Tóquio era para muitos a cidade das oportunidades, onde tudo acontecia. Para Harry não foi diferente. O jovem inglês poucos anos após terminar a faculdade de economia recebeu uma proposta para trabalhar na cidade japonesa e desde então achava ter a vida que sempre almejou. Tinha um belo apartamento em uma das melhores localidades de cidade, uma posição importante em uma grande instituição financeira e um relacionamento com Cho Chang. Mas nos últimos anos, algo estava o incomodando, não se sentia feliz.

-Você chegou tarde, novamente. Cho disse assim que ele entrou em casa.

-Eu tive que ficar até mais tarde no escritório. Harry afrouxou o nó da gravata e caminhou até o banheiro para tomar banho.  –Tinha umas coisas para resolver sobre a viagem e o negócio que irei fechar amanhã.

-Quanto tempo irá ficar fora? Ela perguntou chateada. –Você nunca está em casa...

-Talvez uma semana, não sei. Estou cansando e não quero brigar! Ele fechou a porta do banheiro.

-Não sei por que eu ainda quero casar e ter filhos com você! Cho gritou sem saber se ele ouvira.

O relacionamento não passava por um bom momento, estavam em um empasse. Cho queria casar, começar uma família, afinal namoravam há cinco anos e todas as suas amigas estavam casando, não aguentava mais ser enrolada. Harry achava que não era necessário casar, moravam juntos e isso era o máximo que ele pretendia no relacionamento.

Harry ficou enrolando o quanto podia tomando banho e arrumando sua mala, se fosse para o quarto e encontrasse Cho acordada sabia que acabariam brigando. Entrou no quarto e Cho estava virada para o outro lado, parecia estar dormindo.

-Você está feliz? Cho perguntou assim que sentiu que ele deitou na cama. –Seja sincero, por favor.

-Sim. Ele respondeu deixando os óculos no criado mudo ao lado da cama. –Desculpa, mas eu estou cansado demais para as suas conversas.

-Não parece! Ela virou-se para o namorado. –Você faz de tudo para não ficar em casa ou comigo e também não parece muito satisfeito com o seu trabalho...

-Eu estou feliz, só um pouco cansado. Parte disso era verdade, realmente estava cansado. –Podemos terminar por aqui?

-Por que você não tira férias e vamos para Londres conhecer sua mãe? Cho sugeriu animada. –Eu ainda não a conheço ou a sua amiga Hermione que sempre vejo você trocando mensagens...

Harry respondeu algo como “irei pensar” e encerrou a conversar virando para o outro lado. Tentou dormir, mas não parava de pensar na pergunta que Cho lhe fez. Por que ele não se sentia feliz, tinha uma vida perfeita.

Na manhã seguinte, saiu cedo como de costume, antes mesmo de amanhecer. Adorava a primavera, Tóquio ficava inteira florida. Harry aproveitava e ia caminhando para o trabalho, usava esse tempo e a paisagem para refletir ou simplesmente para não pensar em nada.

Chegou ao escritório e alguns dos seus colegas já estavam lá para mais um dia de trabalho, inclusive seu chefe que o chamou para conversar na sua sala.

-Aconteceu alguma coisa? Harry perguntou preocupado encostando a porta. –É alguma coisa sobre o negócio que iremos fechar hoje?

-Não, está tudo certo. Viajaremos no final da tarde. Seu chefe o tranquilizou. –Só quero te fazer uma pergunta, você tem vontade de voltar para Londres?

 -Londres é a minha cidade, mas não tenho planos de voltar. Ele não entendeu o que seu chefe quis com a pergunta.

-Bom, é melhor você refazer seus planos. Ofereceram-me o cargo de diretor financeiro da empresa, mas não aceitei. Estou quase me aposentando e não seria justo com a minha família fazer essa mudança apenas por alguns anos, então indiquei você para o cargo e eles aceitaram.

-Diretor financeiro? Harry não acreditou. –Eu não sei o que dizer.

-Preciso enviar a resposta até o fim do mês, ou seja, duas semanas. Então pense com calma e converse com a sua esposa, é uma grande mudança.

-Muito obrigado pela indicação, eu vou pensar e conversar com a minha namorada.

Durante o dia só conseguiu pensar nessa oferta, talvez fosse o destino lhe dando a chance de recomeçar, ou melhor, de se sentir feliz novamente. “Desde quando acreditava em destino ou sorte?” Harry se questionou. Tudo o que tinha foi conquistado devido ao seu empenho e mérito, acreditava que as pessoas faziam o seu próprio destino e era isso que estava fazendo.

Seria bom voltar a viver em Londres, sentia falta da cidade onde cresceu e principalmente da sua mãe e Hermione, sua amiga deste sempre. Mas Cho iria aceitar deixar o trabalho, família e amigos para lhe acompanhar? Quem sabe com um pedido de casamento? Agora o casamento parecia à saída perfeita, é talvez esse fosse o próximo passo.

