Num momento de convicção, em meio as lágrimas, Natsu decidira embarcar no trem. Seu enjoo nunca atrapalhou antes e com certeza, não atrapalhará agora. Certamente não agora, no momento em que estava com sua bagagem numa mão e a passagem noutra. Decidido, com os olhos ainda um pouco vermelhos, na admiração do companheiro azul, Natsu continuava a olhar para o nada enquanto esperava seu trem.

Dali, ele precisava seguir até Hargeon, de onde continuaria a pé, a nordeste, por cinco minutos. Como a vila era pequena, não havia trem que o levava até lá. Natsu não sabia o que lhe esperava lá, mal conseguia imaginar como seria a vila que deixara Lucy naquele estado. Apenas imaginava ser pequena e mal cuidada, com adolescentes e crianças rebeldes em cada casa.

Natsu continuava a pensar no que Gray dissera para ele mais cedo.

"Então, você realmente vai para lá?" Perguntara Gray, ainda em roupas, escorado na parede, com os braços cruzados enquanto observava Natsu preparar a mala. Natsu não disse nada, esperando que suas ações respondessem por ele. Ele estava arrumando a mala, não estava? "Não sei o que você espera encontrar. Se é vingança que você procura, esquece, você não encontrará quem fez aquilo com Lucy".

Natsu virara seu rosto sério para Gray, encarando-o. Gray devolvera o olhar, com metade de intensidade.

"Eu não vou vingá-la. Ao contrário de você, eu só quero saber o que aconteceu"

A intensidade do olhar de Gray aumentou.

"Não me interprete mal, Natsu. Eu também quero saber o que aconteceu com Lucy. Mas eu prefiro ficar aqui com ela, do que ignorá-la mais uma vez".

Natsu entendeu a indireta.

"Quer brigar, olhos caídos?" Disse Natsu, com o punho em chamas, um sorriso quadrado em seu rosto, uma veia a ponto de estourar em sua testa. Ele deixara de jogar as roupas dentro da mala e se prepara para ficar mais tenso ainda. Gray não respondera a provocação de Natsu.

"Você só está assim porque sabe que eu estou certo." Gray disse depois de um suspiro, andando devagar até a porta. Antes de sair, ele virou-se para Natsu e replicou "Enquanto você vai nessa busca sem razão, sabe-se lá o que Gajeel está fazendo com Lucy".

—Natsu! — O grito conhecido fizera Natsu voltar à realidade. Ao virar a cabeça na direção do grito, Natsu se espanta ao ver aquele rosto monocromático.

—Lisanna. — Disse Natsu, mais para si mesmo do que para ela. — O que está fazendo aqui?

—Gray me disse onde você estava indo. — Lisanna disse, fazendo uma veia saltar na testa de Natsu. "Aquele fofoqueiro...". Então, a veia voltou ao normal no segundo em que Natsu reparara na mala que Lisanna arrastara. Ela sorrira atrás de olhos igualmente inchados — Achei que podíamos fazer aquela missão que planejávamos fazer.

Natsu sorrira de volta para Lisanna, da mesma forma como ela sorria. Um sorriso genuíno, escondido por entre tanta culpa e os olhos inchados. Ambos se sentiam da mesma forma, ambos se achavam culpados. E agora, ambos estavam prontos para viajar, juntos. Da mesma forma como estavam nesses últimos dois meses. Ou melhor, nessas últimas seis semanas.

O trem, enfim, chegara e Natsu e Lisanna se preparam para embarcar.

Natsu pensou novamente nas palavras de Gray, enquanto entrava no trem. Mas seu pensamento foi interrompido quando sua mão sentiu um toque quente. Lisanna estava segurando sua mão. Natsu sorriu, incapaz de sentir qualquer outra coisa a não ser gratidão por ela estar ali, e então, segurou a mão de Lisanna, envolvendo-a com a sua mão. Lisanna sorriu de volta.

"Será que eu estou fazendo a coisa certa?" Pensou Natsu, voltando seu pensamento novamente nas palavras de Gray, um segundo antes de entrar no trem, ainda de mãos dadas com Lisanna. Embora não gostasse de admitir, Gray estava certo. Nesse momento, Gajeel provavelmente estava com Lucy. Fazendo alguma coisa. E, não estando ali para parar os dois, Natsu dava essa brecha para os dois "confraternizar". Mas ele novamente interrompia esses pensamentos lembrando-se do direito que tinha.

Nenhum.

Ele não podia falar nada.