Lucy nunca se imaginou estar naquela situação.

Ela estava frente a frente com Gajeel, socando-o, chutando-o. Embora ele não mostrava nenhuma reação visível a força aplicada em cada um de seus golpes, ela finalmente podia socar o cara que tanto a maltratou uma vez no passado. Não que ela tivesse sede por vingança, mas é sempre bom bater em alguém que uma vez te bateu.

Até que ela finalmente cansou.

Os músculos dele eram duros, os socos dela eram fracos e ele estava acostumado a levar porrada.

Lucy começou a arfar, mas Gajeel a incentivou a continuar.

—Quer parar? — Ele disse quando a viu se apoiar nos joelhos. — Você usa magia de longa distância. Por isso, aprender a se defender é vital a menos que você queira que o que aconteceu ontem se repita.

—Não. — Ela disse, tomando fôlego e esticando-se, preparando-se para mais. — Vamos continuar.

Ela estava determinada a aprender. Ele que oferecera, mas agora Lucy queria continuar. Ela deveria parar de depender apenas nos outros para conseguir pegar suas chaves de volta. Se ela tivesse o mínimo necessário de reflexos, ela poderia deixar de ser a vítima toda vez.

—Dessa vez eu vou te atacar. — Lucy engoliu em seco. — Você terá de se defender como eu te ensinei. Vou devagar no começo, então vou começar a pegar pesado aos poucos.

Ele disse e já avançou na Lucy. Começou com um soco de direita, que Lucy conseguiu desviar por causa do medo que tinha dos seus punhos. Ela deu um passo para trás, Gajeel foi com um gancho de esquerda e Lucy deu mais um passo para trás. Conforme ele ia avançando nela, com a mesma velocidade, Lucy ia tentando se afastar aos poucos.

Mas Gajeel não sabia pegar leve. Ele foi ficando impaciente e os socos foram ficando cada vez mais fortes. Lucy pôde ver seu cabelo desmanchar na frente de seus olhos conforme os socos dele ficavam mais rápidos.

—Vamos, defenda-se! — Ele disse, no mesmo ritmo. — Se você continuar fugindo, você nunca vai aprender a atacar.

Mas Lucy estava muito assustada com seus socos para conseguir se defender. Ela não sabia como lutar. Tudo o que sabia se resumia aos seus espíritos. E como usá-los em batalha, como fortalecê-los, como orientá-los numa luta. Ninguém nunca a ensinou a lutar apenas com seus próprios pulsos.

Se ela pretendia começar a lutar por si mesma, aquele era o momento perfeito para isso.

Com muito esforço e um pouco mais de força do que achou que seria necessário, conseguiu segurar o pulso direito dele com uma de suas mãos, com a outra tentou socá-lo, mas ele segurou o pulso direito dela. Então, com um impulso, Lucy deu um chute com sua perna direita, mas ele soltou seu pulso e segurou a perna, fazendo-a girar no ar e parar deitada no chão. Seguindo o ritmo, Lucy deu uma rasteira e o fez deitar no chão também. E num pulo, ela se ajoelhou encima dele, só então percebendo que estava perto demais.

Eles pararam e ficaram assim por um tempo. Eles estavam muito perto um do outro, sabiam disso, mas ele só sairia dali se Lucy saísse de cima dele. O cabelo loiro dela estava caído ao lado do rosto dele. Ela arfava, ele estava suado. A respiração colidiu uma com a outra. Seus olhos estavam fixos um no outro.

Até que Lucy finalmente percebeu onde estava e levantou-se, vermelha.

Esses momentos embaraçosos só continuaram. A tensão entre os dois cresceu de um tanto, que toda vez que eles lutaram e ele a prendia contra a parede, um desejo ardia no peito dos dois, fazendo ambos se afastarem, não tendo certeza de como continuar. Lucy demorava cada vez mais para dormir, todo dia ficava um pouco mais acordada por causa do corpo adormecido ao seu lado. A tensão estendia-se até nas refeições, e Spetto-san ria a cada vez que via os dois trocarem olhares.

Passaram cinco semanas dessa maneira.

Lucy ainda visitava Yoshiaki de vez em quando, aprendia uma ou duas mágicas diferentes a cada vez que ia, escondida de Gajeel. Ela sentia-se receosa a respeito de Yoshiaki, como contar que estava vendo-o em segredo enquanto ele a ensinava alguns truques sobre como lutar? Ah, sim. Porque ela já estava fazendo isso com Gajeel, e seria tão difícil quanto explicar porque ela estava aprendendo com ele.

