou pelo meu peito. Me sentia estranha, como se eu tivesse comido aquele cogumelo de novo.

Quando seu dedão tocou delicadamente meus lábios senti meu coração disparar como um louco e não pude conter um suspiro exasperado e surpreso. Seu corpo reagia ao meu nos mínimos detalhes, as curvas se encaixando e se movendo em sincronia. Mesmo que isso fizesse a lâmina ser pressionada no seu pescoço. Eu devo ter enlouquecido completamente. E não seria absurdo dadas as circunstâncias.

Ele seguia o contorno dos meus lábios de maneira sensual enquanto encarava ofegante a minha boca. Eu tentava recuar e não conseguia ir muito longe. A faca estava nas minhas mãos, mas ele parecia estar no controle. Como se eu estivesse enfeitiçada, presa em seus braços musculosos e rígidos. Eu queria esquecer de tudo. Esquecer do bilhete que poderia significar minha morte, esquecer sobre o espectro, sobre a Vagaba-Adams e Cadman, esquecer de todos os meus segredos e problemas… Me faça esquecer Will, implorei silenciosamente enquanto olhava em seus olhos.

Nos aproximamos de novo dolorosamente devagar, hesitantes. Nossos lábios grudaram em um beijo lento, sôfrego, que foi se intensificando devagar. Will tirou a adaga das minhas mãos e a fez desaparecer. Nossos corpos colados um no outro com ansiedade enquanto ele girava e assumia total controle sobre mim.

— Isso… É uma péssima ideia. - Falei em um segundos de lucidez enquanto Will beijava meu pescoço, me fazendo morder os lábios para evitar que um gemido escapasse e nos lançasse da beira do abismo. Sua energia se lançava contra a minha provocativamente tornando ainda mais difícil raciocinar.

— Péssima. - Concordou ele dando uma mordida no meu pescoço e me fazendo arrepiar ao mesmo tempo em que nossas energias brincando faziam nossa pele vibrar. Sua risada fazia cócegas e minha pele pegava fogo. - Devíamos parar. - Completou.

— Totalmente. - Concordei enquanto ele me ajudava a tirar minha camisa.

Eu tentava desesperadamente me segurar na borda do precipício, enquanto meu corpo já estava em queda livre nas curvas do seu torso nú. Nossos lábios se juntaram para mais um beijo de tirar o fôlego. Eu não conseguia parar. Perdi o controle e apenas reagia inconscientemente. Estávamos tão concentrados um no outro que eu conseguia ver sua energia amarelada formando um quadro enquanto se misturava à minha.

— Vamos parar Luna, antes que seja tarde. - Sussurrou ele com os punhos cerrados, tentando se agarrar à sanidade.

— Cala a boca - Disse arranhando suas costas. Ele soltou um grunhido animal e me agarrou com força. Seus olhos amarelos faiscavam, presos aos meus. Nada mais existia ao nosso redor. Nenhuma outra palavra foi dita. Apenas nos entregamos completamente àquele momento e seu nome escapava dos meus lábios em um sussurro. As árvores da floresta, como testemunhas silenciosas, celebravam a beleza dolorosa de duas almas que se entrelaçavam. Vulneráveis, entregues. Quem sabe não lembraremos de nada no dia seguinte… Se tivermos sorte.


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Notas finais do capítulo

>.< kkkkkk parece que eles finalmente não conseguiram mais se segurar e lutar contra seus sentimentos



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