Quando Mais Precisava escrita por AnaMM


Capítulo 17
Proteção


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI! Espero que gostem desse capítulo e, sim, habemos Lidinho. Aviso desde já aos mais neuróticos que a cena entre Fatinha e Orelha foi pensada como puramente de amizade, OK? Não precisam se assustar. "Ana, eu sei que você ama incesto, você vai mesmo tentar Fatinha e Orelha?" Não, gente, relaxa. Spinacest eu só apoio entre Val e Pedro, ok? Bjinhos e encontro vocês nos comentários. Mais uma vez, me desculpem a demora.

https://www.youtube.com/watch?v=ooygo1cmtag
http://www.vagalume.com.br/goo-goo-dolls/sympathy-traducao.html
Fatinha e Orelha, Lia e Dinho em casa

https://www.youtube.com/watch?v=a-j86tzxi8s
http://www.vagalume.com.br/the-civil-wars/dust-to-dust-traducao.html quarto da lia



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– Gil? - A voz embargada chamou do banco de trás do carro. - Que foi, Gil? Você tá estranho. - Resmungou afetadamente.


O guitarrista tentou ignorar a voz alcoolizada de Lia, convencer-se de que havia sido apenas uma burrada de bêbada, que não era tão louca. Ainda assim, dava-lhe nojo saber que sua melhor amiga havia se rendido tão facilmente ao ex-namorado que a fizera sofrer tanto. Mais raiva tinha de Dinho.


– E você, hein? Mais baixo do que eu pensava! Como você pôde se aproveitar da Lia daquele jeito? É quase como estupro, sabia? - Gil acusou irritado.


– Gil! Quem você acha que o Dinho é? - Juliana cobrou chocada.


– O cara que traiu a namorada quando ela estava no seu pior momento e ainda a enrolou por semanas até fugir com a amante!


– Cala a boca, imbecil! Não sabe de nada, fica quieto, seu merda! - Dinho se defendeu, apesar de tanto se culpar pelo que havia feito.


– Aí, vocês podem brigar depois que eu parar o carro? Eu tô dirigindo aqui! - Bruno repreendeu, acalmando os ânimos.


Ainda consumidos por raiva, Dinho e Gil acataram o pedido do mais velho. Sabiam, no entanto, que não deixariam quieto. Lia, que observava tudo como se fosse uma alucinação, defendeu-se.


– Ele não fez nada que eu não quisesse. Eu respondo pelos meus atos, Gil, e sei muito bem o que aconteceu.


Pôde perceber a decepção estampada sobre o rosto do grafiteiro, e lhe doía que seu melhor amigo estivesse tão enojado, mas não podia deixar que a culpa de tudo recaísse sobre Adriano, por mais que quisesse que tivesse sido culpa do ex. Olhou pelo vidro a noite levemente chuvosa que os engolia interrompida por flashes de luz vindos dos postes. Por que não conseguia resistir? Não podia culpar o álcool, não estava tão bêbada. Havia se rendido ao que tanto queria sem desculpas, sem consequências. E se não pudesse simplesmente ignorar o acontecido e seguir adiante? O que Dinho lhe cobraria? Uma reconciliação definitiva? Um relacionamento? Pelo menos não estava mais com Vitor... Ou estava? Até sua última briga com o motoqueiro havia sido confusa. Seus sentimentos e suas ideias estavam de pernas para o ar desde o traumatizante acontecido, e conviver diariamente com o ex-namorado que ainda amava por mais que tentasse esconder em nada lhe ajudava.

–x-


– Pronto, esse é o último objeto fora do lugar. - A funkeira anunciou satisfeita.


– Valeu, Fatinha. - O nerd agradeceu ainda mexido.


– Você não fez por mal. - Tentou acalmá-lo.


– Claro que fiz, Fatinha, eu sempre estrago tudo...


– Você tá muito abalado pelo que aconteceu, e deu nisso. Eu também estou, todos estamos. E o Gil... O Gil era filho dela, né... Sei lá, parece que dói um pouco mais quando ele tá por perto, é como uma parte dela nos provocando, aqueles olhos tristes dele nos esfregando na cara que a gente ainda não chorou o suficiente. Daí ele vem e te provoca e eu sei o quanto ele te provocou sem saber, só por ser ele. Você não teve culpa, Orelha.


