Híbrido escrita por Musa, Moon and Stars


Capítulo 60
Thunder


Notas iniciais do capítulo

Que os anjos cantem aleluia.



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O terreno se encontrava vazio, uma névoa caía sobre tal. O tempo estava se fechando, estávamos em pleno outono. Árvores nuas, chãos revestidos por folhas secas. Lara entrou com o carro dentro da floresta, e quando estávamos bem longe, ela parou e desceu.

"Desça Katherine." Ordenou. Olhou-me de um jeito feroz, deixando claro que ela não pediria outra vez.

Desci do carro pondo meu celular na bota e procurei algo em minha bolsa, algo que fosse útil para uma possível e muito provável luta. Lara com certeza estava armada, mas percebi que não era cautelosa, se afastou deixando-me sozinha no carro, havia retirado as chaves. Achei uma pequena faca de cozinha, mas afiada, debaixo do estofado do banco. Em minha bolsa achei grampos de cabelo e um rímel. Lara estava um pouco mais distante, encarando o chão com um olhar conturbado, lágrimas rolavam por seus olhos fitos no chão, não piscou uma só vez.

"Foi aqui." Fungou. "Exatamente aqui que encontrei meu irmão caçula morto." olhou-me com tristeza e fúria nos olhos, mordendo os lábios tentando conter o choro, ficar forte.

"Irmão...?" perguntei confusa.

"Sim, Ray era meu irmão, essa coisa de mãe e filho era um teatro comandado pelo Sero." riu sem humor. "Tudo isso para a vadia protegida acabar matando seu protetor no final."

Meu coração acelerou freneticamente e por um momento pensei que Lara pudesse escutá-lo. Respirei fundo e tentei me manter calma.

"Ele estava tentando matar Jared." falei com firmeza. Eu não me arrependia de tê-lo salvado, e isso ainda me assustava um pouco.

"Jared..." sibilou, quase como se o nome fosse um xingamento, uma ofença. "Seu precioso demônio, o procurado Tomás... A missão de matá-lo era minha, mas meu irmão quis tomar a prova de que seria bom o suficiente para fazer isso sozinho." falava com os dentes trincados. "E por sua causa, ele quis levar isso a diante! Ele se apegou a você, sua vadia imunda. Quis te proteger até a morte e olha aonde isso o levou! Morto pela protegida..." respirou estufando o peito, procurando conter sua cólera ardente, mas nós duas sabíamos que não seria por muito tempo. "Mas agora, eu vou te matar e vingar a morte do meu irmão." Declarou com um sorriso débil e insano.

Pensei em dizer algo, talvez alguma palavra de consolo. No fundo, eu compreendia sua raiva. Suas palavras me comoveram, mas eu sabia mais do que qualquer um que eu não lamentava, de fato. A verdade é que eu não estava minimamente arrependida de ter feito o que fiz. Assim como ela amava Raymond, eu amava... Eu amava o Jared. Pensei também em tentar amenizar a situação, na esperança de que pudéssemos simplesmente sair daqui, as duas, sãs e salvas. Mas ao olhar bem no fundo dos olhos de Lara, eu soube imediatamente que uma solução pacífica não era uma opção. Ela estava determinada a me matar e eu teria que me virar sozinha. Desta vez, não haveria Jared ou Emma para me salvar. Eu estava totalmente por minha conta.

Sem ter para onde fugir, simplesmente procurei respirar e me manter tranquila, até mesmo quando ela tirou uma adaga da cintura. Eu estava desfavorecida, mas ela também. Seu psicológico estava acabado, seu emocional estava destruído e com certeza seu físico também estava exausto. Jared me dizia para nunca agir pelo impulso da raiva diretamente, pois era burrice, e que eu vi era exatamente assim que Lara iria agir. Ainda assim eu precisava de Jared, mas precisava de tempo para tentar me conectar com ele.