Por causa do treino regular, ao final das cinco semanas, Lucy já estava lutando de igual para igual com Gajeel. Conseguia se defender de seu golpes sem medo, conseguia golpeá-lo. E o melhor de tudo:

Ela tinha se esquecido de Natsu. Dos sentimentos que uma vez a fizeram chorar nos ombros de Spetto-san e mais um pouco antes de dormir. Tinha se esquecido que uma vez o amara, tinha se esquecido de se preocupar com a menina de cabelos brancos.

E tudo por causa de Gajeel. Talvez ela devesse agradecê-lo.

Naquele dia, durante seus treinos, ela tomou uma decisão.

Entre chutes e socos, Gajeel conseguiu trancá-la contra a parede. Como qualquer outro dia. Só que dessa vez, ela não lutou seu caminho para sair dali.

—E agora? — Ele disse, com pouca voz, arfando. Sua respiração novamente colidindo com a de Lucy. Eles não se importavam mais com isso. — Como você vai sair daí?

E Lucy olhou para os olhos dele fixamente. Os olhares entre os dois, aquele sentimento de tensão. Eles perceberam ali naquele instante. A distância entre o lábio dos dois estava cada vez menor. Os lábios rosados de Lucy, os lábios entreabertos de Gajeel. Foi lentamente, os olhos dos dois olhando um ao outro intensamente, como se fosse necessária a certeza de que eles realmente queriam aquilo.

Sim, eles queriam aquilo.

Estavam prontos para se entregar um ao outro, quando Spetto-san, inesperavelmente, aparece chamando Lucy. Então, eles soltaram-se, como se estivessem fazendo alguma coisa errada. Quando Spetto-san viu os dois ali, parados um ao lado do outro, estáticos, percebeu que eles estavam fazendo alguma coisa, mas preferiu não falar nada. Preferiu fingir não ter visto nada.

—Lucy, eu vou à cidade. — Ela disse, cuidando a maneira como eles se olhavam. Alguma coisa tinha acontecido entre eles há pouco tempo. — Não devo demorar muito. Vou fazer compras e gostaria que você fosse comigo, Gajeel.

—Claro. — Ele disse, um pouco envergonhado. — Tudo bem.

Spetto-san deu um sorrisinho e começou a andar em direção à cidade, uma subida de cinco minutos. Gajeel foi atrás, dando uma última olhadela para Lucy enquanto subia ao lado de Spetto-san. Ele queria que aquilo acabasse logo para voltar para terminar o que começou.

Lucy ficou ali, observando-o sumir na colina. E ficou um pouco mais mesmo depois dele ter sumido. Pensando nele.

—Sonhando com seu príncipe encantado? — Uma voz conhecida chama sua atenção, fazendo-a pular de susto. Ela virou seu rosto apenas para enxergar Yoshiaki ao seu lado, observando-a. Ele não deveria estar em outro lugar? Como por exemplo, na floresta, esperando por ela? Mas ela não tinha ido na floresta, naquele lugarzinho em especial em algum tempo. Estava explicado, talvez ele estivesse com ciúmes.

—Não vi você por um tempo. — Ele continuou, Lucy voltou seu olhar para o morro onde Gajeel desaparecera. Yoshiaki também olhava para lá. — Você sumiu. Achei que tinha voltado para sua guilda.

—Não sei se vou voltar tão breve assim. — Ela disse, com os olhos entristecidos, com um brilho diferente. Uma esperança que ela não sentia em algum tempo. Ela se viu apaixonada por Gajeel, percebera isso naquele momento. O plano original era voltar quando Natsu finalmente percebesse seu sumiço e viesse buscá-la. Agora, ela só queria ficar ali por mais um tempo. Com Gajeel.

Yoshiaki a olhou. No que ela estava dizendo? Ela não amava Fairy Tail? Não era a família dela?

—O que você pretende fazer hoje? — Ele perguntou, curioso. Lucy olhou para ele brevemente e então olhou para baixo, como se se perguntasse porque ele queria saber.

—Não sei.

—Não quer dar um passeio em minha guilda? — Lucy, pela primeira vez em algum tempo, olhou fundo em seus olhos. Ele queria alguma coisa. — Só um passeio, eu juro. Não vou pedir de novo. — Ele disse, desarmando-se. Então, Lucy sorriu e decidiu:

—Um passeio. — Ela disse, mostrando o indicador para ele. — Nada mais.