O nerd tentou prender as lágrimas, o nó em sua garganta o sufocando conforme tentava. Seus ombros tremeram ao receberem o toque da loira, que o abraçou forte. Algumas lágrimas escorreram de seu próprio rosto. Sentia tanta falta de Marcela que não cabia em si. Perdera uma mãe, a única que ainda não a havia deixado, que não lhe havia falhado. Marcela era seu porto seguro, assim como Dinho. Como saberia lidar com o dia-a-dia, com cada problema, com cada carência, com cada briga com Bruno sem sua professora-mãe? Era quase irônico como a partida de Marcela viera acompanhada pela chegada de Adriano. Pelo menos não estaria tão sozinha... Se pelo menos tivesse uma figura materna com a qual contar... Como choraria pela morte de Marcela sem a própria para lhe dar o ombro?


– Nessas horas o Dinho faz tanta falta... - Orelha comentou como se tivesse adivinhado os pensamentos de Fatinha.


– Ele tem que ajudar a Lia, seria egoísta de nossa parte cobrar a presença dele. - A funkeira explicou não muito convicta. Suas lágrimas a traíam.


– Lia, Lia... Desde que esse namoro começou e terminou só tem afastado o Dinho de mim.


– Você tá com ciúme da Lia agora? - Fatinha riu trêmula.


– E você não? O mundo dele gira em torno dela. Ele simplesmente nos largou aqui quando eles terminaram!


Fatinha não sabia como responder. No fundo, pensava o mesmo que Orelha, mas era egoísta, mesquinho. Tampouco teria tanto tempo para Dinho namorando Bruno, tinha que entender.


– É só uma fase, Orelha. A Lia tá numa pior, foi barra o que ela passou, e ela precisa do Dinho mais que a gente.


– Quando foi que você amadureceu? - O nerd zombou secando as lágrimas.


– Eu sou um ano mais velha, esqueceu? - Fatinha lhe respondeu com um sorriso cúmplice e observou o apartamento a seu redor, pensativa. - Lia e Dinho... Sempre dando um show. Você realmente consegue ser contra esses dois?


– Impossível! - O nerd riu. - A verdade é que eu implico com isso, e a Lia é uma marrenta esquisita, mas eu adoro a minha musa do rock. É um guilty pleasure. - Confessou sorrindo.


– Álvaro Gabriel, depois de tanto julgar a Ju, desejando a namorada do melhor amigo?! - Fatinha fingiu choque.


– Não nesse sentido! - Orelha riu. - Quer dizer, acho que o Dinho sempre soube, e a verdade é que ele até acha graça. A gente chegou a se dar bem, nós três. Jogava video-game, futebol, ia à praia junto... A Lia é maneira. E eles não eram sempre grudados, tinha dias em que ela passava as tardes com a Ju e o Dinho comigo, com a gente... Sei lá, é que... Acho que eu só tô bolado, mesmo, que ele foi embora e depois quando voltou nem quis saber da gente.


– Não é que ele não queira saber da gente, é que ele não tem como deixar a Lia sozinha, ela tá mal.


– É, eu sei...


– A gente pode passar lá amanha, que tal? Pelo que eu vi hoje, a marrentinha vai estar bem distraída com uma ressaca monstra! - Fatinha gargalhou. - Ah, como eu amo esses dois!


– Ama porque não foi a sua cama que eles usaram!


– Opa! Agora eu quero saber os detalhes sórdidos! Conta aí, Orelha, o que você sabe?


–x-


– Você não pode estacionar mais perto, não? - Lia pediu nervosa.


– A rua tá vazia, Lia, relaxa. - Ju assegurou. - E você tem o disfarce, ainda. Mesmo que tivesse alguém, não te reconheceria.


– Você tem certeza? - Perguntou com a voz trêmula.


– Vem, Lia. - Dinho a abraçou antes de tirá-la do carro escondida entre seus braços.


