O dia seguinte parecia mais tenso ainda. Ninguém parecia querer se envolver na briga entre os casais, ainda mais entre Natsu e Lucy. Ela continuava a ignorá-lo, ele parecia não se importar muito mais.

Até que uma das portas duplas da guilda se abriu levemente, o homem de cabelo branco tentou entrar discretamente, mas ainda assim chamou atenção. Um rosto desconhecido numa guilda onde todos se conhecem, seria difícil não perceber sua presença desconcertante. Seus ombros eram levemente curvados para frente, numa postura não muito confiante. Ele deu um passo a frente e olhou à sua volta. Levemente, os olhares começaram a se voltar para ele. Sentiu-se intimidado demais para chamar aquele quem viera buscar.

Virou-se para o mais próximo e o puxou para perto para sussurrar em seu ouvido. Então, Elfman endireitou-se e, ainda com os braços cruzados, levantou a voz ao máximo que pode sem gritar e chamou:

—Natsu, parece que ele quer falar com você.

Natsu levantou-se curioso e caminhou até o desconhecido, ainda ao lado das portas da guilda. Ele pigarreou antes de dizer:

—Oi, Natsu, certo? — Natsu acenou com a cabeça. — Eu tenho uma coisa para te entregar, mas... — Ele olhou à sua volta, incomodado com a quantidade de olhos o fitando. — Tem como fazermos isso lá fora?

—Porque não pode ser aqui? — Natsu disse um tanto desconfiado. Mas os lábios do homem se mexeram rapidamente, numa palavra muda, mas que Natsu reconheceu imediatamente. Então, seguiu-o para fora da guilda sem dizer nada.
Lisanna observou Natsu sair, pensou em seguí-lo para saber sobre o que estavam conversando, mas achou que acabaria se metendo no que não é de sua conta.

Mesmo assim, ela não deixou de ficar preocupada.

Natsu demorou um instante para voltar à guilda, um pedaço de papel amassado em sua mão. Seus olhos estavam arregalados como se tivesse acabado de visto um fantasma, seu rosto um tanto pálido. Chegou até Lisanna, curvando-se ligeiramente na mesa e disse com uma voz tremida, quase gaguejando.

—Venha comigo. — Ele disse puxando de leve o braço dela. Lisanna levantou-se de sua cadeira e o seguiu-o, ainda sendo puxada. Elfman olhou para Natsu com dureza, mas Natsu não se mostrou muito preocupado com isso. Ele tinha outras coisas em sua mente.

Depois que saíram da guilda, Natsu parou de puxar o braço de Lisanna e ela andava normalmente ao seu lado.

—Onde estamos indo? — Lisanna perguntou. Ela estava preocupada com a cara espantada de Natsu. — Você está bem?

Quando Natsu não respondeu pela segunda vez, ela parou na frente dele e olhou profundamente em seus olhos, forçando-o a olhar nos olhos dela também. A mente dele parecia estar um pouco longe.

—Natsu, enquanto você não me disser o que está acontecendo, eu não vou à lugar nenhum. — Ela disse, irritada, as duas mãos na cintura numa pose de durona. Natsu supôs que não haveria sentido em continuar deixando para depois, então resolveu falar naquele momento. Ele ainda estava surpreso com tudo aquilo.

—Leia isto. — Ele disse e deu o pedaço de papel amassado de sua mão. Lisanna o pegou com um certo receio, pensando que talvez aquilo seja o motivo para tudo aquilo. Ela leu os dois parágrafos e olhou para Natsu com o mesmo olhar que ele tinha. Ela havia entendido porque ele tinha ficado daquele jeito.

Quando terminou de ler, ela parecia mais assustada do que ele.

—É verdade isso? — Ela perguntou

—Eu não sei. Aquele cara disse que sim, que se eu acreditasse nele eu deveria encontrá-lo na estação de trem, às três horas.

—Você vai? — Lisanna perguntou. Pela cara de Natsu, era óbvio. — Posso ir junto?

Natsu olhou espantado para ela.

—Oras, você não achou que iria deixar sua namorada para trás, achou? — Ela disse, fingindo estar nervosa, tentando acalmar o clima entre os dois. — Eu preciso de me arrumar primeiro. Te encontro lá às duas e meia.

***

Aquela tinha sido a última vez que Lucy viu Natsu. Aquele olhar assustado, seu rosto pálido agarrar o braço de Lisanna e partir sem dizer nada. Ele não se despediu de ninguém, se não fosse por Lisanna e pela fofoqueira Mirajane, Lucy não saberia do que tinha acontecido.

—Aparentemente, aquele cara tímido que aparecera procurando por Natsu, — Mirajane disse, um tanto entusiasmada pela história que ouvira da irmã mais nova. — Se chama Tsuuga. Parece que ele trouxe uma carta para Natsu, de Igneel.
Então, todos da guilda ficaram sabendo. Quando chegou aos ouvidos de Gajeel por Lucy mais tarde, ele ficou pensativo. Provavelmente, imaginando onde o seu pai estava. Lucy pensara a mesma coisa.

—E o que estava escrito na carta? — Gajeel perguntou para Lucy.

—Não sei. — Ela deu de ombros. — Ouvi diversas versões, mas não acredito que alguma delas seja verdade. Parece um jogo de telefone. Macao disse que é para revelar onde Igneel está, Mirajane disse que é para contar porque ele sumiu de repente... Vai saber. Os únicos que sabem certo sobre o que está na carta é Lisanna e Natsu, mas esses dois simplesmente foram embora sem nem ao menos dizer tchau.

Gajeel ficou pensativo de repente. Ele escorou no sofá e esticou as pernas para cima da mesa de centro de Lucy. Seu olhar estava longe. Lucy imaginou o quão difícil deveria ser para ele. Ela começou a imaginar como que seria se Gajeel recebesse uma carta de Metallicana. Então, ponderou se a carta que Natsu recebera fosse verdadeira. Quando será que Natsu perceberia que era tudo falso, quando será que ele voltaria?

Então, Gajeel suspirou alto, desistindo de pensar em Metallicana. Era tão inútil pensar sobre isso agora quanto quando ele sumira. Gajeel não tinha nenhuma pista, nenhuma informação a mais. Lucy parecia que ainda estava pensando, olhando para baixo, para suas mãos.

Ele sorriu. Se alguém lhe dissesse três meses atrás que ele namoraria Lucy Heartphilia, provavelmente acharia a ideia estúpida. Imagina. Ele e a princesa, namorando. Parecia improvável. E mesmo assim, agora, estando um ao lado do outro, ainda era um tanto difícil de acreditar que ele estava namorando com ela.

Gajeel envolveu Lucy com seu braço direito e a puxou mais para perto, ela acabou deitando em seu peito.

—Não adianta ficar pensando nisso. — Gajeel disse. — Eu gostaria de saber por onde está aquele dragão, mas ficar só pensando nisso não adianta nada. Acredite, eu sei.

—Não é isso. — Ela disse, fechando os olhos. Acomodando-se um pouco mais. Ela se sentia tão confortável perto dele, tão segura. — Eu estava pensando em Natsu.

—O que tem ele?

—Será que algum dia o veremos novamente?