"Lara, se acalma, me matar não vai trazer Ray de volta." Falei, tentando ganhar tempo enquanto me concentrava em Jared. Não sei exatamente o que ela havia respondido, se é que me ouviu ou respondeu, mas Lara e eu estávamos andando em círculo, procurando uma brecha para atacar. Pensei em Jared ao máximo, lembranças de momentos nossos se passavam por minha cabeça, mas eu precisava enviar a ele a lembrança do caminho que havia feito com Lara.

Concentrei-me nos dois pontos, Lara balbuciava coisas, devia estar gritando, mas eu não entendia. Minhas têmporas doeram e então Lara correu em minha direção, com uma faca do tamanho do seu antebraço. Posicionando-se sobre o mesmo, tentou me acertar com um soco, desviei, porém a lâmina arrastou queimando em minha maçã facial. Tentou me socar novamente e dar-me uma rasteira. Ela era rápida e ágil, mas não era muito precisa, então tentei usar isso a meu favor. Eu tinha que fazê-la perder o controle. Afastou-se me encarand-me com os punhos elevados. Respirei e ri debochadamente.

"Foi fácil matar Raymond. Ele estava de costas, indefeso. Eu simplesmentr peguei a adaga e cravei em suas costas. Ele morreu bem na minha frente, olhando dentro dos meus olhos." falei e Lara estremeceu, mas logo procurou se manter firme.

Começou a dizer coisas, sobre como eu era um monstro e sobre como ela me faria pagar, mas suas palavras se perderam em alguma parte da minha mente, enquanto eu me concentrava somente em Jared. De repente fui sugada dali e encarava uma pia de porcelana branca com água escorrendo pela mesma. Encarei o rosto de Jared no espelho, estava sem camisa e com o cenho franzido, ele se aproximou do reflexo, encarando seus próprios olhos, pisquei voltando para Lara, que estava a minha frente, empunhando a adaga na direção da minha barriga. Tentei me proteger usando a mão, mas foi um erro estúpido. Minha mão acertou a lâmina afiada que abriu facilmente um enorme corte em minha palma. Enquanto eu me forçava a me recuperar da dor, Lara tentou me socar com a outra mão. Por pouco segurei seu punho em meio ao ato, torcendo seu braço, deixando-a curvada, pressionando seu corpo para baixo com a mão em suas costas, dei-lhe uma rasteira, derrubando-a no chão, ainda torcendo seu braço até onde minha força e minha mão ferida me permitia. Ela grunhiu e eu senti uma pontada de pena.

Piedade ou morte. A voz de Jared ecoou em minha mente, ele havia dito isso quando estávamos treinando. Seu oponente não vai ter piedade de você. Apenas faça o que precisa ser feito. Torci o braço de Lara até ela gritar histericamente e se levantar, jogando-me para o lado. Tentou se sentar sobre mim, usando todo seu peso, mas chutei-lhe a barriga e me levantei imediatamente. Afastamos-nos de novo, nos avaliando, ela tentava mexer o braço, mas fazia caretas de dor. Eu provavelmente havia quebrado seu braço. Olhou-me com raiva e correu em minha direção, chutei-lhe, mas ela deteve com o braço machucado, grunhiu contorcendo-se, dando-me chance de dar-lhe outro chute.

Cambaleou para trás, mas não caiu. Fui à sua direção com uma sequência de quatro socos, embora todos tivessem sido detidos por ela. Senti a lâmina queimando minha pele na altura de minha costela, rasgando o vestido e minha pele. Dei-lhe um soco certeiro no olho, contagiada pela raiva, ela grunhiu e agarrou minha trança, socando-me, tentando me jogar no chão. Tirei um grampo do cabelo e enfiei em sua garganta. Ela gritou e caiu no chão, tirando brutamente o grampo de seu pescoço que sangrava violentamente. Fui até ela, mas rapidamente deu-me uma rasteira e se pôs sobre mim, imobilizando-me. Eu me movimentei sob seu corpo, tentando tirá-la de cima de mim, mas Lara era pesada. Porém não mais que Jared. Quando mergulhou com a adaga na direção do meu rosto, virei-me para o lado e dei-lhe um soco na boca do estômago, ela arfou tentando recuperar o ar. Sacudi-me e a joguei para o lado, ficando sobre cima dela. Tentei prender seus dois punhos com uma mão, assim como Jared fazia comigo, mas minhas mãos eram pequenas demais. Dei dois socos em Lara que se remexia loucamente em baixo de mim. Tentava tirar a adaga de sua mãomas ela segurava com firmeza.