A viagem foi tranquila, em poucas horas chegaram a Osaka. Harry e o chefe foram até a cidade selar um empréstimo a uma empresa de produtos eletrônicos. A programação era passar a semana para fechar esse negócio, mas com o empenho e trabalho de Harry, conseguiram encerrar já na primeira reunião com o contrato assinado o que foi bom para ambos.

-Parabéns, Harry! O chefe o parabenizou. –Sua facilidade em situações como essa é impressionante, conseguiu convence-los em assinar conosco em apenas uma reunião.

-Há meses nós conversávamos e eles sabem que a nossa condição de empréstimo era a melhor.

-Já que terminamos antes do previsto, podemos voltar para casa, o que acha? Se pegarmos o trem agora chegamos de noite a Tóquio.

Era uma ótima ideia, chegaria em casa e poderia fazer o pedido a Cho. No intervalo da reunião, Harry foi almoçar e na frente do restaurante havia uma joalheria, entrou a procura de uma aliança.

-Posso ajuda-lo? A vendedora perguntou.

-Acho que sim, estou procurando uma aliança de noivado. Harry respondeu tentando compreender o que o fizera entrar nessa loja.

A vendedora sorriu, estava acostumada a atender homens nessa situação. Colocou no balcão uma bandeja com várias alianças. Para Harry todas eram iguais, só variando o tamanho e o preço.

-Qual você gostaria de ganhar? Ele perguntou depois de ficar encarando a bandeja. –São todas iguais.

-Vou dizer o que digo a todos que ficam na dúvida, compre aquela que você quer ver todos os dias no dedo da pessoa que ama.

O conselho não foi tão útil como queria, sorriu sem graça para a vendedora e escolheu a aliança com a pedra mais brilhante e cara. Cho adoraria mostrar aquele brilhante anel para todas as suas amigas.

Conseguiram passagens de trem no fim da tarde. No percurso, Harry foi pensando em como faria a tão esperada proposta. Ao chegarem a Tóquio, seu chefe lhe deu o resto da semana de folga por seu empenho em fechar o negócio e para pensar na proposta, tinha que dar a resposta o quanto antes.

-Cho? Harry entrou em casa, largou a mala em qualquer canto e foi à procura da namorada. –Acho que ela não está em casa. Pensou até escutar vozes vindas do seu quarto.

Foi tentado decifrar de quem eram as vozes, tinha certeza que era Cho, mas não reconheceu a da outra pessoa, parecia ser de um homem. Antes de abrir a porta repetiu a si mesmo que eles estavam apenas conversando, não era nada demais. Ao abrir a porta encontrou Cho e um cara na sua cama, estava sendo traído.

-Harry! Cho empurrou o cara para o lado e se cobriu. –Eu...

-Desculpa, eu não queria interromper a diversão de vocês! Ele disse em estado de choque e fechou a porta.

-Harry, por favor, me deixa explicar! Cho veio logo em seguida atrás dele. –Não é nada demais...

-Nada demais? Ele perguntou ironicamente e pegou o anel que estava no seu bolso. –Eu vim mais cedo para casa e planejava te pedir em casamento!

-Eu sinto muito! Ela chorava em meio às palavras. –Você não sabe o quanto sonhei com o momento que finalmente iria me pedir em casamento.

-E eu nunca sonhei que chegaria em casa e encontraria você com um cara na nossa cama, então acho que empatamos nesse quesito! Há quanto tempo? Ela balançou a cabeça negando. –Eu tenho o direito de saber!

-Um ano, mas não é nada demais. Cho tentou aproximar-se dele, mas só o afastou mais. –Eu quero casar com você, Harry!

-Pode ficar com isso. Ele deixou o anel em cima da mesa. –Só vou pegar algumas coisas e, por favor, não me procure mais! E só para te informar, eu realmente não estava feliz com a nossa vida, mas pelo visto não era apenas eu, não é mesmo?

Harry pegou apenas o que era importante, alguns documentos, a mala que não tivera tempo de desfazer e encontrou em cima da mesa um envelope vindo de Londres enviado por Hermione, pegou tudo isso e foi embora para nunca mais voltar.

Não sabia para onde ir, não tinha mais casa, namorada, apenas uma mala com algumas roupas e um envelope de Hermione. Abriu o envelope, era o convite de casamento de Hermione com Ronald Weasley, “deve ser o namorado que ela falava nas mensagens” Harry concluiu feliz pela amiga, afinal alguém tinha que terminar bem.

Com o convite nas mãos, Harry teve a certeza que era o destino lhe dando mais um sinal que o certo era ele regressar a Londres. Mesmo não acreditando em destino, seguiu o que preferia chamar de coincidências. Pegou o metro e foi para o aeroporto, embarcaria para Londres no primeiro voo. Sua estadia em terras japonesas chegou ao fim com altos e baixos, agora era hora de voltar para casa e principalmente, ir atrás da sua felicidade.