Olhos Estreitos escrita por ericalopes


Capítulo 12
12. Juntos




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O som dos pássaros lá fora fizeram com que o dia começasse bem. Ainda de olhos fechados eu lembrei das manhãs  na fazenda, aquele som era extremamente familiar.
Devo admitir que não dormi bem aquela noite, fechava os olhos, abria os olhos, buscava respostas e decisões que não vinham.
Havia uma leveza em meu corpo, talvez o fato da noite anterior tivesse amenizado os pesos entre mim e Daryl.
- Bom dia. – Carl expôs a luz para dentro da barraca com muita delicadeza. – Eu só vim buscar fósforos, pode continuar a dormir.

- Tudo bem, eu acho que já está meio tarde não é? – me coloquei para fora e expus o corpo ao calor do sol. Ardente e delicioso.

- Nós vamos ficar mais 1 dia. – disse Carl. – Estamos tentando contato com Portland, pra que eles venham nos encontrar no caminho e nos ajudar. Mas a pilha do rádio está falhando.

- É uma boa idéia. – eu resumi me espreguiçando.

Brenda, Lucy, Georgine e Silvya trabalhavam lavando roupas perto do lago. Ao me ver, Georgine e Silvya acenaram pra mim distribuindo sorrisos.
Dog se aproximou me entregando uma enxada.

- Trabalho Duro pra durona. – eu sorri pegando instrumento e o acompanhei. Chegamos até um outro extremo da ponte.
- As mais gordas. – logo soube o que faríamos ali. Caçaríamos minhocas para isca de pesca.

- Gordas como você, ou gordas como eu? – brinquei. Dog caiu numa gargalhada quase eterna.

A tarefa era muito fácil, o ferro mal encostava na terra e elas praticamente saltavam para nós.

- Se precisarmos repovoar a terra de minhocas, não teremos problemas. – eu disse depois de raciocinar um pouco.

Dog riu mais um pouco, depois jogou sua ferramenta de lado e olhou ao redor. Me deu um sorriso malicioso que me assustou ligeiramente. Tirou então de um dos bolsos um pequeno embrulho de papel. Dentro uma pequena pedra rígida, que mais se parecia com uma raiz de árvore seca.

- Paz. – ele disse expremendo entre as palmas da mão o objeto duro, que se desfez em meio segundo devido a força. Não demorei muito pra constatar do que se tratava.

- Não faça isso. – eu pedi lembrando das ordens de Rick.

- Eu sempre faço. – ele retrucou. – Pega o papel aqui no meu bolso.
 

Eu demorei um pouco, mas acabei acatando a ordem. Eu reprovara totalmente a atitude de Dog e temia por ele. Já ele parecia bem entretido com seu fumo.

- O seu vai ser menor, pra você não cair na primeira. – ele riu um pouco e distribiu  a erva sob o pequeno pedaço de papel. Dobrou-a delicadamente e a estendeu pra mim.

- Eu não quero isso. – disse com total certeza.

- Não pega nada. É medicinal e até vai te ajudar. – ele argumentou. Olhei para Dog com um bocado de fúria se aglomerando no meu rosto. Tentava não o julgar ou dizer milhões de coisas, não era o certo, mas era o que eu queria.

- Eu não quero isso, me desculpe. – eu recolhi as ferramentas do chão e me colocava a caminhar de volta ao acampamento.

- Ok, então só fica aqui por perto. – ele pediu acendendo o cigarro. Atendi ao seu pedido, mas me sentei tão longe quanto pude.

Dog passou os olhos por mim, só cinco minutos haviam se passado e eles já estavam vermelhos. Era constrangedor estar ali, eu nem sequer sabia porque estava. Eu nunca havia usado nenhum tipo de droga na minha vida, nem sequer tinha a curiosidade. Mas o mundo havia acabado e as normas pareciam ter ido também. Eu havia perdido um pouco do pudor, e talvez fosse capaz. “Não!”, eu gritei comigo. Não faça isso. Não se perca mais do que já está.
Então Glenn veio a minha cabeça, senti o toque quente das suas mãos sobre as minhas e lembrei que algo importante deveria ser feito.