Deu-me uma forte cotovelada na têmpora, fiquei zonza e cambaleei para o lado, o suficiente para ela ficar em cima de mim novamente. Tentou me esfaquear repetidamente, mas eu a detia com meu antebraço, que já estava estava todo cortado. Mergulhou em direção ao meu peito, mas segurei a lâmina no ato. Quanto mais eu tentava segurar, mas meu dedo era cortado, eu senti o grito de dor se inflamar dentro do meu peito, mas ele não veio à tona. Aos poucos a lâmina se aproximou. Sangue escorria brandamente em meu decote, meus dedos quase decepados, uma sensação de sufoco e pré-desespero me dominou. Estava me sentindo abafada, com muito calor e com uma vontade urgente de sair dali. Lara estava suando demais, e as gotas do seu suor caíam e pingavam em mim. Ela fez uma careta e se afastou.

Um cheiro de carne queimada dominou o ar no mesmo instante em que ela começou a gritar. Sua pele estava derretendo de dentro para fora, o odor me provocou ânsias de vômito. Eu a empurrei sentindo as pontas dos meus dedos grudarem em sua pele, ela se contorcia no chão, seu rosto ia se desfigurando como um papel queimado equanto ela se debatia, e tentava respirar. Seus olhos derreteram, tornando-se um líquido branco e viscoso que se misturou ao sangue. Virei o rosto para trás, não suportando ver aquela imagem.

Então vi Jared, parado, encarando Lara no chão com seus olhos totalmente negros. As veias de sua testa e garganta estavam muito salientes, e seu cenho franzido numa expressão demoníaca. Depois de um tempo, os gritos cessaram, mas Jared ainda olhava para além de mim, com os olhos negros e muito sombrios. Senti um medo súbito se instalar em meu peito. Aquele não era Jared.

"Jared." o chamei. Não houve nenhuma resposta. "Jared... Ei"

Ele ainda encarava o corpo de Lara, em silêncio.

"Ed." falei pela última vez então me olhou. Piscou várias vezes e enterrou o rosto entre as mãos soltando um grunhido agoniado. Tentei me aproximar, mas senti a dor de meus dedos quase decepados, a adrenalina estava passando, a dor me tomava aos poucos, olhei para Jared no exato momento em que me olhou de volta.

"Do que me chamou?" perguntou rangendo os dentes.

"Ah..." perdi a fala. Eu queria contar a ele. Contar o que ele já devia saber. Naqueles minutos de silêncio, pensei em revelar tudo a Jared sobre como ele me amou quando éramos pequenos e sobre como eu queria que ele me amasse outra vez. Engolindo em seco, desviei meus olhos dos dele e encarei o corpo totalmente deformado e enegrecido de Lara, que saía uma fumaça lenta e escura, levantando um cheiro fétido de carne queimada e ácida, o que fez meus olhos arder mais do que as lágrimas que lutavam para descer. "Jared." Eu disse com a voz falha. "Eu te chamei de Jared." Suspirei.

Ele me avaliou por um tempo e soltou o ar pela boca fazendo um som assoviado. Passou a mão pelos cabelos e mordeu os lábios, tentei me levantar desejando me aproximar dele apesar de meu medo, mas a dor voltou e eu gritei. Caí no chão de joelhos, faleu um palavrão e comecei a chorar enquanto a dor me corroía por todo o meu corpo. Jared se agachou ao meu lado e tomou minhas mãos nas suas, curando-as de pouco a pouco. Com os olhos fechados, um brilho escapava pela brecha das pálpebras, iluminando seus cílios. Olhou-me, mas não em meus olhos, pousou a palma de sua mão no meu rosto, e senti um resfriamento, seguido por uma sensação de calor.

