– Harleen Quinzel. – Disse Jack Nickled ao entrar na sala psiquiátrica. – Serei o seu psiquiatra enquanto os seus crimes são julgados. Ao todo, teremos dez sessões. Meu nome é Jack. – Estendeu a mão para a garota loira sentada no canto da cama que ali havia.

Ela não se mostrava interessada, abraçava os joelhos e olhava para baixo. Olhou com o canto do olho para o belo homem alto e magro que ali estava.

Jack esperou mais um pouco, e quando percebeu que ela não ia devolver o cumprimento, sentou numa cadeira atrás da mesa.

– Então, por onde começamos, Harleen...

– Harley. – Ela corrigiu. – Harley Quinn.

– Na sua ficha consta o nome Harleen Quinzel.

– Eu prefiro Harley Quinn, obrigada.

– Tudo bem. – Ele suspirou. Já sabia que aquela era uma paciente difícil de entender. - Você sabe por que estou aqui?

– Porque eles acham que eu sou louca. Fala sério. –Ela suspirou.

– Eu não acho que você seja louca.

Harley olhou, com os olhos brilhando, para o seu psiquiatra, e levantou-se. Sentou-se à mesa e falou, sorrindo:

– Não acha? O que você acha então?

– Eu acho que você vive sua vida de forma livre, sem seguir as regras. É até bonito se for analisar na teoria.

– Tem certeza? – A garota se levantou e colocou-se ao lado dele. –Obrigada. – Disse, abraçando-o.

Jack arregalou os olhos.

– Harleen, sente-se, por favor.

– Estou bem aqui, obrigada pela preocupação!

– Harleen Quinzel, por favo...

– Harley Quinn! Nossa, Mr. J, quer que eu escreva para você?

– Então, por que não começamos com a sua infância? –Disse ele, ignorando-a. - Você tem algum tipo de trauma?

– Eu gostava de pôneis e tinha um unicórnio. A verdade é que eu pertenço à família real inglesa, era jurada de casamento, e fugi, pois meu noivo não me agradava. Não deixava minha Barbie namorar o Ken dele.

– Você está falando sério?

– Sim. Eu aprendi a voar também, mas quando quebrei a asa, desisti.

– Por favor, Harleen, leve essa consulta mais a sério. – Jack suspirou. – Estou aqui para julgar se você tem sanidade o suficiente para viver livre. Talvez até consiga te libertar.

– Ora, Mr. J, por que você é tão sério? Aposto que você tem um belo sorriso.

– Você foi sentenciada por conta de cinco assassinatos, quinze roubos a bancos, oito roubos a museus e formação de quadrilha com Pamela Isley e Selina Kyle.

– Shh! – Fez um gesto com o indicador, para que ele ficasse calado. Ele não entendeu o motivo, mas parou de falar. – Esses são os nomes verdadeiros da Hera Venenosa e da Mulher Gato, não fale alto!

– Elas também estão no Arkham. Vocês três foram presas ao roubar armas da delegacia, não lembra?

Harley Quinn riu alto, como se estivesse se lembrando.

– Aquilo foi muito engraçado! – Ela tentava falar, mas as gargalhadas substituíam a fala.

– Vocês fizeram um policial entrar atirando no seu próprio ambiente de trabalho. O que me diz sobre isso?

– Aquele policial? – Disse Harley, já parando de rir. – Foi fácil. Apenas demos um golpe.

– E como vocês fizeram isso?

– Selina atraiu o tira para um beco, onde eu chorava, mas eu estava atuando, claro, e quando ele veio me ajudar, Pamela o imobilizou. Usou uma espécie de hipnose com suas plantas, e quando ele tentava resistir, ela tirava alguma peça da minha roupa. Foi divertido.

– E ele resistiu até quando?

– Até eu ficar sem roupa. – Ela disse sorrindo.

– Por que você? Você se ofereceu?

– Está com ciúme, Mr. J? Se você quiser, pode ver também.

– Harleen, Harleen... – Suspirou novamente. – E eu achando que dava para ter uma conversa saudável com você. Não passamos de um minuto visando o real assunto para que vim aqui.

– Mr. J, você acha que dá para eu ser modelo?

– Por que isso do nada? Mas, espera... Isso é um desejo seu?

– Era, quando eu era mais nova. Diziam que eu tinha o corpo e a beleza adequados para isso.

– Você daria uma bela modelo, Harleen.

– Oh, você acha? – Disse ela, posando e fazendo biquinho. E pela primeira vez, Harley Quinn viu Jack sorrir.

– Acho, acho sim. Mas isso é interessante. Você queria ser modelo, um sonho comum para adolescentes. Por que se desvencilhou e foi para o mundo do crime?

– Modelos são ratas da mídia. Querem ser perfeitas para os outros, são presas a um mundo fútil. Eu prefiro ser livre.

– Isso é interessante, Harleen. – Jack olhou para o relógio. – Nossa primeira consulta chegou ao fim. Não consegui muita coisa, mas acho que dá para termos um relacionamento melhor nas próximas. Até logo. – Disse Jack, se virando.

– Até. – Ela disse. – E Mr. J...

– Sim?

– É Harley!

– OK. Mrs. Harleen?

– Sim?

– É Jack. Jack Nickled.

Ela sorriu e o psiquiatra se retirou da sala.