Narração:Clove

Domingo

–Obrigada,senhora Emerson.-Digo abrindo a porta do carro e saindo.As meninas vêem atrás,exceto por Finch que dá um beijo de despedida na bochecha de sua mãe.

–Cuidem-se.-Disse ela.-E boa sorte Clove!

Antes que eu pudesse dizer algo,ela pisou no acelerador e foi-se.Caminhamos então até o ginásio.Já podia ouvir os gritos insanos vindo da platéia.Minha perna tremeu,junto com minhas mãos.Eu estava com muito medo.E se fizesse algo errado?E se estragasse tudo?Era o meu primeiro jogo...tudo podia dar errado...

–Vocês podem ir procurar um lugar,acho que daqui a pouco vai lotar.-Digo tentando relaxar os ombros.

–Você tem certeza que não quer que a gente fique aqui?-Perguntou Glimmer.

–Valeu Glimm,mas eu vou ficar aqui com o time.-Digo.

–Está bem,então.

Todas as meninas me deram ‘’boa sorte’’,exceto Johanna que disse que se eu estragasse tudo ela me mataria.Aceitei aquilo como um ‘’boa sorte estilo Johanna Mason’’.

Segui até ao lado do time.

–Oi,meninas.-Digo.

Elas assentiram,muito nervosas.

–Onde está a Annie?-Perguntei com um sorrisinho no rosto.

–Ela disse que está impossibilitada de jogar.-Disse uma das meninas roendo as unhas.

–Quem vai substituí-la?-Perguntei.

–A Anna.Uma menina que fica sempre no banco.

Assenti segurando o riso.Sabia o quão importante era aquele jogo para a Annie.Ela ficou falando nesse jogo praticamente todos os treinos,nos dando dicas e tudo mais...

De repente ele apareceu.Cato.Veio caminhando em nossa direção lentamente,com um sorriso no rosto.Ele estava uma camiseta não muito formal e calça jeans.Seu cabelo estava espetado como sempre,mas impecável de certa forma.Seus olhos estavam grudados nos meus,quase em sincronia.

–Estão prontas?-Perguntou,ainda com os olhos grudados em mim.

Fiquei com um pouco de vergonha,afinal as meninas estavam se dando conta.Eu não queria que ninguém notasse.

–Sim.-Dizemos juntas.

–Olha,eu sei que vocês vão conseguir,tenho certeza.Quero só começar o jogo com a Clove sacando.-Disse Cato.

Meus olhos se arregalaram.O quê?Ouvi bem?Eu não era muito boa com essa coisa de sacar,tenho certeza que as outras jogadoras eram melhores que eu.Por que eu tinha que começar?

–Clove,você é muito boa com isso.E vai dar impulso pro jogo.-Disse Cato.-Confio em você.

–Eu não sou nem um pouco boa sacando.E ainda mais sendo a primeira.Quer dizer,isso é muita pressão.-Digo nervosa.

–Eu tenho certeza que você vai conseguir.Como eu disse:confio em você.-E com isso ele deu uma piscadela.

Fiquei sem fala naquele momento.

–É melhor vocês irem.-Disse Cato.-Vou ficar no banco.

As meninas caminharam até o centro do ginásio.Estava seguindo elas,mas Cato segurou meu braço.

–Não vá embora sem falar comigo.-Disse ele em meu ouvido.

–Eu tenho que ir.-Digo me soltando de seu braço.

Segui para o centro junto das meninas.Posicionei-me na posição para sacar.O público foi ficando cada vez mais quieto,a medida que percebiam que o jogo estava começando.Senti minhas pernas tremerem novamente.Olhei para a porta de entrada do ginásio,vendo minha mãe entrar.Quando me olhou deu um sorriso largo que me fez sorrir também.Depois disse um ‘’boa sorte’’ seu som e foi se sentar ao lado de minhas amigas.Respirei fundo,ela estava lá.Minha mãe nunca esteve por perto,nunca.Mas agora ela estava.Agora eu não ia fazer merda.Daria o meu melhor por ela.

Segurei a bola com uma de minhas mãos,com a outro dei um soco profundo na bola.Ela desceu com uma velocidade incrível e bateu no chão sem que ninguém do time adversário fizesse absolutamente nada.

Quando fizemos o ponto comecei a gritar de felicidade.O time inteiro também gritou,acho que ninguém esperava que eu fizesse algo certo.Vi Cato comemorando lá do banco.Eu sei que foi apenas um ponto,nada de mais,é só que eu finalmente mostrei que sabia fazer algo.