Olhei para ele e desejei muito beijar Jared e me aconchegar em seus braços. O peguei pela nuca, inclinando-me para seu corpo, enterrei meu nariz em seu pescoço, mas ele me pegou pelos ombros e me afastou devagar, levantando-se. Observei-o se afastar, boquiaberta. Por que ele era tão insensível comigo? Senti minhas mãos um pouco trêmulas quando fui deixada para trás sozinha com o corpo de Lara. Levantei-me e tentei acompanhar Jared, que marchava pesadamente.

"Jared!" gritei. Ele se virou e arqueou uma sobrancelha. Corri até ele e tentei abraçá-lo, mas ele me afastou de novo, com impaciência.

"O que você quer?" perguntou grunhindo para mim. Bufei irritada e caminhei sem respondê-lo. Lancei para ele um breve olhar firme e continuei andando. Logo avistei o carro e corri para o conforto do couro do Land Rover preto de Jared, o que eu havia batido. Ele entrou em seguida, e ligou o carro. Ou melhor, tentou.

"Merda." Murmurou.

"O que foi?" perguntei passando a mão por meu cabelo, já agoniada. Eu queria ir para casa, tomar um banho e esquecer a morte de Lara e tudo o que havia acontecido ali. Jared abriu a porta e saiu. Eu o vi circundar o automóvel e abriu o capô, analisando o que havia lá. Ouvi um estrondo vindo do céu e saí do carro. Um vento frio e forte passou jogando todo o meu cabelo solto da trança em meu rosto. "O que aconteceu?" perguntei outra vez.

"O carro quebrou." falou emburrado apoiando-se de frente no carro com os cotovelos dobrados. Somente agora percebi que uma fumaça branca saía preguiçosamente de dentro do capô, fazendo seu caminho dançante para cima, se perdendo no ar.

"Como assim o carro quebrou?" gritei para Jared que havia colado a testa sobre a lataria preta do carro. Lançou-me um olhar de canto, com desdém. Olhei em volta, tomando ciência de que estávamos no meio do nada! Num súbito ataque de raiva, chutei seu carro.

"Ei, o que está fazendo? Não chute meu carro assim! Ficou louca?" berrou. Caminhei até ele, ignorando seus protestos e dei-lhe um chute na canela. Ele me encarou confuso e franziu o cenho para mim. Um segundo, ele estava à minha frente, com um olhar intimidante e a cabeça levemente inclinada para baixo, tentando me intimidar mais ainda, usando sua altura contra a minha para impor sua autoridade.

"Esta nervosinha ou está apenas tentando me irritar? Porque se estiver, está conseguindo, Katherine. Eu estou ficando muito, muito puto com você." Rosnou.

Fiquei nas pontas dos pés e subi um pouco no carro para olhá-lo bem nos olhos, talvez um pouco mais de cima.

"Foda-se..." eu disse cada sílaba lentamente para que ele compreendesse.

Então sua expressão se suavizou, tornando-se ligeiramente entretida e logo entendi por que. Nós estávamos muito próximos um do outro. Nossos narizes se tocavam, e eu podia sentir sua respiração quente em meu decote. Seus olhos fitavam meus lábios, e eu soube que ele iria me beijar, mas agi primeiro, agarrando-lhe pelos cabelos, e beijando-o com uma voracidade e uma raiva que eu nem sabia que estava ali. Ele gemeu em minha boca e seu corpo relaxou em meus braços, que logo me envolveram pela cintura e me sentaram no capô preto do Land Rover.