Gil rapidamente se uniu à dupla, embora ainda incômodo, e Ju e Bruno fecharam o cerco. Um barulho de lata, um vulto irreconhecível. Ju percebeu o pânico da amiga no centro do grupo e acelerou o passo com os outros três. Bruno observava o vulto de longe, preocupado. Não parecia ser conhecido, apenas mais um pedestre voltando para casa. Convencê-la, no entanto, seria impossível. A roqueira apertou o botão do elevador com urgência, seu braço tremendo. Dinho desenhou círculos em suas costas tentando acalmá-la, sem resultado. Observou-a bater algumas vezes contra a porta do ascensor. E se tivesse razão? Bateu junto, como se assim pudesse puxar o elevador para o térreo. Recebeu o olhar repreensor do zelador, mas ignorou. Lia precisava estar em seu quarto o quanto antes.


Despediram-se de Ju e de Bruno na porta. Gil havia recebido as instruções de ficar no apartamento, que Lorenzo não voltaria ao casarão até o dia seguinte. O sofá estava arrumado e um dos dois dormiria no antigo quarto de dona Paulina. Como um castigo calado a Dinho pelo acontecido, Gil correu para o quarto sem mais palavras. Estava cansado demais para brigar. Restaram na sala uma Lia ainda nervosa e Adriano, que já se dirigia ao banheiro para trocar de roupa quando ouviu a voz frágil da ex.


– Fica comigo, por favor.


– Que? - Aproximou-se novamente de Lia.


– Eu... O Sal, ele... Era ele, eu sei que era. Por favor.


– Não era o Sal, Lia, era só um vizinho.


– O vizinho pode contar pra ele, eu sei que vai. - Respondeu nervosa. - Eu não posso dormir sozinha. Fica comigo, por favor.


Segurou com as mãos trêmulas a gola da camisa de Dinho, implorando-lhe quase em lágrimas.


– Ele vai me pegar.


– Ele não... - Abraçou-a, sem palavras, e a envolveu em seus braços até senti-la mais calma. - Vem.


Levou-a pela mão até o banheiro, onde a ajudou a tirar a maquiagem.


– Eu obviamente não entendo disso. - Dinho riu com o algodão entre os dedos.


– Nem eu! - Lia correspondeu ao humor.


– Vem cá, se você começar a rir eu vou borrar tudo, daí sim vai ficar legal.


– Dinho, você não aprendeu nada com a Ju?


– E você? Eu fiquei com ela por muito menos tempo que vocês são amigas!


– Ok, vamos pular esse assunto, que não acaba bem. Me dá isso aqui.
Lia esfregou os locais ainda pintados por uma última vez, exausta. Mais um motivo para odiar maquiagem.


– Pronta?


– Pronta.


– Agora a parte que eu gosto. - Sorriu ao fixar o olhar na roupa de Lia.


– Você não presta!


– Ok, eu tiro primeiro se você prefere assim.


Dinho simulou um curto strip tease gargalhando, ao que Lia rapidamente reagiu com mais risadas. Antes que pudesse imitá-lo, no entanto, Adriano já havia aproveitado sua distração para tirar parte da roupa da roqueira e cobri-la com a camiseta de caveiras da qual a garota gostava tanto.


– Tá vendo? Eu não faço tudo querendo me aproveitar de você.


– Acho bom. - Lia debochou. - Vem.


Bagunçou os cachos de Dinho e o puxou para o quarto. Como da outra vez, Adriano a abraçou por trás de maneira protetora e ao mesmo tempo carente. Se pudesse dormir daquele jeito com Lia todas as noites seria o adolescente mais feliz do mundo.


– Mais tranquila? - Sussurrou-lhe com a voz cansada.


Lia segurou a mão de Adriano em resposta, apertando-a levemente. "Sim". Um antigo código que não se perdera com os meses de distância. Por um momento, era como se nada tivesse mudado, como se tudo e nada os assombrasse ao mesmo tempo. Beijou seu ombro, ao que Lia respondeu virando o corpo para encará-lo. O olhar frágil o encarou confuso. Dinho aproximou o rosto talvez mais do que podia, ainda que não mais lhe importasse. Beijou-a calmamente, sem receios. Era apenas um "boa noite", repetia para si. Para sua surpresa, a garota correspondeu, envolvendo os braços por volta de seu pescoço e intensificando o beijo. Deitados como estavam, totalmente envolvidos sob as cobertas, demoraram a recuperar o controle e se afastarem. Se o sono não os tivesse vencido, talvez não se separassem a tempo de respeitar a presença de Tatá na cama ao lado. Exaustos, dormiram como estavam, abraçados um ao outro como se qualquer distância os pudesse separar para sempre.


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