Não durou muito tempo até meus olhos encontrasse o lugar onde eu havia ajudado Daryl na noite anterior. Fechei os olhos e revivi a cena. O choque entre nossos corpos quase fizera meu coração sair pela boca. Algumas horas atrás eu o tinha tão perto de mim, a poucos centímetros de onde eu sempre quisera que ele estivesse.

Eu lembrava daquele impacto e desejava que ele acontecesse sempre. Sentia o calor do sol e queria que o de Daryl se juntasse a ele, todas as horas do meu dia.

Mas que droga, o que há de errado com você? Que droga de altruísmo é esse? Que loucura é essa? Não faz sentido. Era o que eu dizia e qualquer outra pessoa diria. É totalmente insano e auto destrutivo estar apaixonada por Daryl Dixon.

Não podia deixar meu emocional me atingir. Eu tinha que lutar com os meus sentimentos mais do que eu lutava contra a morte. Me esforcei para mudar a direção dos meus olhos para os de Glenn, mas ele e Daryl, ambos tinham olhos estreitos. Sobrava-me apenas a única certeza, apenas o coração de um deles tinha lugar pra mim.

Não era um bom momento para um romance. E disso eu tinha certeza. O amor deixa as pessoas loucas, e mais uma vez eu repito, não era de uma loucura impensada que precisávamos ali. Meus argumentos eram muito válidos, e escondiam um pouco da realidade. Eu não gostava do Glenn da forma que ele gostava de mim. Era tão forte quanto o que ele sentia, mas não era a mesma coisa. Putamente egoísta. Porque eu não poderia dar o mesmo a ele?

Quando eu achava que estava encaixando as peças, alguém chutava meu quebra cabeça me fazendo o montar todo de novo. Na verdade eu acho que nunca cheguei nem perto de monta-lo.

Se nem sequer na minha mente havia espaço para o Glenn, meu coração então...

- Imagina a Beyonce dançando Single Ladies. – Dog levantou um riso farto e alto enquanto me olhava. A erva já fazia efeito em sua cabeça.

Não me contive, imaginei a cena e consegui mais uma vez escapar de ter que fazer aquilo.

- A Gaga deve estar tão feliz com seus monstrinhos. – eu disse participando da brincadeira.

- Ela deve estar a beira da glória agora. – ironizou Dog dando a última e mais profunda tragada em seu cigarro.

- “Born this Way baby.” – Dog quase não tinha mais forças para rir muito menos para se levantar. Negou minha ajuda quando tentei ajuda-lo.

- Você pegou a brisa com a fumaça. Tenho certeza. – eu sorri pra aqueles olhos vermelhos como tomate e completamente embriagados.

- Tô com fome. – reclamou.

- Vou fazer o que vim pra fazer. Pescar. – voltei ao trailer e procurei pela bagunça alguma vara ou qualquer coisa que servisse para pegar um peixe, mas depois de algum tempo eu considerei a possibilidade de pega-los com a própria mão.
Um sorriso simples invadiu meu rosto ao constatar que Glenn dormia tranquilamente na cama que fora minha nas últimas noites. Seus braços estavam caídos, seu rosto encostado na janela continha uma paz inexplicável. Seu cabelo era preto como a noite e parecia ser tão liso e fino.

Eu tinha uma semi decisão sobre nós dois tomada. Mas ainda estava tentando criar coragem para dize-la. Eu não ficaria com Glenn, e explicaria a ele todos os motivos que me impediam de o fazer.
 

Sentei ao seu lado sorrateiramente. Passei os dedos suavemente e senti a textura fina e aveludada pela pele. Eram tão lisos e finos como realmente pareciam ser.

Naquele momento envolto de ternura e silêncio eu senti meu coração xiar. Um ruído baixo e distante. Por um momento eu senti como se quisesse passar toda a minha vida ali, como se eu quisesse Glenn para sempre. Mas era só o momento e eu não devia me apegar a situações. O que eu sentia ali não era real, era só uma sensação provocada pela situação e que não duraria.

Seus olhos tinham olheiras gigantescas, o que me levou a crer que ele não dormia muito bem a dias. Sabia que a culpa era minha. E me culparia por todas as possíveis coisas ruins que pudessem acontecer a Glenn dali em diante. Era isso que me impedia de ficar com ele. A responsabilidade que eu teria por ele, responsabilidade essa que eu não queria assumir. Seria como ter a vida dele nas mãos e que qualquer palavra ou frase dita pudesse mata-lo. Eu não podia fazer isso, mesmo que doesse infinitamente negar o sentimento dele. Eu não podia simplesmente dizer que sentia o mesmo.