Toda a raiva e tensão que eu estava sentindo complementava aquele beijo, que fora para o topo da minha lista de beijos mais quentes. A ideia de machucar Jared e fazê-lo sentir prazer com isso me excitava de uma maneira assustadora. Puxei mais seus cabelos quando mordi fortemente seus lábios. Ele grunhiu e socou a lataria, fazendo um estrondo. Estava bem colado em mim, sua mão deslizou de minua coxa, levantando meu vestido, deixando minha pele quente exposta no capô gelado, arrepiando-me. Mordi sua boca mais uma vez, ele estava louco por mim, e eu o sentia. Desceu os beijos por meu pescoço, mordiscando-me sem um mínimo de suavidade. Eu observei turvamente o céu num tom cinza escuro. O vento soprava forte e frio, mas eu já não sentia. Jared se pressionava contra mim como se estivesse louco para estar dentro. Mas não, não queria perder minha virgindade daquela forma, então o afastei brutalmente pelo peito.

Ele me encarou, arfante, os olhos brilhando de desejo, a boca vermelha e inchada onde eu o havia mordido diversas vezes, e uma expressão crescente de pura raiva.

"Merda!" gritou, passando a mão pelos cabelos, puxando-os, e bicou o carro "Mas que... Droga Kate!"

"Jared, você... " balbuciei. "Você acabou de chutar seu..."

"Cala a boca, porra!" gritou apontando um dedo pra mim.

"Por que está gritando assim comigo?!" gritei de volta.

"Porque você me frustra, sua bruxa! Me frustra!" trincou os dentes e bateu com a mão na lateral de sua coxa, enquanto bagunçava freneticamente a parte de trás de seu cabelo. "Você não tem noção da raiva que eu estou sentindo de você." Balançou a cabeça e esticou a mão como uma garra, na direção do meu pescoço, mas a recolheu rapidamente fechando-a em punho e bicou o carro de novo.

Saiu marchando pesadamente, passando as mãos pelos cabelos, murmurando xingamentos sem parar. Senti vontade de rir ao vê-lo irritado daquele jeito, mas a graça passou quando percebi que ele estava me abandonando outra vez.

"O que?! Vai me deixar aqui sozinha?" gritei, mas ele simplesmente continuou andando e me mostrou o dedo do meio por cima do ombro, sem olhar pra trás.

"Seu filho da puta!" berrei. "Volta aqui agora, Jared!" Ele se afastava cada vez mais, e agora eu sentia o vento frio batendo sobre meu corpo, as folhas flutuando sem controle, debatendo-se nas árvores e a poeira subindo pelo chão. Corri atrás dele. "Para!" gritei de novo, mas ele pareceu acelerar.

Por fim o alcancei, e segurando-o pelos ombros eu o virei para mim. No mesmo instante um trovão ecoou pelos ares e por um momento, eu achei que fosse um reflexo da fúria de Jared na natureza. Gotas pesadas começaram a cair sobre nós, uma por uma. Jared me encarava com o cenho franzido e o maxilar firme, sua boca formando uma linha fina. Percebi que ele tentava controlar a própria respiração, e engoliu em seco.

"Não quis te frustrar." falei quase que num sussurro. As gotas de repente caíam sem parar do céu, molhando-nos por inteiro.

"Você está me matando, sabia?" falou se aproximando de mim, os cabelos brancos caindo-lhe sobre os olhos. Sua boca ainda estava vermelha e inchada.

Neguei com a cabeça, um tanto surpresa com aquela revelação. Ele se aproximou mais, estendendo a mão para tocar meu rosto. Seus olhos pareciam estar mais verdes e dançavam atordoados enquanto ele pousava a ponta dos dedos em minha bochecha. Eu senti seu toque e fiquei chocada com a delicadeza. Meu coração se apertou quando de repente ele se curvou grunhindo de dor à minha frente.

"Jared..."

"Vamos para o carro." Falou secamente passando por mim, correndo em direção ao carro.

Estávamos bem distantes do carro, eu não havia percebido o quanto havíamos nos afastado. A chuva estava intensa e constante, o vento incansável nos atingia violentamente. Entrei no carona e ele no lado no motorista. As gotas pesadas faziam barulho contra o metal do carro e contra os vidros das janelas. Olhei para mim e Jared, ambos encharcados. Ele estava obviamente muito nervoso, mas também havia confusão em seu olhar. Ele lutava contra a dor de poucos instantes atrás, embora parecesse mais controlado, mas havia a algo mais. Sempre havia algo mais. Ele olhava distraído para fora, estava evitando me olhar.