O resto do jogo foi bem calmo para mim.Tentei defender o máximo de bolas que consegui,mas nada de muito incrível.Do mesmo jeito estava feliz,pois uma coisa de boa eu havia conseguido e isso já me deixava feliz.

Acabamos vencendo no final.Não por minha causa,tive que admitir que a menina do banco era realmente muito boa.Ela deu bastante duro,parecia até que sua vida dependia daquele jogo.

–Parabéns a escola de Panem,que foi vencedora dessa partida.-Disse o narrador.

Com isso começamos a gritar e nos abraçamos.Cato também veio junto,nos abraçando fortemente.Aquele momento foi épico.Todos gritando de pura felicidade,tudo estava perfeito,tinha que admitir.

Corri para minhas amigas e mamãe.Nos abraçamos fortemente também.

–Você conseguiu!Você conseguiu!-Disse Glimmer.

Finch estava chorando de emoção e Johanna estava me abraçando tão forte que quase fui sufocada.

–Incrível,Clove.Você estava demais.-Disse mamãe.

–Você achou?-Perguntei.

–Com certeza.Nunca vi um saque tão perfeito na minha vida.-Disse ela.

–Isso é porque você não vê jogos de vôlei.-Digo arrancando risadinhas dela.

–O que vocês acham de comer uma pizza?Já liguei para sua mãe Finch e ela achou uma ótima ideia.-Disse mamãe.

–Dentro!-Gritou Johanna.

Caminhamos para fora daquele ginásio cheio de gritos.Até que alguém segurou meu braço fortemente fazendo-me voltar.Olhei para trás vendo Cato.

–Mãe,vocês podem me esperar no carro?-Gritei.

–Está bem.-Disse ela sendo levada pela multidão.

Virei-me para Cato.

–Não temos nada para conversar.-Digo.

–Temos.Vem comigo,vamos em um lugar mais calmo.-Disse ele.

Assenti o seguindo.Caminhamos até o vestiário masculino que estava vazio obviamente.Sentei-me em um banco e ele fez o mesmo.

–Precisamos falar sobre aquele beijo.-Disse.

–Não temos nada para falar sobre aquilo.-Digo.-Não foi nada.

Cato me olhou sério,como se tivesse levado uma facada ou algo do tipo.

–Claro que foi alguma coisa,Clove.-Disse ele.

–Desculpe,mas não senti nada.-Digo.

–Perai,você não sentiu nada?

–Nada.

–Nem alguma coisa?

–Talvez um beijo normal,que se dá em algum estranho na balada.

Ele riu.

–Clove,para de fingir,está bem?Eu estou apaixonado por você,agora.Vamos ficar juntos,eu te amo.Aquele beijo provou realmente que quero passar cada segundo da minha vida com você.

–Cato,eu juro,não senti nada.Achei que fosse sentir alguma coisa,mas nada...

Era verdade.Eu não sentira nada.Foi como beijar um garoto qualquer.Em minha imaginação eu sempre pensei que os lábios de Cato fossem como algo mágico.Que quando eu os beijasse tudo mudaria,mas não foi bem assim que aconteceu.Era como se eu não estivesse mais apaixonada por ele.Talvez eu realmente tivesse esquecido dele.

Os olhos de Cato murcharam.Seus ombros caíram e o seu sorriso desapareceu.Ele piscava rapidamente.

–Você não pode estar falando sério.-Disse ele.

–Mas eu estou.-Digo.

–Clove,você sempre sonhou com a gente e agora eu também estou sonhando.-Disse ele.

–É,mas eu cansei.Cansei de ser tratada assim,Cato.Eu sou humana.Fui pisada e muito sofri por sua causa.Um dia as pessoas aprendem...-Disse aquilo lembrando-me de todas as noites que passei chorando.

–Clove,eu quero me desculpar.-Disse ele segurando minha mão.

Puxei rapidamente.

–Não,Cato.Agora eu digo:eu não te quero.

Sai andando daquela sala fedorenta.Segui meu caminho até fora do ginásio,que até vazio já estava.Só restavam os faxineiros limpando tudo.

Encontrei minha mãe e as meninas encostadas ao carro conversando.

–Onde você estava?-Perguntou Johanna.

–Não importa,vamos comer logo essa pizza que eu estou morrendo de fome.-Digo.

Entramos no carro e mamãe ligou o som no volume máximo.Coisa que ela nunca fez.

–Obrigada,mãe.-Digo baixinho.

–Por que?-Perguntou.

–Por ter ido me ver.-Digo.

Ela apenas sorri e segue até a pizzaria.