Glenn abriu os olhos de uma só vez e seu corpo praticamente pulou para cima do meu. Ele piscou várias vezes até conseguir enxergar com clareza.

- Você está bem? – ele perguntou passando as mãos pelo meu rosto e a respiração descompassada. Senti o calor da sua palma mas também senti o tremor do corpo todo.

- Estou. – eu respondi assim, baixinho, me deixando levar pelo toque leve e caloroso dos seus dedos sobre a minha face. Todos os sentimentos se aglomeraram em cima do meu coração o empurrando para baixo, fazendo-o gelar minha barriga.
Me perdi no tempo e no espaço. Fechei os olhos e apaguei as luzes da consciência. Não precisei puxa-lo para perto de mim, nossos corpos se comunicaram na mesma frequência e no momento exato estávamos lá, nos beijando assim como deveria ter sido quando Glenn disse tudo “aquilo”. Nossas respirações em ritmos igualmente descompassados, num beijo calmo, lento e cheio de declarações a cada movimento. Ele segurava meu rosto com as duas mãos, eu brincava lentamente com seu cabelo por entre os dedos. Não queria que aquele beijo acabasse. Por isso o fiz durar o máximo possível.

Nossos lábios se descolaram devagar, senti todo o calor sendo subtraído do meu corpo quando sua boca se retirou da minha. Mantive os olhos fechados por alguns segundos aproveitando as últimas sensações.

- Me desculpe. – seus olhos já não estavam mais tão assustados como sempre estavam.

- Eu ainda não sei. Mas existe. – não era o que eu havia me preparado para dizer para ele. Não era nem verdade. Não existia nada. Foi só o momento e uma mistura de sentimentos. Mas nenhum deles era amor. Eu sinto muito ser tão egoísta, mas era pura e unicamente físico. Um grande erro físico e emocional.

Mas esses pensamentos ficaram presos lá no subterrâneo da minha mente. Naquele momento Glenn era tudo, e eu o queria e tinha a plena falsa certeza disso. Não conseguia ser racional, não depois daquele beijo.

Caminhamos timidamente até o riacho. Glenn havia achado as varas e se ofereceu para me ajudar.

- Desculpe se eu vou acabar com todo o clima, mas eu preciso perguntar. – Glenn endureceu a postura e me fitou preocupado.

- Ok. – respondi já nervosa.

Glenn se sacudiu um pouco e voltou a me encarar.

- Eu senti um cheiro estranho. Digo, foi ótimo, foi maravilhoso, foi a melhor coisa do mundo. Mas o cheiro era muito forte, então foi impossível não ignorar. Eu preciso perguntar se você fez isso.

Embora eu quisesse muito rir, eu não podia me desfazer assim daquela preocupação dele.

- Não. Não eu. – disse um pouco triste lembrando de Dog.

- Dog? – ele questionou e não precisei responder. Ele já sabia.

- Dont’ judge me. – o grandalhão parecia nem se importar com o olhar de Glenn sobre ele. Esperei que ele dissesse que Dog não era boa companhia ou que literalmente não era bom pra mim mas ele não o fez. Talvez porque soubesse que eu não daria ouvidos a ele, ou porque eu não me meteria naquelas coisas.

- Então vocês estão ficando? – Dog se levantou em alguns tropeços e se posicionou a frente do magrelo Glenn. Glenn diminuiu imediatamente de tamanho mediante aquele cara gigante.

Eu e ele nos surpreendemos com a pergunta de Dog. Não que necessariamente o que tinha ocorrido minutos atrás fosse um segredo. Mas também não parecia o tipo de coisa estampada em nossas faces.

Não houve resposta para a pergunta. Trocamos olhares cúmplices. Não tínhamos muito a dizer.

- Cuide dela como se fosse sua mãe. Ainda mais que isso. – Dog fechou o semblante, determinou as palavras com muito vigor. Não parecia estar tão embriagado como antes. Ficou um tempo olhando Glenn avaliando se ele tinha mesmo entendido o recado.

- Muito mais que isso. – respondeu Glenn.


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Notas finais do capítulo

I'm the edge, of glooooooooooooooooory