Sem saber ao certo por que, caí na gargalhada. Ri de nós dois, da briga ridícula que tivemos, sobre como eu o havia brochado e ri de nossa situação. Ele me olhou, procurando a graça. Depois de rir sem parar até meus olhos lacrimejarem, olhei para Jared que me encarava. Encaramo-nos por um tempo, em silêncio. Uma atmosfera tensa de calor crescia ali, aos poucos ouvia nossas respirações ritmadas em harmonia. Ele estava tão gostoso, todo molhado, a água da chuva escurecendo seu cabelo formando uma goteira em seu rosto. Sem parar para pensar, disparei em sua boca e ele me agarrou pela cabeça, prendendo-me a ele. Passei para seu colo no mesmo momento em que ele deslizou o banco para trás, dando-nos mais espaço. Suas mãos me apertavam contra si, mas ele interrompeu o beijo.

"Vá se foder, garota! Não vai me frustrar de novo." falou ofegante. O encarei, então peguei na borda do meu vestido, e o tirei, ficando apenas de calcinha para ele. Por algum motivo não me senti constrangida com minha nudez, pelo o contrário, aquilo nunca me pareceu tão certo. Ele me avaliou, seus olhos correndo por meu corpo de cima à baixo, depois à cima de novo, pousando em meus seios de forma admiradora. Bufou escondendo um sorriso.

"Sério?" falou rouco.

O beijei novamente e logo o livrei de sua camisa. Ele gemeu em minha boca, seus músculos ficaram tensos, e mordeu-me, mas não parei. Minha pele estava na sua, ele me alisava por inteiro, apertando-me a ponto de me machucar, se eu não estivesse tão excitada teria reclamado, mas foi assim desde o nosso primeiro beijo no show. Sua força, sua brutalidade era o que o tornava único. Ouvi um barulho e vi que ele havia batido o cotovelo na porta do carro.

"Carro. Fico. Muito. Limitado." falou entre o beijo e eu ri, agarrando-o pelo cabelo.

Ele deitou o banco, e rapidamente, colocou-se sobre mim. A chuva caía lá fora, escorria pelas janelas, os vidros estavam todos embaçados, por conta das nossas respirações. Outro trovão gritou pelo céu e eu senti a potência do som em meu peito formando a trilha sonora da experiência mais incrível de toda a minha vida. Jared me mordia, me arranhava e me tocava de maneira desesperava, como se a qualquer momento eu fosse escapar por entre seus dedos. Mas desta vez não. Eu não precisei me impedir, me preocupar ou sequer pensar.

Os olhos de Jared se alinharam aos meus, estavam mais verdes e mais acesos. Seu nariz havia começado a sangrar e eu tive o vislumbre de um sorriso antes que sua boca avançasse na minha, devorando-me, sedento por me ter. Sentindo-o em cada parte do meu corpo, eu estava completa. Nem mesmo nossa ligação mágica se comparava ao que eu senti naquele momento, como se Jared e eu fôssemos um só.

O tempo pareceu passar em câmera lenta, só para nós enquanto eu gravava em minha mente o gosto dele, seu cheiro, seus toques, cada sensação. As batidas de seu coração seguiam as batidas frenéticas do meu e cada batida seguia os segundos que se passavam, parecendo ser eternos. Aquele era o nosso momento. O momento que eu teria pra sempre guardado no mais profundo de minhas memórias.


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Notas finais do capítulo

Gente, chorei. Estou sem palavras até agora, de tanta emoção. ANA CLARA, este é o momento de você escrever o melhor review da sua vida. Isso vale pra todos os outros. Sério, gente. O que acharam disso? Estão surpresos? Chocados? Maravilhados? Sou só eu que achei lindo ver o Jared puto? Um Beijared a todos.