– Você descobriu alguma coisa, Dr. Jack? – O superintendente perguntou ao ver a reação do psiquiatra à mensagem de Harley Quinn.

– N-Não... Digo, sim. Onde mais ouviríamos esta frase se não em um circo? E o que há em circos são palhaços, então, suponho que a frase tenha sido escrita por Harley Quinn, já que ela usa roupa de palhaço.

– Mas isto não é algo tão importante. Mesmo assim, registrarei, obrigado, dr. Jack. O senhor tem algo mais a acrescentar em relação ao caso?

Jack Nickled hesitou em responder, ele não pretendia realmente ajudar, só queria ter acesso a qualquer coisa que levasse a Harleen. E essa oportunidade apareceu.

– Sim, mas para isso eu preciso ir à cena do crime.

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“Idiota, idiota, idiota”, pensou Jack, após escrever “Surpreenda-me” com uma barra de ferro abaixo da frase escrita por Harley. Foi quando ele se tocou que era o único ali e que seria descoberto com extrema facilidade. Sua única sorte era que as câmeras ainda estavam quebradas.

– Tranquem a sala e não deixem ninguém entrar além de mim. Acho que descobri algo. – Falou com falsa neutralidade, e saiu.

Foi ao mercado, e lá comprou uma lata de tinta branca e uma esponja. Voltando ao banco, tentou esconder o volume da sacola o máximo possível e entrou na sala novamente.

Usou a tinta branca para pintar em cima do que tinha escrito, esperou secar e usou a esponja para esfregar e deixar borrado e evidente o que havia sido escrito. Agora, era só descartar a tinta, mas como fazer isso sem ser descoberto? Lavou as mãos e entrou no cofre do banco, escondendo a tinta em um canto escuro.

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– Quando li a frase, achei ter visto algo diferente embaixo, passei os dedos e percebi que havia algo escrito também, porém quase imperceptível. Comprei uma esponja, esfreguei e consegui ler o que era. Estava escrito “Surpreenda-me” abaixo de uma grossa camada de tinta branca, que não sei como não percebemos antes. – Jack “revelou” ao superintendente.

Ele sorriu e pediu para Jack ir com ele ao local para registrar. De forma surpreendente, Jack “encontrou” a lata de tinta, e como ele achou de primeira, o superintendente pareceu desconfiado, mas descartou a desconfiança por Jack ser autorizado pelo Arkham.

– Algum palpite sobre quem pode ter escrito, sr. Jack?

– Dessa vez, não. Desculpe-me, mas agora tenho que voltar para casa. Qualquer descoberta a mais, por favor, me reportem.

– Tudo bem, obrigado pelo trabalho duro.

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Sábado à noite, beirando o domingo. Frank Sinatra tocando no último volume. Um copo de Whisky com gelo e a Lua beijando a sombria cidade de Gotham. Jack Nickled aproveitava o momento para pensar. Não em algo específico, ou alguém específico. Quer dizer, era em alguém, mas ele não sabia o que pensar. Só pensava, pois com Harley era assim.

Fly me to the moon

Let me play among the stars

Com ela, nada fazia sentido, mas ao mesmo tempo, tudo fazia. Ela girava em sua mente e adentrava seu cérebro como uma bala.

Let me see what spring is like on

Jupiter and Mars

Era para ser somente uma paciente, mas antes que Jack pudesse perceber, ele estava apaixonado. Sim, apaixonado, e ele tinha ciência disso, o que era pior. Acordado, pensava nela. Dormindo, pensava nela. Isso tudo por somente quatro consultas, uma nem sequer terminada.

In other words, hold my hand

In other words, baby, kiss me

O tempo iria passar, e Jack a esqueceria. Era o que ele pensava, aliás, somente quatro consultas, quatro vezes tendo a presença daquele ser, não poderia ser tão difícil, mas ao Harley Quinn deixar uma mensagem para ele em um crime, Jack Nickled não aceitaria viver uma vida sem ela. Para ela, ele também não era só um psiquiatra, e fez questão de deixar isso claro.

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O telefone tocou. Jack tremulou. Ele não tinha amigos nem família. As únicas ligações que recebia eram do trabalho, mas o Arkham era proibido de ligar para os seus funcionários em finais de semana. Quem, então, poderia ser?

Número desconhecido.

– Alô. Quem é?

