Polly e eu colocamos as coisas dela no fusca e fomos para o meu apartamento descansar. No sábado de manhã, sairíamos para a praia.

No sábado de manhã, seguimos para a pequena cidade pesqueira onde minha mãe morava. No carro, tocava Pearl Jam e nós cantávamos feito duas loucas, o que era bem normal.

Após quarenta minutos de viajem, avistamos a casa amarela desbotada pela maresia. Estacionei na esquina e nós descemos nossas coisas.

–Vocês demoraram! - John falou impaciente, ele e Carl já esperavam na porta da casa - Estamos aqui faz uma hora esperando.

–Vocês que são impacientes moleque. - baguncei os cabelos negos dele e ele riu.

–Oi! - Carl pulou no meu colo me dando um grande e sufocante abraço.

–Gente, - eu disse afastando meu irmão hiperativo - eu e a Polly vamos guardar nossas coisas no meu quarto, nós vamos dormir aqui hoje. Vão colocando suas coisas no fusca.

Entreguei as chaves para John e eles seguiram empolgados para o carro.

**

A praia estava tranquila, não tinha quase ninguém. Os meninos correram para o mar, e Polly foi ler um livro então resolvi pegar minha câmera fotográfica e fui dar uma volta.

Fazia muito tempo que eu não ia à praia, nem mesmo quando eu morava com a minha mãe eu ia. Também não tinha muito tempo, eu morava com meus pais, mas estudava na cidade que moro hoje. Fiz meu ensino fundamental e o médio lá. Depois que meu pai morreu, eu já quase não saía de casa.

Aquele lugar não mudara nada. Eu tinha um cantinho na praia, era uma cabana de pescadores abandonada que se escondia no meio de rochas. Eu sempre ia pra lá quando estava triste, ou quando queria tirar boas fotos.

Dentro da cabana nada havia mudado. Eu tinha armado um esquema para trancar a porta. Eu escondia coisas das quais eu gostava lá. Discos importantes e um violão velho. Tinha também um cobertor empoeirado no canto da parede.

Me sentei perto do cobertor e peguei o violão, que estava coberto por teias de aranha. Limpei um pouco e tentei tocar mas estava tão desafinado que até doeu meus ouvidos. Deixei o violão de lado e comecei a vasculhar outras coisas até encontrar minha primeira câmera fotográfica.

Era uma câmera azul, daquelas que revelavam as fotos assim que eram tiradas. Eu amava aquela câmera. Meu pai me dera ela quando eu fiz seis anos de idade. Me lembro dele dizendo :"Agora você não tem mais que ficar fingindo que está tirando fotos com os dedos". Ri ao me lembrar disso. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu tentei afastar as lembranças que me traziam saudade.

Peguei a câmera e saí da cabana a trancando de novo. Voltei para o nosso lugar na praia.

–Olha o que eu achei. - falei mostrando a câmera para a Polly.

–Eu me lembro disso! - ela fechou o livro e se ajeitou na cadeira de sol.

–Meu pai que me deu. - sorri triste e ela assentiu.

–Eu estou com fome! E você? - minha amiga mudou de assunto para que eu não me sentisse mal.

–Também. Vou chamar os meninos, vamos para uma lanchonete e depois a gente pode levar eles no cinema.

–Ótima ideia!

Fui até a beirada do mar e os chamei, acho que também estavam com fome, pois vieram correndo quando eu gritei "quem quer lanche?".

Enquanto John saía da água, vi algumas manchas roxas em seu abdômen.

–John, o que é isso? - perguntei mostrando as manchas.

–Nada. - ele respondeu baixo - Só, a água está fria, deve ser de frio. Vamos logo eu estou com fome.

Achei suspeito, mas decidi que iria falar com ele sobre isso depois. Eles juntaram as coisas e nós estávamos indo para a lanchonete na esquina da praia quando fui interrompida por alguém me gritando.

–Ei, Tiffani! - me virei e vi Collin, teria ficado surpresa se não soubesse que ele surfava lá nos finais de semana.

–Oi Collin, o que faz aqui? - perguntei meio tímida e desconfortável, já que ele estava só de bermuda.

–Surf, faço isso todo sábado. - ele sorriu.

–Legal. - falei.

–Sabe, você vai embora hoje? Ou vai dormir nos seus pais? - ele perguntou.

–Vou ficar aqui. - respondi, Polly olhava meio confusa para mim.

–Legal! - Collin disse - A gente podia sair hoje, eu vou ficar aqui. Sabe, ontem foi legal...

–Ontem? - Polly perguntou.

–Polly eu te explico depois.

–Você trocou a noite de sexta pelo Collin? - ela estava brava.

–Polly...

Ela saiu chateada, pedi desculpas ao Collin e corri atrás dela. Eu não queria brigar com a minha melhor amiga de novo.