– O...Oi.....Puddin...... – A voz de uma mulher desconhecida falou.

– Harls? – Respondeu, surpreso.

– Na..Verdade...O nome é Carly Pond.... Mas, sim, ela fala por mim....... – A mulher falava pausadamente, como se tivesse lendo.

– Como assim? Por que você não fala por si própria?

– Oh...Puddin.... Soube que você está trabalhando nas investigações.....Não poderia ligar para você com um número que você pudesse rastrear.... Sequestrei esta mulher e coloquei explosivos nela, e se ela não falar exatamente o que escrevo no computador dela, a explodo..... Eu sou uma vagabunda otária... Risadas... – A mulher lendo começou a chorar, mas não parou de falar.

“Ela sequestrou uma mulher e a mantém em constante ameaça de morte por mim?” Jack quase sorriu, mas lembrou que havia uma mulher em risco.

– Harleen Quinzel, o que você fez? Liberte essa mulher agora mesmo ou rastreio a ligação e aviso à polícia!

– Antes de eles chegarem, eu já teria explodido ela – suspirou – e como você explicaria à polícia o motivo da ligação? Você foi quem pediu para ser surpreendido, então duvido que contaria a eles.

– Você nunca cometeu um assassinato, você me disse. Harley, por favor, liberte esta mulher. Você não é assim. Eu te conheço.

– Oh... Mr.... J.... Para tudo há uma primeira vez.... Estou me especializando com Circuito e Hera........ Não quero ser só mais uma lunática aleatória que não leva seus crimes a sério.... Risadas.... – Carly Pond não parava de chorar enquanto lia. – E, piranha, se você não parar de chorar, te explodo agora mesmo.

– Como eu pude pensar em qualquer momento que você tinha algum jeito? – Jack estava com muita raiva. – Você é louca. Lunática. Insana. Espero que te prendam logo e você seja mandada para a sala de proteção máxima do Arkham.

– Jo...ker....

– Agradeço que tenha visto minha mensagem e tentado responder, mas você não pode usar vidas assim, simplesmente, Harleen Quinzel.

– Mr...J....

– Algum dia você vai se arrepender de tudo isso!

– Sweetie....

– Não vou te ouvir até você me garantir que vai libertar esta mulher assim que esta conversa acabar.

– Tudo bem........ Achei que gostaria.... da surpresa.... Vou libertá-la........ Mas me responda uma coisa.......

– Sim?

– Eu.... te surpreendi? – A voz não era mais da outra mulher. Era da própria Harley Quinn. Ela assumiu o telefone para falar com Jack, e parecia estar chorando.

Ele estremeceu ao ouvir a voz que há tanto tempo não ouvia.

– Sim, Harls. Você sempre surpreende.

E a chamada acabou.

Jack tomou um gole do seu whisky e refletiu sobre o que acabara de acontecer. Como ele sentia tanta falta dela, acabou sendo grosseiro. Claro, ele não devia ser manso com ela ameaçando uma mulher de morte, mas agora as chances de um reencontro tinham sido reduzidas a zero.

– Oh, Harleen Quinzel. Se você fosse presa novamente, eu ficaria tão feliz. – Pensou alto. – Mas com a condição de ter você na minha sala novamente todos os dias.

– Oh, Puddin, como é bom ouvir isto. – O celular ligou sozinho.

– O QUÊ?

– A partir do momento em que você atendeu minha chamada, tenho o poder de fazer isto. Posso ouvir tudo o que você fala sem você saber. Bela música, aliás.

– Harley, eu...

– Carly Pond foi libertada. Desculpe pelo inconveniente. Sinto sua falta, Mr. J, e pelo visto você também sente a minha. Outros recados virão, e espero que você dê um jeito de responder, e não se preocupe, nos veremos em breve. Agora vou te deixar em paz, tenha uma boa noite.

– Harley, espera...! – E o celular desligou automaticamente, como se tivessem tirado a bateria.

Harley Quinn... Por que tão Harley Quinn? E por que diabos Jack iria querer ser deixado em paz? Se tinha uma coisa de que ele estava cansado era trabalhar em paz. Ele queria essa perturbação. Ele não queria ser deixado em paz por Harley Quinn.

A notícia de que se veriam em breve fez o corpo de Jack ficar quente. Quente como o Sol. Quente como o magma terrestre. Quente como Harley Quinn.